Teses sobre a crise do capitalismo
e a conjuntura mundial
por Alberto Anaya Gutiérrez,
Virgilio Maltos Long e
Rodolfo Solís Parga
[*]
Esta comunicação tem o propósito de expor um conjunto de
elementos que permitam analisar a crise sistémica e cíclica que o
capitalismo atravessa, assim como os perfis e traços
característicos da actual conjuntura mundial, e estabelecer as
perspectivas que se apresentam às lutas dos povos e das forças de
esquerda e centro-esquerda, no difícil processo que leve a construir uma
nova sociedade. Pomos à vossa consideração as seguintes
teses.
1. A etapa actual caracteriza-se pela combinação de uma crise
sistémica com uma crise cíclica do capitalismo, e pelo fracasso
do modelo neoliberal e da globalização como estratégias
para as superar. Em vez disso, recrudesceram estas crises e os seus efeitos
económicos, sociais, políticos e culturais na maior parte do
mundo. Nestas condições, têm vindo a configurar-se
vigorosos movimentos populares e frentes políticas e eleitorais, que por
necessidade estão aproximando e combinando posições,
programas e formas de luta diversos, que se expressam fundamentalmente em dois
grandes blocos: as correntes exclusivamente anti-neoliberais e
anti-globalização, por um lado e as correntes anti-capitalistas e
revolucionárias, por outro.
2. O capitalismo é um sistema económico, social e político
que pela sua própria natureza se desenvolve através de crises
periódicas, tanto estruturais ou sistémicas como cíclicas.
A história dos passados três séculos do capitalismo regista
pelo menos três crises estruturais:
A que na segunda metade do século XVIII marcou o desenvolvimento da
primeira Revolução Industrial, e a que estiveram vinculados
significativos processos socio-políticos como a Revolução
da Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa,
o movimento ludista na Grã Bretanha e as Revoluções
independentistas na América Latina e no Caribe, entre os mais relevantes.
A de meados do século XIX que propiciou as Revoluções de
1848-1849 em vários países da Europa, e nas quais apareceu pela
primeira vez o proletariado como classe propriamente dita, embora ainda
subordinada ao programa da burguesia liberal. Este processo desembocou na
transformação do sistema capitalista e a sua entrada na fase
imperialista, caracterizada pela fusão do capital industrial com o
capital bancário, donde surgiu o capital financeiro.
A chamada Grande Crise de 1929-1933 em que esteve seriamente em
causa a sobrevivência do próprio sistema capitalista, e à
qual estiveram associadas a derrota da classe operária europeia pelos
regimes fascistas da Itália, da Alemanha e de Espanha, a Segunda Guerra
Mundial, e a subsequente divisão do planeta em dois grandes blocos e a
Guerra Fria, assim como o triunfo das Revoluções na
China, no Vietname e na Coreia do Norte, e os processos de Independência
da Índia e dos países africanos.
E a mais recente crise sistémica que teve início em 1974-1975,
que abriu caminho ao modelo neoliberal e à sua forma de
globalização, como estratégias para superar esta crise,
mas na qual, no entanto, nos encontramos mergulhados, dado o fracasso de tais
estratégias.
3. A história do capitalismo regista, ainda assim, numerosas crises
cíclicas de longa duração como as seguintes: 1819-1821,
1847-1848 (que coincidiu com a crise sistémica nesses anos), 1871-1873
(a que esteve ligada a Comuna de Paris; que, por outro lado, inaugurou a fase
imperialista clássica; e enquadrou o desenvolvimento da Segunda
Revolução Científico-Técnica das últimas
duas décadas do século XIX), 1902-1903 (a que estiveram ligadas a
Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa), 1929-1933 (que
coincidiu com a crise sistémica desses anos), e 1974-1975. No quadro
destes ciclos de 20 - 25 anos e dos seus momentos de crise, tiveram lugar as
chamadas crises cíclicas de menor prazo, de 5, 7 ou 10 anos. Estas
crises de períodos mais curtos, também coincidiram em diversas
ocasiões com os outros dois tipos de crise descritos atrás.
4. No termo da Segunda Guerra Mundial, vários factores confluíram
para que tivesse lugar a chamada expansão do
pós-guerra, etapa que se estendeu de 1947 a 1973 e que
também foi conhecida como os 30 anos dourados do
capitalismo. Entre estes factores destacam-se os seguintes:
O novo quadro institucional traçado e acordado em Bretton Woods, New
Hampshire, Estados Unidos em 1944, e que regeria as relações,
dinâmica e operações do sistema capitalista internacional:
ONU, FMI, BIRD (Banco Mundial) e GATT (agora OMC).
A reconstrução da Europa por meio do Plano Marshall, e do
Japão com um plano específico.
A introdução nos processos produtivos, e que geraram novos ramos
da economia, das primeiras inovações que caracterizariam a
Terceira Revolução Científico - Técnica, a qual
desabrochou plenamente a partir dos anos oitenta: micro - electrónica,
cibernética, informática, aeroespacial, energia nuclear,
robótica, comunicação por satélite, biotecnologia e
engenharia genética. Esta introdução promoveu um processo
de recuperação e aprofundamento dos processos de
acumulação de capital nos países industrializados,
preponderantemente nos Estados Unidos, que os levaram a converter-se na
primeira potência económica, tecnológica e militar do mundo.
A aplicação generalizada de políticas keynesianas que
promoveram o surgimento da economia mista e o Estado de bem-estar,
por meio do intervencionismo económico estatal, de políticas
monetárias expansionistas e políticas fiscais
deficitárias. As políticas keynesianas chegaram a traduzir-se num
keynesianismo de guerra em vários conflitos regionais como
na China, Coreia do Norte e Vietname, entre outros.
A industrialização de numerosos países do que se denominou
nesses anos o Terceiro Mundo, pela via dos investimentos externos
das empresas multinacionais, e mediante o modelo de substituição
de importações (modelo preferentemente adoptado por vários
países da América Latina). Estos factores ampliaram e
fortaleceram os mercados internos dos países do Terceiro
Mundo, redundaram em importantes desenvolvimentos da sua infra-estrutura
básica, na sua modernização e na elevação do
nível de vida dos sectores populares e das classes médias,
além de ampliar, fortalecer e acelerar os seus processos de
acumulação de capital.
5. Neste período de mais de duas décadas, as taxas de crescimento
económico dos países industrializados foram de entre 3 e 5%,
sobressaindo o milagre japonês com uma taxa média de
7%. Em numerosos países da América Latina, o crescimento
apresentou taxas de entre 3, 4 e mesmo 5%, destacando-se o México com
uma taxa ligeiramente superior a 6% anuais. Durante a maior parte de todos
estes anos, e salvo breves períodos, a inflação não
foi muito alta; mas nos finais dos anos sessenta e princípios dos
setenta começou a representar um factor de incerteza e de
desaceleração da acumulação de capital.
6. Em 1968 e nos anos imediatamente posteriores, assistiu-se à
última vaga de ascensão e ofensiva contra o domínio do
capital das massas estudantis, dos sectores populares e da classe
operária em numerosos países do mundo. As
reivindicações iam desde a melhoria dos salários e das
condições de trabalho e de vida, ao mal-estar cultural dos
jovens. Nestes mesmos anos, emergiu com mais força o questionamento de
dentro e de fora do chamado socialismo real, e foram-se agudizando
as contradições que levaram ao derrube do bloco Leste - europeu e
da URSS entre 1989 e 1991. O capital, as classes dominantes e as estruturas e
instituições do poder político e ideológico tomaram
nota, e prepararam-se para dar impulso a uma contra-ofensiva. O momento
propício foi a crise de 1974-1975.
7. A crise capitalista internacional de 1974-1975 cancelou abruptamente essa
prolongada fase de expansão económica, pôs de lado as
políticas keynesianas e propiciou as condições para a
contra-ofensiva do capital hegemonizada pelos sectores neoliberais das classes
dominantes. Esta contra-ofensiva teve como antecedentes imediatos a
experimentação da corrente monetarista dos Chicago
Boys, a quem foi encomendado o delineamento e a condução da
política económica do Chile depois do sangrento golpe de Estado
contra Salvador Allende, de Pinochet.
8. A contra-ofensiva capitalista adoptou a forma do modelo neoliberal e da
globalização por si comandada, que inicialmente se experimentaram
nos últimos anos da década de setenta e nos primeiros da de
oitenta nos países capitalistas mais industrializados, especialmente na
Grã-Bretanha, sob o governo de Margaret Tatcher e nos Estados Unidos sob
o primeiro governo de Ronald Reagan. A partir de então e até aos
nossos dias, o neoliberalismo e a globalização expandiram-se por
todo o mundo e têm-se mantido como eixos orientadores da economia, da
vida social, da política, das relações internacionais e da
cultura na maioria dos países de todos os continentes.
9. O neoliberalismo e a globalização constituíram os
instrumentos primordiais da contra-ofensiva do capital, fundamentalmente da
fracção que submeteu a economia mundial aos seus interesses e
desígnios: o capital financeiro, particularmente o capital especulativo.
Com estes instrumentos procurou-se alcançar os seguintes objectivos:
Derrotar a classe operária e os sectores populares que se
lançaram à ofensiva no final dos anos sessenta e
princípios dos setenta.
Desmantelar as estruturas, instituições e benefícios
económicos e sociais derivados da economia mista e do Estado
de bem-estar.
Reestruturar a economia capitalista internacional em favor dos interesses do
capital financeiro especulativo, das grandes corporações
transnacionais e das potências capitalistas, sobretudo dos Estados Unidos.
Estabelecer o livre fluxo de investimentos e de comércio de bens e
serviços, por meio de esquemas que favoreciam claramente as
potências capitalistas, em detrimento dos países
periféricos.
A privatização do património nacional.
Impor políticas fiscais regressivas para converter de facto os
países atrasados e dependentes em verdadeiros paraísos fiscais
para o capital, especialmente para o capital financeiro especulativo.
Apropriar-se dos recursos naturais estratégicos como os
energéticos, a água, a biodiversidade, e facilitar a
exploração da força de trabalho a nível global.
A formação de mega-blocos económicos, para repartir entre
si estes recursos, os territórios, a exploração da
força de trabalho e os recursos financeiros da periferia capitalista;
assim como para fazer alianças estratégicas para controlar os
mercados globais, regionais e no interior dos diversos países. Isto
levou-nos a uma nova redefinição geoeconómica e
geopolítica, que tem como propósito a nova partilha do mundo.
Neste processo de redefinição do planeta inscreve-se o plano
imperialista estadunidense da ALCA, e agora o plano alternativo para
estabelecer tratados comerciais bilaterais dos Estados Unidos com cada um dos
países da América Latina e do Caribe.
Acabar com o nacionalismo e a soberania, e submeter os Estados nacionais
à lógica da globalização financeira, eliminando o
seu papel regulador e a sua obrigação de procurar o bem-estar da
sociedade.
Promover o individualismo egoísta e a ausência do compromisso
social e político das pessoas, como traços dominantes da cultura
neoliberal.
Para efeitos da manipulação ideológica, os neoliberais
prometeram que depois dos ajustes estruturais e da estabilização
das economias, se recuperaria o crescimento económico e o bem-estar
social, se criariam mais empregos, aumentariam os salários reais,
melhorariam as condições e a qualidade de vida da
população, e tudo isso seria levado a cabo sobre bases
económicas sãs, que permitiriam um desenvolvimento
sustentado a longo prazo.
10. A imposição do neoliberalismo e da globalização
foi facilitada pelo derrube do bloco Leste - europeu e da URSS, que se traduziu
no surgimento dum mundo unipolar com condições que propiciaram o
restabelecimento da hegemonia económica e político-militar dos
Estados Unidos. Foi neste contexto que se forjou a nova política
imperialista com pretensões imperiais dos Estados Unidos, adoptada por
George Bush filho, sob a estratégia de guerra preventiva contra o
terrorismo, a partir de 11 de Setembro de 2001.
11. O arranque das potencialidades da Terceira Revolução
Científico-Técnica na década de oitenta, permitiu
pôr de pé a globalização financeira, da
produção e da circulação de bens e serviços.
A disponibilidade destas tecnologias tornou possível a
implementação da globalização neoliberal. Este
processo confunde-se com a inevitabilidade da dita globalização.
Agora que a globalização evidencia o seu fracasso, na magnitude
da pobreza e dos desastres económicos e ecológicos do mundo,
tornou-se evidente que se tratava de uma estratégia para superar a crise
cíclica e sistémica do capitalismo, e ao mesmo tempo uma
estratégia para relançar o domínio imperialista dos Estado
Unidos sobre o resto do planeta.
12. Na realidade, o modelo neoliberal fracassou nas metrópoles
capitalistas e foi abandonado há mais de uma década. No entanto,
o neoliberalismo e a globalização foram mantidos ferreamente
pelas potências capitalistas, principalmente pelos Estados Unidos, como
instrumentos centrais de dominação sobre o resto do mundo. Neste
sentido, são mantidas como estratégias para fazer sair o sistema
capitalista da sua crise sistémica e cíclica depois de quase
três décadas de expansão (1947-1973), à custa da
maioria dos países e dos povos do mundo. Foram estratégias de
saque dos seus recursos e de exploração das suas
populações, que redundaram na concentração da
riqueza nas mãos de uns quantos e na pobreza e na miséria de
três quartas partes da população mundial. Foram
estratégias de retrocesso das conquistas económicas, sociais e
culturais na maior parte do planeta. Em matéria de
alimentação, saúde, educação e direitos
humanos mais elementares, estas estratégias representaram retrocessos
variáveis, mas que em média nos remetem a condições
próprias dos anos cinquenta e sessenta; ou seja, um retrocesso de meio
século.
13. O neoliberalismo e a globalização, em lugar de fazer sair o
capitalismo da sua crise sistémica e cíclica, fizeram recrudescer
os problemas económicos, sociais, políticos, ecológicos e
culturais do planeta. O que temos vindo a sofrer nas décadas recentes
é a combinação de uma nova crise cíclica com uma
crise sistémica, que ameaça levar o mundo a uma
situação semelhante à da Grande Crise de
1929-1933.
14. A década de oitenta foi para os países capitalistas
desenvolvidos um período de crescimento baixo e irregular. O
único país desenvolvido que mostrou um crescimento elevado e de
longo prazo nesses anos foi o Japão, que no entanto, entrou numa crise
histórica do seu modelo de economia aberta, que até
à data ainda não terminou. Mas, para os países atrasados e
dependentes, os anos oitenta foram o que se convencionou chamar uma
década perdida.
15. Em aparente contraste, a década de noventa foi de
recuperação da economia mundial que registou uma taxa
média anual de entre 3 e 3.5%, em que a economia dos Estados Unidos
desempenhou o papel de locomotiva, com um crescimento médio entre 3.5 e
4%. Paralelamente, algumas nações da Europa ocidental, como
Inglaterra, Alemanha e França, tiveram um período de crescimento
de 2 a 3%. Por outro lado, no Japão o crescimento foi nulo, tendo
inclusive alguns anos com crescimento negativo. Não obstante esta
situação, para muitos dos países periféricos o
crescimento foi variável e instável, com uma marcada
tendência para a recessão, que praticamente converteu essa
década de noventa noutra década perdida. Nesta
situação se encontrou ao longo dos anos noventa a maioria dos
países da América Latina e do Caribe, de África e
vários países da Ásia.
16. No quadro desta aparente recuperação da economia mundial dos
anos noventa, e como expressão da crise sistémica que
assinalamos, tiveram lugar as crises financeiras da Grécia e da Turquia
em 1992, do México em 1994-1995, dos Tigres Asiáticos
e outras economias do Sudeste Asiático em 1997-1998, da Rússia e
do Brasil em 1998-1999, e a recente crise da Argentina de 2001-2002.
17. No ano 2000, os Estados Unidos entraram em recessão, rebentou a
bolha financeira especulativa associada aos ramos de alta tecnologia, que levou
à quebra de várias grandes corporações
transnacionais desse país, e que finalmente se traduziu num processo
recessivo que se expandiu pela maior parte do sistema capitalista mundial.
Insistimos em que esta nova crise cíclica se desenvolve no contexto de
uma grave crise sistémica.
18. Face à combinação da crise cíclica e
sistémica do capitalismo mundial, ressaltam as experiências dos
países que decidiram manter-se na rota da construção
socialista, embora adoptando reformas económicas estruturais para se
inserirem em condições favoráveis na economia mundial
globalizada, mantendo o controle do Estado sobre os processos de mudança
económica e social. Estes países são: a China que durante
as últimas duas décadas cresceu a uma média de 9%; o
Vietname, que quase no mesmo lapso de tempo cresceu entre 6 e 7%; Cuba, que
depois do inevitável período especial devido à
queda da URSS, cresceu desde 1994 até à data a uma taxa
média de 3.2%; e a Coreia do Norte, que também sofreu uma
séria crise de meados dos anos noventa até 2002, no
período recente está a recuperar o crescimento económico.
Isto prova suficientemente a falsidade da tese do FMI e do Banco Mundial, de
que só mediante as suas receitas era possível
reestruturar as economias e retomar a senda do crescimento para gerar bem-estar
social. Prova, pelo contrário, que o neoliberalismo, a
globalização e as receitas do FMI não passaram de
estratégias para fazer sair o sistema capitalista da sua crise
sistémica e cíclica; para redefinir o domínio do planeta
pelo capital financeiro especulativo e as grandes transnacionais; e para
relançar a hegemonia económica e político-militar do
imperialismo estadunidense e seus aliados.
19. Trouxemos aqui elementos para mostrar que nas duas décadas passadas,
o capitalismo se viu afectado por uma grave situação. No entanto,
nos anos mais recentes foi posta em evidência a combinação
das crises cíclica e sistémica, que mantém o mundo na
estagnação económica e sem solução
visível a curto prazo. A economia dos Estados Unidos, que foi a
locomotiva do crescimento, a partir de 2000 entrou em
recessão. As suas taxas de crescimento foram, em 2001, 0.3%; em 2002,
2.4%; e 3% em 2003, mas sem que estes valores tenham sido acompanhados de
investimentos produtivos nem da criação de empregos. Na
União Europeia, a Alemanha registou baixas taxas de crescimento: em
2001, 0.8%; em 2002, 0.2%; e em 2003, 1%. Em França, as taxas foram de
2.1% em 2001, 1.2% em 2002 e 0.5 em 2003. A Grã-Bretanha registou as
seguintes taxas: 2.1% em 2001, 1.9% em 2002 e 1.7% em 2003. Devido a esta
situação, o desemprego tornou-se crónico na União
Europeia, com uma taxa média entre 10 e 12% nos últimos anos. Por
seu lado, o Japão apresentou este desempenho: 0.4% em 2001, 0.2% em 2002
e 1,1% em 2003.
20. Neste contexto recessivo dos países capitalistas mais desenvolvidos,
a situação dos países periféricos viu-se gravemente
afectada, e as políticas neoliberais acresceram os seus problemas. Para
mencionar só alguns exemplos na região latino-americana e
caribenha, a Argentina registou os seguintes valores: -4.4% em 2001, -10.9% em
2002, e 6.2% em 2003; o Brasil: 1.4%, 1.5% e 2%, respectivamente; o Chile:
3.1%, 2.1% e 3.2%, respectivamente; México: -0.2%, 0.7% e 1.3%,
respectivamente; República Dominicana: 3.2%, 4.1% e 3%,
respectivamente; e a Guatemala: 2.3%, 2.2% e 2.4%, respectivamente. A este
panorama há que acrescentar que a região da América Latina
e o Caribe é a que mostra a pior distribuição do
rendimento em todo o mundo: um punhado de multimilionários face a 250
milhões de pobres (50% da população total).
21. A maioria das economias da Ásia tem uma participação
marginal na economia mundial. As suas elevadas taxas médias de
crescimento obedecem principalmente ao comportamento das economias da China
(7.5% em 2001, 8% em 2002 e 9.1% em 2003), do Vietname (5%, 5.8% e 6%,
respectivamente), da Índia (4.2%, 4.7% e 5.6%, respectivamente), da
Coreia do Sul (3.1%, 6.2% e 2.5%, respectivamente), e do Paquistão
(2.7%, 4.4% e 5.4%, respectivamente). Deve, naturalmente, ter-se presente que
esta região do mundo se converterá numa grande potência
económica nas próximas décadas.
22. Neste quadro de crise cíclica e sistémica combinadas, tem-se
vindo a generalizar uma crise de credibilidade e incerteza entre os povos do
mundo, principalmente nos países periféricos, atrasados e
emergentes. Esta confluência de crise económica e
crise social e política, traduziu-se em insurreições
sociais (pacíficas e violentas), insurreições eleitorais e
abruptas mudanças na direcção governamental de
vários países. Estes processos combinaram criativamente velhos e
novos sujeitos sociais e políticos, assim como questões
programáticas de longa data, mas ainda válidas, com novas
reivindicações e formas diversas de luta. Tudo isto se reflectiu
na configuração e nas acções de amplos movimentos
de massas e frentes político-eleitorais. Aí estão os casos
da Venezuela, do Equador, do Brasil, da Bolívia, da Argentina, do
Uruguai, da Colômbia e de El Salvador, para mencionar apenas alguns.
23. Como noutros períodos da história, a combinação
de crise sistémica e cíclica do capitalismo gerou
condições para o surgimento de vigorosos movimentos populares e
políticos alternativos à dominação capitalista.
Estes processos têm vindo a expressar-se na conjuntura actual sob duas
formas gerais sem que sejam mutuamente exclusivas, e pouco a pouco procuram
convergências e formas de participação frentistas amplas:
por um lado, as correntes que só estão contra a
globalização neoliberal; e por outro, as correntes abertamente
anti-capitalistas e revolucionárias. Consideramos que esta
convergência deve impulsionar-se e fortalecer-se por parte de todas as
organizações sociais e políticas, para que juntos
construamos um poderoso movimento popular e político que derrote o
neoliberalismo e a globalização capitalista, e represente uma
alternativa para os povos do mundo.
24. No quadro desta combinação de crise cíclica e
sistémica, perante o fracasso do neoliberalismo e da
globalização para as superar, e perante o desastre mundial que
tudo isto provocou, ao poder do capital e ao imperialismo só resta o uso
unilateral da força. Isto reflecte-se nas suas pretensões
imperiais dos últimos anos, sob a máscara da guerra
preventiva contra o terrorismo. Isso é o que nos mostraram as
tragédias do Afeganistão, do Iraque, da Palestina e do Haiti, e
as ameaças delirantes a outros países por parte do governo dos
Estados Unidos.
25. O sistema capitalista e em particular a grande potência imperial,
busca uma reestruturação, na actual conjuntura mediante o
keynesianismo de guerra orientado para as agressões
imperialistas ao Afeganistão, ao Iraque e as ameaças sobre o que
esse governo delirante chama o eixo do mal (Coreia do Norte,
Irão, Cuba, Venezuela e Líbia), e retomando os velhos esquemas
imperialistas do colonialismo. No entanto, o keynesianismo de
guerra fracassou até agora, como estratégia extrema para
tirar o capitalismo das suas crises cíclica e sistémica
combinadas.
26. Para nós, a saída é o socialismo. Esta é a
única e verdadeira solução para os problemas do
capitalismo, que na etapa actual se tornaram dramáticos para a
humanidade.
27. É urgente que aceleremos a construção desse poderoso
movimento social e político de esquerda e centro-esquerda a nível
internacional e em cada um dos nossos países. É urgente que
configuremos já uma plataforma programática básica como
alternativa ao modelo neoliberal e à sua globalização.
É urgente que ampliemos e reforcemos a solidariedade internacional entre
os nossos povos e organizações sociais e políticas.
É urgente que alcancemos acordos básicos em todos estes pontos,
para contar com os instrumentos fundamentais que nos permitam tornar realidade
a construção de uma nova sociedade.
[*]
Comunicação apresentada no VIII Seminário Os
partidos políticos e uma nova sociedade, promovido pelo Partido do Trabalho, realizado na Cidade do
México, 5-7 de Março de 2004.
Tradução de Carlos Coutinho.
O original pode ser encontrado em
http://www.cubasocialista.cu/texto/viiiseminario/csviiis13.htm
Esta comunicação encontra-se em
http://resistir.info
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