Massacres de civis:
Testemunhas oculares contam acerca de Falluja

por Ewa Jasiewicz

A situação em Falluja está numa escalada e o povo aguarda um ataque maciço nas próximas 24-48 horas. É necessária acção urgente para assinalar e denunciar os crimes de guerra que estão a ser perpetrados aqui.


Informação urgente e apelo de Ewa Jasiewicz, uma activista da solidariedade que trabalhou no Iraque com as organizações Voices in the Wilderness e Occupation Watch, viveu ali durante 8 meses (Bassorá e Bagdad) e na Palestina, sobretudo no campo de Jenin durante 6 meses, fala árabe, e que voltou do Iraque há 2 meses. Ela está em contacto regular com os seus amigos em Bassorá e Bagdad.

Acabo de falar com amigos em Bagdad — Paola Gaspiroli, italiana, do Occupation Watch e Bridge to Baghdad, o jornalista Leigh Gordon, inglês (NUJ, Tribune, Mail on Sunday) e um palestiniano amigo com família em Falluja e amigos no Partido Islâmico Iraquiano. Tanto ele como Leigh têm estado a transportar os feridos de Falluja para Bagdad nos últimos três dias. Ambulâncias têm sido impedidas de entrar na cidade ensopada em sangue.

Eis as suas notícias, as quais foram-me contadas esta noite (sexta-feira) ao telefone:

Paola Gaspiroli:

"Houve um massacre em Falluja. Falluja está sob sítio. 470 pessoas foram assassinadas e 1700 feridas. Não houve cessar fogo. Eles (os americanos) disseram às pessoas para abandonar, disseram que tinham 8 horas para abandonar e as pessoas começaram a abandonar mas elas foram aprisionadas no deserto. Os americanos têm estado a bombardear com B52s (confirmado também por Leigh num email de três dias atrás). As pontes para Bagdad são tiradas. Temos voos marcados para Amman. Amanhã uma equipe irá a Sadr City para distribuir medicamentos. 50 pessoas foram mortas ali. ?? (esqueci o nome) o 'elástico' chefe em Sadr City (conheci-o, jovem, rapaz brilhante, descreve-se a si próprio como 'elástico' porque ele é tão flexível quanto às suas interpretações do Islão e definições de conduta etc que é muito liberal) disse-me que eu deveria sair.

Ele diz mesmo que não pode controlar o seu povo. Estrangeiros estão a ser alvejados. Seis novos estrangeiros foram tomados como reféns. Quatro deles são empregados de uma firma de segurança italiana — foram retirados do seu carro, o qual foi encontrado cheio de armas e cheio de uniformes negros. Bagdad estava silenciosa hoje excepto quanto a Abu Ghraib (Bagdad ocidental, onde se localiza uma vasta prisão a arrebentar pelas costuras com 12 mil prisioneiros), onde um comboio americano foi atacado e nove soldados feridos e 27 sequestrados. É isso mesmo, foram 27. Contudo, nenhum noticiário relatou isto. E eu ouvi isto de (nome a não divulgar sem permissão). Está realmente mau. Eles (os americanos) têm estado a atirar contra ambulâncias, atiradores (snipers) estão a seguir as ambulâncias.

Há pessoas de Falluja no deserto. Elas deixaram Falluja mas não lhes é permitido entrar em Bagdad, elas estão presas no deserto, elas são como refugiados. É terrível, mas o povo, o povo iraquiano, está a dar tudo o que pode, estão trazer abastecimentos, toda a gente está a dar toda a sua ajuda para apoiar Falluja.

Eu quero permanecer aqui mas tenho de ir, se quiser voltar e ser útil, penso que é melhor sair, Bridges to Baghdad tem de decidir isso. Está a ficar realmente perigoso para italianos. Sentimos como estamos a ser alvejados agora. (a Itália tem uma força de mais de 2500 homens, incluindo Carabinieri ocupando Nassiriya que tem estado sujeita a um certo número de ataques da resistência incluindo o devastador ataque à esquadra de polícia que tirou as vidas de quatro soldados, um civil, um operador de filmes documentários, 12 polícias Carabinieri e oito iraquianos).

(...) e Leigh tem sido notável. Eles têm estado a conduzir para Falluja e a trazer pessoas para fora, indo e voltando. Sabem o que se está a passar, eles têm sido realmente notáveis. Querem mais pessoas para ajudá-los mas nós não podíamos daqui. Isto está a ficar muito muito pior.


Do meu amigo que tem estado em Falluja hoje e nos últimos poucos dias:

Estamos a ver isto com os nossos próprios olhos. Disseram às pessoas para deixar Falluja e agora há milhares presas no deserto. Há um longo comboio com 13 km de comprimento de pessoas que tentam chegar a Bagdad. Os americanos estão a lançar bombas e tudo o que têm sobre eles. Eles estão a disparar sobre famílias! São todos crianças, velhos e mulheres no deserto. Outros iraquianos estão a tentar ajudá-los. Em Falluja eles (os americanos) estiveram a bombardear hospitais. As crianças estão a ser evacuadas para Bagdad. Há uma criança agora, um bebé, que teve 25 membros da sua família assassinados, ele está no hospital e alguém precisa estar com ele, por que não há ninguém ali para ficar com ele, ele que acaba de perder 25 membros da sua família!? Os americanos estão a despejar bombas de fragmentação (cluster bombs) e novos morteiros, os quais saltam 3-4 metros. Eles estão a bombardear do ar. Há pessoas que jazem mortas nas ruas. Eles disseram que havia um cessar fogo e então entraram, eu vi-os, e começaram a bombardear. Estão a combater outra vez em Falluja e estão a combater bem. Mas estamos à espera do grande ataque em 24-48 horas. Será o ataque principal. Eles irão tomar a cidade rua a rua e vasculhar e atacar. Já fizeram isso numa aldeia próxima, esqueci o nome, mas irão fazer isso em Falluja. Consiga ajuda por favor, junte pessoas para protestar, leve-os à embaixadas, ponha-os a fazer alguma coisa. Há um massacre. E precisamos estrangeiros, os estrangeiros podem fazer algo. Estamos a fazer um protesto, Jo (Jo Wilding www.wildfirejo.org.uk) e os outros do seu grupo estão a vir aos pontos de controle americanos amanhã. Não temos dormido nos últimos 3 ou 4 dias.

Precisamos atenção. Tenho fotos, filme, demos para a Al Jazeera, Al Arabiya mas tiramos outras. Faça tudo o que puder. Voltamos amanhã".

Leigh Gordon:

Conseguir por todos os meios mas eu e (...) provavelmente não estaremos por aqui. Quero dizer que eles estão a ficar loucos. (...) está a dizer aos estrangeiros para virem mas não é seguro. O chefe de Falluga disse que não podia garantir minha segurança. Parece que está a enlouquecer, penso que os estrangeiros começaram a ser assassinados em breve — quero dizer que as pessoas estão a ficar desesperadas, quando elas vêm a sua mãe, pai, casa, gato, cão, tudo bombardeado ao começar o ataque. Eles (os americanos) disseram que estas operações durariam só 5 dias e chegariam ao fim. Eles precisam libertar tropas de outras frentes irrompendo por todo o país. Eles estão a vir para matar. Não há meio de garantir a segurança de ninguém. Penso que você pode ser útil mas não como voce possa contar à sua mãe e pensar que estará de volta em uma semana. Nós provavelmente seremos mortos amanhã. Venha, mas nós podemos não estar aqui.

Quando você ler isto, um massacre está a ter lugar em Falluja, Iraque.

Falluja é uma cidade que tem estado a resistir à ocupação do Iraque desde Junho. As tropas americanas foram empurradas para a beira da cidade desde então. Combateu duramente e a sobretudo com firmeza e tem sido regularmente golpeada por jactos F16 e helicópteros Apache artilhados desde então, com civis a serem sacrificados numa base regular.

Bem mais de 470 pessoas foram agora assassinadas pelas tropas americanas em Falluja, nesta semana. 1700 foram feridas. Espera-se que a portagem da morte ascenda devido à natureza do cordão militar do sítio em torno da cidade. Ambulâncias estão a ser alvejadas e seguidas por atiradores sniper se elas tentam entrar na cidade. Testemunha oculares relatam terem visto corpos a jazer nas ruas. Hospitais foram atacados. Abastecimentos médicos e camas escassas estão em níveis de crise. Os residentes chamam a isto um massacre. Pessoas de toda a parte estão a tentar, algumas com êxito, entrar em Falluja para ajudar a evacuar os feridos por carro. Pessoas estão a doar comidas, medicamentos e água àqueles que fogem. Todo o Iraque está a observar e simpatizar com Falluja dizem as pessoas ali no terreno.

No momento em que se escreve (10/Abr/04) uma coluna de 13 km de residentes de Falluja foge da cidade massacrada por bombas, presos no deserto e rodeados por tropas americanas as quais, relatam testemunhas oculares, estão a disparar sobre elas. A maior parte dos abandonados no deserto é constituída por velhos, mulheres e crianças.

Para os soldados americanos estacionados próximos à cidade, a situação é impossível e o seu sangue também está a ser derramado para os aproveitadores de lucro do mercado que promovem os interesses dos governos dos EUA e RU e interesses corporativos.

Recentemente, a longa fermentação do descontentamento, frustração, humilhação e ódio crescente contra a ocupação explodiu. A ocupação está a ser combatida pela sua simples existência, o seu racismo, a sua violência. Está a reciclar e a devolver o poder da elite dirigente neo-baathista, a retreinar e recontratar mais de 10 mil torturadores e agentes de inteligência baathistas, está a rescrever as leis do Iraque através das ordens da Autoridade Provisória de Coligação (principalmente a Ordem 30 sobre Condições de Salário e Emprego para Empregados do Serviço Civil o qual estabelece o salário mínimo para os trabalhadores do Sector Público Iraquiano em 69.000 ID (US$ 40 por mês — menos da metade do salário recomendado para um trabalhador explorado numa zona de livre comércio no vizinho Irão), mais a Ordem 39 sobre Investimento Estrangeiro que permite em 100% a propriedade estrangeira — privatização — e corta a mais elevada taxa do imposto sobre o rendimento de 45% para 15%) resultaram na insurreição.

O clima no Iraque modificou-se do protesto à resistência, e agora à insurreição. Manifestações têm decorrido todos os dias por todo o país desde o princípio da ocupação, com protestários que vão desde estudantes a pensionistas, desempregados, mulheres, antigos soldados e crianças. Este novo levantamento foi etiquetado como um revolta em apoio ao clérigo anti-ocupação Mugtada al Sadr, mas na realidade ele é generalizado, incontrolável, rudimentar e variado. Ele não é islâmico, não é apenas nacionalista, não é baathista. É uma luta generalizada contra a ocupação — o maior incitamento à violência no país.

Por favor, manifeste solidariedade com o povo do Iraque neste momento de sublevação e banho de sangue. Por favor, junte-se aos protestos contra o sangrento massacre em Falluja, o qual espalhar-se-á se os exércitos de ocupação continuarem incontrolados e não desafiados.

Parem a guerra em curso contra o Iraque
Tropas fora do Iraque.


O original encontra-se em http://globalresearch.ca/articles/JAS404A.html .


Esta notícia encontra-se em http://resistir.info .

11/Abr/04