Os espanhóis confrontam as teses do governo espanhol nas multitudinárias manifestações contra o atentado de Madrid

por Rebelión

Cartaz na manifestação de Barcelona, em catalão: 'Povo, abri os olhos: Bush e Aznar estão a escrever o filme. Título: 11-S e 11-M'. Ainda que unidos pela recusa à violência que na véspera ceifou a vida de quase 200 pessoas e feriu 1400, as manifestações verificadas nas capitais do Estado espanhol também evidenciaram o variegado e tenso ambiente político que se respira aqui em vésperas de eleições gerais consideradas históricas.

Atrás de um cartaz com o lema "Com as vítimas, com a Constituição e contra o terrorismo" marchavam o presidente do governo e os líderes dos principais partidos, sindicatos e instituições, acompanhados pelo príncipe Felipe e pela infantas, Elena e Cristina, e os representantes máximos da Conferência Episcopal. Mas nem todos os manifestantes compartilhavam as teses governamentais sobre o atentado.

Os lemas e cartazes da manifestação madrilenha evidenciaram os diferentes pontos de vista sobre a política nacional, porque junto aos lemas tradicionais como ETA não e Já basta ouvia-se de forma recorrrente: "quem foi?", como demonstração do desejo dos espanhóis de conhecer as verdadeiras causas dos atentados.

Numerosos cartazes referiam-se ao terrorismo em geral, outros repudiavam directamente a ETA e muitos apresentavam mensagens mais transcendentes como "Não mais morte, não mais mentiras", "Paz em Madrid e em todo o mundo", e o combativo "Não à guerra" que foi o principal nas manifestações contra a invasão do Iraque há um ano atrás.

Em contraste com o ruído da demonstração madrilenha, a manifestação de Barcelona, também multitudinária, transcorreu num silêncio sepulcral como demonstração de respeito para com as vítimas do massacre.

Entretanto, finda a marcha, a multidão que enchia a Praça da Catalunha arremeteu a gritos de "assassinos" contra o vice-presidente do governo, Rodrigo Rato, e o presidente do Partido Popular na Catalunha, Josep Piqué, os quais tiveram de ser retirados da multidão pela polícia e resguardar-se num parqueamento subterrâneo.

Nas grandes cidades bascas de San Sebastián e Bilbao também se efectuaram multitudinárias manifestações contra o terrorismo.

Entretanto, em Bilbao, ainda que todos os partidos participassem, só os socialistas e os populares encabeçavam a marcha com o lema "com as vítimas, com a Constituição e contra o terrorismo". As restantes formações políticas fizeram-no em separado, por estarem em desacordo com a alusão à Carta Magna que o governo pretendeu impor a todos.

As marchas, que começaram em todo o país cerca das 19 horas locais, foram a conclusão final de outras demonstrações realizadas ao longo do dia em cidades, freguesias e centros de trabalho.

Entre as homenagens às vítimas dos atentados, a mais participada foi uma paralisação nacional de 15 minutos convocadas pelas principais centrais sindicais do país e que foi seguida por milhões de trabalhadores.

O original encontra-se em http://www.rebelion.org/spain/040313man.htm .

Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

13/Mar/04