Iraquianos unidos condenam constituição interina

por Aljazeera [*]

Unidos lado a lado, manifestantes sunitas e xiitas protestam contra a constituição imposta pelo governo dos ocupantes. Milhares de muçulmanos sunitas e xiitas reunidos sexta-feira 19 em Bagdad manifestaram-se contra a constituição iraquiana interina.

As manifestações ocorreram na véspera do primeiro aniversário da guerra contra o Iraque, com multidões a crescerem cada vez mais com a adesão de novos manifestantes.

"Benvindo à reunião sagrada, benvindo à demonstração", era a canção que emanava da multidão.

A Associação de Diplomados Muçulmanos (ADM), a mais alta autoridade sunita no Iraque, organizou a manifestação, a qual moveu-se desde a mesquita Abu Hanifa, no distrito predominante sunita de al-Adhamya, até encontrar-se com outra manifestação organizada pelo clero xiita, programada para começar em al-Kadhimya sobre o rio Tigre.

Os manifestantes cantavam "Sim ao Iraque, não ao sectarismo, não à ocupação americana", numa mostra do compromisso nacional pela unidade entre iraquianos de várias religiões, seitas e etnias.

OPOSIÇÃO CRESCENTE

'Não aos assassínios aleatórios', dizem estes cartazes dos manifestantes contra a ocupação americana. A constituição iraquiana interina encontrou pouco acolhimento entre muitos iraquianos, os quais descrevem-na como uma "bomba de tempo" que pode explodir a qualquer minuto deixando o seu país fracturado.

O conselho Zaki Jami Hafidh, presidente da União dos Juristas Árabes do Iraque, criticou aquela legislação afirmando que interesses privados motivaram aqueles que redigiram a constituição interina.

"A constituição seria esvaziada se dois terços dos votante em três governadorados iraquianos a vetassem. Teria de ser reescrita neste caso", declarou ele. "Mas isto poderia ser repetido muitas vezes devido a diferenças entre partes iraquianas, e isto significa que o Iraque poderia permanecer sem uma constituição por um período de tempo desconhecido".

Mijbil al-Sheik Eissa, também membro da União dos Juristas Árabes, exprimiu sérios temores acerca de algumas cláusula da constituição interina do Iraque.

"O diploma legislativo instala a ditadura da maioria ao invés do governo de um homem", disse Eissa. "Eles chamam-na de interina mas ela estipula que as suas regras são obrigatórias para qualquer futura assembleia nacional ...ela é um produto de uma autoridade ilegal e foi rejeitada pelas autoridades populares e religiosas do Iraque".

ENTUSIASMO PARCIAL

Fadhil Mohamed, um jurista iraquiano, representa uma tendência que mostra satisfação com a nova constituição interina. Mas ele culpa as autoridades de ocupação de escolherem o momento errado.

"O diploma legal dá aos iraquianos uma oportunidade para retomarem controle sobre os seus assuntos até que uma constituição permanente seja aprovada", disse Mohamed. "Mas a constituição iraquiana em vigor antes da ocupação era bastante boa para vigorar no período interino. Ela era derivada das constituições da França, do Egipto e da Sharia Islâmica". the AMS statement said
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"Esta é constituída por artigos ambíguos que desencadeariam futuros conflitos"
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"Teria sido melhor para eles terem concentrado os seus esforços na segurança". Eles poderiam ter confiado na antiga lei por algum tempo, mas tristemente eles empenharam-se em escrever uma nova constituição enquanto o país ainda está no caso. A sede da União dos Juristas Árabes, por exemplo, da qual sou membro, foi ocupada pelo Partido Islâmico al-Wifaq e não conseguimos po-lo para fora, porque não há qualquer autoridade real no país", afirmou Mohamed.

PREOCUPAÇÕES DAS AUTORIDADES RELIGIOSAS

As autoridades religiosas do Iraque rejeitaram a constituição interina assinada pelos 25 membros do Conselho Governante nomeado pelos americanos em 8 de Março de 2003 em Bagdad.

No dia seguinte a autoridade xiita Ayat Allah Ali al-Sistani criticou a constituição com um dia de idade e emitiu uma declaração a dizer que ela não podia ser legítima a menos que adoptada por um corpo governante eleito.

"Qualquer lei preparada para o período de transição não terá legitimidade senão depois de ser aprovada por uma assembleia nacional eleita", afirma a declaração de al-Sistani.

A ADM emitiu uma declaração em que critica duramente a nova constituição dizendo que ela não corresponde às aspirações do povo iraquiano.

"Ela consiste de artigos ambíguos que poderiam disparar futuros conflitos", afirma da declaração da ADM. "A Associação estudará a constituição e explicará ao povo iraquiano como ela serve aos interesses dos EUA e daqueles que se movem na sua órbita".

VIZINHOS DO IRAQUE

A Arábia Saudita, a Jordânia e o Irão saudaram a assinatura do documento, ao passo que a Turquia exprimiu desgosto com a constituição interina, advertindo que ela prepararia o caminho para mais instabilidade no país.

"A lei interina não nos satisfaz, ela aumenta as nossas preocupações", declarou o ministro da Justiça da Turquia, Cemil Cicek, citado pela Agência Anatólia.

A Turquia e os muçulmanos xiitas iraquianos estão preocupados com um artigo que permite aos curdos iraquianos bloquearam qualquer futuro constituição permanente que não cumpra as suas exigências.

[*] O original encontra-se em
http://english.aljazeera.net/


Esta notícia encontra-se em http://resistir.info .

20/Mar/04