Pesadelo nuclear:
A política nuclear de Bush e a guerra ao Iraque
por John Steinbach
A mais ambiciosa estratégia (de limitação dos danos)
recomenda uma capacidade de primeiro ataque contra uma ofensiva das
forças estratégicas do inimigo que tente destruir tanto quanto
possível das suas megatoneladas antes que possa entrar em jogo. Uma
retaliação residual do inimigo, assumido que será dirigida
contra objectivos urbano-industriais, seria ainda minimizada por uma
combinação de defesas activa & passiva..."
(secretário da Defesa Donald Rumsfeld na Nuclear Posture Review de 1978)
[1]
Nunca desde a aurora da era nuclear no fim da Segunda Guerra Mundial o
perigo de guerra nuclear foi tão grande".
[2]
- (Richard Falk)
Como a administração Bush implacavelmente injecta-se em
conflitos por todo o mundo em nome da erradicação do terror, ao
invés de procurar a paz, ela somente assopra as chamas do ódio.
Se lhe for permitido continuar, pode conduzir-nos à guerra nuclear, e
à aniquilação da espécie humana".
[3]
- Haruko Moritaki, Hiroshima
Desde a controversa eleição
[4]
que resultou na instalação judicial do presidente George W.Bush,
sua extremista equipe de política externa constituída por
nuclearistas linha dura tem empurrado o mundo para um precipício
nuclear. Continuando e acelerado as políticas existentes de combate
nuclear, Bush abaixou radicalmente o patamar para a utilização
real de armas nucleares. A presente confluência de desenvolvimentos
internacionais, incluindo o 11/Set, a Nuclear Posture Review(NPR) de Bush, a
instabilidade política no Médio Oriente e na Ásia do Sul,
a abolição do Antiballistic Missile Treaty (ABM), e especialmente
a iminente guerra total contra o Iraque, torna a perspectiva da guerra nuclear
aterradoramente possível.
A finalidade primária das armas nucleares nunca foi a dissuasão
ou a destruição mutuamente assegurada (MAD, na sigla em
inglês), mas ao invés disso serviu como um instrumento coercivo de
política exterior concebido e pretendido para o combate em guerra real.
[5]
Armas nucleares concebidas para apoiarem a intervenção militar
e forçarem ditados geopolíticos são vistas pelos
planeadores de guerra do Pentágono como a espinha dorsal da
estratégia de guerra, e nesta capacidade foram utilizadas pelo menos 27
vezes entre 1945 e 1998.
[6]
Daniel Ellberg, antigo planejador de guerra nuclear da Rand Corporation,
escreveu: "Reiteradamente, geralmente em segredo em relação
ao público americano, foram utilizadas armas nucleares: ...da maneira
precisa como uma arma é utilizada quando você a aponta à
cabeça de alguém numa confrontação directa, seja ou
não pressionado o gatilho".
[7]
Possuindo actualmente as forças armadas mais fortes e dominando o mais
poderoso império económico mundial da história, os EUA
utilizarão qualquer força militar necessária, incluindo a
utilização de armas nucleares, para expandir, consolidar e manter
o controle.
Segundo William Arkin, "Um ano depois de o presidente Bush ter etiquetado
o Iraque, o Irão e a Coreia do Norte como o 'eixo do mal', os Estados
Unidos estão a pensar acerca do impensável: Estão a
preparar-se para a possível utilização de armas nucleares
contra o Iraque".
[8]
Quando Bush prepara a opinião pública para a invasão do
Iraque, a derrubada e/ou assassínio de Saddam Hussein, e a
possível utilização de armas nucleares, mais uma vez o
medo racional e a cólera de um público mobilizado podem ser a
única força verdadeiramente efectiva contra a psico-patologia do
assassínio em massa com armas nucleares. Nas suas memória, Nixon
asseverou que a única razão que o impediu de utilizar armas
nucleares no Outono de 1969 para "acabar" a guerra do Vietname foi a
Mobilização de 15 de Outubro que trouxe o protesto de centenas de
milhares de manifestantes à capital da nação. "Em 14
de Outubro eu sabia com certeza que o meu ultimato (nuclear) havia
[9]
fracassado".
A excelente aventura nuclear de Bush
"O fim da Guerra Fria marcou um retorno aos padrões
históricos reprimidos ou ofuscados pela confrontação
EUA-URSS".
[10]
A nova ênfase estratégica passou a ser o acesso a recursos e os
direitos humanos, fazendo eco à propaganda imperialista do século
anterior. O espectro da guerra nuclear era cada vez mais agitado contra
nações não-nucleares como o Irão, o Iraque, a
Líbia e a Coreia do Norte. Quando o presidente Clinton emitiu a PDD-60
em 1967, o Washington Post
informou que "o planeamento geral para potenciais ataques nucleares contra
outras nações que têm... 'perspectiva de acesso' a armas
nucleares e que agora são ou podem eventualmente vir a ser hostis aos
Estados Unidos. Um diferente responsável descreveu estes países
como 'Estados bandidos' ('rogue States'), listados especificamente na directiva
como possíveis alvos no caso de conflitos ou crises regionais".
[11]
Ao invés de uma ruptura radical com a política estabelecida dos
EUA, a estratégia da administração Bush representa
realmente uma continuidade das políticas desenvolvidas durante a Guerra
do Golfo pelo seu país e depois adiantadas por Clinton.
[12]
A Nuclear Posture Review(NPR)
[13]
de Bush, exposta pelo jornalista investigador William Arkin nos
Los Angeles Times
, "...ignora miopemente as implicações políticas,
morais e militares a curto e longo prazo de cruzar o patamar
nuclear", e indica que os responsáveis de Bush "estão
à procura de armas nucleares que pudessem desempenhar um papel nos tipos
de desafios que os EUA enfrentam com o Al Qaeda".
[14]
O NPR apela a planos de contingência para atacar com armas nucleares a
Rússia, a China, o Iraque, o Irão, a Coreia do Norte, a
Síria e a Líbia, e propõe o desenvolvimento de novas armas
nucleares para destruir bunkers enterrados e reduzir danos colaterais. O NPR
"identifica três circunstâncias nas quais as armas nucleares
poderiam ser utilizadas: contra alvos capazes de resistir a ataques não
nucleares; em retaliação pela utilização de armas
nucleares, biológicas ou químicas, e 'no caso de desenvolvimentos
militares surpreendentes' ".
[15]
O plano mais uma vez borra a já difusa distinção entre
armas nucleares e convencionais ao apelar à integração de
"novas capacidades estratégicas não nucleares" nos
planos de guerra nuclear, e à "incorporação de
'capacidade nuclear' em muitos sistemas convencionais que estão em
desenvolvimento".
[16]
George W. Bush tornou a "defesa nacional de mísseis" uma
peça fundamental da sua campanha, e com Donald Rumsfeld à frente
do Pentágono, e com a abjecta aquiescência da
oposição dos Democratas, esta custosa
[17]
arma de primeiro ataque desestabilizará o impasse nuclear tornando a
guerra nuclear mais provável. Antes do 11/Set era amplamente
compreendido que a National Missile Defense(NMD), a 'Guerra das Estrelas'
revisitada, estava morta à partida no Senado controlado pelos
Democratas. Contudo, na sequência dos ataques às torres
gémeas e ao Pentágono, Bush, argumentando com a
"segurança nacional" e o conceito fraudulento de 'estados
nucleares bandidos',
[18]
conseguiu efectuar um aumento maciço no orçamento da
"Defesa", incluindo milhares de milhões para um sistema de
mísseis antibalísticos. (O actual orçamento do
Pentágono agora excede a despesas totais somadas dos 25 maiores
orçamentos militares seguintes.
[19]
) Embora a operacionalidade de um tal sistema seja altamente
discutível, a questão não se um tal sistema poderá
funcionar, mas, ao contrário, a percepção de que possa
funcionar. A Rússia, e especialmente a China, têm-se oposto
veementemente ao NMD, e os chineses ameaçam modernizar o seu arcaico e
fraco arsenal ICBM a fim de manter a dissuasão. O maior jornal
diário do Japão, o Yomiuri Shimbun, informa que a China testou um
míssil de ogivas múltiplas em Dezembro, indubitavelmente uma
resposta ao NMD.
[20]
A lógica inevitável da futilidade da defesa antibalística
de mísseis uma vez que nenhum sistema ABM concebível pode
impedir um primeiro ataque maciço levou Richard Nixon e Henry
Kissinger a negociarem o primeiro tratado ABM em 1972.
[21]
O almirante Eugene Carroll, do Center for Defense Information, declarou:
"A defesa míssil envia um sinal ao resto do mundo, 'nós nos
esconderemos por trás da nossa couraça contra armas nucleares e
vocês não podem fazer isso. Utilizaremos armas nucleares quando e
se quisermos'. Dissemos mesmo publicamente que as utilizaremos contra Estados
não-nucleares. Então construímos o que dizemos ser uma
Sistema Nacional de Defesa contra Mísseis para assegurar que não
sofreremos as consequências das nossas políticas e
acções".
[22]
O NMD deveria ser visto como uma componente integral dos planos em andamento
do Pentágono para dominar a Terra através da
militarização do espaço.
A doutrina Rumsfeld
De toda a equipe de política externa de Bush, Donald Rumsfeld é
talvez o mais perigoso. Henry Kissinger chamou-o, de um modo impressionante,
"O homem mais brutal que já conheci desde sempre'.
[23]
Enquanto secretário da Defesa de Gerald Ford, Rumsfeld defendeu
orçamentos militares maiores e advogou por um retorno à
superioridade nuclear americana. Ele foi responsável pelo início
do B-1 Strategic Stealth Bomber, pelo submarino Trident e pelo míssil
MX, todos elas armas de primeiro ataque.
[24]
Enquanto Kissinger estava em Moscovo a negociar o tratado SALT 2, Rumsfeld
estava por trás das costas de Kissinger e persuadiu a Joint Chiefs of
Staff a matarem o tratado.
Depois de deixar o governo e ir para a administração de
corporações, Rumsfeld continuou a manter uma atitude ostensiva
como falcão nuclear, especialmente seu apoio aos mísseis de
defesa. (Em 1998 ele recebeu o 'Premio do Mantenedor da Chama' dado pelo
Center for Security Policy, o 'nervo central do lobby da Guerra das Estrelas'.
[25]
A Comissão Rumsfeld mandatada pelo Congresso em 1998 previsivelmente
achou que os EUA enfrentariam uma ameaça de mísseis
balísticos de "Estados bandidos" dentro de cinco anos; uma
descoberta radicalmente divergente das próprias estimativas da CIA. Em
2001, pouco antes de se tornar secretário da Defesa, Rumsfeld presidiu
outra comissão sobre segurança de satélites dos EUA a qual
implicava "armas anti-satélite activas (ASATs), incluindo algumas
no espaço para 'medidas de protecção' ".
[26]
Num discurso pouco divulgado mas crucialmente importante discurso de
31/Jan/2002 na American Military University que pressagiava o actual impulso
guerreiro contra o Iraque, Rumsfeld introduziu uma nova doutrina de
"dominância estratégica", baptizado como "Doutrina
Rumsfeld".
[27]
"De acordo com este conceito, os EUA devem sempre ser capazes de avaliar
as capacidades militares dos seus adversários e reduzir o poder dos
mesmos para reagirem por meio da destruição planeada das
infra-estruturas industriais, militares e políticas do seu inimigo".
[28]
Rumsfeld apelou ao combate em quatro grandes guerras simultaneamente,
além de erradicar o 'terrorismo'. Ele disse que o orçamento do
Pentágono de 2003 deveria incluir dinheiro para proteger
satélites (armas no espaço, durante muito tempo um dos seus temas
favoritos) e comprar uma nova geração de bombas (nucleares) que
penetrassem na terra que "podiam tornar obsoletas as
instalações subterrâneas profundas onde se escondem
terroristas e onde Estados terroristas ocultam suas capacidades em armas de
destruição em massa".
[29]
Para atingir estes objectivos, ele propôs um aumento maciço nos
gastos militares, e a instalação de um sistema de defesa de
mísseis tipo "Guerra das Estrelas". Juntamente com a
ênfase na guerra nuclear e no desenvolvimento de novas armas nucleares, a
"Doutrina Rumsfeld" é uma receita para o desastre certo.
Obedecendo à Doutrina Rumsfeld, o
New York Times
relata que o Pentágono está a propor uma nova estrutura de
comando nuclear a qual "arrumaria em uma única entidade a rede de
advertência de mísseis do país e o novo sistema nacional de
defesa de mísseis agora a despontar, bem como a capacidade do
país para planear e lançar ataques ofensivos com armas nucleares
e convencionais". "O comando ajustar-se-ia claramente dentro da nova
doutrina da administração Bush de acção preventiva
contra Estados e grupos terroristas que estão a tentar desenvolver armas
de destruição em massa, disseram responsáveis".
[30]
A nova organização fundiria o US Space Command
[31]
, a Guerra das Estrelas e o US Strategic Command. Rumsfeld já informou
Bush acerca do plano e os seus "principais assessores" consideraram
certa a sua aprovação.
[32]
Segundo Bill Arkin, "Em 11/Dez/2002 o secretário da Defesa enviou
a Bush um memorando pedindo autorização para colocar o almirante
James O. Ellis Jr., o comandante do US Strategic Command (STRATCOM), como
responsável de todo o leque de opções
"estratégicas" de guerra para combater Estados e
organizações terroristas. O memorando, obtido pelo Los Angeles
Times, recomendava dar todas as responsabilidades para tratar com armas de
destruição em massa estrangeiras, incluindo 'ataque global,
defesa integrada de mísseis, [e] operações de
informação' ao STRATCOM".
[33]
Esta gélido novo desenvolvimento na história da
estratégia de combate em guerra nuclear dos EUA constitui a
conclusão lógica de mais de meio século de planeamento de
primeiro ataque, e expõe sem rodeios a finalidade real da 'National
Missile Defense' o poder para ameaçar e dominar todos os degraus
da 'escalada', incluindo um primeiro ataque estratégico.
Utilização potencial de armas nucleares
Qualquer utilização real de armas nucleares seguirá quase
certamente uma campanha de propaganda cuidadosamente preparada, seguida por uma
litania de racionalizações 'poupar vidas americanas',
'proteger Israel', 'responder à utilização de armas de
destruição em massa (reais ou fabricada)', etc. As presentes
ameaças nucleares extremamente visíveis, em conjunto com a
calculada demonização do Iraque e dos assim chamados
"Estados bandidos" podem ser vistas como parte de uma
estratégia de Bush para moldar a opinião pública em apoio
à utilização de armas nucleares. Com o público
americano (e no mundo todo) a favorecer fortemente o desarmamento nuclear, isto
pareceria à primeira vista uma tarefa difícil se não
impossível.
[34]
Contudo, um inquérito da Gallup feito durante a Guerra do Golfo em
1991 mostrando que 45% do público apoiava a utilização de
armas nucleares para "poupar vidas americanas" deveria tornar
pensativos aqueles que acreditam que a opinião pública nunca
apoiaria a utilização de armas nucleares pelos EUA.
[35]
A liderança política americana, especialmente sob um governo
reaccionário como o de Bush, não hesitará em utilizar
armas nucleares contra o Iraque ou qualquer outro oponente se considerarem que
o fim justifica os meios.
No caso provável de ser ordenado ao Pentágono que trave guerra
total contra o Iraque, tendo em vista a derrubada e o assumido
assassínio de Saddam Hussein e julgamentos por "crimes de
guerra" da liderança superior iraquiana, vários factores
podem estar em jogo, qualquer deles poderia conduzir à guerra nuclear.
Uma liderança iraquiana desesperada e cercada poderia ordenar ataques
com armas biológicas ou químicas (por limitada que seja a
capacidade que possa ter) contra forças americanas, de Israel ou de
Estados do Golfo, conduzindo à retaliação com armas
nucleares. O Pentágono pode utilizar armas nucleares contra "armas
de destruição em massa" do Iraque, reais ou fabricadas
(todas as "evidências" seriam convenientemente vaporizadas).
Um número significativo de tropas americanas no terreno poderia ficar
sitiada, com em Khe-Sahn, no Vietname, com a resultante
utilização de armas nucleares. (modernas ogivas nucleares de
baixa potência tornam este cenário ainda mais provável
hoje.
[36]
) A liderança iraquiana pode abrigar-se num bunker altamente
fortificado e defendido e as armas nucleares seriam utilizadas contra ele.
Estes cenários não incluem de modo algum as únicas
contingências potenciais descritas na recente NPR.
A iminente guerra contra o Iraque exacerbará as tensões já
existentes na região. O caos e a confusão disseminados pela
acção unilateral dos EUA contra o Iraque e a
continuação da impensada e inefectiva "guerra ao
terrorismo" pode ter consequências pavorosas. Israel, com um vasto
e refinado arsenal nuclear e de sistemas de entrega, podiam tentar
aproveitar-se de um ataque americano para intensificar a sua já quase
genocida tentativa de limpeza étnica dos palestinos, arriscando uma
confrontação militar com os Estados árabes vizinhos, a uma
guerra que poderia facilmente tornar-se nuclear.
[37]
(Aqueles que duvidam da disposição de Israel a utilizar armas
nucleares deveriam considerar que em 1998 80% dos israelenses apoiavam a sua
utilização.)
[38]
Noam Chomsky, entre outros, acusou vastas secções do movimento
da paz de darem "apoio ideológico" a Israel ignorando ou
subestimando a agressão israelense e a sua posse de armas nucleares.
"A má vontade de grandes segmentos do movimento da paz em enfrentar
esta questão e, mais geralmente, para enfrentar a questão
de quão provável é estalar uma guerra nuclear em resultado
de tensões e conflitos no terceiro mundo para os quais os Estados Unidos
dão uma contribuição significativa merece ser
considerada".
[39]
Recentes declarações do subsecretário de Estado John
Bolton a responsáveis israelenses de que "não há
dúvida de que a América atacará o Iraque, e de que mais
tarde será necessário tratar de ameaças da Síria,
do Irão e da Coreia do Norte",
[40]
sem dúvida abanarão o fogo da guerra. Bolton,
subsecretário para Controle de Armas e Segurança Internacional,
no modo tipicamente orwelliano do regime Bush, é um velho e veemente
oponente ao controle de armas.
Juntamente com a ocupação militar de um provável futuro
Estado cliente iraquiano, as "pegadas militares" dos EUA no
Paquistão, Uzbequistão e outras antigas repúblicas
soviéticas, e no Afeganistão, desestabiizarão todo o Sul
da Ásia e ameaçarão a estabilidade de vários
Estados na região, especialmente o Paquistão, que possui um
arsenal de pelo menos várias dúzias de bombas atómicas.
[41]
A desestabilização da ditadura de Musharraf, sob ataque por
parte de certos elementos da agência Inter-Services Intelligence (ISI) (a
CIA do Paquistão), poderia facilmente agravar a situação
já próxima da guerra entre a Índia e o Paquistão
quanto à Caxemira, levando ao conflito nuclear. Revertendo anos de
oposição da Índia às armas nucleares, "os
fundamentalistas Hindu, da extrema direita, o Partido Bharatiya Janata
(BJP)",
[42]
abraçaram fortemente as armas nucleares.
A Índia e o Paquistão já trouxeram o mundo à beira
da guerra nuclear. As novas relações da Índia e do
Paquistão com os EUA também promoveram as perspectivas de uma
guerra nuclear entre os dois vizinhos do Sul da Ásia. "Cada um
deles está a interpretar declarações e sinais do fluxo
infindável de emissários dos EUA e do ocidente à
região nos últimos tempos em termos que os encoraja e exacerba as
tensões".
[43]
Numa estratégia que recorda a guerra Irão-Iraque e numerosos
outros conflitos regionais, os EUA estão a armar e a cooperar com ambos
os lados no impasse nuclear.
[44]
A finalidade da escalada que está a ser orquestrada no Sul da
Ásia não é apenas estender a esfera de influência
americana na Ásia Central e do Sul, e sim completar o cerco e o
isolamento da Rússia e da China como parte de uma estratégia para
manter a hegemonia e assegurar recursos e mercados relativamente inexplorados.
Conclusões
A utilização de armas nucleares em guerras, qualquer que seja a
lógica, traz o risco da aniquilação global. Segundo o
senador Edward Kennedy (D, MA), "Iniciar a utilização de
armas nucleares tornaria um conflito com o Iraque potencialmente
catastrófico... a consideração radical da
administração quanto ao possível uso do nosso arsenal
nuclear contra o Iraque é por si própria um grave perigo para os
nossos interesses nacionais, nossa nação e tudo aquilo que a
América significa"
[45]
. Bill Arkin adverte: "O que preocupa muitos oficiais superiores nas
forças armadas não é que os Estados Unidos disponham de um
vasto conjunto de armas ou de planos de contingência para
utilizá-las. O perigo está em que as armas nucleares
trancadas numa caixa de Pandora durante mais de meio século
estão a ser trazidas para fora daquela caixa e a ser colocadas em
prateleiras juntamente com todas as demais. Se bem que líderes do
Pentágono insistam em que isto não significa que considerem as
armas nucleares de animo leve, os críticos temem que remover a barreira
e acrescentar armas nucleares às opções normais torna a
sua utilização mais provável especialmente sob uma
política de preempção que diz que Washington sozinha
decidirá quando atacar. Fabricar uma tal doutrina que abarca as armas
nucleares é abraçar uma visão que, mais cedo ou mais
tarde, estender-se-á para além das capitais morais de Washington
e Londres a Nova Delhi e Islamabad, Pyongyang e Bagdade, Pequim, Tel Aviv e
toda a nação nuclear do futuro".
[46]
Se as armas nucleares forem utilizadas, é certo que tanto os EUA como a
Rússia (e todos os outros Estados nucleares) implementarão um
status de alerta nuclear elevado. Actualmente os EUA têm cerca de 7.600
armas nucleares estratégicas instaladas
[47]
e a Rússia cerca de 5.600
[48]
, mas apenas os números não contam toda a história. O
arsenal nuclear da Rússia é inconfiável e em estado de
deterioração, ao passo que os arsenal americano é robusto.
A maior parte das ogivas da Rússia (mais de 3000) estão
instaladas em ICBM baseados em terra, vulneráveis a armas de primeiro
ataque do Pentágono, ao passo que a maior parte das ogivas dos EUA (mais
de 3000 também) estão instaladas em invulneráveis
submarinos Trident. Com ambos os lados a adoptarem uma política de
"lançamento logo no aviso", esta assimetria estratégica
desestabiliza muito o 'equilíbrio de terror' e rebaixa o patamar para a
guerra nuclear. No caso da Rússia, se o Kremlin acreditar que um
primeiro ataque americano está iminente, a pressão para
lançar as suas armas antes que elas fossem destruídas seria
esmagadora.
A solução real para impedir a utilização de armas
nucleares, um acto que inevitavelmente trará consequências
calamitosas para todo o mundo, repousa na capacidade dos movimentos
anti-nuclear, anti-intervenção, anti-globalismo e por
justiça social compreenderem que as suas questões estão
inextricavelmente ligadas. A tarefa não é fácil.
Exemplo: Nos dentes do tilintar de espadas sem precedente feito por Bush, a
mobilização de Abril de 2002 que trouxe 100 mil pessoas a
Washington mostrou somente dois oradores a falarem da ameaça nuclear
(Helen Calicott e Phil Berrigan), ao passo que o protesto anti-nuclear de
12/Junho/1981 no Central Park, no pico da aniquilação de Beirute
por Israel, deixou de todo de levantar a questão. No comício de
massas de Abril de 2000 contra o Banco Mundial, em Washington, DC, a um
único orador foram concedidos 2 minutos para falar da conexão
entre militarismo, armas nucleares e globalização. A tarefa
é ainda complicada devido à actual atmosfera patrioteira e de
ilegalidade Constitucional que certamente intimidou milhões de se
exprimirem.
Em
The Dialectics of War
, Martin Shaw escreve: "No momento em que a guerra nuclear é mesmo
provável, a resistência à guerra pode ser irrelevante. A
resistência à guerra nuclear tem de ter êxito no
período da preparação geral para guerra. A questão
chave é a relação entre militarismo e anti-militarismo, e
as lutas sociais mais vastas da sociedade nas quais a guerra nuclear é
preparada".
[49]
Ele argumenta que "se os valores que sustentam todos os movimentos
sociais para a mudança sofrem quando o militarismo nuclear está
em ascensão ...o relacionamento entre militarismo nuclear e sociedade
implica um relacionamento estratégico geral entre movimentos da paz e
movimentos mais vastos pela mudança social".
[50]
A melhor estratégia para a abolição das armas nucleares
é combater a injustiça social através da
ampliação e do fortalecimento do movimento popular no desafio a
todos os aspectos do Estado imperial corporativo.
NOTAS
1 Robert Aldridge, The Counterforce Syndrome: A Guide to US Nuclear Weapons and
Strategic Doctrine, (Washington, Transnational Institute, 1978) p. 9
2 Richard Falk & David Kreiger, Taming the Nuclear Monster,
(Nuclear Age Peace Foundation, April 11, 2002),
http://www.wagingpeace.org
3 Haruko Moritaki, Message to the American People, (Hiroshima, Hiroshima
Alliance for Nuclear Weapons Abolition, 2002) Contact Steve Leeper at
leeps@mindspring.com for complete text.
4 Greg Palast, Jim Crow In Cyberspace: The Unreported Story of How They
Fixed the Vote In Florida,The Best Democracy Money Can Buy, (London,
Pluto Press, 20002) pp. 6 - 43
5 Michio Kaku and Daniel Axelrod, To Win A Nuclear War: the Pentagon's
Secret War Plans, (Boston,South End Press, 1987) p.184
6 Arjun Makhijani, A Chronology of Nuclear Threats, (Takoma Park,
Institute for Energy & Environmental Research, 1998)
www.ieer.org/ensec/no-6/threats.html
7 Daniel Ellsberg, A Call to Mutiny, Protest and Survive, eds. E.P.
Thompson and Dan Smith, (New York, Monthly Review Press, 1981) p. i
8 8 William Arkin, The Nuclear Option in Iraq: The US has lowered the bar for
using the ultimate weapon, (Los Angeles Times, 26 January , 2003)
9 Kaku and Axelrod, pp 166-168
10 Joseph Gerson, With Hiroshima Eyes: Atomic War, Nuclear Extortion and Moral
Imagination, (Philadelphia, New Society Publishers, 1995) pp. 2-4
11 R. Jeffrey Smith, Clinton Directive Changes Strategy On Nuclear Arms,
(Washington Post, 7 December 1997), p. A1.
12 Daniel Sneider, Bush Policy On Nuclear Weapons Traced to Cheney after Gulf
War, (San Jose Mercury News, March 15, 2002) P. 2
13 Periodically, the pentagon conducts a 'nuclear posture review(NPR) for the
purpose of updating and refining nuclear weapons strategy.
14 William M. Arkin, Secret Plan Outlines the Unthinkable, (Los Angeles Times,
March 10, 2002)
http://www.latimes.com/news/opinion/la-op-arkinmar10.story
15 David Wastell, US plans for first-strike nuclear attacks against seven
countries (Sunday Telegraph, 10 Mar. 2002, p. 1)
16 Arkin, op. cit.
17 Nuclear Disarmament Partnership(NDP), Cost Implications of National Missile
Defense, (NDP, June 2001) www.disarmament.org/costfactsheet.pdf (The NDF
estimates that NMD will cost at least $241 billion and probably much more)
18 Joseph Gerson, Continuity and Change in the Aftermath of September 11 ,
(Speech to Asian Regional Exchange for New Alternatives, May 8-9, 2002)
www.afsc.org/nero/pesp/jgarena.htm
19 Joseph Gerson, Continuity and Change in the Aftermath of September 11
20 Hiroyuki Sugiyama, Beijing Tests Missile With Multiple Warheads, (Yomiuri
Shimbun, Feb. 8)
21 Robert M. Bowman, Star Wars: Defense or Death Star? , (Institute for Space
and Security Studies,
1985) pp.58 - 63
22 Eugene J. Carroll, Nuclear Wars Past and Future, (C-SPAN, April 29, 2002)
23 Helen Caldicott, The New Nuclear Danger: George W. Bush's Military
Industrial Complex, (New York, The New Press, 2002) pp. 165-166
24 US Department of Defense, Donald H. Rumsfeld, 13th Defense Secretary,
www.defenselink.mil/specials/secdef_histories/bios/rumsfeld.htm
25 Caldicott, p. 27
26 Daniel Smith, Space Wars, (Washington, Center for Defense Information, 2001)
www.cdi.org/dm/2001/issue2/space.html
27 Paolo Pontoniere, New US Military Doctrine Vexes Europeans , New California
Media(copyright Pacific News Service, May 1, 2002)
www.ncmonline.com/content/ncm/2002/may/0501newdoctrine.html
28 ibid
29 Thom Shanker, Rumsfeld Asserts Forces Must Take Risks & Think Creatively to
Prepare for New Challenges, (New York Times, February 1, 2002, National Desk)
30 Eric Schmitt, New Command Would Meld Missile Defense and Offense, (New York
Times, National Desk, June 25, 2002)
31 Helen Caldicott, On Star Wars, Space War & Death Merchants, (STAR Foundation
[Standing for Truth About Radiation], July 11, 2001)
http://www.noradiation.org/cgi-win/caldicott.exe/artidetl118
(Not only
does the US plan to wage war in space but it plans to "hold at-risk",
"high-value Earth targets" with "near instantaneous force
application". In English, that means the ability to target cities, and to
kill millions of people, from space.)
32 Ibid
33 William Arkin, The Nuclear Option in Iraq: The US has lowered the bar
for using the ultimate weapon , (Los Angeles Times, 26 January , 2003)
34 Abolition 2000, Recent Public Opinion Polls Indicate Overwhelming Support
for Nuclear Weapons Abolition, (Abolition 2000, 2001)
www.abolition2000.org/polls.html
35 William Arkin and Stan Norris, Nuclear Notebook, (Bulletin of the Atomic
Scientists, April 1991)
36 Kaku and Axelrod, P. 159
37 John Steinbach, Israel's Weapons of Mass Destruction, (Covert Action
Quarterly, April-June, 2001), p. 22
38 Asher Arian, Israeli Public Opinion on National security, 1998, (Jaffee
Center for Strategic Studies, 1998)
www.tau.ac.il/jcss/memoranda/memo49chp5.html
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