Barbárie ou socialismo?
por John Bellamy Foster e Brett Clark
[*]
"Uma nova era de barbárie desaba sobre nós". Foram
estas as palavras de abertura de um editorial do número de 20 de
Setembro de 2004 da
Business Week
, a influente revista americana de negócios. Assinalando o
assassínio de escolares na Rússia, as mulheres e crianças
mortas dentro de autocarros em Israel, a decapitação de
trabalhadores americanos, turcos e nepaleses no Iraque, a morte de centenas de
pessoas num comboio suburbano espanhol e de outras centenas no Bali, a
Business Week
declarava: A América, a Europa, Israel, o Egipto, o Paquistão e
governos de toda a parte estão sob o ataque de extremistas
islâmicos. Estes terroristas têm apenas uma exigência
a destruição da moderna sociedade secular". A
civilização ocidental é encarada numa postura de
oposição aos bárbaros, os quais desejam destruir aquilo
que é assumido como o pináculo da evolução social
ou da liberdade humana.
Omisso neste quadro está "o choque dos barbarismos" o
papel que o imperialismo americano e europeu tem desempenhado para induzir este
fundamentalismo islâmico anti-ocidental. Ele ignora também a
natureza letal da agressão ocidental. Embora a
Business Week
esteja correcta ao dizer que estamos a viver numa "nova era de
barbárie", ela tem as suas raízes naquilo a que Rosa
Luxemburgo outrora chamou "as ruínas da barbárie
imperialista" e no que Marx encarava como a barbárie que muitas
vezes acompanhou a civilização burguesa.
[1]
Para entender o crescimento da barbárie contemporânea é
necessário compreender as forças que governam o presente como
história, as quais devem ser encontradas menos na ascensão do
fundamentalismo religioso do que no desenvolvimento do capitalismo global.
O CONCEITO DE BARBÁRIE E MARX
O conceito de "barbárie" não é simples nem
linear, pois tem uma longa e complexa linhagem no interior do pensamento social
em geral e da teoria socialista em particular. A palavra grega
barbaros
originalmente significava "palrador"
("babbler")
e referia-se a todos os que não falassem grego. Os gregos, como todas
as antigas civilizações, retratavam-se como se vivessem no
centro do mundo e todos os outros residissem na sua periferia (ou
semi-periferia) geográfica e cultural. Após o triunfo grego nas
Guerras Persas todos os bárbaros passaram a ser encarados como
inferiores. A distinção entre povos civilizados superiores no
centro do mundo e bárbaros inferiores na periferia foi portanto
básica no pensamento grego e latino. Platão apresentou uma
doutrina da escravidão natural na qual tomava como garantido que era
direito dos gregos tanto proporcionar a morte aos bárbaros como
escravizá-los.
[2]
A versão mais desenvolvida da distinção entre
barbárie e civilização introduzida pelos gregos e romanos
pode ser encontrada no trabalho do geógrafo grego Estrabão de
Amisea (64AC a 24DC). Estrabão estudou em Roma e reflectiu uma
visão romanizada do mundo. Os dezassete volumes da
Geografia
de Estrabão apresentavam a barbárie como representando um mundo
invertido, em contraste com o gregos e romanos os quais, dizia ele, haviam
adoptado "modos de vida [produção] que são
civis". Na sua teoria da barbárie e da civilização a
diferença geográfica era associada a diferentes modos de
produção.
[3]
As pessoas civilizadas vivem sobre a maior parte dos solos férteis onde a
agricultura sedentária é factível. Considerados opostos
aos civilizados, os povos que comiam pão, os quais eram sobretudo
habitantes da cidade (e agricultores que viviam na estreita proximidade de
cidades), estavam os bárbaros que eram combatentes nómadas que
viviam da carne e do leite e estavam permanentemente em armas. Os
bárbaros eram vistos como preferindo a força e vivendo sob
circunstâncias em que não tinham outro recurso senão
saquear e roubar pois estavam confinados à vastidão das florestas
e afastados das terras aráveis. Mas os bárbaros eram
frequentemente retractados como guerreiros temíveis e nobres selvagens
aos quais faltavam os vícios da civilidade: decadência e
feminilidade.
O conceito de barbárie assume então dois significados
relacionados com os dois significados de civilização. Na medida
em que civilização significava habitante da cidade, a
barbárie significava não-habitante da cidade, e particularmente
aqueles que viviam na periferia. Na medida em que a civilização
representava a regra da lei e da cultura, a barbárie representava a
falta de ambos e o domínio da brutalidade. Os bárbaros eram
conhecidos por realizarem guerras não convencionais. Confrontados pelo
organizado exército romano, "os bárbaros", escreveu
Estrabão, "executavam uma guerra de guerrilhas em pântanos,
em florestas sem caminhos e nos desertos".
[4]
No entanto, o aspecto chave que separava a civilização da
barbárie, segundo Estrabão, era o modo de produção
divergente de cada um. Isto era afectado principalmente pela geografia, com as
populações mais bárbaras a viverem em regiões menos
férteis, mais montanhosas, mais distantes a norte que confinavam com os
oceanos. Estrabão considerava algum desenvolvimento entre as
populações bárbaras na medida em que aprendessem a
cultivar modos de produção mais civilizados. De facto, ele
descreveu como alguns bárbaros "deixaram de ser
bárbaros" pois foram "transformados no tipo dos romanos"
quando foram introduzidos aos "modos de vida"
(produção) romanos.
[5]
Em particular, desde que os bárbaros começassem a produzir
carnes e outras matérias-primas para o Império Romano, passavam a
ser vistos como mais civilizados.
Se na literatura grega e latina a antinomia civilização versus
barbárie era constituída em torno da noção de
centro e periferia, os socialistas primitivos, que encararam o feudalismo que
sucedeu ao Império Romano na Europa Ocidental como constituindo um
milhar de anos de barbárie universal, viam a barbárie como um
estágio de desenvolvimento não confinado simplesmente à
periferia. Para o socialista utópico Charles Fourier, a barbárie
era o estágio que antecedia a civilização. A
barbárie era definida pela força e pela "escravidão
absoluta da mulher". Isto chegou ao clímax com o ascenso da
escravidão em grande escala. Na esteira que se seguia à
barbárie, a civilização, a qual ele encarava como
tipificada pelo "casamento exclusivo e pelas liberdades civis da
esposa" e como introdutória à indústria em grande
escala e à luta de classe que lhe era associada, era exactamente
tão brutal em muitos aspectos como a barbárie mas mais astuciosa
na forma. De facto, Fourier argumentava que a civilização
implicava a exploração da população mundial e um
aumento dos conflitos armados;
Guerra e revolução devastam sucessivamente toda a parte do mundo.
Tempestades políticas, apaziguadas por um momento, estalavam novamente,
multiplicando-se como as cabeças da hidra sob os golpes de
Hércules. A paz é apenas uma ilusão, um sonho
momentâneo, e a indústria, uma vez que uma ilha de comerciantes
monopolistas e espoliadores constrangeu o relacionamento das
nações, desencorajou a agricultura e as fábricas de dois
continentes, e transferiu os seus lugares de trabalho para enfermarias de
pauperismo, a indústria, eu dizia, tornou-se o flagelo dos
milhões de trabalhadores... O espírito comercial abriu novos
campos à fraude e à rapina, difundindo a guerra e a
devastação sobre os dois hemisférios e transportando as
corrupções cúpidas dos civilizados mesmo para
regiões selvagens. Os nossos navios navegam à volta do globo
apenas para iniciar os bárbaros e selvagens nos nossos vícios,
nos nossos excessos e nos nossos crimes. Assim, a civilização
está a tornar-se cada vez mais odiosa à medida que se aproxima do
seu fim. A terra apresenta apenas um caos político assustador, e clama
pelo braço de um outro Hércules para expurgá-lo das
abominações sociais que a desgraçam.
A consequência desta globalização, e num certo sentido
ainda bárbaro modo de produção, foi a pobreza e a fome
para a vasta maioria da população do mundo e o enriquecimento de
um pequeno segmento do povo no interior das nações civilizadas.
[6]
O tratamento de Marx da barbárie, se bem que disperso nos seus escritos,
era complexo e reflectiu as numerosas contradições entranhadas na
civilização ou na sua concepção de capitalismo, o
qual levantava a possibilidade tanto de degeneração como de
progresso (rumo ao comunismo). Ele fez referências à
barbárie tanto em relação ao estágio de
desenvolvimento como a questões de centro-periferia. Marx também
utilizou o termo "barbárie" para referir-se ao papel da
força e da brutalidade na história e especificamente no
capitalismo (referindo-se então à "barbárie dentro da
civilização") tanto aos níveis da luta de
classes como do imperialismo. Nos seus
Livros de notas etnológicas (Ethnological Notebooks),
escritos no fim da sua vida, ele assumiu o conceito de barbárie como
um estágio do desenvolvimento com base no trabalho de Lewis Henry
Morgan. Na sua
Ancient Society
Morgan identificou a Barbárie Inferior
(Lower Barbarism)
com a manufactura da cerâmica; a Barbárie Média
(Middle Barbarism)
com a domesticação de animais no hemisfério oriental, a
irrigação e a utilização do tijolo de adobe e da
pedra na arquitectura do hemisfério ocidental, e Barbárie
Superior
(Upper Barbarism)
com a manufactura do ferro e a invenção do alfabeto
fonético. Grande parte do esquema antropológico de Morgan,
incluindo o seu tratamento da barbárie como um estágio entre a
Selvajaria e a Civilização, foi assumida por Engels em
A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
Mas é a utilização menos formal de Marx e Engels da
palavra barbárie, que eles contrastavam com civilização e
em particular com civilização burguesa, ao invés do
conceito mais específico empregue por Morgan, que mais nos preocupa aqui.
[7]
Marx via a exploração sob o capitalismo a ocorrer frequentemente
sob condições que eram bárbaras, ou que reflectiam a
natureza bárbara da civilização burguesa. Referindo-se
à degradação e à poluição da vida que
sobreveio com o ascenso do capitalismo, ele escreveu nos
Manuscritos económicos e filosóficos de 1844:
"As
formas
(e
instrumentos
) mais brutais de trabalho humano reaparecem [sob o capitalismo]; por exemplo,
o moinho de castigo
(tread-mill)
[NT1]
utilizado pelos escravos romanos tornou-se o modo de produção e
o modo de existência de muitos trabalhadores ingleses". No seu
discurso de 1847 sobre
Salários
Marx referiu-se metaforicamente à utilização do moinho de
castigo na moderna produção capitalista (e nos sistemas
prisionais) como uma doença. "O moinho de castigos", observou
ele, reemergiu "outra vez dentro da civilização. A
barbárie reaparece, mas criada no regaço da própria
civilização e pertencendo-lhe, portanto barbárie leprosa,
uma barbárie que é a lepra da civilização".
Para entender o significado da crítica de Marx é importante
reconhecer o papel que o moinho de castigo ocupou como meio de aterrorizar e
torturar trabalhadores que a ele forem remetidos por uma grande variedade de
ofensas. Assim, em 1818 William Cubbit reintroduziu o moinho de castigo para
os prisioneiros ingleses, os quais, segundo uma descrição no
Scientific American,
empregavam homens na "trituração de cereais ou no
fornecimento de energia a outras máquinas. Cada prisioneiro tinha de
escalar o moinho numa distância vertical total de 2630 metros em seis
horas. A façanha equivalia a escalar 16 vezes os degraus do Monumento
Washington, permitindo-se cerca de 20 minutos por cada viagem".
Para Marx, esta reintrodução do moinho de castigo representa as
tortuosas formas de exploração que arruinam a vida empregue
muitas vezes pela civilização burguesa. O moinho de castigo era
uma "lepra da civilização" pois tal como aquela
doença corrói o corpo, e porque a lepra, que assolara a Europa
durante a era da barbárie medieval, servia como metáfora para o
ressurgimento da barbárie medieval no regaço da própria
civilização burguesa. Da mesma forma, no seu
Manuscrito económico de 1861-3
, Marx citou uma passagem do economista russo Heinrich Friedrich von Storch que
denunciava a degradação das condições de trabalho e
o enfraquecimento da saúde dos trabalhadores assalariados como um
reflexo do retorno à barbárie que frequentemente acompanhou o
crescimento da civilização burguesa.
Marx também se referiu à barbárie no sentido de estar do
lado de fora da civilização da cultura, isolado da vida das
cidades e do relacionamento social e político. Neste sentido, ele via o
campesinato francês como a desempenhar um papel reaccionário no
seu apoio ao bonapartismo, encarando o campesinato como a classe que neste
sentido representava "a barbárie dentro da
civilização". O colapso periódico do progresso
económico sob o capitalismo, e a pobreza e duras condições
que isto implicava era por si mesmo uma espécie de regressão, e
portanto Marx e Engels no
Manifesto comunista
referiram-se à crise económica como "um estado de
barbárie momentânea".
[8]
O modo mais global em que Marx e Engels utilizaram o conceito de
barbárie, entretanto, era no tratamento da relação entre o
centro e a periferia da economia capitalista mundial. No seu panegírico
irónico à burguesia, que abrangia grande parte da Parte I do
Manifesto comunista
eles observaram como a burguesia tem "tornado bárbaros e
semi-bárbaros países dependentes dos civilizados,
nações de camponeses sobre nações de burgueses, o
Oriente sobre o Ocidente". Da mesma forma, eles referiram-se ao facto de
que "os preços baratos das suas [as da burguesia] mercadorias
são a artilharia pesada com a qual eles deitam abaixo todas as muralhas
da China, com a qual eles forçam os teimosos bárbaros que odeiam
intensamente os estrangeiros a capitular. Marx encarava a Rússia
czarista, na semi-periferia da Europa, como um bastião de
barbárie a ameaçar movimentos revolucionários no Ocidente.
Mas na sua crítica ao colonialismo Marx já invertia o seu
tratamento da barbárie, a qual passava a representar o que os burgueses
modernos do ocidente capitalista "fazem de si próprios... quando
podem modelar o mundo conforme a sua própria imagem sem qualquer
interferência". "A profunda hipocrisia e a barbárie
inerente da civilização burguesa", escreveu Marx em 1853 em
"Os futuros resultados do domínio britânico na
Índia", "jazem desvelados diante dos nossos olhos, quando os
desviamos do seu lar, onde ela assume formas respeitáveis, para as
colónias, onde ela está nua". Nos seus escritos posteriores
Marx tornou-se ainda mais crítico do imperialismo britânico na
Índia quando teve conhecimento daquilo a que há pouco Mike Davis
chamara "holocaustos vitorianos": a coincidência da
expropriação imperialista do excedente da sociedade indiana com
fomes vastas e a imposição de salários miseráveis
aos trabalhadores indianos. (As rações
(Temple wage
[NT2]
)
que os britânicos proporcionavam a trabalhadores ocupados em trabalhos
árduos em Madras, na Índia, em 1877, tinham um valor
calórico inferior àquele que os nazis vieram a proporcionar aos
prisioneiros forçados a trabalho árduo no campo de
concentração de Buchenwald em 1944). Marx observou que a
expansão britânica estava a devastar a indústria da
Índia, difundindo a miséria e a degradação,
enquanto transformava o país num simples produtor de
matérias-primas agrícolas para a Grã-Bretanha. De facto,
o imperialismo britânico serviu como força de
destruição, demolindo as forças produtivas da Índia
e provocando subdesenvolvimento mesmo quando introduzia as forças da
indústria moderna dentro da sociedade indiana. No seu tratamento de
"A génese do capitalista industrial" no
Capital,
volume 1, Marx citou aprovadoramente a obra
Colonisation and Christianity,
de William Howitt, que escrevera: "As barbaridades e as atrocidades
desesperadas da assim chamada raça cristã, em toda a parte do
mundo, e sobre todos os povos que foram capazes de subjugar, não
têm paralelo em outros de qualquer outra raça, mesmo feroz, mesmo
analfabeta, e mesmo despida de compaixão e de vergonha, em qualquer era
da Terra".
[9]
Uma crítica comum do pensamento de Marx é que ele via a
história como inerentemente progressista. O trabalho mais
amplamente citado como reflectindo este progressismo extremo é o
Manifesto comunista.
Mas, logo no princípio do
Manifesto,
Marx e Engels observam, em relação às lutas de classe
que haviam governado a história de todas as civilizações
existentes até então, que "opressor e oprimido,
posicionam-se em
oposição constante um ao outro, continuando um combate
ininterrupto, ora oculto ora aberto, um combate em que em cada período
terminava geralmente numa reconstituição revolucionária da
sociedade ou na ruína comum das classes contendoras".
[10]
A queda do Império Romano, que sucumbiu a uma "ruína
comum das classes contendoras" (e à barbárie tanto no seu
interior como no exterior) foi seguido no Ocidente por um longo período
de barbárie medieval. Nem Marx nem Engels subestimaram o papel da
força na história, nem a sua influência regressiva. A
história portanto podia mover-se para a frente em direcção
ao socialismo ou para trás em direcção à
barbárie ou, pior, para promover uma forma capitalista de
barbárie, mais sistemática, desnudada nas suas
relações imperialistas.
Além disso, a própria análise de Marx da
destruição ecológica forjada pelo capitalismo a
brecha metabólica apontava para a possibilidade da
regressão histórica, pois rupturas nos sistemas naturais
provocavam crises ambientais para a sociedade. Ao estragar o solo e ao poluir
as cidades com resíduos o capitalismo minou as condições
materiais de existência. Toda civilização, ele salientou,
deixa desertos no seu rastro. Na mesma passagem dos
Manuscritos económicos e filosóficos
na qual se refere à reintrodução do moinho de castigos
como um exemplo de barbárie Marx também se referiu à
poluição gerada nas cidades industriais da Grã-Bretanha e
à destruição ecológica infligida pelo capitalismo:
"O refinamento das necessidades e dos meios de satisfazê-las deu
lugar a
uma degeneração bestial... Mesmo a necessidade de ar fresco
deixa de ser necessária ao trabalhador. O homem reverte outra vez para
a vida numa caverna, mas a caverna agora está poluída pelo
mefítico e pestilencial sopro da civilização... Luz, ar,
etc a mais simples limpeza
animal
deixa de ser uma necessidade para o homem. A
imundície
esta poluição e putrefacção do homem, o
esgoto
(esta palavra é para ser entendida no seu sentido literal)
tornam-se um
elemento da vida
para ele". Em
O papel desempenhado pelo trabalho na transformação do macaco em
homem,
Engels escreveu acerca da destruição humana do meio-ambiente
natural e o enfraquecimento de civilização que isto implicava.
Os seres humanos, observou ele nos seus escritos ecológicos, aumentaram
a temperatura da terra nas regiões em que as florestas foram
destruídas extensivamente. Nada disto era compatível com a
simples visão progressista sugerida de que a civilização
efectuava uma espécie de reversão para a barbárie dentro
de si como uma linha de evolução potencial.
[11]
Luxemburgo e "As ruínas da barbárie imperialista"
Foi Rosa Luxemburgo que promoveu este aspecto da dialéctica de Marx no
contexto da expansão imperialista global, da crise da social-democracia
alemã, da Primeira Guerra Mundial e do ascenso do proto-fascismo. Em
Dezembro de 1918, menos de um mês antes de ser assassinada a seguir
à derrota do levantamento espartaquista, Luxemburgo escreveu um artigo
intitulado "Que querem os espartaquistas?". Ela declarou que uma
opção apresentava-se a si mesma: "Socialismo ou
barbárie". Se esta última a
continuação das relações capitalistas
persistisse, a história implicaria novas guerras, fomes e
doenças. As classes dominantes ao longo da história
"derramam todas rios de sangue, todas elas marcham sobre cadáveres,
assassínios e incêndios, instigam guerras civis e
traição, a fim de defender os seus privilégios e o seu
poder". O desenvolvimento em curso da barbárie imperialista
prometia ser mais brutal e traiçoeiro, ameaçando tornar grande
parte do mundo um "amontoado fumarento de entulho". Assim, o ascenso
da barbárie moderna saída do capitalismo apresentava novas
ameaças ao mundo.
"O socialismo", argumentava Luxemburgo, "tornou-se
necessário não simplesmente porque o proletariado não
está mais disposto a viver sob condições impostas pela
classe capitalista mas, ao contrário, porque se o proletariado deixar de
cumprir os seus deveres de classe, se falhar na realização do
socialismo, seremos esmagados em conjunto numa maldição
comum".
[12]
O destino que a barbárie representava era assim "a ruína
comum das classes contendoras" de Marx.
[13]
No seu famoso
Panfleto Junius (A crise da social-democracia alemã)
, escrito pouco antes enquanto esteve presa por protestar contra a Primeira
Guerra Mundial, Luxemburgo denunciava as tendências reaccionárias
e as horrendas possibilidades de uma segunda guerra mundial a seguir à
primeira que talvez fosse ainda mais devastadora nas suas
implicações. Já então os capitalistas se
aproveitavam da destruição, das "cidades tornadas
ruínas, dos países transformados em desertos, das aldeias que
viraram cemitérios, de nações inteiras que se tornaram
mendigas". O capitalismo avança para o mundo "investindo em
sangue e refocilando na imundície... Como uma besta a rosnar, como uma
orgia de anarquia, como um sopro pestilencial, devastando cultura e humanidade
[e] assim surge ele em toda a sua odiosa nudez". Ou a sociedade
"avança para o socialismo" ou ela reverterá
"à barbárie". O "triunfo do imperialismo"
envolveu "a destruição de toda a cultura e, como na antiga
Roma, o despovoamento, desolação, degeneração, um
vasto cemitério". O socialismo proporcionava a possibilidade de um
novo mundo.
Na análise de Luxemburgo das "ruínas da barbárie
imperialista", de que constituiam uma ameaça se o capitalismo
não fosse
substituído pelo socialismo, ela apontava especialmente para a
destruição até aos fundamentos da periferia, na
África, no Médio Oriente e na China regiões que
eram o alvo da conquista dos imperialistas europeus. "Todas as riquezas
da terra" seriam subjugadas ao capital, a população do mundo
seria convertida em escravos assalariados. O "mundo civilizado", que
ela adequadamente punha entre aspas, havia-se tornado o mais feroz, a mais
brutal das barbáries que o mundo já vira armado como
estava com armas espantosamente destrutivas e impelido a avançar por uma
insaciável compulsão à expansão económica.
O "mundo civilizado" que se mantinha tranquilamente até
então quando... o imperialismo condenou dezenas de milhares de
heróis à destruição, quando o deserto do Calaari
estremeceu com o grito insano dos sedentos e a respiração
arquejante dos moribundos, quando em Putumayo, dentro de dez anos, quarenta mil
seres humanos foram torturados até à morte por um bando de
barões-ladrões da indústria europeia, e os remanescentes
de todo um povo foram batidos até ficarem incapacitados, quando na China
uma antiga civilização foi entregue à
destruição e à anarquia, com fogo e carnificina, pela
soldadesca europeia, quando a Pérsia ficou sem alento no nó
corrediço do domínio por forças estrangeiras que
estrangulavam inexoravelmente a sua garganta, quando em Trípoli os
árabes foram picados em pedaços, com o fogo e as espadas, sob o
jugo do capital, enquanto a sua civilização e os seus lares eram
arrasados até ao chão este mundo civilizado havia apenas
começado a saber que os colmilhos da besta imperialista são
mortais, que o seu hálito é pavoroso, que as suas garras
dilacerantes haviam penetrado profundamente nos peitos da sua própria
mãe, a cultura europeia. E este reconhecimento tardio está a
chegar ao interior do mundo europeu sob a forma distorcida da hipocrisia
burguesa, que leva cada nação a reconhecer a infâmia
só quando ela aparece no uniforme da outra. Eles falam da
barbárie germânica, como se todas as pessoas que partem para o
assassínio organizado não se transmutassem numa horda de
bárbaros! Eles falam dos horrores cossacos, como se a própria
guerra não fosse o maior de todos os horrores.
[14]
Numa importante nota de
rodapé à análise de Luxemburgo, o teórico marxista
do Sri Lanka G.V.S. de Silva apresentou um desenvolvimento adicional do
conceito de barbárie. Ele argumentou que a noção
tradicional marxista dos modos de produção a evoluírem do
capitalismo para o socialismo e o comunismo precisava ser revista. O
capitalismo não conduz necessariamente ao socialismo ou o socialismo
necessariamente ao comunismo. Ao invés disso, tanto o capitalismo como
o socialismo poderiam degenerar em barbárie, a qual representava uma
alternativa brutal ao comunismo. A barbárie, na concepção
de Silva, devia ser definida como uma sociedade baseada simultaneamente sobre:
a força, o controle ideológico na escala do
1984
de Orwell, a destruição de todo o poder contrabalançador
de modo a que interesses económicos possam governar directamente com um
Estado mínimo; "consumo induzido de produtos inúteis"
concebidos para distrair a população; e a extrema
dominação da natureza em todos os seus aspectos. Na falta de uma
mudança revolucionária nas dimensões qualitativas da
economia global e de um fim à exploração capitalista da
natureza, o espectro da barbárie continuaria a assombrar a humanidade.
Assim, de Silva concluiu sinistramente: "A barbárie em um ou dois
países poderosos esmagará o resto da humanidade".
[15]
A mais perigosa fase do imperialismo
"Os bárbaros já bateram às portas", declara
Niall Ferguson Herzog, Professor de História na Stern School of
Business, da New York University, e hoje um dos principais advogados do
imperialismo americano e britânico. Mas os bárbaros de hoje,
segundo Ferguson, são fundamentalistas islâmicos, e o imperialismo
liberal é um meio de vacinar o mundo contra o dito terrorismo
islâmico. Se bem que as batidas às portas representem um perigo
claro para a ordem imperial dominada pelos EUA, estes grupos terroristas
externos, argumenta Ferguson, não provocarão directamente o
declínio do império americano. Ao contrário, a principal
ameaça à posição dos Estados Unidos na economia
global é interna. Ela está enraizada numa relutância por
parte do Estado americano em afirmar plenamente a sua posição
à frente do império global. Ferguson, acreditando que o
Império Britânico do passado deveria ser emulado embora
numa forma digna do século XXI argumenta que os EUA têm
sido demasiado hesitantes em impor-se ao mundo. De facto, o mundo precisa de um
império; e muitas nações estariam numa
situação melhor se dominadas pelos EUA, ao invés de terem
plena independência. Ele continua notando que os problemas globais
têm origem numa paragem prematura dos esforços imperialistas. Os
Estados Unidos, diz ele, "constituem um império de armas
e
de manteiga" um país que representa não apenas o
domínio da força como também o avanço dos
princípios do império liberal e da generosidade liberal,
proporcionando assim uma ordem mais democrática. Não é
mera coincidência que Ferguson, hoje um dos mais influentes historiadores
do
establishment,
apele explicitamente a uma actualização do antigo "Fardo
do homem branco" (a ser substituído por uma nova ideologia do
império liberal "funcional") enquanto branqueia uma das mais
bárbaras guerras do imperialismo moderno: a Guerra Filipino-Americana
no princípio do século XX exactamente a mesma guerra
imperial em que Kipling encorajou os Estados Unidos no seu poema "O fardo
do homem branco".
[16]
Com a queda da União Soviética, como explicou István
Mészáros em
Socialismo ou barbárie,
os Estados Unidos começaram a assumir "o papel do Estado do
sistema do capital enquanto tal, incluindo sob si próprio por todos os
meios à sua disposição todas as potências
rivais". Devido ao seu imenso poder militar, ao seu arsenal maciço
de poderes destrutivos, e à sua disposição para usar a
força, os Estados Unidos estão agora a conduzir o mundo
àquilo que Meszaros chamou
"a mais perigosa fase de imperialismo ao longo de toda a
história".
[17]
Numa tentativa de impedir a revolução (ou na verdade qualquer
caminho de saída para populações na periferia), os EUA
estão procurando ultrapassar a única lei certa do universo: a
mudança. No processo, eles pariram ditadores, apoiaram terroristas e
ameaçaram o mundo com a destruição violenta. No
Médio Oriente os Estados Unidos cultivaram um Islão regressivo e
politicamente fundamentalista (utilizável na guerra dirigida pela CIA
contra os soviéticos no Afeganistão e no fechamento de todas as
opções progressistas no Médio Oriente) que quando ataca os
Estados Unidos ou seus aliados é estigmatizado como uma "nova
barbárie" uma barbárie que, contudo, é um
subproduto do próprio império.
As portas do inferno estão abertas
Dois anos atrás, Amr Moussa, dirigente da Liga Árabe e antigo
ministro dos Negócios Estrangeiros do Egipto, previu que "as portas
do inferno" seriam abertas se os Estados Unidos invadissem o Iraque. No
Cairo, recentemente, ele retomou esta visão, observando que agora
"os portões do Inferno estão abertos no Iraque".
Embora estivesse "escaldado" por algumas das suas
declarações de dois anos atrás, desta vez, segundo o
USA Today
(16/Setembro/2004), "não houve discordância". É
claro que a invasão e ocupação americana provocou um banho
de sangue no Iraque que continuará durante anos, dada a guerrilha feroz
que os iraquianos lançaram como resposta. A posição
americana no Iraque está a deteriorar-se. As forças ocupantes
perderam o controle sobre todas as partes do país. Em Outubro ocorreram
bombardeamentos, pela primeira vez, na altamente fortificada Zona Verde de
Bagdad, o centro do comando imperial naquele país. Mais de três
dúzias de cidades iraquianas são zonas para "não
ir"
("no-go")
sob o controle da resistência iraquiana. Nos 30 dias finalizados em 28
de Setembro houve mais de 2300 ataques por parte da forças de
resistência contra os EUA, coligação e alvos governamentais
iraquianos em todas as áreas do país. "O tipo de ataques
efectuados vai desde os carros bombas, bombas de tempo,
rocket propelled grenades,
granadas de mão, pequenas armas de fogo, ataques de morteiro e minas
terrestres". Só em Bagdad, as forças iraquianas de
resistência lançaram mais de 3000 ataques com morteiros entre
Abril e o fim de Setembro (
New York Times,
28/Setembro/2004).
Apesar dos contínuos ataques aéreos e terrestres americanos a
centros iraquianos de resistência, a insurgência parece estar a
acumular força. Agora é bem reconhecido pelos elementos
dirigentes dos Estados Unidos que o número de tropas americanas
alistadas no Iraque não é suficiente para cumprir a missão
de subjugar a população. Os iraquianos estão relutantes
em alistar-se no exército e na polícia iraquianas, e aqueles que
se alistaram estão a desertar em grande quantidade. Faltando uma
força interna para administrar a sua ordem, os EUA, apesar do seu
arsenal maciço, estão manietados. Trabalhar no apoio às
operações americanas de ocupação é
mortífero, pois mais de 700 responsáveis da polícia
iraquiana que colaboram com a ocupação americana foram mortos.
Para cumular tudo isto, os insurrectos estão a infligir feridas que
atingem o cerne da classe dominante americana pois os oleodutos estão a
ser alvo de destruição. A situação para as
forças imperialistas é negra. "O resultado final é
que neste momento estamos a perder esta guerra", declara Andrew Bacevich,
antigo coronel do Exército e professor de relações
internacionais na Universidade de Boston. Apesar disso, continua ele,
"Isto não significa que ela esteja perdida, mas que estamos a
perde-la" (
USA Today,
16/Setembro/2004). Tudo isto ressuscitou o fantasma do Vietnam o
símbolo aparentemente inevitável da derrota dos EUA em guerras
imperialistas.
A barbárie sempre foi associada à tortura. Os comentários
de Marx acerca do moinho de castigos destinavam-se a mostrar o papel que este
instrumento desempenhou na torturas de trabalhadores prisioneiros enquanto
reforço das relações burguesas de produção.
Ele explorou a utilização sistemática da tortura pelo
colonialismo britânico na Índia no seu artigo "Investigations
of Tortures in India" e considerou as atrocidades dos "cipaios
revoltados na Índia" como uma "retribuição
histórica" por tais actos dos seus opressores britânicos. O
uso sistemático da tortura pelos Estados Unidos em Abu Ghraib, Iraque,
no Afeganistão e na sua base de Guantanamo, Cuba, está agora a
gerar em todo o mundo um ódio ainda mais profundo ao imperialismo
americano. Nas Filipinas no princípio do século XX as tropas
americanas empregaram uma técnica de tortura conhecida como a "cura
da água", pela qual era bombeada água garganta abaixo dos
detidos até que confessassem o que habitualmente resultava na sua
morte pouco tempo depois. Uma das torturas utilizadas recentemente pela U.S.
intelligence num suspeito terrorista de alto nível é a infame
técnica conhecida como "water-boarding", pela qual um
prisioneiro é atado, empurrado à força para debaixo da
água e levado a acreditar que pode ser afogado". Mais convencional
é um conjunto de técnicas de tortura mais lentas mas altamente
eficazes: isolamento, privação de sono por muito tempo,
remoção de luz e som, exposição a frio e calor
extremos, forçar o prisioneiro a permanecer nu, utilização
de capuzes negros, mante-los de pé ou inclinados em
posições de stress, pancadas, ameaçar detidos com
cães de guarda, interrogatórios de 24 horas, etc. Segundo o
Final Report of the Independent Panel to Review DoD Detention Operations
(Agosto/2004), também conhecido como
The Schlesinger Report
de acordo com presidente do Painel Independente, o antigo secretário
americano da Defesa James Schlesinger, interrogadores americanos torturaram
pelo menos cinco prisioneiros até à morte, e há pelo menos
23 outros casos suspeitos de mortes de detidos ainda sob
investigação. Grande parte disto recebeu uma base
"legal" espúria com a recusa do governo americano em conceder
aos suspeitos de terrorismo detidos em Guantanamo e outros lados o estatuto de
prisioneiros de guerra, suspendendo portanto a Convenção de
Genebra. Tudo isto prepara o cenário para o tratamento bárbaro
de prisioneiros.
[18]
Os portões do inferno estão abertos em outro aspecto. Vivemos
num mundo material, onde terra, água e ar suportam a vida. A economia
humana e os processos naturais estão interconectados inseparavelmente.
Hoje todos os ecossistemas sobre a terra estão em perigo. É de
particular preocupação a realidade do aquecimento global, a qual
está literalmente conduzindo a terra em direcção a um
inferno fabricado por nós próprios. O consenso científico
sobre o aquecimento global sugere que é necessário pelo menos
60-80 por cento de redução na emissão de gases com efeitos
estufa abaixo dos níveis de 1990 nas próximas décadas a
fim de evitar efeitos ambientais catastróficos (ascensão dos
níveis dos mares que levam a perda de ilhas e áreas costeiras,
extinção acelerada de espécies, aumento de secas e de
desertificação, eventos climáticos extremos,
extinção acelerada de espécies, perda de colheitas, etc)
no próximo século. Contudo, os Estados Unidos têm
aumentado constantemente as suas emissões de dióxido de carbono
desde 1990. Isto conduz o mundo a emissões globais, com emissões
per capita de até cinco vezes o nível globalmente
sustentável, e não apresenta sinais de reversão desta
tendência, sem se importar com a devastadoras consequências que
isto possa ter para outros países, particularmente nos trópicos,
ou para gerações futuras. A guerra no Iraque, que é sobre
o controle do petróleo como meio de dominação mundial,
é por si própria uma manifestação da recusa
americana em mudar de direcção sem se importar com as
consequências para o planeta. Esta filosofia do
Après moi le déluge!
, como Marx sugeriu numa ocasião, constitui a essência mesmo
da barbárie.
[19]
Os iraquianos acabarão por cansar-se de serem mortos
Rumsfeld
Como declarou a
Business Week,
"Uma nova era de barbárie desaba sobre nós". Mas
é um erro atribuir tal barbárie simplesmente ou principalmente a
forças sociais e nações da periferia. Assim como Marx
inverteu o tratamento histórico da barbárie ao condenar os
sistemas coloniais do seu tempo, precisamos reconhecer a barbárie dos
fortes e a sua culpabilidade na criação desta nova era. O
secretário da Defesa Donald Rumsfeld, a voz da nova barbárie,
declarou recentemente: "Em algum momento os iraquianos acabarão
por cansar-se de serem mortos" (
USA Today,
16/Setembro/2004). Presumivelmente ele estava a referir-se aos iraquianos
mortos pelos bombistas suicidas. No entanto, esta declaração
torna-se desumana nas suas implicações no contexto da
invasão e ocupação americana do Iraque.
Anteriormente declarara que não há fim para "A guerra global
ao terror", a qual pode ser chamada a Guerra global do terror. Só
a transcendência do capitalismo, na direcção do socialismo,
proporciona a possibilidade de escapar do actual estado de barbárie
imperialista que está a preparar o caminho para novos holocaustos
globais e um apocalipse ecológico agravado. Daniel Singer afirmou que
"O socialismo pode ser uma
possibilidade
histórica, ou mesmo
necessária
para eliminar os males do capitalismo, mas isto não significa que ele
inevitavelmente
tome o seu lugar".
[20]
Deveríamos prestar atenção a esta advertência. A
escolha que confrontamos e que acabaremos por decidir através das nossas
lutas é se o futuro da espécie humana será o
"socialismo" ou "as ruínas da barbárie
imperialista".
__________
NOTAS
1- Gilbert Achcar,
The Clash of Barbarisms
(New York: Monthly Review Press, 2002); Rosa Luxemburg,
The Crisis in the German Social-Democracy
(New York: Howard Fertig, 1969), p. 127; Karl Marx and Frederick Engels,
Collected Works
(New York: International Publishers, 1975), vol. 12, p. 217.
2- Jona Lendering, The Edges of the Earth in Greek and Roman Thought,
Part 1, on webpage:
Livius: Articles on Ancient History
http://www.livius.org/ea-eh/edges/edges.html
; G.E.M. de Ste. Croix,
The Class Struggle in the Ancient Greek World
(London: Duckworth, 1983), p. 416.
3- Strabo,
The Geography,
vol. 2 (New York: G.P. Putnam's Sons [Loeb Classical Library], 1923), p. 209
(Strabo 4.1.13).
4- Lendering, The Edges of the Earth in Greek and Roman Thought, Part
1; Strabo,
The Geography
, vol. 1, p. 37 (Strabo 1.1.17).
5- Antes do tempo dos gregos... toda a Grécia era, segundo
Estrabão, originalmente um "assentamento de bárbaros".
Isto sugere algo diferente do estrito determinismo geográfico. Ver
Estrabão,
The Geography
, vol. 2, pp. 201, 243-45 (Strabo 4.1.12 and 4.4.3) and vol. 3, pp. 285-87
(Strabo 7.6.2-7.7.1).
6- Jonathan Beecher,
Charles Fourier
(Berkeley: University of California Press, 1986), pp. 319-26; Charles Fourier,
The Social Destiny of Man, Or Theory of the Four Movements
(New York: R.M. Dewitt, 1857), pp. 99, 220-23.
7- Sobre a utilização de Morgan ver John Bellamy Foster,
Marx's Ecology
(New York: Monthly Review Press, 2000), pp. 214-18. Convém notar que
ao definir Barbárie Média pela domesticação de
animais Morgan conformou-se à concepção encontrada nos
antigos, tal como Estrabão, o qual a identificou especificamente com um
modo de produção que focalizava a administração
animal e a dieta de carne e laticínios.
8- Karl Marx,
Early Writings
(Harmondsworth, Middlesex, England: Penguin Books, 1974), p. 360; E.S.
Ferguson, The Measurement of the 'Man-Day,'
Scientific American
, vol. 225, no. 4 (December 1971), pp. 96-103; Karl Marx and Frederick Engels,
Collected Works
(New York: International Publishers, 1975), vol. 6, p. 434 and vol. 34, p. 67;
Karl Marx and Frederick Engels,
The Communist Manifesto
(New York: Monthly Review Press, 1998), p. 12.
9- Karl Marx,
Capital
, vol. 1 (New York: Vintage, 1976), p. 916; Karl Marx and Frederick Engels,
On Colonialism
(New York: International Publishers, 1972), pp. 86-8. Karl Marx and Frederick
Engels,
Selected Correspondence
(Moscow: Progress Publishers, 1975), pp. 316-7 (Marx to Nikolai Frantsevich
Danielson, February 19, 1881). Como sugerem estas passagens, Marx e Engels
não usaram o termo barbárie de um modo eurocêntrico. No
caso das
guerras entre cristãos e mouros na Espanha foram os cristãos que
Engels caracterizou como bárbaros. Ver Marx e Engels,
Collected Works
, vol. 25, p. 170. Also Mike Davis,
Victorian Holocausts
(New York: Verso, 2001), p. 39.
10- Marx and Engels,
The Communist Manifesto
, p. 2.
11-
Marx,
Early Writings
, pp. 359-60; Marx and Engels,
Collected Works
, vol. 25, pp. 460-61. O facto de que Marx encarava a evolução
(pelo menos no mundo natural) tão potencialmente degenerativa assim como
evolucionária é sublinhado pela sua tentativa de apoiar o seu
amigo Ray Lankester, o biólogo darwiniano, a ter o seu ensaio
"Degeneration" traduzido em russo. Ver Foster,
Marx's Ecology
, p. 224.
12- Rosa Luxemburg,
The Rosa Luxemburg Reader
, edited by Peter Hudis and Kevin B. Anderson (New York: Monthly Review Press,
2004), pp. 349-52, 364.
13- A afirmação de Luxemburgo de ter tomado a ideia
"socialismo ou barbárie" de Marx é vista por Hudis e
Anderson, os editores de
The Rosa Luxemburg Reader
, como relacionada ao comentário de Marx e Engels sobre "a
ruína comum das classes contendoras" no
Manifesto
. Ver a sua nota em
The Rosa Luxemburg Reader
, p. 426.
14- Luxemburg,
The Crisis in the German Social-Democracy
, pp. 8, 18, 117, 124-26. Ver também Sven Lindqvist,
Exterminate All the Brutes
(New York: The New Press, 1996) e John Ellis,
The Social History of the Machine Gun
(New York: Pantheon Books) para discussões extensas acerca da
barbárie imperialista britânica na África.
15- G.V.S. de Silva,
The Alternatives: Socialism or Barbarism
(Dehiwela, Sri Lanka: Social Sciences Association, 1988), pp. 255, 269-71, 286.
16- Niall Ferguson,
Colossus
(New York: Penguin Press, 2004), pp. 48-52, 267, 301-02; John Bellamy Foster,
Harry Magdoff and Robert McChesney, Kipling, the 'White Man's Burden,'
and U.S. Imperialism, in Foster and McChesney,
Pox Americana
(New York: Monthly Review Press, 2004), pp. 12-21. Este último artigo
está publicado em português em
http://resistir.info/mreview/editorial_mr_nov03.html
.
17- István Mészáros,
Socialism or Barbarism
(New York: Monthly Review Press, 2001), pp. 29-37.
18- Marx and Engels,
On Colonialism
, pp. 152-55, 162-67;
New York Times
, May 13, 2004; Mark Tanner, Abu Ghraib: The Hidden Story,
New York Review of Books,
October 7, 2004, pp. 44-50; Edward Greer, 'We Don't Torture People in
America': Coercive Interrogation in the Global Village,
New Political Science,
vol. 26, no. 3 (September 2004), pp. 371-87.
19-
Après moi le déluge!
é a palavra-de-ordem de todo o capitalista e de todo o país
capitalista. O capital portanto não leva em conta a saúde e a
extensão da vida do trabalhador, a menos que a sociedade o force a agir
assim". Marx,
Capital
, vol. 1, p. 381.
20- Daniel Singer,
Whose Millennium?
(New York: Monthly Review Press, 1999), pp. 272-273.
NOTAS DO TRADUTOR
NT1: Tread mill: Moinho usado como castigo, movido por uma grande roda provida
de degraus que uma ou mais pessoas faziam girar.
NT2: Temple wage: O nome refere-se a Richard Temple, colonialista
britânico que estipulou uma ração diária para os
coolies
indianos do sexo masculino.
[*]
John Bellamy Foster é editor da
Monthly Review
e Brett Clark é colaborador da mesma.
Esta comunicação foi apresentada no Encontro Internacional 'Civilização
ou Barbárie", Serpa, Setembro de 2004. Tradução de JF.
Este ensaio encontra-se em
http://resistir.info
.
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