Iraque: 80 mercenários mortos em apenas oito dias

por Robert Fisk e Patrick Cockburn

'Não à ocupação', diz o cartaz. BAGDAD, 12/Abril — Pelo menos 80 mercenários estrangeiros — guardas de segurança recrutados nos Estados Unidos, Europa e África do Sul que trabalham para companhias estadunidenses — morreram durante a insurreição dos últimos oito dias no Iraque. As autoridades de ocupação mantiveram este número em segredo.

O tenente general Mark Kimmet reconheceu esta segunda-feira que "pelo menos 70 soldados" dos Estados Unidos e outros países ocidentais morreram devido aos insurrectos desde 1 de Abril até à data, mas não fez menção alguma aos mercenários, aparentemente por receio de que o total de perdas ocidentais produza um efeito político grave.

Tão pouco forneceu um número quanto aos mortos iraquianos, que em todo o país podem chegar a 900.

18 MIL MERCENÁRIOS

Acredita-se que actualmente haja no Iraque pelo menos 18 mil mercenários, muitos deles designados à protecção de soldados e empregados estadunidenses; alguns ganham mil dólares por dia. Mas as suas empresas raras vezes reconhecem a sua perda, a menos que as mortes, como no caso dos quatro estadunidenses assassinados e mutilados em Fallujah há três semanas, sejam do domínio público.

A presença de mercenários em número tão elevado, revelada pela primeira vez no Independent on Sunday de duas semanas atrás, tinha forçosamente que desembocar em maiores baixas. Mas apesar de muitos dos agentes de segurança fortemente armados trabalharem para o Departamento da Defesa — e muitos são ex-combatentes de forças especiais —, eles não são classificados como pessoal em serviço militar. Em consequência, a sua perda pode ser ocultada da vista do público.

As autoridades de Washington no Iraque, contudo, têm bem claro que nos últimos 14 dias morreram mais mercenários ocidentais do que soldados da ocupação.

A coligação procurou confiar em trabalhadores estrangeiros por contrato a fim de reduzir o número de soldados que servem de motoristas, guardas e outros ofícios que normalmente são desempenhados pelos militares. Frequentemente esses trabalhadores são ex-soldados aos quais se pagam altos salários e, como estão dotados de armas automáticas, os iraquianos vêem-nos como possíveis mercenários ou espiões.

Nesta segunda-feira as forças da coligação mantinham duas tréguas precárias com os seus opositores, uma na golpeada cidade de Fallujah e outra nas povoações sulistas em poder de Moqtada Sadr, o clérigo radical xiita, e o seu exército do Mehdi.

Najaf. Hoje, segunda-feira, milicianos de uniforme negro de Sadr começaram a sair das esquadras de polícia da cidade sagrada de Najaf, num indício de que o clérigo não deseja que o combate termine. A coligação hesita em enviar as suas tropas para abrirem à sangue e fogo passagem para Najaf, lugar reverenciado pelos 130 milhões de muçulmanos xiitas do mundo. Não obstante, o tenente general Ricardo Sánchez, comandante das forças ocupantes no Iraque, assinalou que a missão da coligação é matar ou capturar Sadr.

A trégua em Fallujah renovou-se depois de algumas escaramuças nocturnas, a fim de permitir que houvesse diálogos entre líderes locais e mediadores do conselho de governo iraquiano. Mohammed Qubaisi, do Partido Islâmico Iraquiano, que participa nas negociações, assinalou que os diálogos continuarão terça-feira. O conselho de governo, desesperado por mostrar que tem alguma influência junto a Washington, também está em diálogos com o movimento de Sadr.

A ofensiva estadunidense contra Fallujah ajudou a estender a rebelião a outras zonas, o que conduziu a ataques custosos contra as linhas de abastecimento estadunidenses. Um comboio de camiões de plataforma carregados com veículos blindados M133 para transporte de tropas foi emboscado e incendiado esta segunda-feira num caminho que conduz a Latafiya, 20 quilómetros a sul de Bagdad. Próximo ao aeroporto de Bagdad foi ateado fogo a outro camião de abastecimentos, cujo conteúdo foi esvaziado perante o olhar de polícias iraquianos.

Insurgentes locais, muitas vezes organizados espontaneamente em cidades e aldeias, sequestram agora estrangeiros de qualquer nacionalidade. O tenente general Sánchez informou hoje que dois soldados estadunidenses e sete empregados da contratadora estadunidense Kellog, Brown & Root estão desaparecidos. Na semana passada 30 estrangeiros de 11 países foram sequestrados, muitas vezes em circunstâncias confusas.

O caminho que vai para Oeste a partir de Bagdad, em direcção à fronteira com a Jordânia, é particularmente perigoso porque os habitantes de localidades como Abu Ghraib dizem estar furiosos pela vítimas que as tropas invasoras provocaram entre eles. Foi nessa região do Eufrates central que os dois agentes de segurança da embaixada alemã foram mortos e muitos outros estrangeiros, inclusive nove chineses, foram feitos prisioneiros.

© The Independent

A versão em espanhol encontra-se em
http://www.jornada.unam.mx/026n1mun.php?origen=index.html&fly=2


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14/Abr/04