Passos – Portas & companhia – um governo Kafkiano

por Miguel Urbano Rodrigues

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No último ano a resposta popular contra a política criminosa que vem sendo posta em prática adquiriu amplitude, assumindo características que alarmam o Governo. Os protestos, as manifestações, as greves já não são acções isoladas. Adquiriram caracter permanente, numa interligação das lutas que reflecte a tomada de consciência das massas e a disponibilidade para o combate de novas camadas sociais.

As coisas não podem continuar como estão.

Tenho escrito repetidamente que Portugal está submetido a uma ditadura da burguesia de fachada democrática. Mas no último ano os desmandos de Passos-Portas & Companhia esburacaram a fachada e o rosto hediondo de um governo de vocação fascizante é agora inocultável.

Contemplado de fora, Portugal surge hoje perante o mundo como um país inimaginável. Transcorridas quase quatro décadas de uma Revolução progressista, um bando de inimigos do povo, encastelado no poder, pratica uma política de terrorismo de estado.

Os seus efeitos sociais e económicos são devastadores como os de um furacão que arrasa tudo à sua passagem. A vítima é, porém, um país e o seu povo.

Invocando o interesse nacional, o rigor orçamental e o respeito pelas exigências da troika (os senhores que representam o protetorado da Comissão Europeia e do FMI), Passos-Portas & Companhia, proclamam que não há alternativa para a sua estratégia de saque, opressão e vandalismo.

No Portugal martirizado comportam-se como personagens de uma peça de Alfred Jarry ou de um romance de Franz Kafka.

Passos-Portas & Companhia repetem monocordicamente que a maioria dos portugueses aprova as suas medidas de austeridade e suporta "corajosamente" os impostos, os cortes de salários e os despedimentos que desabam sobre o povo, designados no discurso oficial pela palavra "sacrifícios".

O Primeiro-ministro e a sua gente abominam a separação de poderes inscrita na Constituição da Republica. Protestam ruidosamente quando o Tribunal Constitucional declara inconstitucionais parcelas de decretos-leis do governo aprovados pela maioria PSD-CDS na Assembleia da Republica. Criticam então os magistrados, acusando-os de não compreenderem "a difícil situação" do Pais. Na sua opinião deveriam colaborar com o Governo.

E, sem demora, Passos-Portas & Companhia concebem medidas alternativas às chumbadas pelo Tribunal. No prosseguimento da tresloucada politica de "austeridade" logo o Governo produz legislação que viola direitos e conquistas sociais, promovendo novos cortes salariais e despedimentos massivos.

Passos & Portas criaram um linguajar próprio para envernizar a sua ofensiva contra os trabalhadores. Palavras como "mobilidade" e "requalificação" entraram no léxico oficial para encobrir roubo de salários e despedimentos.

A Função Publica em geral, os reformados e pensionistas, os professores e os trabalhadores da Saúde pública têm sido alvo preferencial da barbárie governamental.

A classe dominante não é somente intocável. Passos-Portas & Companhia, devotos da Finança, nomeadamente da grande banca nacional, tudo fazem para a favorecer.

A irracionalidade da política do governo PSD-CDS é tão transparente que até a srª Lagarde, presidente do FMI e Oliver Blanchard, chefe dos economistas da organização, reconhecem agora que foram cometidos erros em Portugal com a imposição brutal da austeridade.

É significativo que um soldado de perfil conservador como Vasco Lourenço afirme hoje que o País, "sequestrado pelo medo", é "dirigido por corruptos e por aldrabões, por pessoas sem ética nem moral".

Se vivos, o austríaco Friedrich Hayek, pai do neoliberalismo ortodoxo, e o americano Milton Friedman, admirador de Pinochet, reagiriam com espanto e desilusão, creio, aos desmandos da equipa de Passos Coelho.

Relvas & Coelho. Um ministro íntimo do Primeiro, envolvido em negócios escuros e que ostentava um diploma fabricado numa universidade fantasmática foi forçado a demitir-se. Outros membros do Governo comprometidos nos escândalos dos SWAPS e do BPN permanecem em funções. O regabofe não tem fim.

O Primeiro-ministro é um beócio que se contempla como salvador da pátria. Esforçou-se por projetar a imagem do estadista sério e austero tal como a concebe. O resultado é estranho. Caminha como um boneco articulado, forjou um discurso caótico dificilmente inteligível, cultiva um autoritarismo de matizes fascizantes e acredita ser um reformador incompreendido ao qual a Historia prestará um dia justiça.

Ao Presidente da Republica cabe grande responsabilidade pelo desastre nacional. Avaliza a política desumana de Passos Coelho & Portas, identifica-se com ela e declara-a legitimada por uma maioria parlamentar.

Um sistema mediático controlado pelo grande capital colabora com Passos-Portas & Companhia, promovendo a alienação.

Na televisão, na imprensa escrita e na radio chovem, é um facto, criticas ao Governo e à sua politica, mas, com poucas exceções (a de Pacheco Pereira merece referência) incidem sobre o circunstancial. As maiorias dos colunistas de serviço, formadores de opinião, são políticos do sistema e não o põem em causa.

O povo português repudia a política do bando Passos- Portas &Companhia que está arruinando o País e empobrecendo milhões de pessoas.

Os saudosistas do fascismo só não vão mais longe na sua fome de autoritarismo porque as Forças Armadas não os acompanhariam.

No último ano a resposta popular a essa política criminosa adquiriu amplitude, assumindo características que alarmam o Governo.

Os protestos, as manifestações, as greves já não são acções isoladas. Adquiriram caracter permanente, numa interligação das lutas que reflete a tomada de consciência das massas e a uma disponibilidade para o combate de novas camadas sociais.

Registe-se que o Partido Comunista Português denunciou desde o primeiro dia a criminosa politica capituladora de Passos Coelho & Portas e a cumplicidade do PS com ela, como signatário do memorando imposto pela troika.

Para a ascensão da luta de massas tem sido particularmente importante a ação desenvolvida pela CGTP cuja direcção imprimiu uma nova dinâmica ao envolvimento dos trabalhadores nas batalhas políticas em curso, contribuindo decisivamente para a transformação da consciência de classe numa consciência social.

É preciso que a contestação ao Poder e ao seu assalto à razão assuma um caracter torrencial.

As coisas não podem continuar como estão.

A História ensina-nos que a disponibilidade dos povos para as grandes rupturas sociais amadurece lentamente.

Cabe recordar que as Nações Unidas reconhecem o direito dos povos à rebelião quando as políticas de governos tirânicos atingem um nível insuportável.

Vila Nova de Gaia, 16 de Setembro de 2013

O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=3026

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

21/Set/13