Os custos económicos do desemprego em Portugal
por Eugénio Rosa
RESUMO DAS CONCLUSÕES MAIS IMPORTANTES DESTE ESTUDO
1- Em 2004, o País perdeu 14.050 milhões de euros de riqueza, ou
seja, 10% do PIB desse ano e 1.040 milhões de euros de receitas fiscais
só a nível do IVA devido ao desemprego. Esta riqueza não
produzida contribuiu para a quebra do crescimento económico e as
receitas fiscais perdidas contribuíram para o desequilíbrio das
contas públicas (quadro I).
2- Em 2004, os desempregados, por não terem podido trabalhar, não
receberam 5.620 milhões de euros de salários, o que contribuiu
para a retracção do mercado interno criando dificuldades ao
escoamento da produção de milhares de empresas, o que arrastou
muitas delas para a falência gerando mais desemprego (quadro II).
3- Em 2004, o desemprego determinou elevados custos para a Segurança
Social. E isto porque, por um lado, a Segurança Social perdeu receitas
avaliadas em 1.953 milhões de euros e, por outro lado, teve de pagar
subsídios de desemprego no valor de 1.662 milhões de euros.
(quadro III e IV).
4- Se a análise incidir no período compreendido entre 2001 e
2004, o desemprego teve as seguintes consequências económicas:
-(a) Fez perder ao País riqueza avaliada em cerca de 44.159
milhões de euros ( 88.318 milhões de contos), ou seja, o
equivalente a 31,9% do PIB de 2004, o que determinou a quebra do crescimento
económico; (b) Receitas fiscais perdidas só a nível do IVA
( e estas são apenas uma parcela daquilo que o Estado perdeu) avaliadas
em 3.268 milhões de euros (653,6 milhões de contos) o que
contribuiu para o desequilíbrio das finanças públicas; (c)
Os desempregados deixaram de receber salários avaliados em cerca de
17.663 milhões de euros (3.532 milhões de contos), o que
determinou não só o agravamento das condições de
vida de milhares de famílias mas também impediu o escoamento da
produção de milhares de empresas, gerando falências e mais
desemprego; (d) Causou elevados custos à Segurança Social porque,
por um lado, fez perder receitas avaliadas em 6.137 milhões de euros
(1.227 milhões de contos) e, por outro lado, teve de suportar despesas
com o pagamento de subsídios de desemprego calculadas em 4.988
milhões de euros (1.000 milhões de contos) (quadro V).
5- Os 150.000 empregos prometidos pelo PS, mesmo se fossem reais, não
seriam suficientes para reduzir o desemprego em Portugal. Em primeiro lugar,
porque o PS já esclareceu que se for governo tenciona reduzir o emprego
público em 50.000 postos permitindo a entrada na função
pública de apenas um trabalhador por cada dois que se reformarem. Em
segundo lugar, porque no período compreendido entre o 3ºTrimestre
de 2001 e o 3º Trimestre de 2004 foram destruídos em Portugal nas
profissões agricultores e trabalhadores qualificados da
Agricultura e Pescas, operários e similares e
trabalhadores qualificados 197.900 postos de trabalho (quadro VI) e
é de prever que esta destruição maciça de postos de
trabalho continue porque a única proposta apresentada pelo PS é o
chamado choque tecnológico em que o emprego que
eventualmente criará não absorverá os trabalhadores cujos
postos de trabalho sejam destruídos, até porque os níveis
de escolaridade e de qualificação exigidos são diferentes.
|
Um dos problemas mais graves que o País enfrenta neste momento é
o elevado desemprego que continua a crescer. No 3º trimestre de 2004,
último para o qual existem dados oficiais publicados, o número
de desempregados em Portugal ultrapassou o meio milhão como mostramos
num estudo anterior utilizando dados publicados pelo INE.
O desemprego tem consequências sociais e individuais devastadoras
(exclusão social, miséria, perda de auto-estima,
depressão, etc), mas também tem consequências
económicas não menos graves que têm sido sistematicamente
esquecidas.
Neste estudo vai-se procurar quantificar as consequências
económicas do desemprego para que o leitor possa ficar com uma ideia
clara de quanto já custa ao nosso País em termos de
desenvolvimento económico e de sustentabilidade da segurança
social.
PORTUGAL PERDEU EM 2004 CERCA DE 10% DO PIB DEVIDO AO DESEMPREGO
Os órgãos de comunicação social deram uma
atenção grande à desaceleração da actividade
económica verificada em Novembro de 2004, mas já o mesmo
não sucedeu em relação à riqueza e às
receitas fiscais perdidas devido ao desemprego apesar de estas serem mais graves
para o desenvolvimento do País do que a primeira.
Para calcular a riqueza perdida devido ao desemprego tem-se de determinar, em
primeiro lugar, o PIB por empregado, ou seja, o valor da riqueza que cada
empregado cria, em média, anualmente no nosso País. Para o obter
esse valor divide-se o PIB de cada ano, ou seja, o valor da riqueza total
criada pela população empregada.
O valor assim obtido multiplica-se pelo número de desempregados de ano,
obtendo-se desta forma o valor da riqueza perdida, ou seja, da riqueza que
poderia
ter sido criada pelos desempregados se tivessem trabalho. Para se determinar a
receita do IVA perdida multiplica-se o valor da riqueza perdida por um
coeficiente obtido com base nos dados do IVA e do PIB de anos anteriores. Os
resultados dos cálculos realizados constam do quadro seguinte.
Em 2001 o País perdeu, devido ao desemprego, 7.748 milhões de
euros de riqueza que poderia ter sido criada se os desempregados tivessem
trabalho, o que corresponderia a 6,3% do PIB desse ano; em 2002, a riqueza
perdida aumentou para 10.121 milhões de euros, ou seja, 7,8% do PIB
desse ano; em 2003, o valor da riqueza perdida já foi de 12.240
milhões de euros, ou seja, 9,4% do PIB desse ano; e, em 2004, a riqueza
perdida devido ao elevado desemprego somou 14.050 milhões de euros, ou
seja, 10,1% do PIB desse ano.
Por outro lado, as receitas fiscais perdidas só ao nível do IVA
devido ao desemprego atingiram 573 milhões de euros em 2001; 749
milhões de euros em 2002; 906 milhões de euros em 2003; e, em
2004, 1.040 milhões de euros. Assim no período compreendido entre
2001 e 2004, as receitas fiscais atingiram, só ao nível do IVA,
3.268 milhões de euros.
Portanto, mais importante do que o problema do défice orçamental,
resolver o problema do desemprego é vital para que o País possa
atingir elevadas taxas de crescimento económico e equilibrar as
finanças públicas.
EM 2004, OS DESEMPREGADOS PERDERAM DE SALÁRIOS 5.760 MILHÕES DE
EUROS
É possível fazer uma estimativa do valor dos salários
perdidos pelos trabalhadores desempregados, sabendo que actualmente os
trabalhadores recebem cerca de 40% do PIB, isto é, apenas 40% do PIB
reverte para os trabalhadores sob a forma de salários e ordenados. Os
resultados desse cálculo constam do quadro que se apresenta seguidamente.
QUADRO II Salários perdidos devido desemprego
ANOS
|
PIB perdido
Milhões Euros
|
Salários não recebidos (=40% do PIB)
Milhões Euros
|
2001
|
7.748
|
3.099
|
2002
|
10.121
|
4.048
|
2003
|
12.240
|
4.896
|
2004
|
14.050
|
5.620
|
SOMA
|
44.159
|
17.663
|
Como mostram os dados do quadro II, se os trabalhadores desempregados tivessem
trabalho, o valor dos salários e ordenados que receberiam rondaria os
5.620 milhões de euros só em 2004 e, no período 2001-2004,
cerca de 17.663 milhões de euros.
Esta situação tem consequências graves para as empresas,
nomeadamente aquelas cujas vendas destinam-se ao mercado interno. Devido
à quebra do poder de compra da população determinada
também pelo
elevado desemprego, muitas empresas não conseguem vender a totalidade
do que produzem, o que faz com que acabem por fechar as portas,
lançando no desemprego muitos trabalhadores e agravando ainda mais o
círculo desemprego riqueza perdida desemprego.
EM 2004, A SEGURANÇA SOCIAL NÃO RECEBEU 1.953 MILHÕES DE
EUROS DE CONTRIBUIÇÕES E COTIZAÇÕES DEVIDO
DESEMPREGO
O valor das contribuições e quotizações não
recebidas pela Segurança Social devido ao desemprego obtém-se
multiplicando o valor dos salários e dos ordenados que os trabalhadores
desempregados receberiam se tivessem trabalho pela chamada Taxa Social
Única cujo valor é 34,75%. Esta percentagem corresponde à
soma dos 23,75% de contribuições calculadas sobre os
salários que as entidades patronais são obrigadas, por lei, a
entregar à Segurança Social mais os 11% que os trabalhadores
descontam para a Segurança Social. Os resultados desse cálculo
constam do quadro que se apresenta seguidamente.
QUADRO III Valor das contribuições das empresas e dos
descontos dos trabalhadores não recebidos pela Segurança Social
devido ao desemprego
ANOS
|
Salários não recebidos
Milhões euros
|
Contribuições e descontos não recebidos pela
Segurança Social
Milhões euros
(34,75% da massa salarial)
|
2001
|
3.099
|
1.077
|
2002
|
4.048
|
1.406
|
2003
|
4.896
|
1.701
|
2004
|
5.620
|
1.953
|
SOMA
|
17.663
|
6.137
|
Só em 2004, a Segurança Social, devido ao desemprego, perdeu
receitas que estimamos em 1.953 milhões de euros. No período
2001-2004, as receitas perdidas pela Segurança Social devido ao
desemprego somaram 6.137 milhões de euros (cerca de 1.227,4
milhões de contos).
EM 2004 A SEGURANÇA SOCIAL GASTOU COM O PAGAMENTO DE SUBSIDIOS DE
DESEMPREGO MAIS DE 1.662 MILHÕES DE EUROS
Para além de perder importante volume de receitas devido ao desemprego,
a Segurança Social foi também obrigada a pagar um elevado
montante de subsídios de desemprego, despesa esta que tem aumentado
muito nos últimos anos como mostram os dados do quadro seguinte.
QUADRO IV - Valor dos subsídios de desemprego pagos pela
Segurança Social
ANOS
|
Subsídios de desemprego pagos - Milhões de euros
|
2001
|
869
|
2002
|
980
|
2003
|
1.477
|
2004
|
1.662
|
SOMA
|
4.988
|
Fonte: Relatório do Orçamento do Estado e Contas e
Orçamentos da Segurança Social.
A partir de 2002, devido ao aumento rápido de desemprego, verificou-se
um crescimento muito grande do despesa da Segurança Social com o
pagamento de subsídios de desemprego. Em 2004, essa despesa foi cerca de
91% superior à de 2001, e no período 2001-2004 a Segurança
Social gastou com o pagamento de subsídios de desemprego 4.988
milhões de euros (cerca de 1000 milhões de contos).
CONCLUSÕES FINAIS E OS 150 MIL EMPREGOS PROMETIDOS PELO PS
No quadro seguinte reuniram-se os resultados da análise feita para que o
leitor possa ficar com uma ideia clara e global das consequências
económicas do desemprego.
Como mostram os dados do quadro anterior, devido ao desemprego, em quatro anos
apenas (2001-2004), o Pais perdeu riqueza avaliada em 44.159 milhões de
euros; o Estado perdeu, só a nível do IVA, receitas fiscais
estimadas em 3.268 milhões de euros; os trabalhadores desempregados
perderam 17.663 milhões de euros de salários; e os custos para a
Segurança Social, de contribuições não recebidas e
de subsídios de desemprego que teve de pagar, totalizaram 11.125
milhões de euros.
Face à gravidade do problema do desemprego em Portugal, a promessa
eleitoral do PS de criar 150 mil postos de trabalho não resolve o
problema existente. E isto por várias razões.
Em primeiro lugar, porque na área em que o governo tem poder para criar
emprego Administração Pública o eng.
Sócrates já esclareceu que tenciona reduzir o emprego permitindo
apenas a entrada de um trabalhador por cada dois que se reformarem. Esta
medida, se for implementada, determinará uma redução de
emprego publico em quatro anos que calculamos em pelo menos 50 mil postos de
trabalho, o que reduziria aquele número para 100 mil. Em segundo lugar
porque verificou-se nos últimos anos em Portugal uma
destruição maciça de postos de trabalho, e aqueles 100 mil
postos de trabalho, mesmo se fossem reais, não chegariam nem para
compensar os postos de trabalho destruídos. O quadro seguinte,
construído com dados publicados pelo INE, prova isso.
Em apenas três anos (2001/2004) foram destruídos em Portugal, segundo o
INE, 197.900 postos de trabalho. Os empregos que o chamado choque
tecnológico do PS eventualmente poderia criar não
absorveria os trabalhadores que ocupam os postos de trabalho destruídos
das profissões constantes do quadro anterior porque, na sua maioria,
exigem qualificações e níveis de escolaridade diferentes
dos possuídos pelos trabalhadores cujos postos de trabalho foram
destruídos.
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