Gravidez & Aborto
Histórias da Santa Madre
O desmancho episcopal
A Igreja está, de novo, na rua a pronunciar-se sobre a
interrupção voluntária da gravidez nesta parcela do
planeta mergulhada na clandestinidade abortiva e na calamidade fecundativa. Tem
toda a legitimidade democrática para se pronunciar como todos
terão legitimidade para a contestar. Mas a Igreja Católica
Portuguesa, apesar de já forçada a cedências legais e a
complacências sociais, continua descompassada de outras Igrejas da
Europa, coincidindo, também nesta arritmia, com o fosso que separa o
país dos padrões mais modernos da pastoral e do pensamento
teológico.
Direito à vida? Dos que ainda não foram paridos ou dos que
são transformados em párias? E que dirão cardeais, bispos,
padres, católicos e católicas anti-interrupção,
falangistas do
Não
e também fumadores, dos riscos do fumo? Estarão a condenar o
aborto por via uterina e a favorecer o aborto por via respiratória?
Declara a ciência:
O tabaco aumenta o risco de abortamento espontâneo, de morte do feto
ainda na barriga da mãe e morte precoce logo após o nascimento.
A Conferência Episcopal, na sua próxima nota aos pios e aos
gentios, deverá exortar todos os seus membros a abster-se de fumar, a
começar pelo cardeal-patriarca?
Quer-nos parecer que o aborto será uma das bandeiras que a Igreja
deixará cair, como, ao longo dos séculos, abandonou
múltiplas sanhas apostólicas. Já em 1998, numa
liberalidade discreta, o Vaticano franqueou os arquivos da Santa
Inquisição, violação de segredo até agora
passível de excomunhão e que, durante séculos, levou
cardeais, bispos, padres e outros devassadores às masmorras e à
exclusão eclesial.
Entretanto, há que aprender com a Igreja a fazer amor sem preservativo
nem desmancho. Evitando, claro, os pecados de pedofilia, assaz atractivos e
crónicos no seio da Santa Madre.
[*]
Escritor, jornalista
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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