Caros amigos e camaradas, de Portugal e de outras paragens.
Permitam-me antes de mais que agradeça calorosamente a Miguel Urbano
Rodrigues, que me deu a honra de me convidar a participar neste
colóquio, do qual todos nós muito esperamos para esclarecer a
pendência universal dos afrontamentos de classes presentes e futuros.
Permitam-me antes de mais, que aqui renda homenagem à
Revolução dos Cravos e a Álvaro Cunhal, neste ano do
30º aniversário de Abril de 1974. Sem a covardia dos líderes
oportunistas do movimento comunista oeste europeu, a ruptura com o fascismo
português, na qual o PCP desempenhou papel central, teria podido marcar
na História europeia uma viragem progressista de maior envergadura.
A minha intervenção é feita recorrendo aos instrumentos
teóricos e com os limites científicos próprios de um
professor de filosofia de província, por muito tempo militante e
dirigente local do PCF, e que, dadas as circunstâncias, se tornou um dos
fundadores do
Polo de Renascimento Comunista em França
e do
Comité Honecker de Solidariedade Internacionalista.
Ainda que me exprima a título individual, como Miguel me pediu,
compreendereis que não poderei abstrair-me dos meus compromissos
políticos e da reflexão colectiva que estes pressupõem.
Este comprometimento público é resultado de pesquisas
teóricas e das lutas políticas travadas em França ao longo
de dezenas de anos pelos militantes e intelectuais marxistas-leninistas em
ruptura com o oportunismo e o revisionismo, esses dois cancros que
contribuíram largamente para a liquidação do movimento
revolucionário organizado em França e no mundo.
O pendor universal das lutas actuais está expresso de forma
sóbria no tema do colóquio:
civilização ou barbárie.
Para simplificar o mais possível, a minha tese será a seguinte:
entrados sem retorno na sua
fase senil e exterminista,
o capitalismo e o imperialismo constituem a partir de agora uma ameaça
directa de regressão e de morte, não apenas para o progresso
social, as liberdades, a soberania das nações, o avanço
das Luzes, mas
para a própria sobrevivência da Humanidade.
Apenas um
um combate de classe e uma resistência popular
determinados, visando os próprios fundamentos do sistema e rompendo a
cadeia imperialista num ou vários países, orientando-se
abertamente para o socialismo, é capaz de travar a espiral de
decadência e de morte, de que o capitalismo, chegado ao estado
supremamente irracional do exterminismo, é agora portador. Para
conseguir contra-atacar, romper/quebrar a re-mundialização do
capitalismo, travar o fascizante imperialismo norte-americano, bloquear a
instalação de um Super-Estado federal do imperialismo europeu, no
qual a adopção de uma Constituição supranacional
constitui uma etapa decisiva,
não é necessário menos comunismo, como nos aconselha o
oportunismo de direita, mas mais e melhor comunismo, marxismo-leninismo e
mobilização proletária.
Se a primeira experiência histórica de socialismo foi derrotada a
Leste, não foi um fracasso, mas uma
derrota
tal não se deveu aos "vícios" do pretenso
"modelo leninista", mas pelo contrário, a uma série de
crescentes afastamentos do leninismo, que tornaram a URSS cada vez mais
vulnerável às cruzadas imperialistas contra o
"Império do Mal". Mais que nunca, à escala nacional
como à escala mundial, e mesmo se as
formas
da sua intervenção devam evoluir em função do
tempo e variar em função de cada país, uma
força política de vanguarda
deve intervir sem descanso para permitir às massas que fazem a
história escapar aos terríveis processos de
alienação ideológica e cultural de que são alvo, a
fim de se voltarem a assumir e a ser os sujeitos da sua própria
história. Para isso, é particularmente importante que por
iniciativa da sua vanguarda, nacional ou internacional, o proletariado se
reaposse da
dialéctica da soberania nacional e do internacionalismo
proletário.
Este renascimento do Movimento Comunista Internacional pode apoiar-se num certo
número de partidos comunistas que se aguentaram na tormenta, de Lisboa a
Havana, passando por Atenas; implica o emergir de um
internacionalismo proletário de nova geração,
cuja organização passa por estes
trabalhos práticos da solidariedade
que são a
solidariedade sem mácula com Cuba socialista
e o apoio sem vacilações às insurreições
populares-nacionais do Iraque, da Palestina, da Colômbia e de outros
países do mundo.
Começarei por uma análise do "momento actual",
prosseguirei com um breve estudo das resistências populares, salientando
o seu potencial e os seus limites actuais e terminarei necessariamente pela
questão "que fazer", com um certo número de propostas
teóricas e práticas.
1°) O "momento actual": ofensiva contra-revolucionária,
ameaças exterministas e tendência ao confronto de classe
O "momento actual" é marcado por uma intensa luta de classes,
abrangendo o mundo inteiro e a existência social sob todos os seus
aspectos. No entanto, é a classe dominante quem tem a iniciativa deste
confronto e é esta a razão pela qual os que confundem luta de
classes e combate operário, menosprezam do mesmo modo o facto de
a luta de classes continuar a ser o motor do devir histórico,
mesmo quando é orientada negativamente, como é o caso da
actualidade.
Esta ofensiva do capital enraíza-se na
crise crónica do capitalismo em contra-revolução
permanente,
que ilustra a caracterização leninista do imperialismo como
"reacção em toda a linha".
A grande burguesia, crescentemente subordinada ao capital financeiro,
experimenta dificuldades cada vez mais graves para valorizar os enormes
capitais sobre-acumulados; incapaz de reconstituir de forma duradoura as suas
taxas de lucro, pois não cessa de sacrificar o trabalho vivo ao trabalho
morto espoliando de forma crescente o trabalho vivo, ela sacrifica cinicamente
produções úteis e até rentáveis, limita o
investimento produtivo, espartilha cada vez mais a inovação
realmente progressista e a investigação científica,
sobre-explora impiedosamente a força de trabalho, transforma a
Saúde e a Educação em fontes de lucros, estrangula
progressivamente o consumo das massas proletárias, das quais pauperiza
vastos sectores; por outro lado, activa desmesuradamente o esbanjamento suicida
das camadas privilegiadas e o saque dos recursos naturais; acentua o
parasitismo sob todas as formas, quando o nível atingido pelo
conhecimento científico tornaria possível a
satisfação das necessidades fundamentais de todos os seres
humanos e a reconciliação do ambiente natural com a grande
produção técnica.
Notemos a este propósito, que os ideólogos burgueses falam de
"liberalismo" e de "obsolescência do
Estado-Providência" para mascarar o facto que nunca como agora as
instituições estatais, locais, nacionais ou supranacionais, se
esforçaram tanto para colocar sob administração
pública o lucro capitalista, cujas taxas não param de recuar,
como o reconhecem os próprios economistas burgueses, quando falam de
"baixa de rentabilidade dos investimentos produtivos". Se alguma
coisa está hoje em dia desmantelada, é menos o
Estado-Providência em geral, que esse compromisso precário que a
classe proletária arrancou à burguesia, durante os Trinta Anos
Dourados, graças às suas organizações de classe,
à existência do campo socialista e à relação
de forças mundial entre Capital e Trabalho saída da
vitória de Estalinegrado e da derrota do fascismo.
É, portanto, aberrante pretender deitar para o caixote do lixo o
conceito leninista de
"capitalismo monopolista de Estado",
do qual o neoliberalismo, com a sua enorme subvenção
estatal do lucro privado, nomeadamente através das despesas de armamento
e da política fiscal, constitui mais um novo avatar que um
autêntico repor em causa. De facto, por detrás do brilho das
"novas tecnologias" e da omnipresença da "pub" e da
"com", o capitalismo está cada vez mais estrangulado, se
quisermos examinar os números mundiais muito inquietantes do crescimento
e do emprego e se não nos deixarmos fascinar pelo incremento
malsão da bolha financeira e do cancro especulativo que, longe de
testemunhar a saúde do capitalismo, manifestam sim a sua incapacidade
para reciclar o capital na produção, sem a qual não existe
lucro nem mais-valia nem, ao fim e ao cabo, crescimento real.
Aliás, "crescimento" ou não, o preço a pagar
pelos trabalhadores é o mesmo: cada vez mais quebra industrial, recuo do
emprego produtivo industrial ou agrícola, desemprego, precariedade,
insegurança social, pauperização relativa e absoluta da
maioria proletária da população, e isto não apenas
nas metrópoles capitalistas sujeitas às
deslocalizações, mas de forma crescente no Terceiro Mundo e mesmo
na China Popular, onde as deslocalizações "ao
contrário" e as destruições de empregos industriais
começam também a fazer a sua aparição por
detrás de um mirífico crescimento de dois dígitos.
No plano social,
é a tempestade que destrói as conquistas dos trabalhadores, e com
elas, o prazer de viver e os esforços seculares para civilizar as
relações humanas.
Em França e na Alemanha, no "núcleo duro"
auto-proclamado da UE, e para não falarmos da Inglaterra
thatchero-blairista , a baixa das pensões, o recuo para 67 e mesmo
70 anos da idade da reforma, o aumento da duração da jornada de
trabalho, a chantagem patronal sobre o emprego, o dumping social, a
supressão das pausas e de dias feriados, a redução do
subsídio de desemprego a níveis de sobrevivência ou mesmo
de sub-vida, a desmontagem dos serviços públicos
rentáveis, a caça aos trabalhadores imigrados, o trabalho
nocturno das mulheres, o trabalho infantil, a demolição do
Direito do Trabalho, a prisão de delegados sindicais, estão na
ordem do dia, enquanto o vampirismo bolsista e as stock-options dos
P.D.G.
[1]
batem recordes.
Pilotada de maneira perfeitamente consensual pela direita euro-liberal e pela
social-eurocracia, a UE orquestra estas regressões conforme aos
critérios de convergência da moeda única, ao pacto de
estabilidade e aos Acordos de Barcelona, assinados por todos os dirigentes da
Europa, inclusive por Schröder e Jospin. Tudo isto é feito sob o
olhar complacente da "Confederação Europeia dos
Sindicatos", esse cartel maastrichtiano dominado pelo pseudo-sindicalismo
de acompanhamento da Europa do Norte, ao qual se ligam crescentemente as
direcções recicladas de certos sindicatos ditos de classe.
É a perspectiva generalizada da privatização dos
serviços e do sector público. É, em suma, um processo
des-civilizador como realmente nunca havíamos visto depois da
explosão fascista dos anos trinta e dos anos sombrios em que a Europa
esteve maioritariamente sob dominação castanha.
[2]
Avalio de passagem tudo o que a URSS e o campo socialista indirectamente
proporcionavam aos trabalhadores dos países capitalistas, provando
concretamente que um outro mundo é possível. Para o avaliarmos,
basta ver no que se tornou o pretenso "modelo renano" na RFA, depois
que o grande capital alemão deixou de sofrer a concorrência social
da extinta RDA, onde desemprego de massas e repressão anticomunista
são as duas prateleiras melhor fornecidas do futuro dos novos
"Länder"!
[3]
Era de bom-tom, nos meios intelectuais franceses dos anos 70, escarnecer da
fórmula de Georges Marchais evocando o "balanço globalmente
positivo dos países socialistas". Mas qualquer sindicalista
lúcido é hoje em dia forçado a constatar o
"balanço catastroficamente negativo do desaparecimento dos
países socialistas", pois trata-se da constatação de
um facto e não de um juízo de valor mais ou menos subjectivo!
No plano político,
a ofensiva da reacção é muito preocupante. Por todo o
lado as liberdades recuam, seja a pretexto da "luta anti-terrorista"
ou seja a pretexto de garantir a "segurança" dos
cidadãos, enquanto o capitalismo em crise crónica segrega uma
insegurança social maciça, criando uma
desorientação sem precedentes na juventude, à qual a
sub-cultura consumista de massas apenas oferece como saída a
violência, o individualismo ou o asselvajamento num hedonismo do
desespero, quando não encoraja sub-repticiamente o neo-fascismo ou o
integrismo religioso.
Com a construção de uma Europa supranacional, de invisível
conteúdo democrático, é o próprio fundamento da
cidadania, da soberania nacional e popular, que é destruído. Cada
vez mais a democracia burguesa, dita de "baixa intensidade",
não passa de um jogo estéril de alternância
bi-partidária em que se pede a cidadãos desiludidos que escolham
quem, da fracção abertamente liberal da burguesia ou da sua
fracção social-eurocrata, executará as directivas,
previamente digeridas em Bruxelas, nas costas dos povos.
Com a Constituição Europeia, que visa pôr de pé um
Super Estado federal, dotado de régios poderes, de uma
direcção política continental e de um exército
profissional integrado na NATO, a Santa Aliança das burguesias europeias
contra os seus respectivos povos, transporá uma perigosa fronteira. De
forma crescente, como explicou o marxista italiano Domenico Losurdo, é
instalado um "bonapartismo soft", que não deseja senão
tornar-se "hard", se as circunstâncias políticas o
exigirem e se os povos não reagirem a tempo. Se portanto, a
Constituição Europeia for avante, será o fim das
conquistas democráticas obtidas no quadro de cada país e, no que
à França diz respeito, o fim da sua rica herança
republicana, laica, anti-fascista e revolucionária. Em caso de greve de
massas num dado país, e mais ainda se este ou aquele povo decidir
enveredar por transformações democráticas ou socialistas
ou, mais simplesmente ainda, se uma nação decidir retirar-se da
UE para recuperar a sua liberdade, o exército europeu estará
lá para fazer reinar a nova ordem euro-imperial, em nome de um
mítico e não menos reconhecível "povo europeu".
Para enriquecer a análise de Losurdo, avançarei a ideia que o
novo Império europeu em formação é um misto
monstruoso de bonapartismo (onde o sufrágio universal se reduz a validar
as decisões da cúpula) e de Tratado de Viena, uma espécie
de reedição neoliberal da Europa de Metternich. O mais irritante,
é que tudo isto se opera sob a máscara orweliana de uma
"novlíngua", que faz sistematicamente aparecer como
progressistas os recuos sociais e como "conservadoras" as
resistências populares aos ditos recuos.
Como secretário fundador do
Comité Honecker de Solidariedade Internacionalista,
não posso deixar de terminar este ponto denunciando o alargamento da
UE a numerosos regimes pós-comunistas do Leste que têm em comum o
clericalismo mais medíocre, a repressão mais obtusa contra
dirigentes e partidos comunistas, a idealização negacionista dos
pseudo-"resistentes" anti-soviéticos ligados ao Terceiro
Reich, como acontece abertamente nos países bálticos, onde reina
um apartheid oficial contra a população russófona.
É preocupante, quando não surpreendente, que as
instituições "democráticas" europeias lavem as
mãos destes comportamentos liberticidas e que certos partidos
pseudo-"comunistas" tenham entendido por bem multiplicar os discursos
de boas vindas aos novos Estados membros, como se o alargamento a Leste
constituísse uma "prenda" para esses povos, quando o real
objectivo é o de isolar a Rússia e impedir a
restauração do socialismo nos antigos países do Pacto de
Varsóvia.
No plano cultural,
a situação manifesta o carácter propriamente
des-civilizador da chamada "modernidade" capitalista. Um
"pensamento único" neo-liberal, europeista, anti-comunista,
anti-marxista, anti-soviético e cada vez mais abertamente
neo-colonialista (sob a máscara do "direito de
ingerência"), é difundido sem partilha pelos média e
inculcado dissimuladamente às crianças desde a escola
primária. A revisão negacionista da História atinge o
cúmulo com o denegrimento, particularmente sensível em
França, da Revolução de 1789 e a
criminalização da Revolução de Outubro, à
força de "livros negros". Será de espantar que, em tal
clima, as ideologias reaccionárias prosperem, que as vedetas do dia
sejam o neo-conservador e vai-à-guerra Bush, o social-democrata clerical
Tony Blair, o aventureiro Berlusconi e os seus amigos, os pró-fascistas
de Fini e os racistas da Liga Lombarda? Será motivo de espanto que no
Terceiro Mundo, privado desse ponto de referência maior que
constituía, desde 1917, a bandeira vermelha flutuando sobre Moscovo e
sobre a Ásia muçulmana, os piores fanáticos religiosos
ligados por mil laços obscuros aos dirigentes imperialistas que dizem
combater, usurpem a bandeira da emancipação nacional?
Quando o marxismo-leninismo é criminalizado ou remetido às
dimensões dum marxismo universitário bem comportado e castrado,
será de espantar que a extrema-direita, esse melhor aluno da classe
anti-comunista, prospere e consiga até participar nos governos europeus
ou inspirar, como em França, a política securitária,
anti-sindical, anti-juventude, e anti-imigrante do poder chiraquiano? Mais
inquietante ainda é a escalada do niilismo, do irracionalismo e de
comportamentos propriamente suicidários que não deixam de fazer
lembrar a Roma imperial da decadência, na época em que a plebe
romana, afastada da produção e privada de papel político
activo pela extensão da escravatura e da pilhagem dos povos
conquistados, estava reduzida a viver a sua decadência no parasitismo, no
culto sórdido da crueldade, e na desprezível expectativa de
"panem et circenses".
[4]
É verdade que a Ciência continua a avançar. Mas por quanto
tempo, quando assistimos à diminuição dos créditos
para a investigação fundamental, quando o laicismo é
assassinado no próprio país que o viu nascer, quando o discurso
religioso difundido pelos média se esforça por reconquistar o
terreno perdido durante os anos de secularização que marcaram
positivamente a Europa das Luzes.
Enfim, é a diversidade sem a qual não existe cultura, que
está ameaçada pela americanização
globalitária dos modos de vida, o triunfo insidioso de uma língua
única, um basic english desprovido de qualquer retaguarda cultural, cujo
objectivo é, privando os povos da sua herança linguística
e cultural, privá-los de identidade e de memória, para os
entregar sem defesa aos tocadores de flauta do capital que os conduzem a
afogar-se naquilo que Marx denominava "as águas geladas do
cálculo egoísta"
À escala geo-política,
isto traduz-se pela realização das profecias científicas
formuladas por Hobson e analisadas por Lénine na sua obra
O imperialismo, estado superior do capitalismo.
Cada vez mais, anunciava Hobson, as metrópoles imperialistas
serão votadas ao desenvolvimento parasitário de uma aristocracia
financeira, rodeada de um número crescente de camadas de
população improdutivas; o grosso da produção
será efectuado nos países do Oriente, donde afluirão a
baixos preços matérias-primas e produtos manufacturados; quanto
à classe operária, será maciçamente
desclassificada, restando em funções uma aristocracia assalariada
monopolizando o saber e permitindo controlar indirectamente a
produção efectuada no Oriente. Uma parte do proletariado
industrial desclassificado será, por outro lado, orientado para
trabalhos do domínio da "domesticidade", aquilo que em
linguagem moderna, chamaríamos os "serviços" privados,
para a oligarquia financeira e a parte superior das camadas médias.
Quem não vê que este monstruoso programa está em curso com
o empreendimento da deslocalização e de
desindustrialização das metrópoles capitalistas, com a
tenaz vontade do capital de externalizar as produções, de
multiplicar a sub-contratação e de apenas conservar sob o seu
directo controle a finança, o comando estratégico e a
"investigação-desenvolvimento"? Formidável
perigo de parasitismo ocidental, mas também de
neutralização do potencial revolucionário das periferias
subjugadas pelo desapossamento intelectual das condições da
produção!
Este é um quadro sombrio, mas, como dizia Gramsci,
"pessimismo da inteligência, optimismo da vontade".
Durante muito tempo, o optimismo de direcção no movimento
revolucionário impediu-o de compreender que o progresso nada tem de
linear, que a roda da História apenas roda num sentido, que o movimento
das forças produtivas que, em última análise, determina a
História, apenas conduz à emancipação se os povos,
dotando-se de capacidades de análise e de partidos de vanguarda,
aprenderem a conhece-los e a dominá-los consciente e colectivamente.
Longe de procurar estupidamente "positivar" a trágica
situação em que nos encontramos, é na tomada de
consciência desta dimensão trágica, é na
mobilização das nossas pulsões de vida, no conflito
quasi-cósmico entre o Eros proletário e o Thanatos neoliberal,
que se encontra a saída para a crise. Porque, contrariamente às
situações passadas, em que o capitalismo acabou por encontrar uma
saída capitalista para as suas crises conjunturais, actualmente
já não existe saída capitalista progressista para a crise
do capitalismo.
O avanço tecnológico e científico tende a estagnar e
quando "marcha" em pleno, dá menos lugar àquelas
destruições inovadoras que Schumpeter elogiava, que a
inovações destrutivas,
como demonstra o economista belga Tom Thomas. No melhor dos casos, o
avanço tecnológico destrói sempre mais trabalho vivo e
conduz por ricochete a insensatas destruições de capital morto,
inclusive de fábricas novas e operacionais! Quanto às guerras
mundiais, "saídas" trágicas para as guerras anteriores,
pelas destruições de capital e de mão-de-obra que
permitiam, que podemos delas esperar na época das armas de
destruição maciça e do choque previsível de
imperialismos continentais, aliviados pela contra-revolução do
contrapeso objectivamente pacificador do campo socialista?
Também não esperemos que o capitalismo morra de "morte
natural". Primeiro, porque, como afirma o filósofo marxista
francês Yves Vargas,
"quando o capitalismo está doente, faz morrer os outros".
Depois, porque a morte do capitalismo poderia muito bem coincidir com o
suicídio organizado da Humanidade
se a Humanidade não conseguir liquidar a tempo as relações
de exploração, que se tornaram um luxo histórico.
Como "fim de história", ainda que isso desagrade a Francis
Fukuyama, assistimos à luta final entre duas formas de "fins":
por um lado, a perpetuação do capitalismo é
sinónimo de "mau fim" da História, por
extermínio da Humanidade ou por extenuação da Natureza e
do trabalhador. Por outro, o "bom fim" da História, na
realidade, segundo as palavras de Marx, o fim
da pré-história
da Humanidade, é o que libertará as forças colossais do
trabalho, da cultura e da ciência, emancipando-as das
relações de produção capitalista.
Utopia? Não, realismo e instinto de sobrevivência, porque
se a Humanidade conduzida pelo proletariado não destruir o capitalismo,
o capitalismo matará a humanidade depois de ter destruído o
proletariado como classe!
É o significado profundo da admirável divisa cubana
"socialismo o muerte"
[5]
, que Fidel retomou, no momento das capitulações gorbatchevianas,
para exprimir a ideia que, não só é preciso estar pronto a
dar a vida pela revolução, mas que o socialismo e o comunismo
constituem a única saída progressista para escapar ao capitalismo
objectivamente exterminador.
As relações de exploração capitalistas são,
com efeito, relações sociais e a experiência
operária, tal como a teoria marxista, confirmam que não
poderão ser ultrapassadas sem revolução proletária.
Ora, esta está mais madura que nunca: de um lado, as
mutações das forças produtivas e as magníficas
conquistas da investigação fazem esperar uma Humanidade capaz de
satisfazer as suas necessidades fundamentais, de se desembaraçar da
antiga propriedade privada dos meios de produção (basta ver, a
este propósito, a miríade de artifícios a que o
capitalismo recorre, para se apropriar dessa rede neuronal colectiva que
é potencialmente a Internet!) e mesmo do arcaico cálculo do valor
económico a partir do tempo de trabalho; em suma, as
condições económicas e técnicas do comunismo
estão maduras. Livremo-nos de deixar escapar esta oportunidade
histórica, porque não é impossível que as
relações de produção capitalistas não
acabem, dentro de algumas décadas, por chegar à recessão
absoluta das forças produtivas, tal como atingiram já hoje em dia
a baixa absoluta dos salários e das pensões ou ao aumento brutal
do tempo de trabalho!
Mais fundamentalmente, a contradição assinalada por Marx entre o
carácter crescentemente privado da propriedade capitalista, cada vez
mais apropriada, concentrada e monopolizada por uma casta limitada de
financeiros, e o carácter crescentemente socializado da
produção e da troca, toma proporções explosivas com
a mundialização em curso. Quando algumas centenas de
indivíduos possuem mais que um continente, quando o resultado de uma
eleição na Venezuela ou a explosão de um terminal
petrolífero no Eufrates fazem tremer economia mundial, quando a bolha
especulativa não se mantém senão pela
"confiança" artificialmente garantida pelos marines, podemos
avaliar a que ponto a Humanidade, tornada objectivamente solidária de
Arkhangelsk à Terra do Fogo, está doravante madura para
empreender em comum os trabalhos, os recursos e as pesquisas que o comunismo
constitui.
Passa-se o mesmo no que respeita à contradição entre a
Natureza e a produção: se durante muito tempo a Natureza dominou
o Homem, a Revolução Industrial deu a primazia à
produção humana, que em apenas um século refez a face do
planeta. Mas sob o comando, ele próprio "natural" e selvagem
da anárquica produção capitalista, o homem está em
vias de "matar" a Mãe Natureza, suicidando-se ao mesmo tempo,
quando hoje em dia, seria forçado a planificar democraticamente,
cientificamente, prudentemente e colectivamente as suas relações
com a natureza, sob pena de extinção. Ora, como será
possível esta revolução ecológica da
produção, que não significa apenas limitar as
poluições, mas reproduzir racionalmente o ambiente
"natural", se os homens não começarem por eliminar a
dominação da Natureza no próprio seio da sociedade, esta
selva do "todos contra todos" que significa a anarquia capitalista e
a sacrossanta "economia de mercado"?
A socialização dos meios de produção no pleno
sentido da palavra, ou seja, a colectivização das grandes
empresas, o poder político dos trabalhadores, mas também a
revolução cultural, permitindo a todos os homens tornarem-se
"senhores e possuidores" efectivos das condições
materiais do seu devir, já não é apenas uma necessidade
social, mas tornou-se uma condição de sobrevivência e de
desenvolvimento para a Humanidade dos séculos futuros, uma
questão de responsabilidade para com as futuras gerações.
É neste sentido que o "bom fim" da História, longe de
depender do socialismo utópico ou do idealismo moral, é a
alternativa concreta ao mau fim da História pela
exterminação do Homem ou pelo esgotamento da Natureza; de
contrário, como previa Marx, a Humanidade poderá estar condenada
a escolher entre um "fim pleno de pavor" e um "pavor sem
fim"
Não existe, portanto, outra opção,
senão reconciliar Cassandra e Prometeu.
Isto não significa de modo algum, como acreditavam ou fingiam acreditar
os Gorbatchev e os Chevarnadze, que a luta das classes deva ceder o passo
à pregação moral dos "valores universais da
Humanidade", muito pelo contrário. Se o capitalismo actual é
portador de exterminismo, então torna-se o inimigo publico da Humanidade
e o inimigo inumano do público, o que longe de atenuar as lutas de
classes, proporciona, pelo contrário ao proletariado, o campo mais vasto
para desembaraçar a Humanidade do capitalismo exterminador e
des-civilizador. Quando os interesses de classes antagónicas se afrontam
num plano de tal modo universal, a
luta final
cantada pela
Internacional
confronta mais duramente que nunca as forças do Capital às do
Trabalho, cuja missão histórica é de pôr um fim
à milenar exploração de classe, tornada num veneno mortal
para a Humanidade, após ter constituído o cruel estimulante do
seu desenvolvimento histórico. Se, portanto, um pouco de lucidez
anti-exterminista, se um pouco de "universalismo" e de humanismo,
impelem à colaboração de classes, ao desarmamento
ideológico do revisionismo, um humanismo e um anti-exterminismo
consequentes obrigam, pelo contrário, a combater e a erradicar a
exploração de classe da face do globo.
É portanto, capital para os comunistas e para todos os
anti-imperialistas consequentes, rejeitar a tentação da
"terceira via", do pacifismo sem conteúdo de classe, assim
como todas as teorias sobre a "convergência" entre capitalismo
e comunismo, teorias que a perestroika gorbatchéviana mostrou que apenas
servem ao primeiro, permitindo-lhe de "digerir" o segundo. Enquanto a
URSS, entregue ao social-pacifista capitulacionista Gorbatchev, se afundou por
completo, Cuba socialista, cujo leader relembrou os princípios de classe
no seu famoso discurso de 26 de Julho de 1989, continua de pé, apesar da
derrocada do bloco de Leste. Nenhum Muro substitui os princípios. E os
princípios, quando são compreendidos e defendidos pelas massas,
são mais fortes que todos os Muros e que todos os bloqueios. É
manifesto que confrontos de classes muito duros esperam os militantes
progressistas; e não é ficando em casa, como dizia o Che, que
verão passar diante da sua porta o cadáver do imperialismo,
razão pela qual as resistências nacionais dos povos iraquiano,
palestiniano, colombiano, etc, assumem hoje em dia uma importância
histórica.
Aqui reside o erro daqueles a quem chamam "altermundialistas" e
"alter-europeistas". Incapazes de compreender a natureza
reaccionária do capitalismo contemporâneo, esse ventre ainda
fecundo donde surgem continuamente as Bestas imundas da
contra-revolução e da contra-reforma, o alter-mundialismo e o
alter-europeismo convencem-se que se pode "reformar",
"reorientar", "alterar", a Europa capitalista ou a
mundialização, como se estivéssemos a tratar de quadros
neutros e manipuláveis à vontade, em função das
"aspirações" populares. Mas com ou sem
alteração, no fim o capital continua a ser o capital, sedento de
mais-valia e pronto a todos os horrores, económicos ou outros, para a
obter.
Quanto ao facto supranacional, seja ele europeu ou mundial, tenha por quadro a
Europa de Bruxelas ou as instituições políticas e
comerciais da mundialização, não existe nenhuma nebulosa
proteiforme modelável à vontade. Face ao movimento popular, e se
bem que seja atravessado por múltiplos conflitos inter-imperialistas,
este quadro institucional supranacional tem a robustez de uma
construção estatal erigida para resistir às
evoluções da relação das forças, apoiando-se
em aparelhos militar-policiais nacionais ou supranacionais solidamente
dispostos à defesa da classe dominante, como pudemos constatar aquando
da repressão das contra-cimeiras europeias ou mundiais. Que seja
necessário combater ao lado dos altermundialistas, não é
apenas uma eventualidade, mas um dever para todos os que querem mudar o mundo:
mas isso não siginifica a adesão à utopia duma
mundialização capitalista "de rosto humano" ou duma
Europa capitalista "socialmente regulada". Pelo contrário, o
objectivo para os revolucionários é o de ganhar, pela luta ombro
a ombro e pela elucidação fraterna das divergências, a
massa dos jovens altermundialistas para posições
anti-capitalistas e anti-imperialistas consequentes, subtraindo-os à
influência da esquerda social-democrata e dos seus satélites
trotskistas.
É particularmente importante na Europa onde, sob a égide do
Partido da Esquerda Europeia
organizado por certos retornados do eurocomunismo e do gorbachevismo, uma
armadilha foi montada às forças comunistas. Além de
rejeitar todos os fundamentos do comunismo e levar directamente à
absorção do comunismo europeu na Internacional Socialista, esta
"Esquerda" europeia tem como principal objectivo fazer avalizar o
quadro político supranacional pelos eleitores comunistas num momento
decisivo da integração capitalista europeia, ou seja, o quadro da
substituição dos Estados nacionais por um super-Estado, imperial,
clerical, anti-popular e anti-social. Um Estado imperial completamente
desligado da vontade popular e dos Estados nacionais onde se organiza a vida
política, e que não deixará de ameaçar a paz
mundial, tão fortemente como o seu suserano e rival norte-americano,
logo que conseguir pôr de pé uma "Europa Fortaleza" com
uma direcção centralizada, um exército profissional dotado
da força atómica francesa, de uma "justiça", de
uma polícia e de uma direcção económica comum.
Mentem aqueles que, sob a máscara de social-democracia ou de "novo
comunismo", fazem os povos sonhar com uma "Europa social",
quando o objectivo proclamado pela nova Comissão europeia e pelo seu
muito reaccionário presidente português, é fazer da UE
" a economia mais competitiva do mundo daqui até 2010".
Há que produzir entretanto, milhões de novos trabalhadores
precários, desempregados e trabalhadores pobres! Assim, os demagogos da
"Europa social" recusam-se a ver o que entra pelos olhos adentro de
milhões de operários "deslocalizados", de agentes
públicos privatizados, de doentes colocados perante a incapacidade de se
tratarem:
os Estados-Unidos da Europa, sob o capitalismo, só podem ser
utópicos ou reaccionários
(Lénine).
Por isso, é tempo de denunciar categoricamente
toda e qualquer Constituição europeia supranacional.
Denunciar o
conteúdo
desta Constituição sem denunciar o próprio
princípio dum Estado federal associando as velhas potências
imperialistas e coloniais da Europa, sem defender a soberania nacional, sem
apelar à Europa das lutas, não para fazer mudar de rumo, mas para
varrer a UE do capital e construir relações radicalmente novas na
Europa, constitui hoje um embuste tão grave como aquele que conduziu a
II Internacional a defender "a pátria" no início do
século, ignorando o significado imperialista do nacionalismo de
então. É preciso, pelo contrário, recusarmo-nos a
caucionar, por pouco que seja, a criação de um novo Estado
Polícia para juntar ao xerife americano, porque o "desenvolvimento
desigual" do capitalismo e a tendência periódica do
imperialismo para a partilha sangrenta do mundo, podem produzir no
século XXI tragédias ainda piores que as que enlutaram o
século passado!
A social-democracia, que participou na "união sagrada" em
14/18, legitimando o massacre imperialista, faz hoje em dia prova de uma
sólida hipocrisia quando acusa, não o capitalismo, mas os
Estados-nação, de terem provocado estas carnificinas
planetárias, ao mesmo tempo que, com os seus amigos euro-comunistas, os
dirigentes social-eurocratas se aplicam a desenvolver uma nova união
sagrada, ainda mais perigosa que a de 1914, pois trata-se da
edificação de um Estado imperialista continental, fabricando de
forma artificial um euro-nacionalismo e um euro-centrismo com ressaibos
colonialistas mal dissimulados.
2°) a resposta do campo progressista: realidades, limites, perspectivas
A resposta à ofensiva reaccionária está longe de ser
negligenciável. Tudo o confirma, a classe operária, o movimento
anti-imperialista, as forças democráticas, dispõem dos
meios para conter o assalto e retomar a iniciativa, uma iniciativa que detinham
ainda em meados dos anos setenta, no momento da vitória do povo
vietnamita, do avanço das forças antifascistas na Europa, do
ascenso dos movimentos revolucionários na África e na
América central.
Na Europa, greves de massas apoiadas por manifestações
gigantescas, tiveram lugar nestes últimos anos. Para me circunscrever
à França, onde as referências persistentes ao combate de
classe e a aspiração ao "todos juntos" inquietam a
classe dominante, o militante sindical e político que sou participou
plenamente, da segunda vez com responsabilidades regionais, em dois grandes
movimentos populares, o de Dezembro de 1995, dinamizado pela greve dos
ferroviários, e o de Maio-Junho de 2003 na defesa das reformas e da
Educação nacional. Estes dois movimentos colocaram o poder em
dificuldades e mobilizaram centenas de milhares de jovens assalariados. Estes
movimentos poderiam ter evoluído para a greve geral, se os
estados-maiores das organizações sindicais, incluindo os das que
se inserem na tradição revolucionária, tivessem agido
resolutamente para a união dos assalariados do sector público e
do privado na base do pôr em causa, não só o patronato e o
governo de direita, mas a Europa de Maastricht, que constitui o verdadeiro
estado-maior continental das contra-reformas.
Mas como poderiam os estados-maiores que, durante cinco anos sustentaram a
pretensa "esquerda plural" de Jospin, quer dizer, um governo
social-maastrichtiano, que privatizou mais que a direita e que enviou as
forças armadas francesas a bombardear Belgrado, opor-se seriamente
à integração capitalista europeia, sinónimo de
desintegração das conquistas obtidas na época em que o PCF
era a espinha dorsal do movimento popular? A esquerda e o comunismo oficiais,
que renunciaram associar nas lutas a bandeira tricolor à bandeira
vermelha, para fazerem sua a bandeira da UE, como poderão explicar
às massas o objectivo de classe mais vasto que constitui a
destruição do país que simboliza a Revolução
de 1789, depois de ter desaparecido o que simbolizava a de 1917?
Tudo mostra, também, que o tempo dos confrontos de classes na Europa
não está atrás, mas diante de nós. Empurrado pela
sua crise insolúvel, o grande capital canta hoje vitória por todo
o lado: das fábricas Bosch, perto de Lyon, às fábricas
alemãs da Mercedes e Volkswagen, símbolos do "modêlo
renano", o grande patronato, com a cumplicidade dos dirigentes da
Internacional Socialista Blair e Schröder, procedem à
demolição das conquistas de um século de luta, brandindo a
ameaça das deslocalizações. Tudo passa por aí e o
patronato é insaciável. A classe operária não tem
sequer a escolha de recuar ou de morrer, porque cada recuo é
imediatamente seguido de uma nova agressão e isto, até ao
infinito.
Como disse Tom Thomas, a burguesia agredirá cada vez mais duramente o
proletariado, até que este se dote dos meios para a afrontar e vencer.
É uma verdadeira guerra de classes, declarada por iniciativa dos
senhores do capital. E o reformismo, transformado em
"contra-reformismo" de facto, dispõe de cada vez menos
"grão para moer" para permitir ao capitalismo comprar a paz
social. Em contrapartida, o campo capitalista pode dispor de meios
ideológicos impressionantes, que lhe permitem, com a ajuda do
individualismo, desenvolver como em nenhuma outra época, a
alienação ideológica das massas. A questão
não é, assim, de modo algum, como reavivar o combate de classe,
mas sim como federar as lutas, como lhes abrir uma perspectiva política
anti-capitalista? Por isso, nunca terá sido tão ajustada a divisa
de Lénine,
"sem teoria revolucionária, não existe movimento
revolucionário"!
A nível internacional, a agressividade do imperialismo tem os seus
limites na resistência dos povos, na Intifada palestiniana contra a
ocupação sionista, no levantamento do povo do Iraque contra a
recolonização estadunidense da antiga Mesopotâmia.
Poderia muito bem falar aqui de outras lutas, mas contentar-me-ei de salientar
o papel incomparável do PC cubano e de Fidel na resistência
à remundialização capitalista do planeta. Cuba socialista
é hoje um verdadeiro "laboratório de história",
simultaneamente testemunha das lutas vitoriosas do passado e guarda
avançada das lutas vitoriosas de amanhã. Somos, portanto, todos
devedores a Cuba por múltiplas razões. Cuba é antes de
mais, a revolução fazendo recuar a
contra-revolução. É o espírito de princípio
marxista-leninista face ao oportunismo capitulacionista; é o socialismo
adaptando-se à dominação planetária do capital sem
ceder na propriedade social dos meios de produção, na
educação, no emprego e na medicina para todos; é a
rebelião do Terceiro Mundo e da América Latina contra o
imperialismo neocolonial; é a afirmação de que a economia
de mercado deve ser dominada e enquadrada, aguardando ser definitivamente
superada por uma orientação no sentido da sociedade sem classes,
inspirada pelo imortal Che Guevara. De resto, em Cuba não se fala de
"socialismo
de
mercado" mas, e é bastante diferente, do "socialismo
com
o mercado". Quando as circunstâncias o obrigam a um recuo parcial,
o PCC não mente ao povo, dizendo-lhe que se trata de avanços em
direcção a um socialismo novo.
Nesse mesmo tempo, outros interditavam o movimento sindical e entregavam a sua
classe operária ao capitalismo internacional mais selvagem, liquidando o
seu campesinato pobre e criando milhões de desempregados, apagando do
seu discurso a palavra malsonante de "imperialismo", acolhendo
milionários no partido de Mao, recusando usar do seu direito de veto na
ONU para salvar o povo iraquiano, desnacionalizando a indústria
socialista e recusando esclarecer os comunistas sobre os antagonismos de classe
explosivos que minam a sua expansão sob comando estrangeiro. Não
temos então o direito de nos perguntarmos se o país mais populoso
do mundo não estará em vias de mudar de cor, como o temeu Mao sem
encontrar outras respostas que não fossem as exacções da
Revolução "cultural"? Há já largos
avanços nesse sentido no plano económico e qual é o
marxista que pode duvidar que mais tarde ou mais cedo, a nova classe
economicamente dominante, hoje provisoriamente camuflada nas dobras da bandeira
vermelha, não porá em causa o papel do partido e a própria
existência da República Popular?
Compreendam-me: não se trata de negar utopicamente o papel do mercado na
transição socialista do capitalismo ao comunismo, nem de ignorar
a relação das forças mundial, na qual são
forçados a agir os sobreviventes do ex-campo socialista. Mas trata-se,
isso sim, de não perder o rumo do comunismo, que impõe a
superação, não apenas do mercado, mas do salariato e do
próprio Estado burguês, que constitui o complemento paradoxal mas
obrigatório dos dois primeiros! O "socialismo com o mercado"
é certamente necessário em condições historicamente
determinadas e tendo em conta que o socialismo não produziu ainda com
abundância os bens e serviços necessários à vida de
todos e de cada um, nem o nível cultural que permitiria consumir com
racionalidade e moderação. Mas o "socialismo de
mercado", por favor, não nos ofereçam tal miragem como sendo
o futuro do movimento revolucionário no momento em que, da China
à Índia do norte, se trata sobretudo de atrair os investimentos
capitalistas, interditando as greves e os sindicatos operários!
Mais que inventar miríficas utopias social-mercantis, que não
têm outro interesse que não seja o de escamotear a tarefa central
que consiste em reconstruir a relação das forças
políticas, é necessário apontar o problema principal do
nosso tempo: reorganizar, à escala nacional quando já não
exista, à escala internacional onde já não existe, a
força política de vanguarda que pode federar as lutas,
orientando-as para o socialismo, devolver sentido e dinamismo à revolta,
misturada de resignação, das massas populares condenadas a uma
defensiva sem saída. Se excluirmos Cuba, cujo exemplo brilha como um
farol na nossa noite contra-revolucionária, mas cuja problemática
objectiva não é actualmente a de reorganizar o movimento
comunista mundial, temos de constatar que a implosão do campo
socialista, a decomposição do Movimento Comunista Internacional e
a fragmentação do Movimento anti-imperialista mundial
(nomeadamente do Movimento dos Não Alinhados), desarmaram os povos e os
trabalhadores, deixando-os sós, sem vanguarda e divididos, face à
iniciativa de remundialização do capitalismo.
A fúria de auto-liquidação dos partidos comunistas que se
seguiu à "Bolognina" em Itália e a
auto-destruição de numerosos partidos comunistas do Leste, a
mutação em curso ou já concluída de numerosos
partidos comunistas oeste-europeus, permitiu também à burguesia
retomar a iniciativa histórica para infligir derrotas
estratégicas aos seus respectivos proletariados, pondo de pé essa
vingança continental de 1917 e de Estalinegrado que é a Europa de
Maastricht. Basta vermos no que se tornou a famosa "co-gestão"
patronato/sindicato na RFA depois do desaparecimento da ex-RDA. Ao "Good
bye Lenine" dos "Ossies", responde hoje em dia o "Auf
Wiedersehen, Willy Brandt" dos "Wessies". Actualmente, com a
Confederação Europeia dos Sindicatos, o objectivo em vias de
concretização é o de digerir o sindicalismo de classe de
numerosos países latinos, assim como o objectivo do Partido da Esquerda
Europeia é o de digerir o que subsiste dos partidos comunistas que, sem
terem cedido à vaga suicidária dos anos 90, liquidaram, em maior
ou menor grau, as suas referências marxistas-leninistas e os seus
princípios revolucionários. O renascimento comunista, a luta
contra a criminalização do comunismo e contra a revisão
negacionista da história revolucionária estão portanto, na
actualidade, no coração das resistências populares, porque
a destruição da vanguarda constitui o eixo central da ofensiva
contra-revolucionária.
Por isso, constitui uma tarefa teórica essencial o compreender na sua
complexidade dialéctica o entrelaçado de factores
históricos que permitiram a contra-revolução na
Rússia e na Europa de Leste. Produzi sobre esta questão um certo
número de estudos, para os quais remeto imodestamente o meu
auditório. Permitam-me resumir aqui, sem argumentar, o essencial desses
trabalhos. Antes de mais, a implosão do campo socialista não
constitui a marca de um "fracasso do socialismo" ou de um esgotamento
do "modelo bolchevique" como se diz cá e lá. Trata-se
pelo contrário, de uma derrota estratégica, cujas origens nos
remetem para a luta de classes interna e externa aos países do campo
socialista, uma derrota na qual interferem, alimentando-se um do outro,
factores externos e internos.
O pano de fundo desta derrota é constituído pela pressão
imperialista internacional crescente de que a URSS e os seus aliados foram
alvo, da guerra civil dos anos vinte à agressão hitleriana, da
guerra fria à cruzada reaganiana de contornos exterministas dos anos 80:
a burguesia euro-atlântica tinha então por divisa oficial
"lieber tot, als rot", "antes mortos que vermelhos". A
guerra e a pressão externa, incluída a pressão
económica e a guerra ideológica, não teriam, no entanto,
conseguido destruir o regime soviético se, apoiando-se nas lacunas e
desvios ideológicos pré-existentes, esta pressão
exterminista e anti-comunista apoiada pela social-democracia e pelo
revisionismo, não tivesse reforçado o campo oportunista,
verdadeiro cavalo de batalha da burguesia, nos partidos comunistas no poder no
Leste. Em 1984 os imperialistas americanos implantavam os seus Pershing em
Itália, na Holanda e na RFA. Em 85 Gorbatchev chegava ao poder em
Moscovo na base duma plataforma social-pacifista de desarmamento militar e
ideológico unilateral. O exterminismo ocidental projectou-se, "ao
invés", sobre o pacifismo gorbatcheviano; mas o unilateralismo
belicista de Bush tem as suas raízes no unilateralismo capitulacionista
dum Chevardnadze.
Com o apoio do imperialismo, copiosamente reforçado pelos oportunistas
do movimento operário, as forças revisionistas que derrubaram
então muitos dirigentes dogmáticos e burocratizados, mas fieis ao
socialismo, desenvolveram uma luta de classe contra-revolucionária,
beneficiando das enormes vantagens constituídas pelo seu controle do
aparelho dos partidos no poder, pelo seguidismo dos militantes, pela
despolitização profunda das populações, pela
incapacidade de alguns comunistas clarividentes em romper a tempo com os
dirigentes liquidacionistas, prisioneiros que estavam da religião da
unidade a qualquer preço da organização. Ao invés
da implosão de um televisor, que não é mais que a
projecção exterior de uma invisível implosão
prévia, a aparente implosão do campo socialista e da URSS mais
não terá sido, em boa parte, que o efeito invisível de uma
luta de classe íntima que transpunha para o interior a luta de classes
mundial entre socialismo e capitalismo sob a forma de uma luta final entre o
renegado cínico Eltsine e os comunistas honestos mas inconsequentes,
culturalmente incapazes de apelar às massas e ao partido para defender o
socialismo.
É útil voltar, mesmo de passagem, ao conceito de
traição. A este propósito é necessário tomar
algumas distâncias com a utilização idealista do conceito
de traição, que reduz as dificuldades do socialismo ou a sua
queda final aos efeitos da felonia real ou suposta, à escolha, dum
Staline, dum Khrouchtchev ou dum Gorby. Mas não devemos, no entanto, sob
pretexto de nos distanciarmos da teoria idealista e paranóica do
"complot", rejeitar levianamente a ideia que a traição,
ou seja, a mudança de campo de certos dirigentes comunistas em momentos
cruciais da história, possa igualmente servir de catalisador à
contra-revolução; contrariamente ao capitalismo, onde dominam
leis cegas, das quais os dirigentes burgueses são os agentes largamente
intermutáveis e inconscientes, o socialismo caminha "
conscientemente" e o papel das direcções e dos partidos
é aí incomparavelmente mais forte que nos modos de
produção anteriores. Se o golpe de Estado termidoriano de 1794 e
a decapitação de Robespierre não foram suficientes para
derrubar a revolução burguesa, cujo modo de
produção se desenvolve às cegas, o Termidor gorbacheviano
não teria ido muito longe no acender da mecha da
contra-revolução "dura" de Eltsine num país onde
a economia tinha por motor o papel dirigente do partido, o empenho comunista
das massas e a planificação.
Isto não exime de maneira alguma, os regimes socialistas de Leste dos
graves desvios burocráticos anteriores ao período gorbacheviano.
Acumulando-se durante um longo período, os efeitos destes desvios
desembocaram no bloqueio e na estagnação, colocando a URSS
pós-brejneviana em situação de
"pré-crise", segundo o vocabulário oficial. Sem uma tal
situação, geradora de perturbação
ideológica, os oportunistas contra-revolucionários jamais teriam
podido tomar o poder no PCUS ou no SED. Esta burocratização
remonta em boa medida ao desvio estatista e policial que afectou o primeiro
país socialista na época de Estaline. Dizer isto não
significa aderir à diabolização de Estaline, e ainda menos
à escandalosa amálgama que hoje se faz entre o Terceiro Reich e o
país de Estalinegrado. Longe de ser a consequência directa do
leninismo e da Revolução de Outubro, o desvio estaliniano foi
combatido nas suas raízes por Lénine, como o testemunha o tom
trágico dos seus últimos textos e o seu famoso
"testamento", que aconselhava os bolcheviques a afastar Estaline do
poder, a desenvolver a Internacional Comunista, a desenvolver a agricultura
colectivista por intermédio da cooperação, a reduzir o
aparelho de Estado, a respeitar a identidade nacional dos povos da URSS e a
desenvolver os meios de controle do proletariado sobre um aparelho de Estado
que Lénine aconselhava a aligeirar massivamente.
O que se chamou o "estalinismo" não foi também o efeito
directo do "socialismo num só país", como crêem
os trotskistas; foi o próprio Lénine que julgou ser
possível a construção do socialismo num só
país, assinalando embora que esta situação sem precedentes
acarretaria duros constrangimentos deformadores para o socialismo, razão
pela qual Lénine havia imaginado os antídotos acima enumerados. O
desvio estaliniano é o efeito de uma escolha política, já
que as determinações económicas apenas fixam o quadro da
luta política, e é esta que define as orientações
no quadro das situações objectivas assim criadas. De qualquer
forma, esta escolha política foi operada na base de
relações de produção socialistas e do poder de
Estado soviético. Favorecido, mas não determinado, pelo cerco
capitalista, pelo ascenso do fascismo, pela invasão alemã e pela
guerra fria, o "estalinismo" mostrou-se, no entanto, durante todo um
período, compatível com a manutenção e com o
desenvolvimento do socialismo. Mesmo hipertrofiando o Estado, a
centralização e os fenómenos culturais de
alienação política e ideológica que todo o
estatismo comporta (como demonstrou Michel Verret, não existe Estado sem
uma religião política de acompanhamento), o poder estaliniano
permitiu tirar a Rússia atrasada do subdesenvolvimento, lançar as
bases da indústria socialista, pôr de pé a primeira
economia conscientemente planificada da história, criar as
condições económicas e políticas para esmagar o
nazismo, eliminar o desemprego, desenvolver largamente a cultura, o pleno
emprego, a ciência e a educação, fazer da Rússia dos
czars a segunda potência mundial, iniciar a conquista do Espaço,
dar um vasto impulso ao movimento de libertação do Terceiro
Mundo, quebrar duradouramente o monopólio do imperialismo, dar a
igualdade jurídica às mulheres, etc.
Mas esta centralização extremamente dirigista entrou pouco a
pouco em contradição com o desenvolvimento das forças
produtivas modernas, que necessitam do desenvolvimento da iniciativa pessoal e
colectiva e o mais amplo desenvolvimento da democracia socialista, essa
democracia socialista que os oportunistas gorbatchevianos tudo fizeram para
identificar com a democracia burguesa e com o seu pluralismo de
espectáculo. Era de uma revolução dentro da
revolução, ou seja, não menos, mas mais centralismo
democrático, mais ditadura do proletariado, mais internacionalismo
proletário, mais socialização real da
produção, reforço dos sovietes e do papel dirigente do
PCUS, que o socialismo dos anos 80 tinha necessidade, para retomar a iniciativa
histórica e derrotar a cruzada anti-soviética lançada por
Reagan e Bush Senior. Mas, com a ajuda de uma "novlíngua" sem
precedentes, bem rodada no Ocidente pela Inglaterra de Thatcher, a perspectiva
de uma saída comunista para a crise do socialismo foi metodicamente
desviada, sendo os defensores do socialismo qualificados de
"conservadores" e Eltsine autoproclamando-se o chefe da
"esquerda radical"!
Como vemos, a explicação menchevique ou trotskista do pretenso
"fracasso" da URSS pelo atraso da Rússia e pela
impossibilidade nativa de aí construir o socialismo, comporta uma parte
de verdade. O próprio Marx, numa nota profética de
A ideologia alemã,
explicava claramente que o socialismo tinha necessidade de uma
extensão mundial e que "a extensão das trocas aboliria o
socialismo local". Mas esta "explicação" peca
duplamente no plano filosófico porque não tem em conta, nem o
tempo, nem a liberdade humana, nem a natureza dialéctica das
determinações históricas. O "socialismo num só
país" predispunha, como o viram Lénine ou Trotsky, ao perigo
de degenerescência burocrática. Mas, como vimos acima, este perigo
podia ser conjurado por um acréscimo de internacionalismo, de controle
operário e camponês sobre o Estado, de revolução
cultural no sentido leninista do termo, etc, enquanto que Staline seguiu
largamente o declive do reforço estatal, inclusive praticando na URSS um
nacionalismo grão-russo que Lénine condenava com a maior
virulência.
Por outro lado, um desvio não é nocivo da mesma forma em todas as
épocas: herdada do comunismo de guerra, a extrema
concentração do poder própria do período
estaliniano jogou um papel positivo no arranque da
industrialização e na vitória sobre Hitler,
inseparável, quer queiramos ou não, do nome de Estaline. Enfim,
sejam quais forem as condições da luta, e mesmo quando
forçados a recuar diante das circunstâncias, os homens conservam a
liberdade de prosseguir ou não os objectivos históricos que
são os seus, de manter ou não o rumo do comunismo, ou seja da
luta de classes conduzida até à sociedade sem classes, à
extinção da mercadoria e ao declínio de toda a
coacção estatal. E esta tendência para o comunismo deve
iluminar todas as suas actividades presentes, mesmo quando chega a hora do
recuo provisório, sob pena de ver o socialismo regredir ao capitalismo e
à restauração das classes exploradoras. A questão
do declínio do Estado e do mercado é crucial do seguinte ponto de
vista: sem tendência contínua e perceptível pelas massas,
para a superação do Estado, do salariato e do mercado, o
socialismo será ele mesmo condenado a permanecer inconsequente,
instável e incompleto, já que a própria
socialização dos meios de produção se arrisca a
existir como pura formalidade e preservando a separação alienante
do produtor e do produto, do criador e do executante, do produtor e do
consumidor.
Mas, sem entrar em detalhes nesta análise, é necessário,
no futuro, ter em conta as principais lições da
contra-revolução: antes de mais, os ensinamentos cardinais de
Lénine e do seu livro
"O Estado e a Revolução"
não foram invalidados e sim confirmados
a contrario
pela marcha contra-revolucionária para o capitalismo, que, ouso
dize-lo, projectou o filme da revolução ao contrário:
assim, a classe exploradora em formação em torno da
"economia negra" e da ex-nomenklatura, começou por se
reagrupar em volta de contra-reformas reaccionárias, sem nunca deixar de
visar os seus objectivos históricos, a conquista do poder de Estado, a
destruição total do aparelho soviético e sobretudo, a
privatização dos meios de produção, claramente
anunciada como o termo do processo no livro escrito, ou pelo menos assinado por
Eltsine, "Até ao fim".
De seguida, é necessário combater sem descanso a campanha de
criminalização do socialismo, à qual se prestam tantos
pseudo-comunistas. Não é por nostalgia que fazemos a amarga
constatação, como todos os povos de Leste, do formidável
recuo que constitui para toda a Humanidade o desaparecimento do campo
socialista, defeitos e desvios incluídos. O socialismo do futuro
não se edificará sobre a negação do socialismo
passado, mas sobre a sua superação crítica. A autofobia
comunista, a obsessão anti-léninista, apenas conduzem à
liquidação dos partidos comunistas e, pouco a pouco, a um
deslizar à direita de todo o espectro político, a
social-democracia derivando para o social-liberalismo e a direita para o
neo-conservatismo de Bush ou simplesmente para o neo-fascismo. É
natural: quando os comunistas deixam de ser comunistas, toda a sociedade perde
a sua ancoragem à esquerda e deriva. É aos comunistas do presente
que parece dirigir-se a frase do Evangelho que diz, em intenção
dos apóstolos:
"Vós sois o sal da terra; mas se o sal perde o seu sabor, quem lho
trará?"
Em vez de "perder o seu sabor", em lugar de se
"dessalinizar" (de se "edulcorar") sob pretexto de se
"desestalinizar", é urgente, para os verdadeiros comunistas,
reconstruir a sua ligação à herança comunista a
partir do conceito leninista de "assimilação
crítica" dessa herança, rejeitando tanto a
negação como a idealização retrospectiva. Em suma,
é preciso herdar do comunismo como comunistas,
para tirar do passado perspectivas de luta. Não só não se
deverá recolocar em questão o objectivo estratégico da
revolução socialista e de uma autêntica ditadura do
proletariado, desembaraçada das suas caricaturas burocráticas,
mas
trata-se de tornar mais perceptível desde já a
interpenetração dialéctica da luta pelo socialismo e da
perspectiva comunista,
com tudo o que isso comporta de internacionalismo ardente e de ultrapassagem
radical da mentalidade burguesa. É o que fazem os nossos camaradas
cubanos que, apesar de mil dificuldades, continuam e semear para o comunismo,
mesmo quando a própria existência de Cuba socialista é
tragicamente ameaçada pelo cerco capitalista. Não é por
acaso que a juventude mais progressista continua a reconhecer-se na figura do
"Che", esse combatente de quem podemos discutir certas
opções, mas de quem ninguém contesta as
opções de vida e de pensamento prefiguradoras de uma sociedade
radicalmente humana.
Mas, compreender o passado não é evidentemente a única
tarefa dos construtores do comunismo futuro. Um certo número de tarefas
concretas se abrem diante de nós.
Antes de mais, no plano teórico:
se realmente pensamos que o marxismo-leninismo, liberto da sua ganga
dogmática e reposto ao serviço para aproveitar as
contradições actuais e trabalhar todos os campos do saber,
é o utensílio insubstituível que permite compreender e
transformar o mundo, dotemo-nos então dos meios para por em rede as
revistas marxistas existentes, traduzir os textos, ter como objectivo a
edição de
uma revista marxista-leninista internacional.
O site internacionalista português
"resistir.info"
não poderia, neste aspecto, desempenhar o papel de facilitar e de
coordenar? Numa época em que se desenvolvem os
"serviços", como distinguir o que é
deslocação do trabalho produtivo do que tem natureza puramente
parasitária? Como conceber a superação
revolucionária do capitalismo e a socialização dos meios
de produção, na época das novas tecnologias da
comunicação? Como poderá uma dialéctica da natureza
emancipada do dogmatismo, responder à impetuosa procura de unidade
teórica que atravessa as ciências contemporâneas? Estas
questões e muitas outras podem alimentar uma intensa discussão
internacional que relançará a investigação marxista
e os intercâmbios comunistas internacionais.
A este propósito, um ponto particularmente importante é o de bem
manejar a
dialéctica do nacional e do internacional
face à mundialização capitalista e à
construção de Impérios supranacionais. Para federar as
lutas,
devolver à classe trabalhadora o seu papel político dirigente
no movimento social, é imperioso criticar a oposição
abstracta que se faz frequentemente entre patriotismo e internacionalismo. Esta
oposição constrange os progressistas a escolher entre uma
posição "nacional-republicana" que ignora
frequentemente o combate de classe e o empenhamento anti-racista, e uma
posição euro-mundialista que ajuda o capitalismo a destruir as
soberanias constituídas, em nome de uma inalcançável
"democracia" mundial ou europeia. Na verdade,
é necessário recuperar o ponto de vista de classe
que era o de Dimitrov ou de Politzer: se tomarmos consciência do facto
que o euro-mundialismo abstracto e o nacionalismo burguês são duas
faces complementares da ideologia
capitalista,
compreenderemos que a classe laboriosa deve ela própria situar-se nos
dois campos, defendendo a soberania nacional do ponto de vista da luta pelo
socialismo, desenvolvendo de toda a maneira um internacionalismo de segunda
geração dirigido contra o capitalismo mundializado, a Europa
supra-nacional e as guerras imperialistas. Os comunistas devem ser ou voltar a
ser os campeões do patriotismo popular e republicano, da Europa das
lutas e do renascimento de um movimento comunista internacional ofensivo,
rejuvenescido e democratizado.
Esta é, efectivamente, uma grande questão prática, sem a
resolução da qual os partidos e grupos comunistas isolados
terão a maior dificuldade em se manter e se desenvolver. O apagamento do
Movimento Comunista Internacional, o ascenso de tendências europeistas e
nacionalistas no seio do MCI, não desempenharam um papel menor na
vitória histórica da contra-revolução, enquanto
que, durante o mesmo período, todas as forças da
reacção e do reformismo se reagruparam, da Internacional
"socialista" ao G7, passando pelo FMI e pela OMC, esses catalisadores
neo-estatais do capitalismo mundialisado. Não se trata aqui de decalcar
a Internacional Comunista, já que "nunca nos banhamos duas vezes no
mesmo rio". Mas é absolutamente necessário que os
verdadeiros comunistas de todo o mundo inter-relacionem-se sistematicamente,
façam frente em conjunto contra as guerras imperialistas, intervenham de
forma convergente face às "cimeiras" capitalistas e, no
interior das contra-cimeiras alter-ou anti-mundialistas, façam frente em
comum aos reagrupamentos liquidacionistas tais como o Partido da Esquerda
Europeia. Este cartel social-democrata e europeista é uma má
resposta a um verdadeiro problema e se os comunistas autênticos tardarem
eternamente a reagrupar-se por excesso de prudência diplomática,
por espírito de conciliação centrista, não apenas
deixarão sós os marxistas-leninistas que enfrentam no seu
país partidos totalmente enfeudados à social-democracia, como
permitirão ao euro-comunismo reciclado ou ao euro-trotskismo
bem-comportado, monopolizar a aspiração legítima dos
comunistas à solidariedade de classe internacionalista. Os oportunistas
do mundo inteiro reagrupam-se, as forças anti-oportunistas e marxistas
devem, portanto, reagrupar-se sem mais demoras, sejam quais forem as formas, em
aberto e ainda largamente imprevisíveis, desse reagrupamento.
Para além do terreno teórico que assinalei acima, tenho sobretudo
em vista o que também designei por
"trabalhos práticos do novo internacionalismo proletário
". Na verdade, podemos e devemos fazer mais em conjunto, à escala
mundial e continental, não para defender Cuba e a sua
revolução, mas para NOS defendermos COM
Cuba socialista. Poderíamos na realidade, a partir de agora, agir de
maneira ainda muito mais concertada pela solidariedade com os povos do Iraque,
da Palestina e da Colômbia.
Enfim e sobretudo, dispomos de um imenso campo de acção, se
agirmos todos unidos por um
NÃO operário, popular, republicano e anti-imperialista,
não somente a esta constituição europeia
, mas a qualquer Constituição
da Europa capitalista.
Quem não é capaz de ver a dinâmica
extraordinária que traria aos comunistas e aos trabalhadores de cada
país um
apelo internacionalista contra a Constituição europeia
e pelo NÃO a esta constituição nos países que,
como a França, se vão pronunciar em referendo sobre este texto
anti-nacional e anti-popular? Um texto sobre o qual os dirigentes
"euro-construtivos" da esquerda Europeia e da
Confederação Europeia de Sindicatos se sentem já
embaraçados! A adopção de um tal texto faria soar por
longo tempo o fim das independências nacionais e das perspectivas
socialistas que lhe estão ainda e por muito tempo associadas. A
Constituição Europeia daria luz verde à
construção de um Estado federal Super-Maastricht, fazendo
tábua rasa das conquistas sociais e democráticas e abrindo
caminho à Europa-Fortaleza imperialista, com imensos perigos para a paz.
Pelo contrário, a derrota desta Constituição, num ou em
vários países europeus, seria uma bofetada para a grande
burguesia; essa derrota faria entrar em crise duradoura a estratégia
capitalista de integração europeia e recolocaria os trabalhadores
e os comunistas na ofensiva, com os elementos de crise aberta na hegemonia
política e cultural do capital. Não podemos falhar esta
"janela de lançamento", como dizem os astronautas, e este
colóquio pode ser a ocasião para reflectir sobre as iniciativas
mais adequadas.
Mais fundamentalmente, chamo a atenção para a muito pertinente
proposta do PC da Grécia, que para lá da conjuntura, apela
à constituição de um
Pólo continental para a saída da UE do capital,
chegando a fixar o objectivo para cada povo de sair da UE, essa canga imposta
aos trabalhadores e aos povos soberanos. É evidente que os
marxistas-léninistas devem reflectir profundamente, a partir de uma
crítica
inter
nacionalista da
supra
nacionalidade, sobre a dialéctica subtil que combina o objectivo de
ruptura com a UE com o de reconstruir um espaço político e social
muito diferente, não limitado à Europa actual, a partir da Europa
das lutas e da reconquista das soberanias. Que lugar terão os
trabalhadores imigrados "não europeus" nesta
acção de reconquista? Que lugar para o sector público,
para as políticas de re-industrialização, para a luta
contra o cancro financeiro, para a cooperação com a
Rússia, o Magrebe, a África e o Mediterrâneo? Que
articulação com uma política de desenvolvimento
autocentrado do Terceiro Mundo e dos países de Leste, com a luta para
anular a dívida usurária que pesa sobre a periferia capitalista?
A questão da ruptura num qualquer ponto da cadeia imperialista (e esta
ruptura poderia ter por detonador o
não
à Euro-Constituição, prolongando-se por poderosas lutas
sociais e por recomposições em cadeia) colocaria igualmente um
grande problema político: como conjugar as famosas teses leninistas
sobre o "elo fraco da cadeia imperialista" e "o desenvolvimento
desigual" com a tese, falsamente atribuída a Trotsky, mas
inicialmente formulada por Marx, da "Revolução
permanente" ou "ininterrupta". O erro de Trotsky a este
propósito não foi o de ter retomado a expressão de Marx,
mas de a ter oposto à tese leninista sobre a possibilidade de iniciar a
construção do socialismo num só país, fazendo da
pretensa "revolução mundial" a condição
prévia para qualquer alternativa local ao capitalismo.
Nas condições da mundialização capitalista,
é claro que a ruptura da cadeia imperialista num ponto, com a dupla
reconquista da soberania nacional/ transformações socialistas,
teria de fazer face à coligação de todas as burguesias; o
que foi mobilizado para travar a revolução bolivariana na
Venezuela, um país da periferia, seria multiplicado por cem, se se
tratasse de um país do "centro". Mas simetricamente,
não seriam mais fortes e mais rápidos os golpes desferidos num
só ponto da cadeia imperialista, na nossa época de
internacionalização das trocas e das comunicações?
Esta questão é central. Ela coloca-se de maneira nova e é
dever dos marxistas nela trabalharem se querem ajudar o seu povo respectivo a
envolver-se a nível nacional em transformações
socialistas, sem se isolar radicalmente na cena internacional. Em todo o caso,
não nos deixemos paralisar pelas dificuldades do nosso campo e tenhamos
uma clara consciência da fragilidade extrema do campo opositor: essa
gente defende um sistema caduco, e evidentemente eles apenas são mais
perigosos!
Para acabar com uma nota mais "nacional", como se coloca em
França a questão da transformação social?
Depois de ter sido, com a RFA, o motor da integração europeia, a
França está a perder velocidade na Europa. Isto não
é devido ao enfraquecimento do grande capital "francês",
mas ao ódio de classe que os burgueses franceses, bem respaldados pela
social-democracia, votam ao seu próprio país. Já
não têm conta as declarações anti-francesas do
Barão Seillères, o chefe do patronato francês. Este
herdeiro da alta aristocracia industrial, anteontem amiga de Thiers e de
Bismarck, ontem ao serviço de Pétain, considera abertamente o seu
próprio país como um amontoado de arcaísmos. Na
"esquerda-caviar" como no "jet set", já não
se esconde que é preciso acabar com a França e o ex-presidente
francês Giscard d'Estaing, redactor da constituição
europeia, visita as escolas primárias para explicar às
crianças que elas, antes de serem francesas, são europeias. O
caso é que a França, incluindo a França burguesa, foi em
larga medida construída pelos combates progressistas da Filosofia das
Luzes, pela Revolução "sans-culotte" de 1789, pelos
pioneiros do comunismo que foram Babeuf e Buonarotti, pelo movimento
operário e laico do século XIX, pela marca profunda deixada na
história do meu país pelo PCF, pela Frente Popular e pela
Resistência anti-fascista. Como diz o ex-esquerdista agora ultra-liberal
Cohn-Bendit,
"para fazer a Europa, é necessário desfazer a
França".
É defendendo a um mesmo tempo as tradições
patrióticas e as reivindicações sociais, que o PCF
conseguiu colocar em dificuldades a burguesia em 1992, obtendo a
realização de um referendo sobre o Tratado de Maastricht, em que
os trotskistas da "Luta Operária" salvaram Mitterrand da
derrota, com a sua abstenção, já que o NÃO obteve
49,3% dos votos.
Mas depois, no seguimento dos seus abandonos de princípio
"euro-comunistas" dos anos 70, da campanha anti-comunista lancinante
conduzida em França nos anos 90 e do trabalho de sapa de uma
fracção abertamente reformista instalada na
direcção do partido, o PCF sofreu uma
"mutação" que lhe fez rejeitar todos os seus
fundamentos e o conduziu a participar durante cinco anos no Governo
maastrichtiano e social-imperialista de Jospin. Centenas de milhares de
militantes abandonaram este partido, que era o maior partido francês
até 1979 e que acaba de recuar fortemente nas eleições
europeias. Certamente, depois de o PCF já não fazer parte do
Governo, não lhe custa nada atacar a direita no poder. Mas os governos
passam e a mutação fica: actualmente, os dirigentes do Partido
condenam, em nome dos "Direitos do Homem", as justas medidas de
auto-defesa tomadas por Cuba socialista contra as manobras
contra-revolucionárias. Esta direcção oficialmente
subordinada ao próprio princípio da integração
europeia, longe de condenar a Constituição supra-nacional nos
seus princípios, contenta-se em rejeitar as suas
orientações "ultra-liberais" sem apontar o
carácter intrinsecamente imperialista do Estado europeu em
construção. E é compreensível: o verdadeiro
programa comum da direita e da social-eurocracia francesa, quer se trate dos
"presidenciáveis" de direita como Sarkozy, ou dos
presidenciáveis de "esquerda" como Hollande, Strauss-Kahn,
Aubry, Lang ou Fabius, é a integração europeia e a
desintegração da nação. Eleitoralmente apoiado pelo
PS, de que dependem os seus eleitos na segunda volta, o PCF mutante já
não tem estruturalmente a liberdade de denunciar o
princípio
da integração europeia, como o faziam ainda W. Rochet ou Georges
Marchais.
É precisamente para quebrar esta euro e esta
"social-dependência" que os verdadeiros comunistas de
França se vêm reagrupando desde há anos. No início,
nos anos 70/ 80, opuseram uma resistência ideológica aos abandonos
revisionistas. Desde o início dos anos 90, para combater a campanha
liquidacionista denominada "mutação", os militantes
francamente comunistas organizaram-se, primeiro na Coordenação
Comunista, depois no Colectivo Unitário dos Comunistas, em torno do
deputado comunista Georges Hage. Na sequência das grandes lutas de Maio
de 2003, nas quais o PCF foi incapaz de denunciar a Europa supranacional,
constatando que o combate interno pela renovação
revolucionária do PCF, conduzido ao longo de quatro congressos,
não havia permitido endireitar a barra e que pelo contrário, os
militantes marxistas-leninistas eram crescentemente reprimidos ou
marginalizados no partido, constatando do mesmo modo que as tentativas
centristas de conciliação com a mutação são
extemporâneas, no momento em que se joga a própria
existência da República Francesa e o futuro do movimento
operário, constatando que o PCF mutante está firmemente decidido,
pensem o que pensarem os seus militantes, a filiar-se no Partido da Esquerda
Europeia, estes militantes decidiram organizar-se a nível nacional e
independentemente da direcção reformista, criando o
Polo do Renascimento Comunista em França (PRCF)
que conduzirá a luta na base do marxismo-leninismo, do
internacionalismo proletário e da defesa da soberania nacional. Este
Polo foi fundado na presença de 400 delegados e de uma
delegação oficial do PC de Cuba. O PRCF não é um
partido, mas um instrumento transitório para o renascimento de um
partido revolucionário continuador do verdadeiro PCF sob formas
apropriadas à nossa época. Aberto aos militantes do PCF, aos
antigos aderentes e aos jovens camaradas que não se reconhecem no
partido da mutação, o Polo do Renascimento comunista está
já implantado em metade dos departamentos franceses e age igualmente no
quadro do Comité de Convergência Comunista, que agrupa numerosos
movimentos, internos ou externos ao PCF, opositores à
mutação.
O desafio é claro: já que a destruição do meu
país foi tornada possível pela destruição, ou
melhor, pela auto-destruição da vanguarda comunista,
é preciso ligar estreitamente a resistência popular e a luta para
que renasça o verdadeiro partido comunista, o verdadeiro PCF;
este renascerá sob este nome quando os comunistas e o movimento
operário o decidirem livremente, mas é ainda necessário
que disponham então de uma oferta política suficientemente
legível para poderem concretizar a sua decisão, porque neste
caso, a simples espontaneidade não será suficiente. Quero deixar
bem claro, não peço de modo algum que os participantes neste
colóquio "reconheçam" o PRCF, porque não
é esse o objecto do colóquio, mas estareis de acordo que teria
sido covardia da minha parte não vos esclarecer sobre os meus
compromissos políticos, entrincheirando-me por detrás de um
discurso ultra-teórico. O marxismo-leninismo ou é a unidade da
teoria e da prática revolucionária ou não passa de
palavreado vão. E sobretudo, é minha convicção que
as forças revolucionárias não progredirão se se
mantiverem no seu torrão nacional, preferindo manter as
relações diplomáticas herdadas do passado à
fraternidade internacional daqueles que continuam realmente o combate.
Conclusão:
amigos e camaradas, para concluir esta exposição,
agradeço uma vez mais ao município comunista de Serpa, porque
é com encontros como este que se voltarão a ligar os fios
-- rompidos pelo oportunismo -- entre os revolucionários do mundo inteiro. No
momento, unamo-nos para além das fronteiras que nos separam, para
combater a criminalização do socialismo, reconstruir em conjunto
a análise marxista-leninista do mundo contemporâneo, defender Cuba
socialista, combater a Constituição Europeia, apoiar as
resistências populares e anti-imperialistas, activar tudo o que possa
contribuir para o renascimento de um Movimento Comunista democratizado e
rejuvenescido, mas firme nos seus princípios e objectivos
revolucionários.
Notas do tradutor:
1- P.D.G. ( Président-directeur Général ) Presidente
do Conselho de Administração das empresas públicas e
privadas em França, que têm direito, como noutros países, a
obter em condições privilegiadas pacotes de acções
das respectivas empresas.
2- Da cor das camisas do uniforme dos membros do partido nazi alemão.
3- Estados federados da Alemanha
4- "pão e circo"
5- Em castelhano no original.
[*]
Intervenção do autor no Encontro Internacional 'Civilização ou Barbárie',
Serpa, Setembro de 2004. Tradução de Carlos Coutinho.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
.