Céus mais verdes
por Carlton Meyer
As viagens aéreas &satilde;o uma actividade vital na sociedade
moderna e continuarão a ser uma importante actividade económica,
mesmo depois de os preços do petróleo duplicarem ou triplicarem.
Contudo, é errado assumir que o transporte aéreo
desfrutará de
crescimento rápido durante décadas.
A previsão de que o transporte aéreo terá duplicado em
2030 baseia-se em petróleo disponível e barato.
As projecções que apontam para grandes encomendas de aviões
comerciais e necessidade de enormes ampliações nos aeroportos
não têm fundamento.
[NR1]
Uma vez que não existem alternativas realísticas aos actuais
combustíveis de avião , os governos tem que dar passos seguros
para melhorar a eficiência do sistema actual de transporte aéreo,
tanto no sentido da redução dos gastos em combustível como
na diminuição da poluição.
Devido ao alarme de aquecimento global, as companhias aéreas
estão sob a pressão dos governos para que diminuam as suas
emissões de carbono. Alguém poderá argumentar que o
transporte aéreo é mais eficiente que o rodoviário, porque
isso é verdade, no caso de um indivíduo conduzindo um carro
grande ser comparado com outro, viajando num 747 completamente lotado. Contudo
uma comparação mais tipificada é a de duas pessoas num
carro médio, com um 747 a 80% da sua capacidade, onde o transporte
aéreo queima duas vezes mais combustível por passageiro. Se
quatro pessoas estiverem naquele carro, então o transporte aéreo
queima quatro vezes mais por passageiro. Obviamente, a comparação
entre a eficiência de combustível/passageiro entre autocarro ou
comboio e o avião, demonstra que a industria aeronáutica
está apoiada em combustível barato.
Há décadas que continua a pesquisa de combustíveis
alternativos para avião, mas nenhum tem a densidade energética da
actual gasolina, o que é essencial para minimizar a incidência do
peso do combustível no peso total do avião,
condição importante para uma operação eficiente.
Gasolinas sintéticas têm vindo a ser experimentadas em
aviões e mencionadas como uma alternativa. No entanto a
produção destas gasolinas está longe da intensidade
energética dos combustíveis comuns para a aviação.
As alternativas encontradas para os combustíveis fosseis são mais
aplicáveis às outras formas de transporte; assim a
indústria aeronáutica terá de se focar no aumento da
eficiência.
A maioria das pessoas fica surpreendida ao saber que a aviação
produz apenas 2-3,5% das emissões globais de carbono, dependendo do
critério de avaliação. Por exemplo as refinarias emitem
poluição para produzir combustível de
aviação, coisa que a indústria da aviação
prefere ignorar. As "operações no solo", nos
aeroportos, exigem igualmente um enorme dispêndio de energia, e isso
deveria ser também contabilizado. Na medida em que os novos
aviões são muito mais eficientes, as mudanças operacionais
podem reduzir grandemente o consumo de combustível na indústria
aeronáutica.
Redução no Congestionamento do Tráfego Aéreo
É obvio que dúzias de aviões sobrevoando um aeroporto,
enquanto esperam para aterrar, é um tremendo desperdício em
combustível, mas mesmo assim, considerado normal em muitos dos mais
congestionados aeroportos mundiais. A solução simples é
reduzir o número de voos programados. Eliminaria o desperdício de
combustível nos "circuitos de espera", reduziria os custos de
operação, e a poluição sonora e do ar nas camadas
mais baixas, aumentando os lucros e a segurança e encurtando o tempo de
voo para os passageiros.
Nos EUA, as companhias aéreas tem a liberdade de estabelecer os seus
próprios horários em cada aeroporto, com pouca ou nenhuma
coordenação com as autoridades aeroportuárias. Depois de
sair do seu estacionamento a aeronave posiciona-se em sequência com as
outras, enquanto espera a sua vez para descolar. Esta falta de
coordenação desperdiça imenso combustível e tempo.
Uma vez que atrasos num aeroporto podem afectar centenas de outros voos, todo o
sistema se vai bloqueando. Apesar de por isso, todos os dias, muitos aeroportos
ficarem congestionados ao mesmo tempo, nada foi feito para resolver este
problema óbvio. Gestores míopes de companhias aéreas
opõem-se a restrições no número de voos, porque
apenas vêem menos voos como menos lucro. Alguns receiam que a
regulamentação deste problema levaria a maus
"hábitos" por parte da Administração. Contudo,
menos voos significam menos oferta para os passageiros e assim voarem os
aviões com menos lugares vazios. As companhias aéreas poupariam
mais combustível por voo, enquanto menos congestionamento reduz o
problema das ligações entre voos para os passageiros. Isto parece
de senso comum, mas esta simples solução tem sido ignorada.
Mudança nas Regras da Hora de Partida
Os pilotos são encorajados a deixar a posição de
estacionamento atempadamente uma vez que "partir no horário",
é medido e publicitado como um indicador de eficiência da
companhia aérea. Contudo, após deixar a posição
"à hora", os aviões fazem fila durante muitos minutos
antes de ter a possibilidade de descolar. Isto resulta em atraso, e
consequentemente em centenas de libras/peso (1 libra=454 g) de "jet
fuel" queimadas. Menos voos programados ajudarão a diminuir esta
incidência, apesar de condições meteorológicas
adversas e outros atrasos condicionarem sempre a existência deste
problema.
Muitas companhias descobriram que podiam poupar, utilizando apenas um motor
até as aeronaves poderem descolar. A Virgin Atlantic está
experimentando o reboque do avião até à pista de
descolagem. Embora poupando combustível aumenta os custos com a
mão-de-obra. Os pilotos igualmente alertam para a insegurança da
operação no chão, uma vez que estes pequenos
veículos ficam menos visíveis e aumentam o tráfego nos
caminhos de circulação ao regressar aos terminais, além de
que, em vez de terem o controlo da condução do avião
durante a rolagem no solo poderem ter de confiar num jovem condutor. Acresce, a
preocupação dos mecânicos de que o frequente reboque das
aeronaves carregadas na sua capacidade máxima, ofenda a
resistência do trem dianteiro.
A solução é uma melhor coordenação de
tráfego pela torre de controlo. O registo de partida da aeronave deve
ser dado pela hora de "rodas no ar" em vez da hora em que é
retirado da porta de embarque. As companhias de aviação
poderão considerar isto injusto, mas essa é a verdadeira hora de
partida. Isso encorajava-as a evitar horários apertados e a ser mais
cooperantes na procura de operações aeroportuárias mais
coordenadas. Os controladores na torre ao ter consciência de
situações de congestionamento na placa de estacionamento, podem
dar instruções aos pilotos para ficarem nas suas
posições até receberem as autorizações de
partida. Nesses casos os pilotos podem informar os passageiros de que o
avião está pronto para partir no horário, mas que aguarda
a respectiva autorização. Entretanto o avião continua a
utilizar a energia eléctrica do terminal, com os motores parados,
até ter a autorização de partida, possibilitando assim uma
rolagem contínua e uma descolagem imediata.
Durante este tempo de espera será uma vantagem acrescida manter as
portas de embarque abertas possibilitando o embarque a passageiros atrasados.
Nos casos em que o mau tempo obrigue a atrasar a descolagem, os passageiros
podem facilmente desembarcar, em vez de ficarem fechados no avião, na
placa de embarque durante horas. Finalmente, menos aviões estacionados
na placa esperando por uma posição de estacionamento livre ou
autorização de partida significa menos hipóteses de
acidentes no solo, para não mencionar menos ruído e ar
poluído.
Muitos aeroportos usam agora radar de solo ou sistemas de GPS para conduzir
aviões no chão, tornando praticável o seu controlo, da
posição de embarque até à pista. Às
companhias aéreas esta ideia pode incomodar por ficarem ocupadas nas
portas de embarque. Excepção a esta vantagem será quando
os aviões acabados de chegar necessitarem das posições
ainda ocupadas por outras aguardando ainda autorização de
saída. Contudo, estes problemas são uma indicação
de que foram programados demasiados voos. Outra solução em muitos
aeroportos é banir a prática de companhias que pagam a
ocupação de portas de embarque que não usam, a fim de
impedir a competição de outras operadoras. Os aeroportos devem
disponibilizar igualmente novas portas de embarque/desembarque para assegurar
às companhias portas em número suficiente, para enfrentar os
atrasos inesperados. Isto também eliminaria os gastos com o
combustível queimado pelos aviões aguardando na placa, durante
minutos, por uma posição de estacionamento disponível.
Lançar uma Taxa de Aterragem sobre os Aviões de Carga
Movimentar empacotamentos pelo ar é rápido e simples, mas muitas
vezes mais caro, do que por camião ou comboio. É muitas vezes
importante para correio, documentos, e peças de
substituição essenciais. No entanto, muitas empresas enviam por
via aérea e apenas por comodidade, na medida em que muitas
indústrias não essenciais dão primazia ao frete
aéreo. Por exemplo, flores cortadas de fresco são enviadas
rotineiramente da América do Sul para os EUA por via aérea. Os
governos não precisam de decidir que fretes são considerados
verdadeiramente essenciais, mas podem impor ao nível nacional uma taxa
de aterragem para reduzir o consumo de combustível e a
poluição do ar.
Subir o custo do frete aéreo encorajaria as empresas a expandir as suas
operações de transporte terrestre. As companhias aéreas
iriam gritar que ambientalistas loucos estavam a destruir os seus
negócios. Na verdade isto causaria uma pequena diminuição
no número de voos, o que seria compensado com o normal crescimento ao
longo do tempo. A maior parte dos cidadãos concordaria em que o
transporte de pessoas deveria ter prioridade sobre o frete aéreo.
Cobrança de uma Taxa de Aterragem Única para os Aviões de
Passageiros
As taxas de aterragem são usualmente baseadas no tamanho da aeronave.
Isto foi adoptado porque os aviões maiores provocam maior desgaste nas
pistas, e os proprietários de aeronaves maiores podem pagar taxas mais
altas. No entanto um jacto executivo exige do controlo de tráfego
aéreo a mesma reserva de separação de tráfego,
exigida por um " jumbo". Cobrar taxas iguais, em aeroportos
congestionados, leva os pequenos aviões a utilizar aeroportos regionais
mais pequenos, e beneficia as companhias que usando aviões de maior
capacidade, transportam mais passageiros por voo. Nos EUA este passo, ditado
pelo bom senso, foi bloqueado por abastados proprietários de pequenos
aviões, que exercem uma importante influência política.
Redução do Combustível de Reserva Obrigatório
Os aviões foram sempre obrigados a transportar 10% mais
combustível do que o calculado para cada voo, por
precaução de segurança. Isto era uma atitude sábia,
décadas atrás, quando cada avião tinha um navegador para
calcular a posição e rumos utilizando uma bússola e mapas,
pois o avião era muitas vezes desviado da sua rota pelo mau tempo. Os
navegadores foram substituídos por computadores que usam o GPS para
manter o avião na sua rota ideal, com a precisão de alguns
metros. O radar meteorológico providencia ampla informação
aos pilotos de modo a poderem evitar problemas e assim os aviões de
passageiros raramente utilizam algum dos milhares de litros do
combustível de reserva. Como resultado disso, muitos pilotos sugeriram
reservas de combustível menores, especialmente em voos através da
Europa e EUA, onde inúmeros aeroportos oferecem sempre alternativas em
aterragens de emergência. Isto pouparia às companhias
aéreas milhões de dólares por ano e menos
poluição no ar, uma vez que "passear" as reservas por
todo o lado também queima combustível.
Dispositivos Anti-Vórtices Obrigatórios
Há cerca de três décadas, os engenheiros da NASA
descobriram que acrescentar certos pequenos perfis aerodinâmicos na ponta
das asas, chamados "Winglets", reduzia o atrito. Consegue-se por este
meio um aumento na eficiência do combustível em cerca de 6,5%,
dependendo do desenho e velocidade da aeronave
[1]
. Estes dispositivos, embora muito populares, não são de uso
generalizado porque custam dinheiro. Alguns fabricantes de aeronaves
ignoram-nos, para manter os seus preços um pouco mais baixos, enquanto
muitas organizações mal geridas recusam fazer pequenos
investimentos para actualizar aviões mais antigos, e que se pagariam a
si próprios, com a poupança em combustível, em poucos
anos. Estão aí incluídas as Forças Armadas dos EUA,
que testaram com êxito os "Winglets" há trinta anos
atrás mas nunca orçamentaram o dinheiro necessário para
implementar esta pequena inovação.
Os governos deveriam tornar obrigatório o uso destes dispositivos nos
novos aviões e estabelecer uma data limite para a sua
colocação em aviões mais antigos. Uma vez que este
requisito encontraria, provavelmente, oposição por parte de
operadores aéreos com pouca visão, os aeroportos locais podiam
trazê-los à razão, aplicando taxas de aterragem mais
elevadas às aeronaves sem "Winglets", ou proibindo a sua
aterragem. Parecerá dura esta imposição, mas é
necessário forçar certas organizações a fazer um
pequeno investimento no futuro, o que beneficiaria não só a
sociedade, como a elas próprias, a longo prazo.
Revisão das Procedimentos Anti Ruído na Partida e
Aproximação
Para reduzir o ruído, muitos aeroportos obrigam a linhas de voo
anormais. Isto obriga muitas vezes a subidas muito íngremes com um
enorme sorver de combustível, ou ineficientes descidas de elevado
gradiente. Os novos aviões a jacto produzem metade do ruído dos
antigos. As companhias aéreas poderiam poupar combustível e
reduzir a poluição do ar se os cidadãos pressionassem
localmente as autoridades aeroportuárias no sentido de modificar estas
linhas de voo. Por outro lado os construtores de reactores sabem que turbinas
desprovidas das coberturas anti ruído aumentam a eficiência do
motor em 5%, e que para isso basta removê-las. Esta ideia está a
ser ponderada uma vez que o preço do petróleo não
pára de subir.
O Futuro do Voo
Viajar em companhias aéreas é uma actividade vital na sociedade
moderna e continuará a ser uma importante actividade económica
mesmo quando o preço do combustível duplicar ou triplicar.
Contudo,
é errado assumir que o transporte aéreo desfrutará de
crescimento rápido durante décadas. As previsões de que o
transporte aéreo duplicará em 2030 assumem que
o petróleo permanecerá barato e abundante.
As projecções de grandes encomendas de aviões
comerciais e da necessidade de enormes ampliações de aeroportos
não têm fundamento.
[2] [NR1]
Uma vez que alternativas realísticas aos actuais combustíveis
de avião não existem, os governos têm que dar passos
razoáveis para melhorar a eficiência do sistema actual de
transporte aéreo, tanto para reduzir os custos do combustível
como a poluição.
21/Novembro/2007
[NR1] Sublinhados de resistir.info.
[1] "Winglets",
NASA Facts sheet
, accessed Sept. 10, 2007.
[2] "
Flight Path Britain
", John Busby, SRA, March 27, 2007.
O original encontra-se em
http://www.sandersresearch.com/index.php?option=com_content&task=view&id=1326
Tradução de Euler Mendes.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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