Nove razões
Porque os baixos preços do petróleo podem
transformar-se em algo muito pior
O mundo precisa de empregos com salários mais altos
Por que os preços das commodities, incluindo os do petróleo,
permanecem baixos? Em última análise, a questão acaba por
ser:
"Por que a economia mundial não está a fabricar grande parte
dos produtos finais que utilizam estas commodities?"
Se os trabalhadores estivessem a obter riqueza suficiente para comprar novas
casas e carros, a procura por estes produtos estaria a elevar os preços
das commodities utilizadas para construir e operar carros, incluindo o do
petróleo. Se os governos tivessem riqueza suficiente para construir um
número acrescido de estradas e mais habitação
pública, haveria procura pelos commodities utilizadas para isso.
Parece-me que é como se estívessemos rumo a uma depressão
deflacionária, porque os preços das commodities estão a
cair abaixo do custo de extracção. Precisamos de rapidamente
elevar salários e dívida se quisermos que os preços das
commodities voltem aos níveis de 2011 ou mais altos. Isto não
está a acontecer. Ao invés disso, Janet Yellen
[1]
está a falar acerca de um aumento das taxas de juro no fim deste ano e
vemos os preços das commodities caírem cada vez mais
. Deixem-me explicar alguns elementos do que está a acontecer.
1. Desde 1981 temos estado a forçar o aumento do crescimento
económico através da utilização de taxas de juro
cadentes. As taxas de juro agora estão tão baixas que é
difícil forçar taxas ainda mais baixas a fim de encorajar novo
crescimento económico.
Taxas de juro em queda são enormemente benéficas para a economia.
Se as taxas de juros param de cair, ou pior ainda, começam a ascender,
perderemos este factor muito benéfico que afecta a economia. A economia
tenderá a crescer menos rapidamente, deitando abaixo mais uma vez os
preços das commodities. A economia mundial pode mesmo começar a
contrair-se, pois isto conduz a uma depressão deflacionária.
Se examinarmos as taxas de juro dos US Treasury a 10 anos, verifica-se uma
queda acentuada das taxas desde 1981.
De facto, quase qualquer espécie de taxa de juro, incluindo taxas de
juros de prazos mais curtos, taxas de juro de hipotecas, taxas bancárias
de referência para empréstimos e Moody's Seasoned AAA Bonds,
mostra um padrão razoavelmente semelhante. Há mais variabilidade
nas taxas de juro a muito curto prazo, mas a direcção geral tem
estado baixa, ao ponto de as taxas de juros já não poderem
descer mais.
O declínio das taxas de juro estimula a economia por muitas
razões:
-
Candidados à compra de casas deparam-se com pagamentos mensais mais
baixos, de modo que mais pessoas podem permitir-se comprá-las. Pessoas
que já possuem casas podem permitir-se mudar para casas mais caras.
-
Candidatos à compra de automóveis deparam-se com pagamentos
mais baixos, de modo que mais pessoas podem comprar carros.
-
O emprego nas indústrias de casas e carros é estimulado, tal
como o emprego nas indústrias de mobiliário.
-
O emprego em colégios e universidades aumenta, pois taxas de juro mais
baixas encorajam mais estudantes a contraírem empréstimos para
irem à escola.
-
Com taxas de juro mais baixas, os negócios podem permitir-se construir
fábricas e armazéns, mesmo quando a taxa de retorno previsto
não for muito alta. A maior procura por automóveis,
mobiliário e colégio melhora o êxito dos negócios.
-
As baixas taxas de juro tendem a elevar os preços dos activos,
incluindo preços de acções, títulos, casas e terras
agrícolas, fazendo com que as pessoas se sintam mais ricas.
-
Se os preços da habitação subirem o suficiente, os
proprietários podem refinanciar suas hipotecas, muitas vezes a uma taxa
de juro mais baixa. Com os fundos do refinanciamento, eles podem remodelar, ou
comprar um carro, ou tirar umas férias.
-
Com taxas de juro baixas, o montante total que pode ser tomado emprestado sem
que os pagamentos dos juros se tornem um fardo enorme ascende muito. Isto
é especialmente importante para governos, uma vez que tendem a tomar
emprestado infindavelmente, sem colateral para os seus empréstimos.
Apesar de esta tendência muito favorável nas taxas de juro se ter
verificado durante anos, não sabemos precisamente qual o impacto deste
estímulo sobre a economia. Ao invés disso, a
situação [agora] é o "novo normal". Em alguns
aspectos, o benefício é como deslizar colina abaixo numa prancha
de skate e não perceber quanto a inclinação da colina
está a afectar a velocidade do skate. A situação perdura
há tanto tempo que ninguém percebe os benefícios que ela
proporciona.
Se a economia agora move-se demasiado lentamente, o que deveremos esperar que
aconteça quando as taxas de juro começarem a subir? Mesmo o
nível das taxas de juro se torna um problema, se nos tivermos habituado
ao impulso económico que conseguimos com taxas de juro cadentes.
2. O custo da extracção de petróleo tende a subir ao longo
do tempo porque o petróleo de extracção mais barata
é removido primeiro. De facto, isto é verdade para praticamente
todas as commodities, incluindo metais.
Se o custo permanecesse sempre o mesmo, podíamos representar a
produção de um barril de petróleo, ou um quilo de metal,
utilizando o diagrama seguinte.
Se a produção estiver a tornar-se cada vez mais eficiente,
então podemos representar a situação como se segue, em que
o tamanho maior da "caixa" representa maior produção,
utilizando os mesmos inputs.
Para o petróleo e para muitas outras commodities, estamos a experimentar
a situação oposta. Ao invés de se tornar cada vez mais
eficiente, estamos a tornar-nos cada vez mais ineficientes (Figura 4). Isto
acontece porque é preciso fazer furos mais profundos, ou porque
precisamos usar equipamento e areia de fracturação
(fracking),
ou porque precisamos construir refinarias especiais para cuidar dos problemas
de poluição de uma espécie particular de petróleo.
Portanto precisamos de mais recursos para produzir a mesma quantidade de
petróleo.
Algumas pessoas podem classificar esta situação como de
"retornos decrescentes"
, porque o petróleo barato já foi extraído e precisamos ir
para o de extracção mais difícil. Isto acrescenta passos
extras e, portanto, custos extras. Eu prefiro utilizar a expressão
ligeiramente mais vasta de "ineficiência crescente" porque ela
indica que a natureza destes custos adicionais não está a ser
restringida.
Muito frequentemente, novos passos precisam ser acrescentados ao processo de
extracção porque os furos são mais profundos, ou porque a
refinação exige a remoção de mais poluentes. Por
vezes, os custos mais altos envolvem mudar para um novo processo que se
acredita ser mais ambientalmente saudável.
O custo de extracção mantém-se em ascensão, quando
os recursos de extracção mais barata se tornam esgotados e quando
a poluição ambiental se torna mais um problema.
3. Utilizar mais inputs para criar a mesma produção (ou mais
pequena) pressiona a economia mundial rumo à contracção.
Basicamente, o problema é que a mesma quantidade de inputs está a
proporcionar
(yielding)
cada vez menos do desejado produto final. Para uma dada quantidade de inputs,
estamos a obter cada vez mais produtos intermediários (tais como areias
de
fracking,
"purificadores"
para centrais termoeléctricas, unidades de
dessalinização para água doce e administradores para
colégios), mas não estamos a obter tanta produção
no sentido tradicional, tal como barris de petróleo, quilowatts-hora de
electricidade, litros de água doce, ou jovens educados prontos para
entrarem na força de trabalho.
Não temos inputs ilimitados. Quanto mais dos nossos inputs forem
destinados a criar produtos intermediários para trabalhar em torno dos
limites que estamos a alcançar (incluindo limites de
poluição), menos dos nossos recursos podem ser destinados à
desejada produção de produtos finais. O resultado é menos
crescimento económico. Devido a este crescimento económico
declinante, há menos procura de commodities. Assim, os preços das
commodities tendem a cair.
Este resultado é expectável. Se
"eficiência acrescida"
é parte daquilo que
cria
crescimento económico, o que estamos a experimentar agora é o
oposto:
ineficiência acrescida.
4. O modo como os trabalhadores podem arcar com custos de commodities mais
altos é primariamente através de salários mais altos. Por
vezes, o endividamento mais alto também contorna o problema. Se nada
disto estiver disponível, os preços das commodities podem cair
abaixo do custo de produção.
Se houver um aumento significativo no custo de produtos como casas e carros,
isto representa um enorme desafio para os trabalhadores. Habitualmente eles
pagam os mesmos utilizando uma combinação de salários e
dívida. Se os custos aumentam, eles precisam de salários mais
altos ou um pacote de dívida que torne o produto mais acessível
talvez taxas mais baixas ou um prazo de pagamento mais longo.
Os custos das commodities subiram muito rapidamente mais ou menos nos
últimos quinze anos. De acordo com um
gráfico preparado por Steven Kopits
, alguns dos maiores custos de extracção de petróleo
começaram a aumentar em 10,9% ao ano, cerca de 1999.
De facto, os preços corrigidos de inflação de quase todos
os produtos energéticos e metálicos tenderam a ascender
rapidamente durante o período 1999-2008 (Figura 7). Este foi um
período em que
o montante de dívida hipotecária estava a aumentar rapidamente quando prestamistas começaram a oferecer empréstimos para habitação com baixas taxas de juro iniciais a quase qualquer pessoa
, incluindo aqueles com baixas classificações de crédito e
rendimentos irregulares. Quando os níveis de endividamento
começaram a cair em meados de 2008 (o que se relaciona em parte com
incumprimentos nos empréstimos habitacionais), os preços de
commodities de todos os tipos caíram.
Os preços começaram a ascender uma vez iniciada a
Quantitative Easing (QE) (comparar figuras 6 e 7). A utilização
da QE deitou abaixo as taxas de juro a médio e longo prazo, facilitando
a compra de casas e carros pelos consumidores.
Mais recentemente, os preços cairam outra vez. Portanto,
tivemos dois momentos recentes em que os preços caíram abaixo do
custo de produção para muitas commodities importantes. Ambas as
quedas verificaram-se depois de os preços terem estado altos, quando a
disponibilidade de dívida estava a contrair-se ou deixando de subir do
mesmo modo que no passado.
5. Parte do problema que estamos a experimentar é uma
desaceleração
(slow-down)
do crescimento salarial.
A figura 8 mostra que nos Estados Unidos o crescimento dos salários per
capita tende a desaparecer quando os preços do petróleo sobem
acima dos US$40 por barril. (Naturalmente, como observado no Ponto 1, as taxas
de juro têm estado em queda desde 1981. Se não fosse por isto, o
corte do crescimento salarial podia ser ainda mais baixo talvez mesmo
US$20 por barril!)
Há também uma razão lógica para esperarmos que
salários tendam a cair quando os custos da energia aumentam. Como um
industrial da manufactura responde a um custo muito mais elevado de um dos seus
principais inputs? Se o industrial simplesmente transfere o custo mais alto
para a frente, muitos clientes não poderão mais aceder aos seus
produtos ou serviços. Se as empresas podem simplesmente reduzir alguns
outros custos para compensar a ascensão nos custo em produtos
energéticos e metais, ele poder ser capaz de manter a maior parte dos
seus clientes.
Uma área importante em que o industrial da manufactura ou fornecedor de
serviços pode cortar custos é na despesa salarial. (Note os
diferentes tipos de despesas mostrados na figura 5. Salários são
um importante tipo de despesa para a maior parte das empresas.)
Há várias maneiras pelas quais os custos do emprego podem ser
cortados:
1. Transferir empregos para países além-mar com salários
mais baixos.
2. Utilizar automação para transferir algum trabalho humano para
o trabalho fornecido pela electricidade.
3. Pagar menos aos trabalhadores. Utilizar "trabalhadores
terciarizados" ou "temporários" ou
"estagiários", os quais contentam-se com salários mais
baixos.
Se um industrial manufactureiro decide transferir empregos para a China ou a
Índia, isto tem a vantagem adicional de cortar custos em energia, uma
vez que estes países utilizam um bocado de carvão no seu mix
energético e o carvão é um combustível barato.
De facto, assistimos a uma queda na taxa de participação civil da
força de trabalho estado-unidense (Figura 9) que começa
aproximadamente no mesmo momento em que os custos da energia e dos metais
começam a subir. Os salários medianos corrigidos da
inflação tenderam igualmente a cair neste período.
Salários baixos podem ser uma razão para a retirada da
força de trabalho; pode-se tornar demasiado caro deslocar-se para o
local de trabalho e pagar despesas com infantários com salários
magros.
Naturalmente, se os salários não estão em crescimento e em
muitos casos estão realmente em contracção, torna-se
difícil vender muitas casas, barcos e cruzeiros de férias. Estes
ítens caros criam uma fatia significativa da "procura" de
commodities. Se os trabalhadores forem incapazes de comprar ítens caros,
a procura tende a cair abaixo do (agora inflacionado) custo de produzir estes
ítens caros, levando aos preços mais baixos que vimos ultimamente.
6. Estamos a caminhar lentamente rumo a grandes incumprimentos entre produtores
de commodities, incluindo produtores de petróleo
Um bom número de pessoas imagina que se os preços do
petróleo caírem, ou se os preços de outras commodities
caírem, haverá um impacto imediato sobre a produção
de bens e serviços.
Ao invés disso, o que acontece é mais um efeito desfasado no
tempo (Figura 11).
Parte da diferença repousa nos mercados a termo; as empresas têm
contratos que mantêm preços de venda altos durante algum tempo,
mas finalmente (fim de 2015) esgotam-se. Parte da diferença repousa em
furos que já foram feitos e que se mantêm a produzir. Parte da
diferença repousa na necessidade de as empresas manterem a todo custo
fluxos de caixa, se o problema do preço for apenas por um período
curto. Portanto, elas manterão partes do negócio a operarem se
aquelas partes produzirem fluxos de caixa positivos a fim de seguirem adiante,
mesmo que não sejam lucrativas considerando todos os custos.
Com a dívida,
a grande preocupação é que as reservas de petróleo estão a ser utilizadas como colateral para empréstimos que se desvalorizarão
, devido ao preço mais baixo do petróleo no mercado mundial. O
valor colateral de reservas funciona com algo semelhante (barris de
petróleo na reserva X algum preço esperado).
Enquanto o petróleo era avaliado em US$100 por barril, o valor do
colateral permanecia próximo do que se supunha quando o
empréstimo foi efectuado. O problema ocorre quando os preços
baixos gradualmente fazem o seu caminho através do sistema e deitam
abaixo o valor do colateral. Isto pode levar um ano ou mais desde a queda do
preço inicial, porque os preços são calculados numa
média superior a 12 meses, a fim de dar estabilidade ao cálculo.
Uma vez que o valor do colateral cai abaixo do valor do empréstimo
pendente, os tomadores do empréstimo experimentam grande
perturbação. Eles podem precisar de vender alguns dos outros
activos que possuam, para ajudar a reembolsar o empréstimo. Ou podem
acabar em bancarrota. Os tomadores certamente não podem tomar emprestado
o dinheiro adicional de que precisam para manter em aumento a sua
produção.
Quando se verifica bancarrota, podem-se esperar muitas sequelas. Os bancos que
fizeram os empréstimos podem ficar eles próprios em dificuldade
financeira. A companhia de petróleo pode despedir grande número
de trabalhadores. A falta de salários dos antigos trabalhadores pode
afectar outros negócios na área, tais como vendedores de carros.
O valor das casas na área pode cair, levando a que casas hipotecadas
fiquem "submersas". Todos estes efeitos contribuem para uma procura
ainda mais baixa por commodities de todas as espécies, inclusive o
petróleo.
Devido ao problema do desfasamento temporal, o problema da bancarrota é
difícil de reverter. Os preços do petróleo precisam
permanecer altos durante um extenso período de tempo antes de os
prestamistas ficarem desejosos de financiarem companhias de petróleo
outra vez. Se levar, digamos,
cinco anos para que os preços do petróleo subam a um nível suficientemente alto para estimular outra vez a perfuração
, pode levar sete anos antes de os prestamistas ficarem desejosos de financiar
outra vez as companhias.
7. Porque muitos da geração "baby boomers" estão
agora a reformar-se, estamos no princípio de uma crise
demográfica que tem a tendência de pressionar a procura ainda mais
para baixo.
Muitos trabalhadores nascidos no fim da década de 1940 e na de 1950
estão agora a reformar-se. Estes trabalhadores tendem a reduzir o seu
próprio gasto e dependem de programas do governo para a maior parte do
seu rendimento. Portanto, a reforma destes trabalhadores tende a fazer subir os
custos governamentais ao mesmo tempo que reduz a procura por commodities de
toda espécie.
Alguém precisa pagar os bens e serviços utilizados pelos
reformados. Os planos de reforma do governo raramente são
pré-financiados, excepto com a dívida do próprio governo.
Devido a isto, pagamentos de pensões mais altas pelos governos tendem a
levar a impostos mais altos. Com impostos mais altos, trabalhadores ficam com
menos dinheiro para comprar casas e carros. Mesmo com pensões, os idosos
nunca são um grande mercado para casas e carros. O resultado geral
é que a procura por casas e carros tende a estagnar ou declinar,
restringindo a procura por commodities.
8. Estamos a ficar com escassez de opções para corrigir o nosso
problema do baixo preço das commodities.
A solução ideal para o nosso problema do baixo preço desta
commodity seria encontrar substitutos que sejam suficientemente baratos, e cuja
quantidade pudesse aumentar rapidamente, para dar energia ao crescimento
económico. "Suficientemente barato" provavelmente significaria
cerca de U$20 por barril para um substituto do petróleo. O preço
precisaria ser analogamente barato para outros produtos energéticos.
Produtos energéticos baratos e abundantes são necessários
porque o consumo de petróleo e o de energia são altamente
correlacionados. Se os preços não forem baixos, os consumidores
não podem permitir-se adquiri-los. A economia reagiria como de costume
à ineficiência. Por outras palavras, reagiria como se demasiado da
produção estivesse a ir para produtos intermediários e
demasiado pouco estivesse realmente a actuar para expandir a economia.
Estes substitutos também precisariam ser não poluentes, de modo a
evitar que a poluição acrescentasse custos. Estes
substitutos precisariam funcionar nos veículos e maquinaria existente, de
modo a não termos de nos preocupar com o alto custo de
transição para novo equipamento.
Claramente, nenhum dos potenciais substitutos de que estamos hoje à
procura está próximo de atender a estas exigências de custo e
escalabilidade. A energia eólica e solar fotovoltaica só pode ser
construída sobre o nosso existente sistema de combustíveis
fósseis.
[2]
Toda a evidência é que eles elevam os custos totais, aumentando o
nosso problema da "ineficiência acrescida" ao invés de
corrigi-la.
Outras soluções aos nossos problemas actuais parecem estar
baseadas na dívida. Se olharmos a história do passado recente, o
caso parece ser algo assim:
Além de adoptar a QE a partir de 2008, governos também aumentaram
seus gastos (e dívida) durante o período 2008-2011. Estes gastos
incluíram construção de estradas, as quais aumentavam
directamente a procura por commodities, e pagamentos de seguro de desemprego, o
qual indirectamente aumentou a procura por commodities ao dar dinheiro a
desempregados, os quais o utilizaram para alimentação e
transporte. A China também aumentou sua utilização da
dívida no período 2008-2009, construindo mais fábricas e
casas. A combinação da QE, da dívida da China e da
dívida do governo em conjunto trouxe os preços de petróleo
de volta a 2011, embora não a nível tão alto como em 2008
(Figura 7).
Mais recentemente, governos têm reduzido seu crescimento nos gastos (e na
dívida), percebendo que eles estão a alcançar os
máximos níveis prudentes de dívida. A China reduziu seu
crescimento da dívida, quando a poluição do carvão
se tornou um problema crescente e quando a necessidade de novas casas e
fábricas ficou saturada. Seus rácios de dívida
estão também a tornar-se muito altos.
A QE continua a ser utilizada por alguns países, mas os seus
benefícios parecem estar a desvanecer-se pois as taxas de juro já
estão tão baixas quanto podem e os bancos centrais compram uma
fatia crescente de dívida que pode ser utilizada para colateral de
empréstimos. O crédito gerado pela QE permitiu investimentos
questionáveis uma vez que a taxa de retorno exigida sobre investimentos
financiados por baixas taxas de juro também é baixa. Alguma desta
dívida simplesmente recircula dentro do sistema financeiro, escorando
preços de acções e preços da terra. Alguma dela foi
destinada à recompra de acções. Virtualmente nada do QE
veio a aumentar a procura de commodities.
Do que realmente precisamos é de empregos com salários mais altos.
Infelizmente,
estes empregos precisam ser apoiados pela disponibilidade de grandes montantes
de energia muito barata.
É a falta de energia barata, para corresponder aos US$20 por barril de
petróleo e carvão muito barato sobre o qual a economia foi
construída que está a causar os nossos problemas. Realmente
não temos um meio para corrigir isto.
9. É duvidoso que os preços dos produtos energéticos e dos
metais possam ser elevados outra vez sem provocar recessão.
Não estamos a falar acerca simplesmente do aumento dos preços do
petróleo. Se a economia tiver de crescer outra vez, a procura por todas
as commodities precisa ascender até o ponto em que faça sentido
extrair mais das mesmas. Nós utilizamos tanto os produtos
energéticos como os metais para fazer toda a espécie de bens e
serviços. Se o preço destes produtos sobe, virtualmente o custo
de fazer qualquer espécie de bens e serviços sobe.
A elevação do custo de produtos energéticos e metais
conduz ao problema do Crescimento da Ineficiência (Figura 4). Como vimos
no Ponto 5, salários tendem a diminuir, ao invés de subir, quando
outros custos de produção sobem porque as indústrias
manufactureiras tendem a descobrir meios para manter baixos os custos totais.
Salários mais baixos e preços mais altos constituem um enorme
problema. Eis porque estamos destinados a voltar à recessão se os
preços subirem o suficiente para permitir a ascensão a longo
prazo da produção de commodities, incluindo petróleo.
22/Julho/2015
NT
[1] Janet Yellen: Governadora do Federal Reserve, o banco central dos EUA.
[2] A autora parece ter esquecido o metano (CH4), o único
combustível que pode substituir o petróleo no mundo todo pois
preenche os requisitos que apresentou de custo e escalabilidade.
Além
disso, sem grande alteração tecnológica, pode alimentar os
motores de combustão interna hoje existentes no planeta. O seu
pico de produção está longinquo no tempo e pode também ser
uma energia renovável (biometano).
Da mesma autora em resistir.info:
Cresce o risco sistémico para o sistema financeiro, pois este exige crescimento num mundo com oferta limitada de petróleo
Produção de petróleo: Os retornos decrescentes e as previsões irrealistas da AIE
Pico petrolífero, o pano de fundo da crise egípcia
Uma história da complexidade energética
Preço do petróleo fecha acima dos US$100 por barril
[*]
Actuária, estado-unidense. Dedica-se a problemas de escassez num mundo
de recursos finitos.
O original encontra-se em
ourfiniteworld.com/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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