Grã-Bretanha
Altas das tarifas de energia exigem nacionalização e ruptura
com a UE
por AC
Tal como nos caminhos-de-ferro, a Grã-Bretanha foi o laboratório
da chamada liberalização, na realidade uma
privatização do sector energético. Consequências:
alta dos preços, precariedade energética, sub-investimento e
lucros recordes.
Em 1989, o Electricity Act, a "liberalização" do sector
da energia, eufemismo para caracterizar a quebra do monopólio
público da British Gas sobre a electricidade e o gás, sua
privatização e a abertura à concorrência dos
monopólios privados britânicos e sobretudo europeus.
Vinte e cinco anos depois, as promessas estão longe. Em Outubro de 2013,
a British Gas anunciou uma nova alta das tarifas: 10,4% para a electricidade e
8,4% para o gás. Ou seja, em média uma alta de 160 da
factura energética de cada família.
Desde 2011, a British Gas aumentou suas tarifas de gás em 50% e as de
electricidade em 40%. Elas afectarão mais de 20 milhões de
clientes que permaneceram fiéis ao antigo monopólio.
E a concorrência? Criada de raiz após a privatização
da British Gas, ela reduz-se hoje a seis monopólios (o "Big
six") que controlam 99% do mercado.
São os monopólios britânicos SSE e Scottish Power,
privatizados após 1989, e os monopólios europeus: os
alemães E.ON e RWE e o francês EDF. Contrariando o mito de que a
concorrência esmaga os preços, a entente entre os
monopólios conduz à alta geral dos preços.
Desde 2011, a alta média das tarifas da energia é de 21% para a
RWE e EDF, de 25% para a Scottish Power e E.ON, de 30% para a SSE. O argumento
avançado pelas companhias, a alta das cotações de
matérias-primas e do custo dos investimentos, cai por terra face aos
resultados anunciados.
Uma nova alta de 10% dos lucros do primeiro semestre para a British Gas e a
Scottish Power multiplicou por dois os seus lucros do ano passado (de 450 para
900 milhões de euros) ao passo que a EDF quadruplicou seus lucros entre
2011 e 2013, de 1 para 4 mil milhões de euros.
Se se examina a Centrica, proprietária da British Gas, 61% dos seus
lucros são revertidos em dividendos para os accionistas. Seus
"investimentos" consistem na compra de infraestruturas, de blocos de
exploração no estrangeiro.
As últimas operações até à data, a compra
(em parceria com o Qatar) por mil milhões de dólares dos activos
da Suncor no Oeste do Canadá, após a do principal operador no
Leste americano, a Hess, por 800 milhões de dólares. Finalmente,
a aquisição à Total das suas infraestruturas e da sua
carteira no Mar do Norte por 300 milhões de dólares.
Em um ano, 2 mil milhões de dólares de investimentos no
estrangeiro, com o objectivo exclusivo da rentabilidade, ao invés de investir
na renovação da envelhecida rede britânica.
Para os britânicos, as consequências são desastrosas. Cada
vez mais famílias têm de fazer uma opção entre
aquecer-se e comer: 23% dos britânicos segundo um inquérito da
campanha "Energy bill revolution".
Entre 2003 e 2013, ainda que a guerra dos números prossiga entre o
governo e as associações, passou-se de 2 para 6 milhões de
famílias em "precariedade energética"
(fuel poverty),
ou seja, famílias que têm de dedicar mais de 10% dos seus
rendimentos às facturas de electricidade.
Segundo a associação "Stop fuel poverty", baseando-se
nos números dos organismos de estatística do governo, as altas
actuais das tarifas poderiam colocar, de agora até 2016, 9
milhões de britânicos nesta condição, ou seja, uma
família em cada três.
Para os comunistas britânicos a solução é a
nacionalização mas rompendo com a UE do capital.
A alta das tarifas é escandalosa. As reacções da direita
estão envoltas num desdém de classe. Os dirigentes da British Gas
aconselharam a usar menos aquecimento, David Cameron aconselhou os
britânicos a "cobrirem-se melhor" e a "usarem
pullover".
O chefe da oposição trabalhista, Ed Miliband, apóstolo do
"capitalismo moral" prometeu que "congelaria os preços da
energia" durante 18 meses se fosse eleito. Uma promessa modesta que
não anima aqueles que nela crêem, tendo em vista o passado dos
trabalhistas a este respeito.
O secretário-geral do Partido Comunista, Robert Griffiths, naturalmente
apoiou esta proposta que aliviaria a situação de milhões
de famílias britânicas, ainda que considere que "ela
não nascerá senão de um movimento de massa contra a
austeridade e as privatizações", ligado aos sindicatos".
No entanto, a única solução verdadeiramente
aceitável permanece "o retorno dos sectores da energia e dos
transportes ao âmbito da propriedade pública".
Uma "re-nacionalização" que seria baseada numa
"verdadeira participação dos trabalhadores nas empresas
nacionalizadas, sem mega-bónus para os dirigentes nem ajudas para o
sector privado".
Os comunistas britânicos sublinham que uma vitória trabalhista,
com uma pressão máxima do movimento operário, é uma
necessidade. Mas não escondem o seu cepticismo em relação
ao "Labour": sobre a sua ilusão de uma gestão
"responsável" do capitalismo, suas ambiguidades sobre as
privatizações e, sobretudo, sua adesão ao discurso europeu.
Assim, segundo o Partido Comunista, "Miliband e companhia não
aderem à ideia de propriedade pública ou de
restauração plena e completa do Estado social britânico por
medo de melindrar a troika a Comissão Europeia, o BCE e o
FMI".
"Tal como certos líderes sindicais ludibriados, os dirigentes
trabalhistas sonham sempre com uma Europa social".
Ora, para Griffiths, os "tratados da UE confirmam os princípios do
grande capital sobre a economia de mercado e reforçam a
posição de instituições anti-democráticas,
como a Comissão e o BCE".
Colocar as nacionalizações no cerne de um projecto de
transformação social, colocar a questão da ruptura com a
UE para alimentar um movimento de massa no qual "um Partido Comunista
forte e influente ajudará a conduzir a luta em todas as frentes contra a
austeridade, as privatizações, a UE e o impulso para uma nova
guerra imperialista".
O original encontra-se em
solidarite-internationale-pcf.over-blog.net/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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