A mensagem de Natal do 1º ministro,
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O 1º ministro, na sua mensagem de Natal, com o objectivo de convencer os portugueses de que o seu governo estava a resolver os problemas do País manipulou dados e utilizou-os de uma forma pouco rigorosa. Para tornar a sua mensagem mais credível utilizou o próprio nome do INE. Sócrates afirmou textualmente o seguinte: "Segundo os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística, neste dois últimos anos e meio a economia criou em termos líquidos 106.000 postos de trabalho". No entanto, os dados do INE não permitem fazer tal afirmação. Efectivamente, se a comparação for feita com base em trimestres homólogos conclui-se que o crescimento do emprego não foi aquele que o 1º ministro afirmou (106 mil postos de trabalho), mas um outro muito diferente. Entre o 1º Trimestre de 2005 e o 1º trimestre de 2007 o aumento foi apenas de 41,3 mil postos de trabalho; entre o 2º trimestre de 2005 e o 2º Trimestre de 2007 foi somente de 22,6 mil postos de trabalho; e, entre o 3º Trimestre de 2005 e o 3º Trimestre de 2007 o crescimento foi de 70,3 mil postos de trabalho. Se a comparação for feita entre a média do emprego nos primeiros três trimestres de 2005 (5.118,8 mil) e a média do emprego nos três primeiros trimestres de 2007 (5.163,5 mil), em que o efeito da sazonalidade está mais diluído, o aumento de postos de trabalho é apenas de 44,7 mil, o que corresponde a 42% do aumento referido por Sócrates na sua mensagem de Natal. E mesmo este crescimento reduzido do emprego é aparente pois, entre 2005 e 2007, o emprego total aumentou em 44,7 mil, mas o emprego a tempo parcial cresceu em 45,2 mil. Portanto, o crescimento do emprego que se verificou-se deveu-se apenas ao aumento do emprego a tempo parcial porque o emprego a tempo completo até diminuiu. E a remuneração de um emprego a tempo parcial corresponde apenas a cerca de 47% da remuneração de um emprego a tempo completo (em 2006, segundo o INE, a remuneração média a tempo completo era de 730 euros, e a tempo parcial de apenas 340 euros). Os dados do INE mostram também que esse aumento foi conseguido fundamentalmente através de emprego precário pois, entre 2005 e 2007, os contratos a prazo aumentaram em 95,8 mil, enquanto os contratos sem termo diminuíram em 27,2 mil. Um problema extremamente preocupante é a destruição líquida elevada e crescente de postos de trabalho destinada aos trabalhadores de escolaridade e qualificação mais elevadas. Assim, segundo o INE, o numero de postos de trabalho destinados a "quadros superiores" + ""Especialistas de profissões intelectuais e cientificas" + "Técnicos profissionais de nível intermédio" diminuiu, entre o 1º Trimestre de 2005 e o 1º Trimestre de 2007, em 89,9 mil; e, entre o 3º Trimestre de 2005 e o 3º Trimestre de 2007, a redução de postos de trabalho destinadas àqueles três grupos já foi de 123 mil. A questão que naturalmente se coloca é a seguinte: Como é que o 1º ministro chegou ao valor "milagroso" de 106 mil postos de trabalho criados durante o seu governo? Fazendo a seguinte conta: subtraiu ao valor do emprego no 3º Trimestre de 2007 o valor do emprego no1º Trimestre de 2005. Mas essa comparação é tecnicamente incorrecta tendo em conta o carácter sazonal do emprego. Como toda a gente sabe, mas o 1º ministro parece que ignora, o emprego no 3º Trimestre do ano, portanto em pleno Verão, devido às férias e turismo é transitoriamente muito mais elevado do que o emprego no 1º Trimestre do ano, ou seja, em pleno Inverno. Mas para o 1º ministro Sócrates não existe diferença. Será ignorância ou é feito propositadamente esperando assim enganar os portugueses? É a questão que deixamos aqui para reflexão dos leitores A segunda ideia que Sócrates pretendeu fazer passar como verdadeira no seu discurso é que a situação do ensino e da qualificação melhoraram significativamente em Portugal durante o seu governo. No entanto, tanto os dados do Eurostat como do INE desmentem o 1º ministro. Assim de acordo com o Eurostat: (1) A percentagem da população com idade entre os 20 e 24 anos possuindo, pelo menos, o ensino secundário não aumentou em Portugal pois, em 2004, era 49,6% e , em 2006, também 49,6%, quando a nível da UE27 era de 77,8% em 2006; (2) A percentagem da população adulta com idade entre os 25 e 64 anos que participou em acções de formação e educação tem diminuído em Portugal pois, entre 2004 e 2006, passou de 4,3% para 3,8%, quando a nível da UE27 era de 9,6% em 2006; (3) O abandono escolar praticamente não tem diminuído em Portugal pois, entre 2004 e 2006, passou de 39,4% para 39,2%, quando na UE27 era de 15,3% em 2006. E segundo o INE, entre o 2º Trimestre de 2005 e o 2º Trimestre de 2007, o numero de alunos com 15 e mais anos diminuiu em Portugal de 779,2 mil para 753,6 mil e, no 3º Trimestre de 2007, eram apenas 716,3 mil, o que parece revelar um preocupante fenómeno de abandono escolar mesmo em 2007. |
O 1º Ministro Sócrates, como é habitual nesta altura do ano,
endereçou uma mensagem de Natal aos portugueses através da RTP.
Mas como também já se vem tornando habitual, utilizou a falta de
rigor e mesmo a manipulação para fazer passar como verdadeiro o
que não o era.
Embora os portugueses conheçam já bem a distância que
separa o discurso do 1º ministro da realidade, no entanto como utilizou
dados do INE para tornar mais credível a sua mensagem, vamos analisar
apenas dois pontos dessa mensagem -crescimento do emprego e aumento da
escolaridade e qualificação para não tornarmos este
texto demasiadamente longo, utilizando os dados verdadeiros do INE e do
Eurostat que desmentem o 1º ministro.
A CRIAÇÃO, EM TERMOS LÍQUIDOS, DE 106 MIL NOVOS EMPREGOS
NÃO É VERDADE
Sócrates na sua mensagem de Natal afirmou textualmente o seguinte:
"segundo os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística,
neste dois últimos anos e meio a economia criou em termos
líquidos 106.000 postos de trabalho".
Comparemos esta afirmação do 1º ministro com os dados
verdadeiros do Instituto Nacional de Estatística disponíveis no
seu "site" que, por isso, qualquer leitor poderá aceder
directamente, e que constam do quadro seguinte.
Se se analisar o emprego trimestre a trimestre conclui-se rapidamente que
existe uma grande variação determinada por causas sazonais. Por
esta razão, sob o ponto de vista técnico, a
comparação terá de ser feita sempre ou comparando
trimestres homólogos (por ex., 3º Trimestre de 2005 com 3º
Trimestre de 2007 ), ou então comparando a média dos três
primeiros trimestres de 2005 com a média dos três primeiros
trimestres de 2007 pois assim consegue reduzir o efeito da sazonalidade.
Se a comparação for feita com base em trimestres homólogos
conclui-se rapidamente que o crescimento do emprego não foi aquele que o
1º ministro afirmou (106 mil postos de trabalho), mas um outro muito
diferente. Assim, entre o 1º Trimestre de 2005 e o 1º trimestre de
2007 o aumento foi apenas de 41,3 mil postos de trabalho; entre o 2º
trimestre de 2005 e o 2º Trimestre de 2007 já foi somente de 22,6
mil postos de trabalho; e, entre o 3º Trimestre de 2005 e o 3º
Trimestre de 2007 o crescimento foi de 70,3 mil postos de trabalho.
Se a comparação for feita entre a média do emprego nos
primeiros três trimestres de 2005 (5.118,8 mil) e a média do
emprego nos três primeiros trimestres de 2007 (5.163,5 mil), em que o
efeito da sazonalidade está mais diluído, o aumento de postos de
trabalho foi apenas de 44,7 mil, o que corresponde a 42% do aumento referido
por Sócrates na sua mensagem de Natal.
No entanto, se analisarmos com maior profundidade o aumento do emprego
verificado durante o governo de Sócrates, procurando conhecer as causas
e características desse aumento, as conclusões a que se chegam
talvez surpreendessem o próprio 1º ministro se ele estivesse
realmente interessado no rigor e em conhecer a verdade.
Tomando como base de comparação a média dos números
do emprego dos primeiros três trimestres de 2005 e dos primeiros
três trimestres de 2007 conclui-se que, entre 2005 e 2007, o emprego
total aumentou em 44,7 mil, mas o emprego a tempo parcial cresceu em 45,2 mil.
Portanto, o crescimento no emprego que se verificou-se deveu-se apenas ao
aumento do emprego a tempo parcial porque o emprego a tempo completo até
diminuiu, como mostram também os dados do INE constantes no quadro. Como
os portugueses não conseguem arranjar emprego a tempo completo
são obrigados a aceitar emprego a tempo parcial (os chamados
"biscates"), em que a remuneração corresponde a cerca
de 47% da remuneração a tempo completo (em 2006, segundo o INE, a
remuneração média a tempo completo era de 730 euros, e a
tempo parcial de apenas 340 euros).
Por outro lado, os dados do INE também constantes do quadro I mostram
igualmente que esse aumento foi conseguido fundamentalmente através de
emprego precário pois, entre 2005 e 2007, os contratos a prazo
aumentaram em 95,8 mil, enquanto os contratos sem termo diminuíram em
27,2 mil.
É fácil de concluir, pela simples observação dos
dados do INE constantes do quadro, que se utilizássemos como base de
comparação os valores de trimestres homólogos (1º
Trim.2005/1ºTrim.2007; 2ºTrim.2007/2ºTrim.2007;
3ºTrim.2005/3ºTrim.2007) as conclusões a que se chegariam
seriam semelhantes.
A questão então que naturalmente se coloca neste momento é
a seguinte: Como é que o 1º ministro chegou ao valor
"milagroso" de 106 mil postos de trabalho criados durante o seu
governo? Subtraindo ao valor do emprego no 3º Trimestre de 2007 o valor do
emprego no1º Trimestre de 2005. E como mostramos, e se conclui dos dados
do quadro, essa comparação é tecnicamente incorrecta tendo
em conta o carácter sazonal do emprego. Como toda a gente sabe, mas o
1º ministro parece que ignora, o emprego no 3º Trimestre do ano,
portanto em pleno Verão e devido às férias e turismo,
é transitoriamente muito mais elevado do que o emprego no 1º
Trimestre do ano, ou seja, em pleno Inverno. Mas para o 1º ministro
Sócrates não existe diferença. Será
ignorância ou é feito propositadamente esperando assim enganar os
portugueses? É a questão que naturalmente se coloca.
Outro aspecto importante é a destruição liquida crescente
de um número elevado de postos de trabalho qualificados durante o
governo de Sócrates como mostram os dados do INE constantes do quadro
seguinte.
Os postos de trabalho ocupados por "quadros superiores", por
"especialistas de profissões intelectuais e cientificas" e por
"técnicos profissionais de nível intermédio"
são ocupados naturalmente por trabalhadores com escolaridade e
qualificação mais elevadas. E os dados do INE constantes do
quadro revelam quer, durante o governo de Sócrates, a nível de
"quadros superiores" e "Especialistas de profissões
intelectuais e cientificas" observou-se uma destruição
liquida de postos de trabalho, sendo muito mais elevada no 1º grupo
(-121,3 mil entre o 3º Trim.2005 e o 3º Trimestre 2007) do que no
segundo (-4,9 mil). E o crescimento no último grupo
Técnicos profissionais de nível intermédio - foi muito
reduzido (+ 3,2 mil). Para estas três profissões, a
destruição liquida de postos de trabalho foi permanente e cada
vez maior (-89,9 mil entre 1º Trim.2005/1ºTrim.2007; -115,7 mil entre
o 2ºTrim.2005/2ºTrim.2007; -123 mil entre o 3º
Trim.2005/3ºTrim.2007). E esta destruição líquida de
postos de trabalho mais qualificados é grave porque dificulta a
modernização do País e a alteração para um
perfil produtivo de maior valor acrescentado.
O ABANDONO ESCOLAR NÃO ESTÁ A DIMINUIR EM PORTUGAL NEM
ESTÁ A AUMENTAR A PARTICIPAÇÃO EM ACÇÕES DE
FORMAÇÃO
Uma outra ideia que o 1º ministro pretendeu fazer passar como verdadeira
é que a participação e a escolarização tinha
aumentado em Portugal com o seu governo. No entanto, tanto os dados do Eurostat
como os do INE desmentem Sócrates. Para isso observem-se os dados do
Eurostat constantes do quadro seguinte.
Entre 2004 e 2006, a percentagem da população com idade entre os
20 e 24 anos possuindo, pelo menos, o ensino secundário não
aumentou em Portugal pois, em 2004, atingia 49,6% e, em 2006, a percentagem era
a mesma. Em relação à participação em
acções de formação e de educação a
situação até piorou como revelam os dados do Eurostat
constantes do quadro seguinte.
Entre 2004 e 2006, a percentagem da população adulta que
participou em acções de formação e de
educação diminuiu em -11,6%, pois passou de 4,3% para apenas 3,8%
, segundo o Eurostat. Se se comparar a situação de Portugal com a
média dos países da União Europeia o fosso aumentou: Em
2004 a diferença para menos era de 5 pontos percentuais, enquanto em
2006 já era de 5,8 pontos percentuais. O abandono escolar praticamente
não diminuiu em Portugal durante o governo Sócrates como mostram
os dados do Eurostat constantes do quadro V
Entre 2004 e 2006, o abandono escolar masculino diminuiu 1,5 pontos percentuais
enquanto o feminino aumentou em 1,2 pontos percentuais, o que determinou que o
abandono escolar total (masculino + feminino) praticamente se tenha mantido
constante (uma diminuição de apenas 0,2 pontos percentuais). No
entanto, o fosso que separa Portugal da média dos países da
União Europeia aumentou, pois a diferença subiu de 23,4 pontos
percentuais para 23,9 pontos percentuais.
CONTRARIAMENTE Á MENSAGEM QUE SÓCRATES PRETENDEU FAZER PASSAR, O
NÚMERO DE ESTUDANTES COM 15 OU MAIS ANOS ESTÁ A DIMINUIR
Uma outra ideia que Sócrates procurou fazer passar como verdadeira na
sua mensagem de Natal, é que o número de estudantes tinha
aumentado durante o seu governo, com o evidente propósito de convencer
os portugueses que o problema do abandono escolar e da baixa escolaridade da
população portuguesa estava a ser resolvido. E com esse fim
afirmou textualmente o seguinte: " Temos este ano mais alunos no
secundário. Temos mais 17% de alunos no ensino superior".
Mas também neste campo os dados do INE, constantes do quadro seguinte,
desmentem o 1º ministro.
Como revelam os dados do INE, entre 2005 e 2007 verificou-se uma
diminuição continua do número de estudantes com 15 ou mais
anos, portanto estudantes fundamentalmente do ensino secundário e
superior que, no 3º Trimestre de 2005, eram 737,7 mil e, no 3º
Trimestre de 2007 já eram apenas 716,3 mil. Um aspecto preocupante
é a variação grande do numero de estudantes com 15 e mais
anos durante um ano escolar. Por ex., em 2007, no 1º Trimestre o seu
numero era de 745 mil, no 2º Trimestre de 753,6 mil, mas no 3º
Trimestre já era apenas de 716,3 mil, o que parece revelar um problema
preocupante de abandono escolar que não diminuiu mesmo no ano de 2007.