O capital financeiro parasitário
por Ismael Hossein-zadeh
[*]
Aproveitando o crash financeiro de 2008, a oligarquia financeira e seus
mandatários nos governos dos países capitalistas centrais
têm estado a executar um sistemático golpe de estado
económico contra o povo cujas devastações incluem:
-
Transferência de dezenas de milhões de milhões
(trillions)
de dólares do público para a oligarquia financeira
efectuada através da criação fraudulenta de dívida
monetária, trocada por dinheiro real o qual é obtido como
dívida pública a ser paga através de cortes
austeritários brutais;
-
Ampla privatização de activos e serviços
públicos, incluindo monumentos históricos insubstituíveis,
referências culturais sem preço e serviços sociais vitais
tais como o abastecimento de água;
-
Substituição de programas de bem-estar
(welfare)
do povo por políticas de bem-estar corporativas/bancárias;
- Distribuição da fatia do leão das dádivas
monetárias do governo (e da criação de crédito em
geral) ao investimento especulativo ao invés de aplicar em investimento
real;
-
Minagem sistemática da segurança de pensões de
milhões de trabalhadores e funcionários públicos tais como
bombeiros, professores, empregados de escolas e outros servidores
públicos;
-
Controle cada vez mais descarado das políticas económicas e/ou
financeiras pelos representantes da oligarquia financeira.
Apesar da importância realmente histórica e paradigmática
destes odiosos desenvolvimentos, a sua discussão continua a permanecer
fora dos limites da teoria económica convencional
(mainstream).
Centrando-se em descrições superficiais ou factores
sintomáticos e instrumentais tais como desregulamentação,
empréstimos hipotecários sub-prime, titularização
(securitization), cobiça e afins, a teoria económica convencional
não começou a debruçar-se, muito menos a explicar, estas
questões crucialmente importantes. Ela nem mesmo explicou porque o
colapso financeiro aconteceu em primeiro lugar; excepto pelo supostamente
"comportamento irracional de agentes económicos" e
"políticas governamentais invasivas" (explicação
neoliberal), ou desregulamentação e "ideologia
neoliberal" (explicação keynesiana).
Apesar de atribuir culpas a políticas de
desregulamentação, titularização e outras
inovações financeiras como factores facilitadores da bolha
financeira e da sua implosão não seja falso, isto mascara o facto
de que estes factores são essencialmente instrumentos ou veículos
da acumulação de capital financeiro fictício. Não
importa quão subtis ou complexas, elas são basicamente
ferramentas engenhosas ou estratégias de transferência do valor
excedente gerado alhures, ou de criação de valor fictício
(através da especulação) a partir do ar.
As descrições prevalecentes que tendem a deixar de fora a
consideração da dinâmica sistémica da
acumulação do capital financeiro (como um processo de crescimento
parasitário ou de auto-expansão que pode transformar dinheiro em
mais dinheiro enquanto contorna o aborrecimento de produzir qualquer coisa com
valor real), os limites inerentes àquela acumulação, a
produção e repartição do valor excedente, as
relações de classe e o equilíbrio de forças
sociais. Na verdade, a maior parte destas descrições tendem a
furtar-se até mesmo de utilizar palavras e expressões tais como
exploração, valor excedente ou luta de classe. Elas também
tendem a encarar o estado como uma entidade desinteressada acima dos interesses
económicos ou de classe; uma percepção que deixa de
reconhecer o facto de que o aparelho de feitura da política
económica na maior parte das economias capitalistas centrais é
dominado em grande medida por elites cleptocráticas que são
guiadas pelos imperativos do grande capital, especialmente do capital
financeiro.
Não só as teorias convencionais como também a maior parte
das teorias marxianas actuais da crise capitalista deixaram de apresentar uma
explicação satisfatória do colapso financeiro e da
decorrente Grande Recessão. Embora a actual dominação das
principais economias capitalistas pelo capital financeiro pareça nova,
é de facto uma reaparição do capitalismo do fim do
século XIX e princípio do XX, isto é, o capitalismo
monopolista
big business
e de instituições financeiras gigantescas. A ascensão
económica e a influência política de poderosos interesses
financeiros naquele tempo levou um certo número de marxistas e outros
economistas políticos, tais como John Hobson, Rudolf Hilferding e
Vladimir Lenine e desenvolverem teorias profundas da ascensão do capital
financeiro e seu impacto desestabilizador sobre economias de mercado
avançadas, bem como sobre relações internacionais.
Contudo, como a Grande Depressão e as subsequentes reformas do New Deal
e Sociais-Democratas reduziram significativamente a dimensão e a
influência da grande finança, isso levou também a um
infeliz desvanecimento da rica tradição marxista por um interesse
agudo quanto à evolução histórica do capital
financeiro como se as reformas e a expansão do capitalismo
pós II Guerra Mundial houvessem permanentemente abolido as
características desestabilizadoras do capital financeiro.
Consequentemente, as teorias marxistas da crise que se seguiram ou ignoraram ou
minimizaram o papel desestabilizador do sector financeiro. Ao invés
disso, centraram a maior parte da sua atenção sobre outras
(não financeiras) teorias da crise: a teoria do sub-consumo, a teoria da
desproporcionalidade e a teoria da "tendência da queda da taxa de
lucro". Com poucas excepções, esta falta de
atenção quanto ao papel do capital financeiro criou um vazio
lamentável nas actuais teorias marxianas da crise capitalista.
Este estudo pretende colmatar o vazio teórico de uma
explicação satisfatória do colapso financeiro de 2008 e a
longa recessão que se seguiu e que continua nos dias de hoje. Ao
invés de simplesmente culpar o "comportamento irracional de agentes
económicos", como fazem economistas neoliberais, ou
responsáveis "de direita" pela elaboração da
política e o "capitalismo neoliberal", como muitos fazem
muitos economistas de esquerda/liberais, o estudo centra-se sobre a
dinâmica central do capitalismo, ou as "leis de movimento do
desenvolvimento capitalista" (nas palavras de Karl Marx), que não
só criou a enorme bolha financeira como também subverteu a
política pública diante de uma bolha tão obviamente
insustentável. O estudo argumentará ainda que enquanto as
visões prevalecentes de financiarização como um réu
instrumental no colapso não seja falsa, ela deixa de destaacar que a
financiarização é basicamente uma indicação
de uma fase avançada do capitalismo a fase da dominância do
capital financeiro. As questões mais fundamentais a serem tratadas e
explicadas são as forças submersas por trás da
financiarização, as bases materiais que promoveram o
"comportamento irracional" dos actores no mercado, ou precipitaram a
vasta desregulamentação dos mercados financeiros.
O primeiro capítulo deste volume trata da tradição
conservadora da teoria económica neoclássica, a qual nas
últimas décadas ficou conhecida como teoria económica
neoliberal. A discussão apresentada neste capítulo mostra porque
ao modelo neoliberal do equilíbrio geral com pleno emprego falta um
fundamento teórico para explicar tanto o crash financeiro de 2008 como a
longa recessão que se seguiu. Na verdade, o modelo nega a
existência de uma crise da magnitude do crash ou da recessão
subsequente; ele descarta turbulências financeiras e crises
económicas atribuindo a culpa pelas mesmas a factores externos tais como
o "comportamento irracional" de actores do mercado, desastres
naturais, "choques de oferta" ou intervenção
governamental. Exceptuando tais factores "exógenos", diz-se
que o poder "auto-ajustável" do mecanismo de mercado é
capaz de defender-se de grandes crises financeiras ou económicas.
Consequentemente, "mercados de capital eficientes" não
regulamentado, onde "agentes a comportarem-se racionalmente sabem toda a
informação acerca da fixação de preços dos
títulos", supostamente estabelecem preços de títulos
e activos financeiros "correctamente", isto é, de acordo com
os riscos e prémios aos valores reais subjacentes descartando
dessa forma a incidências ou existência de um crash financeiro, ou
crise económica.
Críticos destacaram correctamente que caracterizar a teoria
económica convencional como uma disciplina científica é
falso. Este capítulo argumenta que não só a teoria
económica convencional não é científica como de
facto raia a superstição e a metafísica. Antes da
descoberta científica das origens ou causas geológicas de
terramotos, muitos acreditavam que eles eram manifestações do
deus a darem vazão à sua cólera. Outros acreditavam que
eram provocados por um dragão que vivia debaixo da terra; cada vez que
ele se tornava raivoso, abanava sua cauda e movia seu corpo colossal ele
também abalava a terra. A explicação de economistas
neoliberais de implosões financeiras periódicas (e de crises
económicas em geral) por factores "externos" ao sistema
capitalista raia a semelhantes explicações ofensivas.
Também se pode argumentar que culpar fracassos sistémicos do
capitalismo ao "comportamento irracional de agentes
económicos" é afim a algumas interpretações
simplistas da religião que atribuem os infortúnios ou
misérias dos humanos aos seus desvios dos caminhos de Deus: não
tivessem eles sido enganado pelas tentações satânicas e se
afastado do caminho de Deus, não teriam eles sido afligidos pela
miséria.
A crítica deste capítulo ao paradigma neoliberal irá
além da simples descrição da visão de neoliberais
quanto à crise financeira, ou da simples exposição de
quão irrealista é assumir, como fazem os proponentes desta
visão, que mercados de capital não regulamentados
estabelecerão "correctamente" preços de títulos
ou activos financeiro. Ainda mais importante, mostrará porque ou como
apesar de todas as suas falhas e viéses o paradigma acabou por dominar a
disciplina da economia/finança; e porque ou como, apesar do seu registo
deplorável (em termos tanto de explicação como de proposta
de soluções) nos últimos anos continua a permanecer a
senha económica oficial de governos e dos que elaboram políticas,
bem como da esmagadora maioria dos manuais académicos de teoria
económica e finanças. Também explica porque tantos
economistas inteligentes e tecnicamente competente estão tão
firmemente dedicados a um modelo tão abstracto ou esotérico que,
se bem que com interesse, não explica grande coisa.
O segundo capítulo apresenta uma crítica das
explicações keynesianas do colapso financeiro de 2008 e da Grande
Recessão que se seguiu. A maior parte dos economistas keynesianos
atribuem a culpa da implosão financeira e a recessão subsequente
à ideologia neoliberal, à doutrina económica de Reagan
e/ou Thatcher, ou a economistas da Universidade de Chicago. O argumento
apresentado neste capítulo demonstra que a transição da
teoria económica keynesiana para a neoliberal tem como origem
raízes muito mais profundas do que pura ideologia; que a mudança
começou há muito antes de Reagan e Thatcher serem eleitos; que
políticas de austeridade neoliberais são de classe, não
políticas "más"; e que a confiança keynesiana na
capacidade do governo para re-regulamentar e ressuscitar a economia repousa
sobre uma percepção optimista de que o estado pode controlar o
capitalismo. O capítulo argumenta que, ao contrário de
percepções tão esperançosas quando ao papel do
estado nos assuntos económicos, a política pública
é mais do que simplesmente um assunto administrativo ou técnico;
ainda mais importante, ela é um assunto profundamente
sócio-político que está organicamente entrelaçado
à natureza de classe do estado e do aparelho de elaboração
política.
O capítulo mais adiante argumenta que a prescrição dos
estímulos keynesianos, os quais repousam quase exclusivamente na procura
forte, ou no emprego alto e em salários altos, é unilateral;
porque o crescimento sob o capitalismo não é apenas uma
função da procura forte mas também de custos baixos, os
quais muitas vezes significam emprego baixo e salários baixos. Por
outras palavras, o crescimento económico sob o capitalismo pode ser
conduzido tanto por salários/procura (como foi o caso período do
imediato pós II Guerra Mundial), como conduzido pelo custo/oferta, como
foi o caso nas décadas de 1980 e 1990.
O capítulo também destaca porque ou como o êxito inicial
(meados da década de 1930 fins da de 1960) da teoria
económica keynesiana tem mais a ver com as vigorosos lutas de classe e
pressões populares naquele tempo do que com o génio de Keynes; e
porque na ausência de outra pressão esmagadora da base as reformas
económicas keynesianas poderiam permanecer uma lembrança
carinhosa, uma experiência única na história das reformas
económicas.
O terceiro capítulo apresenta uma análise crítica da
teoria económica neoclássica como um todo, isto é, de um
certo número de grandes defeitos que são compartilhados tanto
pelas tradições conservadoras-neoliberais como pelas
liberais-keynesianas do neoclassicismo. Um importante viés do paradigma
neoclássico é o seu conceito de oferta de crédito e/ou
dinheiro e, portanto, do sector financeiro. Ao contrário do modelo de
"fluxo circular" neoclássico enraizado na sua fé no
modelo de equilíbrio geral walrasiano (como permuta), na era do
capitalismo altamente "financiarizado, a procura por crédito
não é limitada ao crédito industrial ou comercial, isto
é, ao financiamento da dívida de investimentos reais e às
vendas. Talvez ainda mais importante, uma grande parte do crédito nos
dias de hoje é criado para investimento especulativo. Na era da grande
finança, o capital financeiro parasitário, a transferir
sistematicamente excedente económico do sector real para o financeiro,
efectivamente minou o elegante mecanismo neoclássico do "fluxo
circular" onde poupanças populares e ganhos (retidos) dos
produtores supostamente são reciclados através de
intermediários financeiros para investimento produtivo. Ao sugar
recursos financeiros do resto da economia, bem como ao gerar capital
fictício a partir do ar através da
especulação/jogo, o capital financeiro parasitário
alimenta-se a si próprio tal como um parasita real.
Os economistas neoclássicos não foram, até então,
capazes de reconciliar o crescimento independente e parasitário do
sector financeiro com o seu "fluxo circular" e/ou modelo de
equilíbrio geral. Tristemente, ao invés de tentarem incorporar o
sector financeiro em expansão autónoma dentro do sector real do
seu modele, eles optaram por ignorá-lo temendo que isto
perturbasse o seu modelo bem arrumado e conveniente. Não
surpreendentemente, eles não podem explicar, por exemplo, o fosso
crescente entre lucratividade corporativa e investimento real uma
divergência a indicar que, nos últimos anos, porções
significativas de lucros corporativos não são reinvestidos na
construção de capacidade [de produção]; é
divergido, ao invés, para o investimento financeiro na buscar de
retornos mais elevados para o capital dos accionistas (Harding 2013). Nem
tão pouco podem eles explicar o facto de que enquanto o
empréstimo da banca para o sector financeiro como
proporção do PIB quadruplicou desde a década de 1950, o
rácio semelhante para o empréstimo da banca para o sector real
permaneceu quase inalterado (Hudson e Bezemer 2012).
Para explicar porque o paradigma económico neoclássico é
tão superficial quase irrelevante para desenvolvimentos do mundo
real este capítulo também recorda brevemente as origens do
paradigma e demonstra que a sua superficialidade não é totalmente
fortuita; é porque o paradigma foi desenvolvido primariamente como um
constructo teórico ideologicamente orientado para se contrapor ao
paradigma económico clássico não como uma
evolução, extensão, ou elaboração daqueles
paradigma anterior (o qual é um modelo holístico estudando em
teoria económica em conjunto com política, sociologia e
história) mas como uma falsificação e substituto
mistificatório para ele.
O capítulo 4 é dedicado a outro importante viés da escola
de pensamento neoclássica (tanto a liberal como a conservadora): uma
ausência grave de perspectiva histórica. O vazio crucialmente
importante de uma perspectiva histórica explica porque (com algumas
excepções) a maioria esmagadora dos economistas convencionais
deixem de ver que o colapso financeiro de 2008 e a subsequente
contracção económica representa mais do que apenas outro
ciclo de recessão. Ainda mais importante, eles representam uma
mudança estrutural, uma nova fase no desenvolvimento do capitalismo, a
era do "capital financeiro", como o falecido economista alemão
Rudolph Hilferding (1981) afirmou. As características salientes da nova
fase incluem dominância económica e política do capital
financeiro, criação de dívida/crédito/dinheiro
primariamente para especulação e inflação de
preços de activos e apenas secundariamente para investimento produtivo;
criação de novas bolhas para remediar bolhas passadas;
redistribuição e transferência de recursos nacionais
através da criação fraudulenta de dívida a
ser paga através de cortes austeritários.
O capital 5 é dedicado à avaliação das
visões marxistas (tanto clássicas como contemporâneas) do
papel da finança em flutuações de mercado e crises
económicas. Se bem que prestando homenagem a Marx pelo seu profundo
entendimento das "leis de movimento do modo capitalista de
produção", a maior parte dos economistas de
esquerda/liberais argumentam que, no entanto, sua análise não
pode ser de muita utilidade para o estudo da banca e da finança
contemporânea, pois estes são desenvolvimentos pós Marx.
Argumentarei neste capítulo que, de facto, uma leitura cuidadosa do seu
trabalho sobre "capital fictício" revela
percepções aguda para um melhor entendimento dos desenvolvimentos
financeiros de hoje. Mais uma vez argumentarei que o tratamento enviesado do
capital financeiro por muitos dos académicos marxistas de hoje
representa não só um lamentável afastamento das
visões de marxistas anteriores como Lenine e Hilferding como
também do próprio tratamento de Marx do capital financeiro.
O capítulo 6 apresenta uma breve visão geral da história
do cancelamento de dívidas. Utilizando evidência empírica
tanto do passado distante como do recente, o capítulo demonstra que, ao
contrário das visões oficiais de hoje de que o cancelamento pode
levar à desordem económica, como resumido no slogan
"demasiado grande para cair", é muitas vezes
recuperação económica, não colapso, o qual resulta
do cancelar ou cancelar parcialmente fardos de dívida opressivos.
Registos históricos mostram que o alívio da dívida na
Idade do Bronze da Mesopotâmia, destinado a restaurar o renascimento
económico e a harmonia social, tiveram lugar numa base razoavelmente
regular de 2400 a 1400 AC. Documentos antigos também indicam que a
tradição de cancelamento de dívida da Idade do Bronze pode
ter servido como modelo para os pronunciamentos bíblicos do
alívio periódico de dívida, chamados Jubileus. Numerosas
passagens do Velho Testamento tratam de questões de equidade
económica e justiça social apelando ao reequilíbrio
periódico de acordos sócio-económicos que incluiriam
cancelamento de dívida e restituição de terra. Tanto a
evidência lógica como empírica indica, entretanto, que a
lógica por trás da ideia de
cancelamento/modificação transcende questões morais de
compaixão e justiça. Talvez ainda mais importante, ela é
baseada em considerações mais vastas e a mais longo prazo de
revitalização sócio-económica e sustentabilidade. O
capítulo destaca um certo número de exemplos de
renovação económica através de políticas e
práticas com êxito de alívio da dívida
práticas que por vezes foram qualificadas como que a criar um "novo
começo"
("clean slate"),
ou um recomeço livre de dívida.
O capítulo 7 chama atenção para o facto de que, como
argumentou o economista marxista alemão Rudolf Hilferding, o sistema
bancário privado representa uma espécie fraudulenta de
socialismo, modificado para adequar-se às necessidades do capitalismo.
Ele socializa o dinheiro de outras pessoas para o benefício de poucos. A
evidência mostra que entre 35 e 40 por cento de todo gasto do consumidor
nos Estados Unidos é apropriada pelo sector financeiro um imposto
oculto ou renda que sistematicamente transfere recursos económicos da
Main Street para a Wall Street, com isso exasperando constantemente a
desigualdade, drenando a economia do povo e deprimindo suas vidas. O
capítulo apresenta um caso convincente de que, ao contrário das
percepções populares nos países capitalistas centrais,
há na verdade razões irresistíveis não só
para graus mais elevados de confiabilidade como também níveis
mais elevados de eficiência do sector público sector
bancário e sistema de crédito quando comparados com a banca
privada tantos em bases conceptuais como empíricas.
O capítulo 8 apresenta um argumento decisivo da razão porque
apesar de a nacionalização de bancos comerciais poder mitigar ou
afastar turbulências de mercado devidas a bolhas e estouros financeiros,
ela não impedirá outras crises sistémicas do capitalismo.
Isto inclui crises de lucratividade que resultam de níveis elevados de
capitalização, de procura insuficiente e/ou subconsumo, de
supercapacidade e/ou superprodução, ou da desproporcionalidade
entre vários sectores de uma economia de mercado.
O capítulo mais uma vez argumenta que regulamentações de
intermediários financeiros não seriam uma solução
eficaz tanto porque, por um lado, devido à influência
política de interesses financeiros poderosos, sua
implementação é altamente improvável; como, por
outro lado, mesmo se algumas regulamentações fossem
implementadas, elas proporcionariam apenas um alívio temporário.
Pois, enquanto não houvesse controle democrático,
regulamentações seriam minadas pelas influentes elites
financeiras que elegem e controlam os elaboradores da política e,
portanto, a política. A dramática anulação das
extensas regulamentações das décadas de 1930 e 1940, as
quais foram colocadas em vigor em resposta à Grande Depressão e
à II Guerra Mundial, para as igualmente dramáticas
desregulamentações de hoje servem como uma forte
validação deste julgamento. Abolir as crises recorrentes do
sistema capitalista, portanto, exige mais do que a nacionalização
ou regulamentação das instituições financeiras;
exige a mudança do próprio sistema.
Este livro é diferente sob numerosos aspectos. Primeiramente, é
altamente interdisciplinar, tanto em estilo como em âmbito, combinando
organicamente teoria económica, política, sociologia e
história. Por outro lado, é único pela sua abordagem
histórica e/ou marxiana ou o método de análise, não
só em termos da evolução histórica do capital
financeiro como também do carácter de classe do estado e das
instituições que alimentam essa evolução.
Além disso, o livro é escrito de um modo que, tanto em termos de
conteúdo como de estilo, será do interesse (assim como
acessível) não só a um conjunto de disciplinas na academia
como também para leitores leigos "não peritos" que
estejam preocupados com a instabilidade recorrente dos mercados financeiros ou,
mais geralmente, com as desgraças e caprichos do sistema
económico capitalista.
Referências
Harding, R. (2013) "Corporate investment: A mysterious
divergence,"
Financial Times
, July 24. Online. Available HTTP: <
www.ft.com/...
; (accessed August 29, 2013).
Hilferding, R. (1981)
Finance Capital: A Study of the Latest Phase of Capitalist Development
, ed. Tom Bottomore, London: Routledge & Kegan Paul.
Hudson, M. and Bezemer, D. (2012) "Incorporating the Rentier Sectors into
a Financial Model,"
World Economic Review
, vol. 1, no. 1. Online. Available HTTP: <
wer.worldeconomicsassociation.org/article/view/36>
; (accessed April 05, 2013).
[*]
Economista, iraniano.
O original encontra-se em
ismaelhossein-zadeh.com/introduction/
Este texto encontra-se em
http://resistir.info/
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