Uma manipulação cínica

por Charley Reese

O caterpillar como arma de punição colectiva. A política americana em relação ao factor mais desestabilizador do Médio Oriente — o conflito palestino-israelense — destina-se a apoiar Israel e jamais ofender o lobby israelense.

Os políticos amerianos utilizam alguns dispositivos retóricos a fim de disfarçar esta política, pois isto garante não só a continuidade do conflito como uma oferta contínua de terroristas e uma crescente hostilidade para com a política externa americana naquela região. Eles usam retórica para simular estarem interessados numa solução.

Assim, não chamam as coisas pelos seus nomes correctos. Jerusalem Leste, o West Bank e Gaza não são "territórios disputados", nem tão pouco a Judeia e a Samária. Eles são territórios ocupados. Foram ocupados por Israel na guerra de 1967. Há uma antiga resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas intimando Israel a devolver aqueles territórios aos palestinos.

O nome adequado para colónias judias no território ocupado é colónias "ilegais". Os Acordos de Genebra, dos quais Israel é signatário, proíbem a colonização de territórios ocupados, bem como a expulsão da população nativa.

O nome certo para tácticas israelenses como a demolição de lares, a destruição de propriedade agrícola, o confisco de propriedades, a imposição de toques de recolher, o assassínio de oponentes políticos e o bloqueamento de estradas é "punição colectiva", a qual na maior parte do mundo é considerado um crime de guerra. Nenhum país civilizado pune pessoas inocentes pelos actos de um indivíduo. Nenhum país civilizado consente no assassínio.

Outro dispositivo retórico dos políticos americanos — sem dúvida um dos mais covardes do mundo — esconde-se por trás da proposição de que "as partes envolvidas devem chegar a um acordo". Isto é equivale a um polícia aparecer à porta de uma família cuja filha de seis anos foi violada e dizer: "A sua filha e o seu violador terão de resolver isto entre si".

Há uma enorme disparidade de poder — Israel tem-no todo os palestinos nenhum — de forma que colocar sobre os palestinos o fardo de negociar com os seus opressores é obscenamente irrealista. É exactamente como se o presidente Franklin Roosevelt e o primeiro-ministro Winston Churchill tivessem dito à Polonia depois de estar ser invadida e conquistada pelos nazis: "Vocês terão de negociar um acordo com o Terceiro Reich".

É ainda mais obscenamente irrealista dizer aos palestinos que eles são responsáveis pela segurança de Israel. Os palestinos, naturalmente, não tem qualquer Estado, não tem exército, não têm força aérea e não têm nada, ao passo que Israel é classificado por muitos como estando entre as 10 principais potências militares do mundo.

É Israel, à luz do direito internacional, como ocupante, que tem a responsabilidade de proporcionar segurança aos palestinos. Isto, naturalmente, é rizível. Durante 37 anos Israel dominou os palestinos nos territórios ocupados como um povo conquistado sem basicamente quaisquer direitos.

Finalmente, uma das coisas que mais enfurece as pessoas no mundo árabe é que o hábito dos políticos americanos de tomarem nota de todo israelense morto enquanto ignoram as morte muito mais numerosas de palestinos. A morte de qualquer ser humano causa pesar, mas o hábito americano de ignorar o sofrimento palestino dá a impressão de que os americanos consideram as vidas judias muito mais valiosas do que as vidas palestinas. E a verdade é que muitos americanos assim pensam.

Deve-se notar que todos os candidatos democratas evitam falar acerca do conflito israelense-palestino, ou, se não puderem evitá-lo, fazem a eterna promessa de apoiar Israel.

Isto não é de forma alguma a forma de actuação de uma grande potência. O efeito deste enorme acto de covardia política sobre o povo americano é que teremos de viver com o terrorismo que já desova e continuará a desovar durante gerações e gerações futuras. O preço da covardia política americana é o sangue de pessoas inocentes.

Copyright 2004 by King Features Syndicate, Inc.

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09/Mar/04