Lucros da EDP atingem 962,4 milhões só no 1º semestre
de 2008 com preços de electricidade que chegam a ser superiores em 22%
aos da UE15
RESUMO DESTE ESTUDO
A EDP acabou de divulgar as contas referentes ao 1º semestre de 2008. E
elas revelam que os lucros do grupo da EDP, só no 1º semestre de
2008, atingiram 962,4 milhões de euros, ou seja, mais 44% do que em
igual período de 2007, que tinham sido de 668,2 milhões de euros.
É esclarecedor que, embora os lucros antes de impostos tenham aumentado
em 44%, os impostos a pagar pela empresa sobre aqueles lucros subiram apenas
4%, pois passaram de 176,7 milhões de euros para 184,1 milhões de
euros, de acordo com as próprias contas da EDP. Como consequência,
os lucros líquidos da EDP depois de deduzir os impostos aumentaram 56,6%
no 1º semestre de 2008 relativamente ao 1º semestre de 2007, pois
passaram de 491,5 milhões de euros para 703 milhões de euros, mas
os lucros a distribuir aos accionista cresceram 66,6%. É um verdadeiro
festim à custa dos consumidores.
Estes lucros impressionantes foram conseguidos também à custa de
preços elevados pagos por mais de 4 milhões de consumidores
domésticos, ou seja, por milhões de famílias portuguesas
que vivem com dificuldades crescentes. Assim, de acordo com dados da
Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia, o
preço pago por um kWh por um consumidor domestico é 191% superior
ao preço pago por um consumidor de "muita alta tensão";
174,2% superior ao preço pago por um consumidor de "alta
tensão"; 116,8% superior ao preço pago por um de
média tensão "diagrama rectangular"; e 69,8% superior
ao preço pago por um consumidor de média tensão
"médio industrial"; e 43,1% superior ao preço pago por
um consumidor de baixa tensão "pequeno industrial".
Segundo também a Direcção Geral de Energia do
Ministério da Economia, exceptuando os consumidores do tipo
"DA", ou seja, com consumos médios mensais até 50 kWh,
que são aqueles que pagam por mês apenas 7,75 euros incluindo o
IVA, o que é uma percentagem muito reduzida de consumidores
domésticos, mas tomando como base de comparação o
preço da electricidade sem impostos, porque é aquele que reverte
para as empresas e que constitui a fonte dos seus lucros, conclui-se que no
2º semestre de 2007, o preço da electricidade em Portugal era
superior ao preço médio da União Europeia dos 15
países, para os consumidores tipo "DB" (consumo médio
mensal 100 kWh) em +19,3%, para os consumidores do tipo "DC "
(consumo médio de 292 kWh) em +22,1%; para os consumidores do tipo
"DD" (consumo médio mensal de 625 kWh) em mais +16,4%; e para
os consumidores do tipo "DE" + 18,1%. Apenas para os consumidores do
tipo "DA", ou seja, para aqueles que pagam em média por
mês apenas 7,75 euros com IVA , que são poucos, é que o
preço do kWh era, sem impostos, inferior em -10,8%.
Em resumo, exceptuando os consumidores do tipo "DA", cujo
número é reduzido, o preço da electricidade em Portugal,
sem impostos, ou seja, aquele que reverte integralmente paras as empresas, era
superior ao preço médio da UE15 entre 16,4% (consumidores tipo
"DD") e 22,1% (consumidores tipo DC"). Estes últimos
(consumidores do tipo "DC") representam 36% dos consumidores
domésticos, e o seu consumo corresponde a 48% do consumo de todos os
consumidores domésticos e pagam mais 22%. Só devido ao facto dos
impostos sobre a electricidade em Portugal serem inferiores entre 77,2% e
82,6% à média da União Europeia dos 15 é que impede
a situação de ser ainda mais incomportável para os
consumidores domésticos portugueses. O OE está assim
também a financiar os lucros da EDP. E a EDP pretende ainda impor em
2009 um grande aumento dos preços da electricidade com a
justificação da existência de um elevado défice
tarifário.
É evidente que com preços desta natureza a EDP tem de ter lucros
elevadíssimos. Não é preciso ser um grande gestor para
conseguir isso, face à passividade do governo e da entidade reguladora
(ERSE), que até teve o descaramento de propor que as dividas
incobráveis da EDP fossem pagas pelos clientes que pagam pontualmente.
Por aqui se vê o tipo de fiscalização que existe
actualmente em Portugal em relação aos grandes grupos
económicos.
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A EDP acabou de divulgar as suas contas referentes ao 1º semestre de 2008.
E elas revelam que os lucros do grupo da EDP, só no 1º semestre de
2008, atingiram 962,4 milhões de euros, ou seja, mais 44% do que em
igual período de 2007, que tinham sido de 668,2 milhões de euros.
Este aumento impressionante de lucros foi conseguido, como consta das
próprias contas da EDP, fundamentalmente na electricidade, já que
as vendas neste sector aumentaram, entre o 1º semestre de 2007 e 1º
semestre de 2008, em +25%, enquanto as de gás diminuíram em
-13,2%, as de prestação de serviços baixaram em -17,9%, e
as de "Outras vendas" decresceram em - 34,1%.
Este aumento impressionante dos lucros desta empresa foi conseguido
também à custa de preços extremamente elevados suportados
por mais de quatro milhões de consumidores domésticos, ou seja,
pelas famílias portuguesas que vivem cada vez com maiores dificuldades.
PREÇOS DE ELECTRICIDADE PAGOS PELOS CONSUMIDORES DOMÉSTICOS EM
PORTUGAL SUPERIORES ENTRE 43% E 191% AOS PAGOS POR OUTROS CONSUMIDORES
Como mostra o quadro seguinte, construído com dados divulgados pela
Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia, os
preços pagos pelos consumidores domésticos são muito
superiores aos pagos por outros tipos de consumidores.
Como mostram os dados do quadro, o preço pago por um kWh por um
consumidor doméstico é 191% superior ao preço pago por um
consumidor de "muita alta tensão"; 174,2% superior ao pago por
um consumidor de "alta tensão"; 116,8% superior ao de
média tensão "diagrama rectangular"; 69,8% superior ao
pago por um consumidor de média tensão "médio
industrial"; 43,1% superior ao pago por um consumidor de baixa
tensão "pequeno industrial". Para a EDP, os consumidores
domésticos são "vacas leiteiras" a quem saca o
máximo.
PREÇOS DE ELECTRICIDADE PAGOS PELOS CONSUMIDORES DOMÉSTICOS EM
PORTUGAL CHEGA A SER SUPERIOR EM 22% AOS PREÇOS MÉDIOS DA
UNIÃO EUROPEIA
Tal como sucede com os combustíveis, também os consumidores
domésticos portugueses de electricidade são obrigados a pagar
preços mais elevados que os pagos em média na União
Europeia como mostra o quadro seguinte, construído com dados
também divulgados pela Direcção Geral de Energia do
Ministério da Economia.
De acordo com a Direcção Geral de Energia do Ministério da
Economia, que utilizou dados do Eurostat, em relação a
países da União Europeia, exceptuando os consumidores do tipo
"DA", ou seja, com consumos médios mensais de 50 kWh, ou seja,
que pagam em média por mês 7.75, incluindo IVA, que
representam uma percentagem muito baixa dos consumidores domésticos, e
utilizando agora para comparação o preço da electricidade
sem taxas, isto é sem impostos, que é aquele que interessa porque
reverte integralmente para as empresas, constituindo a fonte dos seus lucros
conclui-se que, no 2º semestre de 2007, o preço da electricidade em
Portugal era superior ao preço médio da União Europeia dos
15 países, para os consumidores tipo "DB" (consumo
médio mensal 100 kWh) em +19,3%; para os consumidores do tipo "DC
" (consumo médio de 292 kWh) em +22,1%; para os consumidores do
tipo "DD" (consumo médio mensal de 625 kWh) em +16,4%; e para
os consumidores do tipo "DE" em + 18,1%. Apenas para os consumidores
do tipo "DA", com consumos médios mensais de 50 kWh, ou seja,
que mensalmente pagam em média 7,75 com IVA, que naturalmente
representam uma pequena percentagem, é que o preço do kWh era,
sem taxas, inferior a -10,8% relativamente ao preço médio da
UE15.
Em resumo, exceptuando os consumidores do tipo "DA", para todos os
restantes consumidores que são a esmagadora maioria, o preço da
electricidade em Portugal, sem impostos, ou seja, aquele que reverte
integralmente paras as empresas, é superior ao preço médio
da UE15 entre 16,4% (consumidores tipo "DD") e 22,1% (consumidores
tipo "DC". Estes últimos (consumidores do tipo "DC")
representam cerca de 36% dos consumidores domésticos, e o seu consumo
ronda 48% do consumo total de electricidade dos consumidores domésticos
em Portugal e pagam mais 22,1%. Só o facto da carga fiscal sobre a
electricidade em Portugal ser inferior entre 77,2% e 82,6% à
média da UE15 é que impede da situação ser ainda
mais incomportável para os consumidores portugueses. Desta forma o
Orçamento do Estado está também a contribuir para os
elevados lucros da EDP, portanto não é apenas através da
redução do IRC e derramas, cuja taxa efectiva passou, entre o
1º sem.2007 e o 1ºsem.2008, de 26,4% para 19,1%. É evidente
que praticando preços desta natureza inevitavelmente a EDP teria de
arrecadar elevadíssimos lucros, que crescem todos os anos de uma forma
impressionante, como revelam as contas da EDP referentes ao 1º semestre de
2008 divulgadas. Não é preciso ser um grande gestor para
conseguir isso, face à inexistência de qualquer
fiscalização em Portugal . A própria entidade reguladora
(ERSE) até teve o descaramento de propor que as dividas
incobráveis da EDP fossem pagas pelos clientes que pagam pontualmente,
como os lucros da EDP já não fossem suficientes. Por aqui se
vê o tipo de fiscalização que a ERSE e o governo realizam.
Apesar de ter lucros chocantes a EDP pretende impor em 2009 um elevado aumento
de preços apresentando como justificação a
existência de um elevado défice tarifário.
É também esclarecedora dos interesses que defende, a proposta da
ERSE sobre a chamada tarifa social, que consta do ponto 3.6 da pág. 27
do documento "Revisão do Regulamento do sector eléctrico de
Julho de 2008" , que a seguir se transcreve.
E desta forma mantêm-se intactos os elevados lucros da EDP como apoio da
ERSE, pois assim evita-se que sejam os lucros obtidos por esta empresa a terem
de suportar a redução de receitas determinada pela chamada tarifa
social que abrange um numero muito reduzido de portugueses, transferindo esse
custo para os outros consumidores. É para perguntar: Quem é amiga
da EDP? Naturalmente a ERSE, ou seja, a entidade que devia ter como
objectivo fiscalizá-la. Os comentários são
desnecessários, mas o leitor que tire as suas próprias
conclusões.
02/Agosto/2008
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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