por Guilherme da Fonseca-Statter
Somos alguns milhões só em Portugal a sermos
esbulhados, por meio de impostos e contribuições cada vez mais
exorbitantes, para pagarmos uma dívida pública
"externa" que não contraímos. Alguns papagaios,
comentadores e "economistas" de aviário dizem-nos
também que "não há alternativa", temos mesmo que
pagar ("eles emprestaram ou não emprestaram"?...).
Vamos por uns minutos imaginar que esta dívida pública (esta e as
outras, dos outros páises todos...) é uma dívida
legítima. Que até resulta de empréstimos feitos por
entidades que tinham acumulado esses capitais financeiros com toda a
legitimidade e, sobretudo, sem terem fugido ao pagamento dos impostos sobre os
lucros ao longo de várias décadas. Mesmo assim, nessas
hipotéticas circunstâncias de legitimidade, o que me parece mais
aberrante (estupidamente aberrante...) é que isso, o pagamento da
dívida (se por milagre alguma vez acontecesse...),
não serve para nada...
Ou seja, aquele dinheiro todo "que nos vai sendo emprestado e que
nós vamos pagando"
não vai ter uma qualquer outra aplicação que não
seja voltar a ser emprestado. Acumulando juros e "capital emprestado".
Quando muito na compra
("investimento" dizem eles...)
de coisas que já existem...
Per secula seculorum...
Se entretanto os povos não se revoltarem, claro...
Acontece que existe no sistema capitalista um característica muito
peculiar e que eu designo por
"esgotamento progressivo de oportunidades de investimento".
Investimento lucrativo, claro. Não é difícil demonstrar a
existência dessa característica, mas isso não cabe agora
aqui. Em todo o caso essa demonstração está feita e
disponível para quem estiver interessado.
Em consequência desse esgotamento progressivo das oportunidades de
investimento, os donos e gestores de todo aquele capital financeiro procuram
naturalmente aplicações alternativas. Vamos imaginar que na busca
de aplicações financeiras rentáveis conseguem todos os
seus objectivos; ou seja a obtenção de oportunidades de
aplicação rentável em coisas ou actividades úteis e
necessárias à sociedade e que sejam susceptíveis de
"compra e venda" (os mercados, sempre os mercados....).
Como vão assinalando os observadores mais atentos, aquelas "coisas
ou actividades úteis e necessárias à sociedade" que
constituem aquelas oportunidades de investimento e que estão assim
"à mão de semear", são a
privatização de tudo e mais alguma coisa que compete a um Estado
moderno, progressista e com um mínimo de preocupação por
tudo quanto é social.
Vamos pois imaginar que eles conseguem privatizar todos os ensinos
públicos e todos os serviços nacionais de saúde e que
conseguem também privatizar toda a distribuição de
água (um monopólio natural por execelência...).
Acrescentemos a isso a privatização de portos e transportes (vias
férreas e todo o tipo de estradas) e ainda (porque não, já
agora...) a privatização da segurança interna e da
Justiça.
Vamos então imaginar que com todas essas privatizações, e
através da manipulação de preços, os donos do
capital financeiro, conseguem obter taxas de lucro melhores do que as
"meras" aplicações financeiras. Nessa altura, em vez de
nos retirarem "poder de compra" por via dos impostos para
"pagarmos a dívida", vão-nos retirar "poder de
compra" por via dos preços que teríamos que pagar
por aqueles serviços que antes eram prestados de modo
tendencialmente gratuito pelo Estado.
E depois?...
Nesse cenário de pesadelo absurdo de onde viria o "poder de
compra" necessário e suficiente para escoar a oferta daqueles
serviços todos?...
É neste contexto que se coloca a questão da
aberração do pagamento indefinido de uma dívida absurda.
Se os senhores da "troika" e seus mandatários locais (aqui ou
na Grécia, por exemplo) tivessem um pingo de bom senso, talvez fosse
possível perguntar-lhes "o que vão fazer com o dinheiro dos
pagamentos das dívidas públicas"...
Para onde vão todos esses fundos financeiros?... Para que servem?... Em
que vão ser aplicados (ou "investidos")?
Muito provavelmente responderiam que "não temos nada a ver com
isso", o dinheiro é deles (ou melhor dos seus patrões...) e
eles, os patrões, é que têm que decidir o que querem fazer
com os dinheiros que alguém fabricou, sendo que este "fabrico de
dinheiro" resultou a partir de lucros empresariais minimanente legitimos
(mas sobretudo engordados com o não pagamento de impostos)
, ou a partir da fabricação de dinheiro ou capital
fictício resultante da criação de empréstimos
bancários virtuais...
Mas a resposta mais prosaica seria muito provavelmente a de que
esses fundos financeiros todos serão de novo aplicados na compra de mais
dívida pública...
É evidente que o Planeta está cheio de oportunidades para fazer
coisas, úteis e necessárias; desde a regeneração do
meio ambiente (o mar e as florestas...) até à
renovação de estruturas físicas e desenvolvimento de novas
tecnologias de fontes de energia e de aproveitamento "verde" das
coisas da Natureza.
Só que isso, tudo isso, cai cada vez mais no âmbito da coisa
pública...
Não constitui oportunidade de investimento que tenha o lucro como
objectivo imediato.
Ou seja, o sistema parece ter entrado num beco sem saída.
Mas "saídas" há: o caos (e a barbárie...) ou o
Socialismo.
O original encontra-se em
umoutroparadigma.blogspot.pt/...
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