por Octávio Teixeira
Conhecidas as previsões do Banco de Portugal sobre a balança
comercial, apontando para um saldo praticamente nulo, e as estatísticas
do comércio internacional nos primeiros cinco meses, houve parangonas
sobre o "facto histórico" e o ministro da Economia
vangloriou-se do que seria a confirmação do acerto da
política governamental.
O défice externo é o problema nodal da economia e tudo deveria
ser feito para o eliminar, pelo menos reduzi-lo substancialmente, de forma
sustentada.
Infelizmente, não parece ser isso o que mostram os resultados e
previsões anunciados. E uma exigência que se faz a quem governa (e
comenta) é ler com objectividade os resultados e as suas causas. No
mínimo, haja prudência na análise. Não se iludam,
nem iludam.
Ora, o eventual equilíbrio da balança comercial não
é sustentado pois não resulta de um aumento da
produção substitutiva de importações e incremental
das exportações, é basicamente um efeito da
recessão e da austeridade.
As importações estão em queda livre devido exclusivamente
à redução da procura interna. Do consumo, mas
também do investimento com efeitos negativos na capacidade produtiva
futura.
A evolução favorável das exportações
é positiva, mas relativa pois no essencial é a
recuperação da quebra de 2009. Acresce que do aumento
homólogo das exportações, até Maio, cerca de 10%
provém de objectos de ouro, das jóias familiares vendidas devido
à crise, e 29% de combustíveis cujo valor acrescentado nacional
é mínimo. Por aí não vamos lá.
E omite-se o que terá sido a causa mais benéfica para as
exportações, a desvalorização do euro. Que
não depende de nós e poderá ser temporária. Em
Portugal, o euro continua tema proibido, embora o debate sobre o assunto seja
urgente e essencial.
17/Julho/2012