Patrões portugueses: 74% possuem apenas o ensino básico
a taxa de destruição de emprego em Portugal é já
superior à dos EUA, França e Alemanha
RESUMO DESTE ESTUDO
Um dos argumentos mais utilizados na propaganda patronal e mesmo governamental
para exigir uma maior liberalização dos despedimentos e
também uma maior "adaptabilidade", que é o
"novo" termo que o governo utiliza para designar a
"flexigurança", é a suposta rigidez das leis laborais
portuguesas e a dificuldade das entidades patronais em poder despedir. Seria
isto que justificaria a baixa produtividade e competitividade das empresas e da
economia portuguesa que interessaria alterar rapidamente. A própria
Comissão do
Livro Branco das Relações Laborais
, abandonando o rigor técnico, utiliza também tal argumento para
justificar muitas das suas "recomendações", pois na sua
"Síntese e Conclusões " (pág. 68) afirma o
seguinte: "Em Portugal, as relações de trabalho têm um
grau reduzido de inovação e adaptabilidade" e "a
posição portuguesa é fortemente contrastante com a
tendência de evolução registada pelos países que se
têm vindo a mostrar mais competitivos".
No entanto, mais importante que tudo isso, que os patrões, governo e
Comissão "esquecem" é que o aumento da produtividade e
da competitividade das empresas depende muito da capacidade de
organização e gestão dos empresários. E de acordo
com dados constantes do próprio Livro Branco das Relações
Laborais mais de 74% dos patrões portugueses possuíam, em 2007,
apenas o ensino básico completo ou menos. É evidente que com
patrões com este nível de escolaridade não é
possível a inovação nem as empresas nem a economia
vão longe.
Um argumento utilizado tanto pelos patrões como pelo governo, a que a
Comissão do Livro Branco deu cobertura, é que as supostas
dificuldades dos patrões em Portugal em despedir constituiriam um
obstáculo ao aumento da produtividade e competitividade das empresas e,
também, à criação de emprego. Dados contidos no
próprio Livro Branco das Relações Laborais publicado pelo
governo desmentem este argumento. Assim, de acordo, com esses dados, em 2005,
foram destruídos 555.600 empregos e criados 550.820 empregos; e, em
2006, o numero de empregos destruídos atingiu 552.400 e o número
de empregos criados alcançou 539.660. Se a comparação for
feita com países estrangeiros, de acordo com dados constantes do Livro
Branco, a taxa média anual de destruição de emprego em
percentagem do emprego total, em Portugal situou-se entre 11,4% e 11,8%, quando
na França foi de 10,3%, na Alemanha de 7,5%, na Itália de 11,1% e
nos Estados Unidos de 10,4%. Portanto, não é difícil
destruir emprego em Portugal, ou seja, despedir.
De acordo com dados constantes do Livro Branco das Relações
Laborais, em 2007, os "trabalhadores por conta própria" eram
723.700, sendo a esmagadora maioria deles "falsos recibos verdes",
pois eram de facto trabalhadores por conta de outrem. E isto porque, em 2007,
85,7% destes trabalhadores possuíam apenas o ensino básico
completo ou menos e, com este nível de escolaridade, não
possuíam as qualificações mínimas
necessárias para poderem exercer uma actividade independente de
prestação de serviços. Apesar desta situação
contribuir significativamente para a elevadíssima precariedade que se
verifica em Portugal e, consequentemente, baixa produtividade, mesmo assim, a
Comissão do Livro Branco, apesar das promessas iniciais que faz,
não apresentou qualquer "recomendação"
credível para, pelo menos, reduzir este grave problema social e
também económico.
Dados contidos também no Livro Branco das Relações
Laborais confirmam uma denúncia que temos vindo a fazer, que é a
seguinte: a protecção dos desempregados em Portugal tem
diminuído com o governo de Sócrates, pois embora esteja a
aumentar o desemprego, o número de desempregados a receber
subsídio de desemprego tem baixado. Entre o 1º Trimestre de 2004 e
o 3º Trimestre de 2007, o número de desempregados aumentou 29%,
pois passou de 347.200 para 444.400, enquanto o numero de desempregados a
receber subsidio de desemprego diminuiu 9%, pois passou de 290.200 para apenas
264.200. Como consequência, a percentagem de desempregados a receber
subsidio de desemprego que era de 83,6% no 3º Trimestre de 2004, passou
para apenas 59,5% no 3º Trimestre de 2007, tendo-se verificado uma quebra
muito acentuada nomeadamente a partir do 1º Trimestre de 2007. Numa altura
em que o próprio governo, pela voz do seu ministro do Trabalho, fala e
defende tanto a "adaptabilidade", que é a "nova"
palavra utilizada por este governo para designar a
"flexigurança", não deixa de ser ao mesmo tempo
significativo e esclarecedor que este mesmo governo esteja a reduzir o apoio
aos desempregados. Por aqui já se vê o tipo de
"segurança" que este governo tem para "oferecer" aos
trabalhadores.
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O governo acaba de publicar o Livro Branco das Relações Laborais
que se encontra disponível no sítio web do Ministério do
Trabalho e da Solidariedade Social (
www.mtss.gov.pt
). Esse livro é constituído fundamentalmente por duas partes
distintas e, em vários aspectos, contraditórias. E isto porque
uma dessas partes contém dados que contradizem as chamadas
"recomendações"..
Um dos mitos mais utilizados na propaganda patronal e mesmo governamental para
justificar a necessidade de uma maior liberalização dos
despedimentos e também uma maior "adaptabilidade", que
é o "novo" termo que o governo utiliza para ocultar a
"flexigurança", e que a Comissão do Livro Branco das
Relações Laborais também defende nas suas
"recomendações", é a suposta rigidez das leis
laborais portuguesas e a dificuldade das entidades patronais em poder despedir.
Seria isto que justificaria a baixa produtividade e competitividade das
empresas e da economia portuguesa que interessaria alterar rapidamente.
É nessa direcção que vão algumas das
"recomendações" da Comissão do Livro Branco.
Neste estudo vamos procurar analisar alguns dos dados contidos no
próprio Livro Branco das Relações Laborais para ver se
aquela suposta "rigidez" das leis do trabalho e a impossibilidade de
despedir resiste à linguagem fria e objectiva dos números.
74% DOS PATRÕES PORTUGUESES TINHAM EM 2007 APENAS O ENSINO BÁSICO
OU MENOS
A produtividade e a competitividade de uma empresa depende muito da capacidade
de organização e gestão de quem a dirige. E esta depende
da qualificação do empresário, o que está associado
muito ao seu nível de escolaridade. Como o quadro seguinte,
construído com dados que se encontram no próprio Livro Branco,
mostra a esmagadora maioria dos patrões portugueses continuavam a ter em
2007 um baixíssimo nível de escolaridade.
No 1º Trimestre de 2007, 74,1% dos patrões portugueses, que na
linguagem do INE são designados por "Trabalhadores por conta
própria com trabalhadores", possuíam apenas o ensino
básico completo ou ainda menos. Os patrões com o ensino
secundário e superior representavam apenas 25,9% do total dos
patrões portugueses.
O nível de escolaridade dos patrões portugueses era ainda
inferior ao da restante população empregada como revelam os dados
também do INE constante do quadro seguinte.
No 1º Trimestre de 2007, segundo o Instituto Nacional de
Estatística, 74,1% dos patrões possuíam apenas o ensino
básico completo ou menos como já foi referido mas, na mesma data,
a população empregada, excluindo os patrões, com o ensino
básico ou menos representava 70,4% do total. E 29,7% desta última
possuía o ensino secundário ou superior, enquanto a percentagem
dos patrões com idêntico nível de escolaridade correspondia
apenas a 25,9% do total dos patrões.
Embora estes dados constem do Livro Branco, surpreendentemente ou talvez
não, a Comissão ignora-os, passando sobre eles como gato por
brasas, talvez por eles não interessarem para as
"recomendações" que pretendia fazer. Prefere
culpabilizar a rigidez das leis laborais e as dificuldades dos patrões
em despedir da baixa produtividade e competitividade das empresas portuguesas e
apresentar "recomendações" visando alterar essa suposta
situação.
A CRIAÇÃO E DESTRUIÇÃO DE EMPREGO É MUITO
ELEVADA EM PORTUGAL SENDO SEMELHANTE Á DE OUTROS PAÍSES INCLUINDO
ESTADOS UNIDOS
Um dos mitos mais utilizados na propaganda patronal e governamental é a
suposta rigidez das leis laborais que dificultaria os despedimentos, o que
impediria o aumento da produtividade e da competitividade das empresas
portuguesas e, surpreendentemente, a criação de mais emprego. A
Comissão também alinha em tal linha de argumentação
pois "recomenda" uma maior liberalização dos
despedimentos individuais propondo, como iremos mostrar em estudo futuro, a
alteração das causas do despedimento por
inadaptação com o objectivo de facilitá-lo.
O quadro seguinte, construído com dados constantes do próprio
Livro Branco, mostra que, em Portugal, a destruição e
criação de emprego é já muito elevado, o que
desmente tal argumento.
Em 2005, foram criados 550.820 postos de trabalho e destruídos 555.600
postos, o que significa que se verificaram 1.106.420 mudanças de
situação de emprego. E, em 2006, aquela soma atingiu 1.092.060.
Estes dados oficiais mostram que é falso o argumento que é muito
difícil em Portugal criar e destruir emprego, ou seja, empregar e
despedir.
Mesmo se estabelecermos comparações com países
estrangeiros, incluindo os Estados Unidos, a situação não
é muito diferente no nosso País, como revela o quadro seguinte
construído com dados constantes também do Livro Branco das
Relações Laborais.
A taxa média anual de destruição de emprego em Portugal no
período 1995-2006 situou-se entre os 11,4% e os 11,8%, que é
superior à dos Estados Unidos, França, Alemanha, e Itália.
O que pretendem todos aqueles que utilizam o argumento de que são as
dificuldades em despedir trabalhadores em Portugal que impedem o aumento da
produtividade e competitividade das empresas, e mesmo a criação
de mais emprego; repetindo, o que pretendem todos estes senhores é
aumentar significativamente aquela taxa como rapidamente se conclui do quadro
seguinte, construído igualmente com dados constantes do Livro Branco das
Relações Laborais.
A taxa de destruição de emprego associada a contratos a termo (a
prazo) é cerca de 2,6 vezes superior à taxa de
destruição de emprego associada a contratos sem termo. É
evidente que se se acabasse com os contratos sem termo, como se pretende
liberalizando os despedimentos individuais, o que significaria que os
trabalhadores com contratos sem termo pudessem ser despedidos quase da mesma
forma como se consegue actualmente despedir trabalhadores contratados a prazo,
a taxa de destruição de contratos aumentaria brutalmente,
tornando-se muito mais elevada do que a registada em outros países,
alastrando, desta forma, a insegurança total nos trabalhadores ainda
abrangidos por contratos sem termo, que constituem actualmente ainda 81% dos
trabalhadores por conta de outrém em Portugal
A MAIORIA DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES SÃO "FALSOS RECIBOS
VERDES"
Os trabalhadores por conta própria, conhecidos também por
"trabalhadores independentes" atingiam, no 1º Trimestre de 2007,
mais de 723 mil. E como rapidamente se conclui do quadro seguinte,
construído também com dados do Livro Branco, a esmagadora maioria
deles são de facto trabalhadores por conta de outrem.
No 1º Trimestre de 2007, 85,7% dos trabalhadores independentes apenas
tinham o ensino básico completo ou menos. É evidente que, com
este nível de escolaridade, a esmagadora maioria deles são
verdadeiros trabalhadores por conta de outrém, pois não possuem
as qualificações mínimas indispensáveis para
poderem exercer uma actividade independente de prestação de
serviços.
A Comissão do Livro Branco, embora na pág. 90 reconheça a
gravidade desta situação e afirme "que apresenta adiante
propostas visando limitar a fraude dos chamados falsos recibos verdes", no
entanto parece que se "esqueceu" de o fazer pois não
apresentou qualquer proposta credível e efectiva para combater
eficazmente este grave problema social e económico, pois tem
também reflexos negativos na produtividade e competitividade das
empresas, que atinge milhares e milhares de trabalhadores, o que contribui
também para a elevadíssima precariedade que se verifica no
País
A PROTECÇÃO AOS DESEMPREGADOS EM PORTUGAL TEM BAIXADO COM
SÓCRATES
Em outros estudos que divulgamos denunciamos a situação
socialmente inadmissível que consiste no facto de, apesar do desemprego
estar a aumentar em Portugal, a percentagem dos desempregados a receber o
subsídio de desemprego estar a diminuir, como consequência da
politica fundamentalista do governo de redução do défice,
em que o próprio apoio aos desempregados não escapa. Dados
constantes do Livro Branco vêm confirmar essa situação como
se conclui do quadro seguinte.
Entre o 1º Trimestre de 2004 e o 3º Trimestre de 2007, o
número de desempregados aumentou 29%, pois passou de 347.200 para
444.400, enquanto o numero de desempregados a receber subsidio de desemprego
diminuiu 9%, pois passou de 290.200 para apenas 264.200. Como
consequência, a percentagem de desempregados a receber subsídio de
desemprego, que era de 83,6% no 3º Trimestre de 2004, passou para apenas
de 59,5% no 3º Trimestre de 2007, tendo-se verificado uma quebra muito
acentuada nomeadamente a partir do 1º Trimestre de 2007.
Numa altura em que o próprio governo, pela voz do seu ministro do
Trabalho, fala e defende tanto a "adaptabilidade", que é a
"nova" palavra utilizada por este governo para designar a
"flexigurança", pretendendo assim ocultar aos olhos dos
trabalhadores o seu verdadeiro intento, não deixa de ser ao mesmo tempo
significativo e esclarecedor que este mesmo governo esteja a reduzir o apoio
aos trabalhadores desempregados, em que quase metade já não
recebe subsidio de desemprego. Por aqui já se vê o tipo de
"segurança" que este governo tem para "oferecer" aos
trabalhadores que sejam atingidos pelo desemprego.
05/Janeiro/2008
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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