O SNS na mira
por Octávio Teixeira
A contratação de enfermeiros com uma remuneração
bruta de 3,96 euros por hora é paradigmática da ofensiva do
Governo contra os salários dos trabalhadores portugueses. Parafraseando
os
"Deolinda"
, até para receber salários de miséria, degradantes da
dignidade dos trabalhadores e incapazes de
sustentarem quem quer que seja, é preciso um curso superior.
Porém, o problema suscitado por este caso não se esgota no
insulto remuneratório.
Esses enfermeiros irão trabalhar no Serviço Nacional de
Saúde porque aí são necessários. Mas o Governo
contrata-os a empresas de trabalho temporário. O SNS necessita
igualmente de mais médicos. O Governo abre concursos para que empresas
de trabalho temporário forneçam o trabalho correspondente a 1700
médicos.
Ou seja, para exercer as suas funções o SNS necessita
reconhecidamente de mais profissionais, mas o Governo recusa admiti-los nos
quadros. Adjudica a prestação dos serviços com o
critério do mais baixo preço, sem exigências de qualidade e
permitindo às empresas a substituição daqueles
profissionais mensalmente.
Para o Governo, a prestação de cuidados de saúde
não requer especialização, qualidade,
relação continuada com os doentes, trabalho de equipa. Encara o
direito à saúde não como um direito fundamental e vital
dos cidadãos, mas como um mero bem de consumo que deve sujeitar-se
à lei da procura e da oferta e dar lucros ao sector privado.
Estas (e outras) decisões do Governo visam, de forma programada,
destruir carreiras profissionais, desmantelar o SNS e privatizar o acesso aos
cuidados de saúde.
Esse desígnio governamental justifica a oposição
determinada dos profissionais de saúde, incluindo o recurso à
greve, e dos cidadãos. Em defesa dum SNS de qualidade e para todos.
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