O iminente declínio do abastecimento de petróleo
por Nicholas C. Arguimbau
[*]
Olhem para este gráfico e tremam. Não foi feito pelo Earth First
[NT 1]
. Não foi feito pelo Serra Club
[NT 2]
. Não foi desenhado por socialistas nem por nazis nem por Osama Bin
Laden nem por ninguém da Goldman- Sachs
[NT 3]
. Se você for adepto dos '
tea-partier
"
[NT 4]
Republicanos, fiquem descansado que ele não foi feito por nenhum
Democrata progressista. E vice-versa. Foi desenhado pelo Departamento da
Energia dos Estados Unidos, e os militares do Joint Forces Command dos Estados
Unidos contribuíram para a sua feitura.
O que é que ele indica? O abastecimento da mais importante fonte
de energia mundial está em queda livre. Não num futuro distante,
mas dentro de ano e meio. Dentro de 20 anos a produção de todos
os combustíveis líquidos, incluindo o petróleo,
cairá para metade do que é hoje. E a diferença precisa de
ser colmatada por "projectos não identificados" que, segundo
afirma um dos mais importantes geólogos mundiais do petróleo
não passa de um "eufemismo para a escassez" e, segundo afirma
o principal banqueiro da indústria petrolífera mundial
"baseia-se na fé".
Este gráfico foi preparado para uma
conferência do Departamento de Estado (DOE) na Primavera de 2009
. Observem bem o que ele representa, partindo
do princípio que está correcto:
1. O petróleo convencional desaparecerá quase todo dentro de 20
anos, e não se conhece nada que o substitua.
2. A produção de petróleo a partir das actuais fontes
convencionais tem vindo a diminuir a um ritmo pouco maior do que 4% ao ano,
pelo menos há um ano, e vai continuar a diminuir por um futuro
indeterminado.
3. O gráfico indica que já passámos o pico de
produção e que já só há 750 mil
milhões de barris de petróleo convencional (as áreas
referidas na parte "convencional" do gráfico, extrapoladas
para a direita como uma exponencial). Partindo do princípio que as
reservas restantes eram de 900 mil milhões ou mais no ponto
médio, então já passámos o ponto médio em
pelo menos 150 mil milhões de barris, ou seja, 5 anos.
4. A produção total de petróleo de todas as fontes
actualmente conhecidas, convencionais e não convencionais, vai manter-se
"plana" em cerca de 83 milhões de barris por dia durante os
próximos dois anos e depois começará a diminuir no futuro,
a princípio lentamente, mas a um ritmo de 4% ao ano depois de 2015.
5. A procura vai começar a suplantar a oferta em 2012 e, dentro de
apenas
cinco anos, será já superior à oferta em 10 milhões
de barris por dia. Os militares do Joint Forces Command dos Estados Unidos
estão de acordo com estas conclusões específicas.
(
http://www.jfcom.mil/newslink/storyarchive/2010/JOE_2010_o.pdf
, p.31).
Dez milhões de barris por dia equivalem à metade do consumo total
dos Estados Unidos. Para compensar a diferença, o mundo teria que
encontrar outra Arábia Saudita e pô-la a produzir em pleno dentro
de cinco anos, o que é completamente impossível.
(Ver The Oil Drum,
http://www.theoildrum.com/node/5154
).
6. A produção das fontes convencionais existentes vai
mergulhar dos actuais 81 milhões para 30 milhões de barris por
dia em 2030, uma queda de 63% num período de 20 anos.
7. A satisfação da procura exige que se descubram, desenvolvam e
explorem em pleno 60 milhões de barris por dia (105-45) de
"projectos não identificados" no período de 18 anos
entre 2012 e 2030 e cerca de 25 milhões de barris por dia até
2020, com base numa estimativa muito conservadora de um crescimento anual da
procura de apenas 1%. O Instituto Oxford de Estudos Energéticos,
independente, avaliou um possível crescimento de 6,5 milhões de
barris por dia a partir desses projectos, incluindo as areias betuminosas
canadianas, o que implica um défice de 18-19 milhões de barris
por dia em comparação com a procura, e uma redução
aproximada de 14 milhões de barris por dia na produção
total de combustíveis líquidos relativamente a 2012, uma descida
de 16% em 8 anos.
8. A curva é praticamente idêntica à produzida pelos
geólogos Colin Campbell e Jean Laherrere e publicada em "The End of
Cheap Oil," no
Scientific American,
há doze anos, em Março de 1998. Eles calcularam que a
produção de petróleo a partir de fontes convencionais iria
diminuir de 74 milhões de barris por dia em 2003 (o que compara com os
84 milhões de barris por dia no gráfico do DOE) e cairia para 39
milhões de barris por dia até 2030 (o que compara com 39
milhões de barris por dia até 2030 no gráfico do DOE!) (
http://www.jala.com/energy1.php
). Campbell e Laherrere previram um "pico" em 2003, e o
gráfico acima indica um "pico" (não necessariamente o
pico real, mas o ponto médio de produção) em 2005 ou antes
disso.
Portanto, se o gráfico está correcto, encontramo-nos à
beira de um precipício, sem qualquer aviso prévio nem da
indústria, que sabe bem o que possui, nem dos governos que proclamam
proteger o interesse público. Conforme afirma Colin Campbell, um
geólogo investigador que trabalhou para muitas grandes companhias
petrolíferas e estudou exaustivamente o esgotamento do petróleo (
http://www.peakoil.net/about-aspo/dr-colin-campbell
), "Há muito tempo que andam no ar os sinais de alerta. Têm
sido fáceis de ver, mas o mundo fechou os olhos e não quis ler a
mensagem". (
http://www.greatchange.org/ov-campbell,outlook.html
). O mundo foi completamente transformado pelo petróleo durante o
século XX, mas o gráfico tem razão, dentro de 20 anos, o
petróleo praticamente desaparece mas a nossa dependência dele
não. Em vez disso, temos:
-
Tempo zero para resolver como substituir os automóveis na nossa vida
-
Tempo zero para planear como fabricar e instalar milhões de fornalhas
para calefacção a fim de
substituir as existentes a petróleo, e zero tempo para produzir as
infra-estruturas necessárias para realizar essa tarefa
-
Tempo zero para reformular os bairros suburbanos para que possam funcionar sem
gasolina
-
Tempo zero para planear a substituição das maiores
instituições militares da história, quase totalmente
dependentes do petróleo
-
Tempo zero para planear alimentar nove mil milhões de pessoas sem a
"revolução verde", uma criação da era do
petróleo
-
Tempo zero para planear a substituição do petróleo
enquanto combustível essencial na produção da electricidade
-
Tempo zero para planear a preservação de milhões de
quilómetros de estradas sem asfalto
-
Tempo zero para planear a substituição do petróleo no seu
papel essencial em TODAS as indústrias
-
Tempo zero para planear a substituição do petróleo no seu
papel único de transporte de pessoas, produtos agrícolas, bens
manufacturados. Num mundo sem petróleo que parece estar apenas a vinte
anos de distância, não haverá navios alimentados a
petróleo que transportem cereais dos Estados Unidos para outros
países, não haverá aviões alimentados a
petróleo que liguem as principais cidades do mundo, não
haverá barcos alimentados a petróleo que transportem mercadorias
chinesas para os milhares de milhões que hoje delas dependem
-
Tempo zero para planear a sobrevivência dos milhares de milhões de
pessoas que se esperam até 2050 depois do "pico de todas as
coisas"
-
Capital zero, por causa da incapacidade dos bancos e da dívida
pública e privada, em resolver estes problemas
Porquê tempo zero?
Porque, se continuarmos a usar mais petróleo do que o gráfico
permite, mais tarde ainda teremos menos.
Porque já estamos comprometidos em alimentar mais 2,5 mil milhões
de pessoas do que temos actualmente.
Porque sempre que continuamos a aumentar diariamente o nosso consumo de
petróleo, apesar de continuarmos a ter mais pessoas que precisam dele e
milhares de milhões que merecem sair duma pobreza aviltante, estamos a
contribuir para que a escassez futura do abastecimento seja cada vez maior.
A acreditar no gráfico, a procura vai suplantar a oferta por volta do
final de 2011, e suplantar gravemente a oferta dentro de cinco anos. O que
é que vamos fazer, e como é que o vamos fazer? Não temos
tempo para decidir.
O GRÁFICO ESTÁ CORRECTO?
É muito pouco provável que as coisas possam ser melhores do que
aquilo que o gráfico indica. Porquê?
-
A maior parte das entidades considera que ainda há um pouco mais de um
milhão de milhões de barris de petróleo convencional. A
partir deste número podemos fazer um cálculo simples: Ao ritmo
actual de 30 mil milhões de barris por ano, ou seja, 82 milhões
de barris por dia, ficará tudo esgotado dentro de 33 anos mas, como o
consumo está a aumentar rapidamente, e não a diminuir, de facto
ainda vai desaparecer mais cedo
-
Um olhar mais atento ao gráfico revela que ele foi traçado na
presunção de que os actuais campos petrolíferos
convencionais mundiais contêm actualmente apenas 750 000 mil
milhões de barris, o que só chega para nos manter durante 25 anos.
-
O gráfico assume uma taxa de declínio de 4% ao ano. Se as
estimativas das reservas ainda existentes estiverem certas, não deve
estar longe da verdade. Com efeito, 4% é uma taxa de declínio
relativamente baixa, em comparação com o que se tem observado nos
campos petrolíferos, de modo geral. Podem ter a certeza que a descida
vai ser bastante rápida!
-
As principais companhias petrolíferas, que presumivelmente sabem melhor
do que nós quanto petróleo possuem, "curiosamente deixaram
de investir em mais capacidade de refinação, que certamente seria
necessária se a produção fosse aumentar". (Campbell,
http://www.greatchange.org/ov-campbell,outlook.html
). O excesso de capacidade de refinação para além da
procura manteve-se perto dos 10 milhões de barris por dia na
década de 90, mas caiu quase para zero na década passada em
consequência de essa capacidade não ter sido aumentada. (
http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2006/01/chp1pdf/fig1_21.pdf
).
-
O Comando Supremo Conjunto Militar dos Estados Unidos também informou
que a indústria petrolífera não tem investido na
capacidade de refinação necessária para permitir a
expansão da produção, e que "Mesmo que se iniciasse
hoje um esforço concertado para colmatar essa carência, só
ao fim de dez anos a produção seria compatível com a
procura esperada". ("Joint Operating Environment 2010", 26.
http://www.jfcom.mil/newslink/storyarchive/2010/JOE_2010_o.pdf
).
-
A fonte significativa de petróleo inexplorado mais frequentemente
referida é as areias betuminosas de Alberta, Canadá. Como
é necessário gastar uma alta percentagem do valor
energético das areias betuminosas na sua própria
extracção, a quantidade das reservas declaradas é
enganadora, e dois investigadores independentes calcularam que é de
esperar que a recuperação das areias betuminosas em 2020 seja de
3,3
milhões e 4 milhões de barris. Por
conseguinte, é baixa a probabilidade de que as areias betuminosas possam
ser uma contribuição significativa para a procura mundial de
petróleo num futuro próximo. (Phil Hart e Chris
Skrebowski, "Peak oil: A detailed and transparent analysis,"
http://www.energybulletin.net/node/30537
).
-
A diferença para menos, legendada como "projectos não
identificados", que é necessário colmatar dentro de 20 anos,
corresponde a uma situação sem precedentes de uns 60
milhões de barris por dia, o que equivale a ¾ da
produção total actual. Nunca na história fizemos uma coisa
semelhante. Embora haja grandes depósitos de petróleo
"não convencional", como sejam as areias betuminosas
canadianas, a maior parte deles só estão a progredir lentamente
quanto ao seu crescimento e consomem quase tanta energia na
produção como aquela que geram. O Instituto de Estudos
Energéticos de Oxford, independente, estimou um possível
crescimento de 6,5 milhões de barris por dia em relação a
esses projectos, quando precisamos mais do que isso, ano sim, ano não,
apenas para mantermos a mesma situação. Portanto é pequena
a probabilidade de reduzir significativamente o que quer que seja no que se
refere a essa diferença para menos. Com efeito, os "projectos
não identificados" podem ser entendidos apenas como um
"eufemismo para a escassez". (Campbell
http://www.greatchange.org/ov-campbell,outlook.html
). O Comando Supremo Conjunto Militar dos Estados Unidos chegou à mesma
conclusão: que de todas as potenciais fontes de energia futuras
"nenhuma delas nos dá razões para optimismo" (
http://www.jfcom.mil/newslink/storyarchive/2010/JOE_2010_o.pdf
). O banqueiro de investimentos da indústria petrolífera, Matt
Simmons, considera-os "baseados na fé". (
http://www.simmonsco-intl.com/files/Northern%20Trust%20Bank.pdf
, 4).
-
A teoria do "pico de Hubbert" sobre a depreciação do
campo petrolífero, que previu o pico e a subsequente morte da
indústria petrolífera dos EU, com 15 anos de antecedência e
com um desvio de 2 anos quanto à sua ocorrência,
(http://www.hubbertpeak.com/hubbert/1956/1956.pdf), afirma que, com os
métodos normais de produção, um país atinge o pico
da produção nos seus campos petrolíferos quando estes se
encontram explorados a 50%, e a curva de produção começa a
ter a forma de sino. O pico pode ser adiado através de técnicas
de extracção inovadoras, mas isso só leva ao mais
rápido declínio subsequente dos depósitos e da
extracção total. O mundo atingiu o ponto médio das suas
reservas na década passada, portanto o "pico" em 2005,
implícito no gráfico acima, está muito perto daquele que
seria de esperar.
-
Surpreendentemente, o Dr. Hubbert no mesmo documento de 1956, previu, com base
em registos de apenas 90 mil milhões de barris de petróleo
recuperado em todo o mundo, que o pico da produção mundial de
petróleo situar-se-ia aproximadamente no ano 2000; esta previsão
aparentemente bastante rigorosa feita por Hubbert tem sido bastante esquecida (
http://www.hubbertpeak.com/hubbert/1956/1956.pdf
). Sentimo-nos tentados a perguntar porque é que, se um homem conseguiu
prever o momento do pico 44 anos antes de ele ocorrer, o Departamento de
Energia dos Estados Unidos é incapaz de o reconhecer depois de ele
ocorrer.
-
Há um sentimento comum que, lá porque não sabemos onde
está o petróleo, não significa que a Mãe Jazida
não esteja ali ao virar da esquina. Mas se procurarmos bem, as
probabilidades são muito menores. O intervalo de tempo entre uma
descoberta e a produção plena dum campo é de 30 a 40 anos,
o que significa que, mesmo com a praticamente impossível descoberta de
outra Arábia Saudita, o gráfico acima sofreria apenas
mudanças imperceptíveis de produção entre o momento
presente e 2030. Mas já não há descobertas dessas. O ritmo
de descobertas de novo petróleo convencional tem vindo a diminuir
regularmente de há QUARENTA ANOS para cá, apesar de continuarem
as pesquisas com tecnologias cada vez mais sofisticadas. Houve dois
acontecimentos fulcrais: o pico das descobertas por volta de 1968 e aquele dia
em 1981 em que a descoberta de novos depósitos petrolíferos
deixou de acompanhar a produção. Não há nada de
complicado nisto. Conforme Campbell diz, o sinal de alerta para toda a gente ver
"reconhecia pura e simplesmente dois factos inegáveis:
-
É preciso descobrir o petróleo antes de o produzir
-
A produção reflecte a descoberta só após um
intervalo de tempo
"A descoberta atingiu um pico nos anos 60 apesar de toda a
tecnologia
de que tanto ouvimos falar, e de uma procura mundial para as melhores
perspectivas. Não devia ser uma surpresa para ninguém que o
correspondente pico de produção esteja agora em cima de
nós". Com efeito, o segundo ponto de Campbell significa que o
inevitável pico da produção de petróleo no
início do século XXI, devia ser óbvio para todos desde o
pico da descoberta no final dos anos 60.
Campbell não está isolado. Conforme observa o Comando Supremo
Conjunto Militar dos EU, "O ritmo de descobertas de novos campos de
petróleo e de gás nos últimos vinte anos (com a
possível excepção do Brasil), não oferece muitas
razões para esperar que os esforços futuros venham a encontrar
novos campos importantes" ("Joint Operating Environment 2010",
31).
-
O maior campo da Arábia Saudita, o Ghawar, está actualmente em
declínio e parece que o país não tem nada para compensar
esse declínio. Isso levou muita gente a concluir que o "Peak Oil is
a Done Deal" (o "Pico do Petróleo é um Assunto
Arrumado"). (Dave Cohen, ASPO/USA Energy Bulletin, 16 de Julho, 2008 (
http://www.energybulletin.net/node/45940
).
SE É UM "ASSUNTO ARRUMADO", PORQUE É QUE
ESPERÁMOS ATÉ AO ÚLTIMO MINUTO PARA PERCEBER ISSO?
"Podemos desejá-lo, podemos sonhar com ele, mas nunca
voltará, o petróleo não é renovável, e por
isso tempo virá em que se terá consciência de que JÁ
NÃO HÁ MAIS PETRÓLEO". (ENO Petroleum Corporation,
"Peak Oil - The Global Oil Crisis"
http://www.enopetroleum.com/opecoilreservers.html
). É difícil imaginar um acto ou omissão que provoque mais
prejuízo a um maior número de pessoas e animais do que a
omissão dos "responsáveis" em anunciar com uma
antecedência razoável que o fornecimento de petróleo iria
acabar. Mas nós é que apanhamos em cheio o facto de não
ter havido nenhum alerta prévio ao público em geral.
Os organismos de planeamento do governo encarregados de ajudar a
população a sobreviver após o fim do petróleo
não podiam ter agido pior ao reconhecerem o pico do petróleo
apenas depois de ele ocorrer. Tal como o aquecimento global
antropogénico ("AGA"), o "pico do petróleo"
tem sido um assunto sujeito a décadas de negação
[NR 1]
. Não obstante a conhecida vitória de Hubbert ao apontar o pico da
produção de petróleo dos EU através da simples
observação de que a produção evidentemente atinge o
seu pico depois de o abastecimento ter chegado a metade, pouca gente deu
ouvidos a que, como o abastecimento mundial de petróleo convencional
iria atingir o ponto médio na primeira década deste
século, as dificuldades estavam ao virar da esquina. O facto é
que a chegada a este ponto significava que já estávamos com
problemas. Embora as fases iniciais de crescimento de um campo
petrolífero (tal como as fases iniciais de crescimento em praticamente
todas as coisas) sigam uma curva de crescimento exponencial, e os viciados do
crescimento mundial adoram curvas exponenciais, a verdade é que é
uma certeza matemática que, depois de atingir o ponto médio,
quanto mais tempo se tentar ajustar o campo a um padrão de crescimento
exponencial, mais íngreme será o seu fim. Se não
desacelerarmos rapidamente, é precisamente isso que vai acontecer
o declínio depois do ponto médio só pode ser mais
rápido do que a subida anterior.
O que Hubbert observou em relação às reservas
petrolíferas americanas tem um significado intuitivo à
medida que o petróleo diminui no campo, a pressão desce, e por
isso o fluxo começa a abrandar o jorro do poço passa a ser
uma bica. Mas se o proprietário do campo não revelar inteiramente
o que é que está lá dentro, os observadores externos
apenas podem fazer estimativas quanto ao que o futuro reserva a partir de
princípios geológicos e das quantidades que o dono está a
vender. E como todos sabemos, revelação total não é
o nome do jogo no negócio do petróleo.
Se se deixasse que o campo libertasse apenas o seu ouro líquido a um
ritmo natural, isso não seria mau, porque podiam aplicar-se
observações como o Pico Hubbert. Mas, como a tecnologia evolui e
a pressão do poço pode ser reforçada para compensar as
reservas em declínio (por exemplo, bombeando água nos
poços), o observador externo fica na incerteza. Restam as
informações sobre as reservas da companhia, mas o rigor dessas
informações é fortemente posta em dúvida. No seio
da OPEP, que permite aos seus membros comercializar de acordo com a quantidade
das suas reservas, (Hart, "Introduction to Peak Oil,"
www.philhart.com/content/introduction-peak-oil
,
há grandes tentações de aldrabar. Os observadores
externos podem acompanhar os relatórios duma companhia sobre as suas
reservas, mas esses relatórios são altamente suspeitos.
Mantêm-se os mesmos durante anos, embora o país esteja a extrair
grandes quantidades de petróleo sem reportar quaisquer novas descobertas
e também podem subir bruscamente sem notícias de novas
descobertas. Esses "relatórios" levam à
conclusão inevitável de que muitas das declarações
de reservas da OPEP são pura ficção. Se quiserem ver
gráficos das reservas de petróleo da OPEP, contorcendo-se
misteriosamente, podem dar uma vista de olhos ao estudo de Hart. Portanto, se
julgavam que os especialistas tinham tudo na mão e nos alertariam de
forma credível quando os problemas estivessem para chegar, pensem melhor
nisso. Não só os membros da OPEP têm razões
negociais internas para exagerar as suas reservas, como as companhias no
mercado interno de acções querem convencer os seus accionistas da
sua validade a longo prazo e todos os produtores de petróleo querem
tranquilizar os seus clientes de que podem continuar a confiar no
petróleo por muito tempo ainda. Ao esconder o futuro aos
proprietários de casas, as companhias petrolíferas deram
milhões e milhões a ganhar ao negócio imobiliário e
aos bancos à custa dos que optam por viver nos subúrbios em vez
de morar nos apinhados bairros "mais próximos", e as
próprias companhias irão ganhar milhões e milhões
no futuro próximo a vender aos consumidores apanhados pela
dependência do petróleo, que podiam ter escolhido alternativas de
modo mais consciente se soubessem até que ponto o colapso estava
próximo.
Matt Simmons, o banqueiro que após a Faculdade de Gestão de
Harvard passou a sua carreira como consultor sobre o pico do petróleo,
desde as companhias petrolíferas até à última
administração presidencial e, especificamente, a do presidente
Bush, devia saber. E o que ele diz é que as companhias
petrolíferas ocidentais, como a ExxonMobil, se opunham totalmente
à ideia de dados transparentes porque isso iria revelar "até
que ponto os seus campos petrolíferos estão realmente em mau
estado e envelhecidos" (Energy TechStocks.com, "Meeting the Challenge
Matt Simmons: Force All Oil Producers to Give Transparent Data"). Segundo
a EnergyStocks.com, Simmons alertou para o facto de "a Arábia
Saudita e outros importantes produtores de petróleo não
fornecerem dados de produção transparentes tem deixado o mundo
indefeso, incapaz de saber se pode manter um abastecimento adequado de
petróleo face à procura crescente. Essa incerteza levou à
indecisão sobre se o mundo deve investir as gigantescas somas de
dinheiro necessárias a desenvolver fontes de combustíveis
alternativas para transportes".
Há muito que se sabe até que ponto são maus os
números publicados sobre as reservas pelos principais países
produtores de petróleo. Gostamos de dizer que o que alto sobe, acaba por
cair, mas não o aplicamos às reservas petrolíferas das
nações membros da OPEP. As suas quotas de produção
permitida dependem das suas reservas, por isso há uma
tentação intrínseca de sobreavaliar as reservas e nunca
reflectir a parte que foi extraída no valor das reservas reduzidas. Em
1988, as reservas de petróleo da OPEP, "duplicaram mágica e
milagrosamente", sem qualquer descoberta correspondente de novos campos.
As reservas declaradas oficialmente apresentam gráficos que seriam
cómicos se não fosse o facto de que 6,8 mil milhões de
pessoas, e o que mais virá, dependem dos números reais.
(Ver
http://www.enopetroleum.com/opecoilreservers.html
)
Enfrentamos agora as consequências de os principais produtores de
petróleo terem "mantido o mundo na ignorância": uma
incapacidade quase total de resolver as graves dificuldades que enfrentamos,
nos transportes, na alimentação, na habitação e no
aquecimento dos milhares de milhões do número da
população em crescimento. É difícil entender como
é possível que uma entidade privada possa impor tanto sofrimento
a tanta gente. Não precisava de ser assim. O governo dos EU e as suas
coortes em todo o mundo podiam ter imposto a transparência às
companhias petrolíferas quanto às suas reservas reais, e
nós teríamos tido um aviso leal e a possibilidade de superar o
desafio. Pois é, e a lua podia ser feita de queijo.
Evidentemente, como assinalámos, é possível produzir um
gráfico aproximado, como o que está acima, apenas com os dados de
produção e os dados das reservas. Os primeiros são
públicos e os segundos são conhecidos até certo ponto.
Durante muitos anos foi consensual para os que tomavam decisões que o
mundo tinha um total (tanto de petróleo produzido como do que ainda
estava no campo) de cerca de 2 milhões de milhões de barris de
petróleo convencional e, conforme sublinhado por Campbell, quatro
décadas de descobertas decrescentes deixaram-nos numa
situação de incapacidade absoluta de aumentar as reservas
disponíveis de forma atempada para minimizar a escassez que se aproxima.
O número de dois milhões de milhões de barris era o
número crítico para fazer o que um planeamento pode fazer, mas no
início da década passada, os EU cerraram fileiras com o consenso
do resto do mundo, declarando por intermédio do historicamente
fiável US Geological Survey (USGS) que as reservas mundiais de
petróleo convencional (tanto o consumido como o por consumir) andavam de
facto mais perto dos três milhões de milhões do que dos
dois, uma afirmação que, a ser verdade, proporcionava logo ao
mundo, por um truque de prestidigitação, um abastecimento de mais
trinta anos ao ritmo do consumo actual. Claro que os antigos
funcionários do USGS contestaram essa estimativa por se basear
"fundamentalmente em estimativas de cálculos de novas descobertas
de petróleo" e por duplicar a habitual taxa de
recuperação de 30 por cento das reservas "sem haver qualquer
tecnologia à vista capaz de fazer isso". (Gordon, "Worries
Swelling Over Oil Shortage," Energy Bulletin March 20-, 2005). As
preocupações relativas à sobreavaliação das
descobertas acabaram por estar certas: manteve-se a sua tendência para a
descida. Só este facto criou uma discrepância entre as
projecções do USGS e a realidade em aproximadamente 900 mil
milhões de barris. Simultaneamente, os dados de produção
pareceram atingir o pico em 2005, o destacado geólogo petrolífero
da Universidade de Princeton, Kenneth Deffeyes, previu que 2005 era o ano, e
Simmons referiu as mesmas preocupações. (
http://www.energybulletin.net/node/4835
e
http://www.simmonsco-intl.com/files/Northern%20Trust%20Bank.pdf
(p. 31). Apesar disso, com base no "pensamento positivo" do
USGS, durante a administração Bush, o Departamento de Energia
prognosticava um "pico de produção algures entre 2021 e o
início do próximo século, sendo 2037 a data mais
provável". (
http://www.energybulletin.net/node/4835
). Nada de preocupante.
Com o pico iminente na realidade, tal como aconteceu com o "cepticismo
científico" do aquecimento global
[NR 2]
,
em 2006 a indústria apareceu com uma "teoria" publicada num
relatório não revisto por pares, de que o "pico do
petróleo" na sua totalidade era um falso conceito, e de que o
comportamento real de um campo petrolífero ou de uma
conglomeração petrolífera era um pico seguido por um
"planalto ondulante" e a seguir uma descida suave de cerca de 2% ao
ano, anos, ou mesmo décadas depois. Segundo a Cambridge Energy Research
Associates (CERA), "É provável que a situação
decorra em
câmara lenta e que haja uma série de décadas para preparar
o início do planalto ondulante. Isto significa que há tempo para
avaliar a melhor forma de desenvolver alternativas energéticas
viáveis que venham ao encontro do grosso das nossas necessidades de
energia para transporte" (
www.cera.com/aspx/cda/public1/about/about.aspx
). Nada de preocupante
A CERA acusou os defensores do "pico do petróleo" de
não terem em conta o facto de que as estimativas das reservas evoluem
com o tempo e que isso acontece de acordo com a tecnologia utilizada para a
extracção do petróleo. Esta crítica é
cínica, visto que a indústria se recusa a revelar quer a
tecnologia que utiliza num dado momento quer as suas reservas reais, e as
estimativas das reservas evoluem com o tempo mais por razões
políticas do que por razões geológicas. Os factos que os
defensores do "pico do petróleo" não podem ter em
consideração são os factos que a indústria
não revela. Conforme Simmons assinalou, "Com dados sólidos
sobre a produção global dos campos de petróleo, 'podia ser
comprovada a data do Pico do Petróleo' ". E, evidentemente, se a
teoria do "planalto ondulante"
estiver correcta, o que a indústria tem que fazer é revelar os
factos para a comprovar, mas não o fazem. Além disso, as taxas
médias de declínio de um abastecimento de petróleo
são ditadas apenas por dois números: a que velocidade estamos a
consumir petróleo e quanto resta. Taxas mais baixas de declínio
hoje significam taxas mais altas de declínio amanhã. Estes
são factos imutáveis mesmo que o "planalto ondulante"
esteja correcto. Portanto, para evitar um declínio rápido no
petróleo disponível, temos que descobrir e pôr a produzir
hoje mesmo novos abastecimentos de uma dimensão incrivelmente grande.
Apesar disso, a "teoria" da CERA conseguiu intimidar os burocratas o
suficiente para que a posição oficial actual do DOE, conforme
expressa ao
Le Monde
, não obstante o gráfico, seja de que estamos "a entrar num
planalto"
petrole.blog.lemonde.fr
).
Na mesma altura em que tudo isto se estava a passar, a ONU, o Congresso dos EUA,
a administração Obama e a indústria petrolífera
andavam a negociar as metas para a legislação do aquecimento
global. Milagrosamente, embora talvez não tenha sido coincidência,
foram acordadas as metas de redução de percentagens que coincidem
exactamente com a percentagem das reduções no consumo do
petróleo que serão fisicamente impostas sobre nós todos, a
acreditar no gráfico acima: uma descida de 18% entre 2005 e 2020, e uma
descida de 85% entre 2005 e 2050 (É possível extrapolar o
gráfico, que assume níveis de descida exponenciais das reservas
existentes a uma taxa de 4% ao ano). Isto compara com níveis de
redução das emissões de CO2 de 17% entre 2005 e 2020 e de
80% entre 2005 e 2050 na proposta. Portanto, parece que estão
estabelecidas as metas legislativas, seja qual for a razão, de modo que
a indústria petrolífera pouco ou nada terá que fazer em
qualquer caso, dada a redução das reservas
(
http://ecoglobe.ch/energy/e/peak9423.htm
). É difícil ver como
é que os negociadores chegaram a uma correspondência destas se
não tivessem plena consciência do colapso iminente da
produção e da esperada taxa de declínio.
Coincidência? Talvez, mas de qualquer modo parece pouco provável.
Intencionalmente ou não, as metas correspondem mais às
necessidades das companhias petrolíferas do que às necessidades
calculadas pelos cientistas.
Em resumo, com todas estas provas disponíveis, é difícil
ver como é que a indústria e o Departamento de Energia podem
não ter previsto este desfecho. Dadas as consequências, o facto de
não terem alertado o público roça o criminoso. E se, por
qualquer modo, se podem declarar inocentes, então ainda temos que
perguntar porque é que não deram atenção ao alerta
de Matt Simmons, consultor para o pico do petróleo da
administração Bush, quanto à importância da
transparência. Mas não o fizeram, e agora cá estamos.
CONCLUSÕES
Estamos por nossa conta. Dentro em breve vamos ter que lidar com cada vez menos
petróleo, visto que não houve avisos prévios nem
planeamento. Chegou a altura de as comunidades se prepararem para a
independência energética comunitária, porque só essa
via será segura. Isto significa depender do sol e do vento e da
água
que nunca nos faltaram. Isso significa cooperação uns com os
outros para ultrapassar tempos muito difíceis. Isso significa encontrar
alternativas ao petróleo para as nossas vidas o mais depressa
possível o petróleo que alimenta os nossos carros, o
petróleo que aquece as nossas casas, o petróleo que alimenta os
geradores para a nossa electricidade., o petróleo de que são
fabricados os fertilizantes e insecticidas químicos, e os
plásticos e os poliésteres, o petróleo de que os
agricultores dependem para as bombas de irrigação, para o
transporte dos produtos para o mercado, para trabalharem o solo para nos
fornecerem os alimentos. Se acreditarmos no gráfico, todo o
petróleo terá desaparecido dentro de 20 anos. E os progressistas
e os "
tea-partyers
" têm que se lembrar que as pessoas que provocaram esta calamidade
não são nossos amigos mas são pessoas em quem
confiámos e em quem eles confiaram, por isso temos que trabalhar em
conjunto para estar à altura dos problemas que nos atingem, e para
"correr com os canalhas".
23/Abril/2010
N.T.
[1]
Earth First! É: grupo radical de defesa do ambiente que surgiu nos EUA
em 1979.
[2]
Sierra Club: a mais antiga organização
ambiental nos EUA, fundada em 1892.
[3]
Goldman Sachs Group, Inc.: banco de investimento global que
trata de investimentos, garantias, gestão e outros serviços
financeiros.
[4] Tea Party: movimento político de direita nos EUA iniciado em 2009,
constituído sobretudo
por sectores da pequena e média burguesia afectados pela crise. A suas
manifestações incidem sobretudo em questões fiscais.
N.R.
[1} No caso do aquecimento global, a negação tem toda a razão de ser. Ver
Acerca da impostura global
[2} Ao contrário, o cepticismo cada vez aumenta mais sobretudo a partir
do recente
Climategate
.
[*]
Jurista especializado em questões ambientais. Pode ser contactado em
narguimbau@earthlink.net
.
O original encontra-se em
http://www.informationclearinghouse.info/article25306.htm
. Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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