A mentira como instrumento de manipulação da opinião
pública
é falso que o salário mensal na
Administração Pública seja superior em 75% ao do sector
privado como divulgaram os media
RESUMO DESTE ESTUDO
Na semana de 13/17 de Julho de 2009, a Agência Lusa, e depois a maioria
dos órgãos de comunicação, incluindo a TV, acabaram
por colaborar numa gigantesca operação de
manipulação da opinião pública. Para isso, foi
utilizado um estudo divulgado no Boletim Económico Verão
de 2009 do Banco de Portugal, que, segundo os autores da noticia, provava que
"os funcionários públicos auferem um salário mensal
claramente acima dos seus congéneres do sector privado e o diferencial
aumentou ao longo do tempo, passando de 50% em 1996 para quase 75% em
2005" Desta forma, ficava justificada a politica deste governo contra os
"privilegiados" da Administração Pública (uma
ajuda para a campanha eleitoral de Sócrates), por um lado, e, por outro
lado, preparava-se já a opinião pública para que o futuro
governo continuasse a reduzir as condições de vida destes
trabalhadores. Uma análise objectiva de todo o estudo do Banco de
Portugal, e não apenas de alguns dados retirados do seu contexto, revela
que a notícia dada pelos media é falsa.
Na pág. 65 do referido estudo do Banco de Portugal encontra-se a
passagem anterior que foi utilizada pelos media no seu ataque à
Administração Pública. Mas logo a seguir, na pág.
66, do mesmo estudo chama-se a atenção que " Os diferenciais
brutos que temos vindo a referir podem ser indicadores erróneos de
desigualdade salarial, já que remunerações mais elevadas
podem ser justificadas, por exemplo, por uma maior dotação de
capital humano", ou seja, por uma maior escolaridade e
qualificação. E logo na mesma página do estudo refere-se
que "a proporção de funcionários públicos que
reportam educação universitária ronda os 50% em 2005,
enquanto no sector privado esta corresponde a pouco mais de 10%". Mas tudo
isto foi ocultados pelos media.
Utilizando os valores dos rendimentos auferidos pelos trabalhadores por conta
de outrem de acordo com o seu nível de escolaridade obtidos
através do "Inquérito às despesas das
famílias 2005/2008" realizado pelo INE, e tendo em conta a
percentagem de trabalhadores no sector público e no sector privado em
cada nível de escolaridade, conclui-se que só o efeito da
escolaridade mais elevada que existe na Administração
Pública, explica que o salário médio ponderado anual nesta
seja superior em 58% ao do sector privado. Por outras palavras, devido ao facto
de 50% dos trabalhadores da Administração Pública terem
formação superior, enquanto no sector privado são apenas
10%, e como os trabalhadores com formação superior auferem, em
média, um salário muito mais elevado do que aqueles que apenas
possuem o ensino básico ou secundário, o salário
médio ponderado na Administração Pública teria de
ser superior em 58% ao do sector privado.
Mas as razões das diferenças salariais não resultam apenas
do efeito escolaridade. Na pág. 68 do estudo reconhece-se "que a
disparidade salarial bruta entre os dois sectores apresentada na última
secção é largamente explicada pelas diferenças nas
características da mão de obra". Assim, segundo o estudo
divulgado pelo Banco de Portugal, devido a essas características
verifica-se, "em termos do salário mensal, que a diferença
passou de 10% em 1996, para 15% ou um pouco mais na década que se
seguiu" (pág. 68), portanto valores muito inferiores aos 50% e 75%
divulgados pelos media. E mesmo esta diferença 15% não
corresponde à realidade.
Em 2006, o governo de Sócrates, contratou a
CAPGEMINI
, que
é uma das maiores empresas do mundo de serviços de consultoria,
para fazer um "Estudo Comparativo de Sistemas de Remuneração
entre os Sectores Público e Privado". E as conclusões a que
esta empresa chegou desagradaram o governo de tal forma que ele fez desaparecer
o estudo apesar do seu elevado custo para o erário público (em
2006, na Assembleia da República, durante o debate do Orçamento
do Estado, em que participamos, solicitamos ao ministro das Finanças que
fornecesse o estudo aos deputados, o que ele recusou). Segundo o estudo da
CAPGEMINI, por categorias profissionais as remunerações dos
trabalhadores da Administração Pública eram inferiores aos
do sector privado nas seguintes percentagens: (1)
Grupo técnico
: entre -188% e -156%; (2)
Grupo Técnico-profissional
: entre -75% e -46%; (3)
Grupo administrativo
: entre -89% e -55%; (4)
Grupo de auxiliares
: entre -19% e - 27%; (5)
Grupo de operários
: entre -26% e -65%. O estudo divulgado pelo Banco de Portugal apenas analisa
por categorias profissionais um grupo de trabalhadores: os com
formação superior. E, em relação a este grupo,
chega a conclusões opostas às divulgadas pelos média.
Segundo o Banco de Portugal, o
s salários destes trabalhadores eram em 2005, em média,
inferiores aos do sector privado em -5,9% (quadro 4, pág. 76). E
há profissões em que a penalização é muito
maior. Por ex., os salários dos trabalhadores de informática da
Administração Pública eram inferiores aos do sector
privado em -13,8%; os dos economistas em -18,6%; e os salários dos
não especialistas em -9,3%. Se a análise for feita para os
trabalhadores do 3º Quartil, portanto os com formação
superior e com qualificação mais elevada, a
penalização sobe de -5,9%, referida anteriormente, para -25,9%.
Portanto, os salários destes trabalhadores da
Administração Pública são, em média,
inferiores em -25,9% do sector privado segundo o próprio estudo do Banco
de Portugal. E no período 2005/2008, a desigualdade salarial agravou-se
ainda mais, pois os salários na Função Pública
aumentaram apenas 7,5%, enquanto os do sector privado subiram 13,5%. A
questão que se coloca agora é esta: Terão os
órgãos de comunicação que divulgaram aquela noticia
falsa, manipulando assim a opinião pública, a honestidade de a
corrigir informando com objectividade os seus leitores? Vamos ver.
|
Na semana de 13 a 17 de Julho de 2009, muitos órgãos de
comunicação social nacional e regional, incluindo regiões
autónomas, lançaram uma gigantesca e articulada campanha de
manipulação da opinião publica utilizando alguns dados,
retirados do seu contexto, de um estudo divulgado no Boletim Económico
Verão de 2009 do Banco de Portugal que acabara de ser publicado.
O
Diário de Noticias
de 17/07/2009, citando a Agência Lusa, escrevia que "os
funcionários públicos auferem um salário mensal claramente
acima dos seus congéneres do sector privado e o diferencial aumentou ao
longo do tempo, passando de 50% em 1996 para quase 75% em 2005". Muitos
outros órgãos de informação, incluindo a TV,
utilizaram os mesmo dados para fazer caixas na 1ª página fazendo
passar a mensagem junto da opinião pública que os
"funcionários públicos continuam a ser um
privilegiados", justificando assim a politica deste governo contra estes
trabalhadores (uma ajuda para a campanha eleitoral de Sócrates), por um
lado, e, por outro lado, preparando já a opinião pública
para que o futuro governo continue a tomar medidas contra os
funcionários públicos. No sábado seguinte, o DN, com
"caixa" de 1ª página e artigo de opinião do
director, continuava a mesma campanha agora utilizando os dias de férias
e o horário da Administração Pública.
Uma análise objectiva e séria de todo o estudo divulgado pelo
Banco de Portugal, e não apenas de algumas linhas desenquadradas do seu
contexto, como fizeram a Agência Lusa e outros órgãos de
comunicação social, leva a conclusões diferentes das
divulgadas pela generalidade dos media. E isto apesar do estudo do Banco de
Portugal se caracterizar pela falta de transparência e conter importantes
deficiências e lacunas técnicas. É isso o que se vai
procurar mostrar neste estudo.
O SALÁRIO MEDIO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TEM DE
SER SUPERIOR AO DO SECTOR PRIVADO PORQUE A PERCENTAGEM DE TRABALHADORES COM O
ENSINO SUPERIOR É CINCO VEZES SUPERIOR AO DO SECTOR PRIVADO
Na pág. 65 do estudo do Banco de Portugal pode-se ler, como foi
divulgado pela Agência Lusa e outros media, que "os trabalhadores
do sector público auferem um salário médio mensal
claramente acima dos seus congéneres do sector privado, tendo o
respectivo diferencial aumentado ao longo do tempo, de cerca de 50% em 1996
para quase 75% em 2005".
Mas esta conclusão baseia-se em salários brutos médios,
que não têm em conta as diferenças grandes que existem quer
a nível de escolaridade quer mesmo em relação a
qualificações e profissões (por ex., no sector privado
não existem juízes, mas os seus vencimentos entram no
cálculo do salário médio utilizado pelos media), entre a
Administração Pública e o sector privado. O próprio
estudo divulgado pelo Banco de Portugal, na pág. 66, chama a
atenção para isso: " Os diferenciais brutos que temos vindo
a referir podem ser indicadores erróneos de desigualdade salarial,
já que remunerações mais elevadas podem ser justificadas,
por exemplo, por uma maior dotação de capital humano", ou
seja, por uma maior escolaridade e qualificação. Apesar desta
advertência dos autores do estudo, os media ocultaram-na e utilizaram
aqueles valores "erróneos".
O estudo do Banco de Portugal refere-se a uma importante diferença que
se verifica neste campo entre o sector público e o sector privado, que
tem um reflexo muito grande no nível de remunerações
auferidas pelos trabalhadores, que é a seguinte: "A
proporção de funcionários públicos que reportam
educação universitária ronda os 50% em 2005, enquanto no
sector privado esta corresponde a pouco mais de 10%" (pág. 66).
Para que se possa avaliar o efeito no salário dos diferentes
níveis de escolaridade, apresentamos no quadro seguinte uma
simulação construída com base, relativamente ao
nível de rendimentos dos trabalhadores por conta de outrem, nos valores
obtidos no inquérito às despesas das famílias 2005/2006
realizado pelo INE e, em relação às estruturas de
escolaridade existente no sector público e no sector privado, os dados
do Boletim do Observatório do Emprego Publico publicado pela DGAEP do
Ministério das Finanças e da Administração
Pública.
QUADRO I Efeito do nível de escolaridade no rendimento
médio dos trabalhadores da Administração Pública e
do sector privado em 2005
RUBRICAS
|
Ensino básico
|
Secundário
e pós secundário
|
Superior
|
Rendimento
médio anual
|
Rendimento médio anual TCO
(*)
|
9.335
|
16.743
|
28.538
|
|
% Trabalhadores em relação total
(**)
|
|
|
|
|
Administração Pública
|
41,8
|
12,9
|
45,3
|
18.990
|
Sector Privado
|
72,5
|
14,5
|
13
|
12.906
|
Fontes: (*) Inquérito às Despesas das Famílias 2005/2006 -
INE; (**) Boletim do Emprego Público Out. 2008 -
DGAEP
Em 2005, segundo o INE, em Portugal o rendimento médio anual de um
trabalhador por conta de outrem com o ensino básico era de 9.335
euros/ano (este valor foi obtido com base na média aritmética dos
rendimentos dos indivíduos com o 1º , 2º e 3º ciclos); o
de um com o ensino secundário era de 16.743 euros/ano; e o de um com o
ensino superior era de 28.538 euros/ano.
Utilizando estes valores de rendimento tanto para o sector privado como para o
sector público, e calculando o rendimento médio com base numa
media ponderada que tem como pesos precisamente a percentagem da
repartição dos trabalhadores por níveis de escolaridade
quer na Administração Pública quer no sector privado,
obtém-se um valor médio global de 18.990 euros para a
Administração Pública e de 12.906 euros para o sector
privado. Isto significa que, entrando apenas com o efeito escolaridade, o
rendimento médio de um trabalhador na Administração
Publica teria de ser superior em 47% (+ 6.804 euros) ao sector privado.
Portanto, apenas pelo facto da percentagem de trabalhadores com o ensino
superior na Administração Publica ser muito superior ao sector
privado, só por esta razão e utilizando apenas dados oficiais,
conclui-se que o rendimento na função pública tem de ser
3,5 vezes superior ao do sector privado. E isto se trabalharmos com dados da
DGEAP do Ministério das Finanças. Se utilizarmos os dados do
estudo do Banco de Portugal utilizado pelos media (a percentagem de
trabalhadores com o ensino superior na Administração
Pública 50% - ser 5 vezes superior à percentagem no sector
privado 10%), então o rendimento médio na
Função Publica teria de ser superior, só devido ao efeito
escolaridade, em cerca de 58% ao rendimento médio de um trabalhador do
sector privado. Por aqui se vê a dimensão da
manipulação feita pela generalidade dos media, a falta de rigor e
de preparação, para não dizer outra coisa, dos jornalistas
que divulgaram aquela noticia.
A DIFERENÇA SALARIAL ENTRE A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E O
SECTOR PRIVADO É EXPLICADA TAMBÉM PELAS DIFERENÇAS DE
QUALIFICAÇÕES
Para além do efeito escolaridade, também se observam
diferenças importantes nas áreas das qualificações
e da experiência. Na página 68 do estudo do Banco de Portugal
chama-se a atenção para o facto de que "a disparidade
salarial bruta entre os dois sectores apresentada na última
secção é largamente explicada pelas diferenças nas
características da mão de obra".
Como reconhece o estudo divulgado pelo Banco de Portugal, entrando em conta com
este factor, observa-se "em termos do salário mensal, que a
diferença passou de 10% em 1996, para 15% ou um pouco mais na
década que se seguiu" (pág. 68), portanto valores muito
inferiores aos 50% e 75% divulgados pelos media. E mesmo esta diferença
não corresponde à realidade.
Em primeiro lugar, interessa chamar a atenção para a forma como
são valorizados no estudo do Banco de Portugal os factores que
diferenciam o sector público do sector privado (nível de
escolaridade, qualificações, experiência), cujos
critérios não divulgados e, por isso, não são
conhecidos, portanto não são controláveis e,
consequentemente, não é transparente. No próprio estudo
se refere que "quando se controla também para a categoria
profissional (
disponível apenas para 1999
), o prémio, ou seja, a diferença, diminui" (pág.
68). É evidente o carácter limitado e mesmo erróneo, sob o
ponto de vista técnico, do estudo mesmo nesta área pois,
relativamente a uma variável importante categoria profissional
, esse factor não é considerado para 2005, por não
haver dados, o que naturalmente enviesa os resultados e conclusões.
Em segundo lugar, o "premio salarial" referido no estudo, ou seja, a
diferença média entre os salários praticados na
função pública e no sector privado, é ainda
fortemente influenciada pela diferença de salários praticados nas
zonas menos desenvolvidos do País onde o sector privado aproveita a
situação de maior escassez de emprego para impor salários
de miséria, por um lado, e, por outro lado, pela forte desigualdade que
existe no sector privado entre os salários dos homens e das mulheres.
Como refere o próprio estudo, "observam-se diferenças
substanciais no nível de prémio, ou seja, de diferença de
salários entre o sector público e o sector privado, consoante o
género e a região de local de trabalho. Considerando os valores
relativos ao ano de 2005, o "prémio" médio varia entre
cerca de 3% para indivíduos do sexo masculino cujo local se situa em
áreas mais desenvolvidas (para os quais ainda em 1996 existia uma
penalização), e mais de 40% para as mulheres cujos empregos
estão localizados em zonas menos desenvolvidas" (pág. 70),
que são os distritos de Beja, Bragança, Castelo Branco,
Évora, Guarda, Portalegre, Vila Real, Viseu e RA dos Açores.
Portanto, segundo o estudo do Banco de Portugal, e com todas as
limitações e deficiências que temos vindo a referir, nas
zonas desenvolvidas do País, em relação aos homens, os
salários médios praticados na Administração
Pública são apenas superiores em 3% aos do sector privado. Apenas
nas zonas menos desenvolvidas do País, e somente relativamente às
mulheres, é que os salários da Administração
Pública são superiores em 40% aos do sector privado. E isto
não resulta da Administração Pública pagar mais
nessas regiões, mas sim do sector privado aproveitar a escassez de
emprego para impor às trabalhadoras salários que atingem menos
40% aos praticados pela Administração Pública a
nível de todo o País. A Administração
Pública, por praticar os mesmos salários em todo o País,
para idêntico nível de escolaridade e de
qualificação, acaba por funcionar como um instrumento importante
de equidade e de garantia de respeito do principio constitucional
salário igual para trabalho igual , o que não sucede com o
sector privado, que é fonte de graves desigualdades salariais. As
desigualdades salariais entre as regiões mais desenvolvidas e menos
desenvolvidas, e de género, seriam ainda maiores que as existentes se
não existisse a Administração Pública.
O próprio estudo do Banco de Portugal afirma que a "actividade do
sector público é enquadrada por condicionalismos de equidade e
redistribuição que se sobrepõem a um propósito de
maximização do lucro (como sucede no sector privado,
acrescentamos nós) . Assim, a uniformidade salarial neste sector tem
efeitos redistributivos entre regiões e, nesta medida, pode servir um
objectivo de politicas públicas" (pág. 70). Mais um aspecto
ocultado e silenciado pelos media.
PARA IDENTICAS CATEGORIAS PROFISSIONAIS OS SALÁRIOS NA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SÃO MUITO INFERIORES AOS DO
SECTOR PRIVADO
Em 2006, o governo de Sócrates, contratou a CAPGEMINI, que
é uma das maiores empresas do mundo de serviços de consultoria (
www.capgemini.com
), para fazer um "Estudo Comparativo de Sistemas de
Remuneração entre os Sectores Público e Privado. E as
conclusões a que esta empresa chegou desagradaram de tal forma o governo
que este não divulgou o estudo fazendo-o desaparecer (na Assembleia da
República, durante o debate do Orçamento do Estado, em que
participamos, solicitamos ao ministro das Finanças que o fornecesse aos
deputados, o que ele recusou). De acordo com as conclusões desse estudo,
os salários médios na Administração Pública
eram inferiores aos dos sector privados, por categorias profissionais, nas
seguintes percentagens: (1) Grupo técnico : entre -188% e -156%; (2)
Grupo Técnico-profissional: entre -75% e -46%; (3) Grupo administrativo:
entre -89% e -55%; (4)Grupo de auxiliares : entre 19% e 27%; (5)
Grupo de operários : entre -26% e 65%.
O próprio estudo divulgado pelo Banco de Portugal reconhece que se a
análise for feita por categorias, conclui-se que se verifica uma forte
penalização salarial dos trabalhadores da
Administração Pública. O estudo do Banco de Portugal faz
uma análise mais pormenorizada por categorias apenas dos salários
dos trabalhadores com formação superior. E chega a
conclusões totalmente opostas àquelas que foram divulgadas pelos
órgãos de informação portugueses.
Exceptuando as profissões predominantemente ou mesmo exclusivamente
públicas, como é a dos juízes, em relação
às restantes profissões verificava-se já em 2005 uma
penalização salarial dos trabalhadores da
Administração Pública com formação superior,
já que os seus salários eram, em média, inferiores aos do
sector privado em -5,9% (quadro 4, pág. 76). E há
profissões em que penalização é muito maior. Por
ex., os salários dos trabalhadores de informática da
Administração Pública eram inferiores aos do sector
privado em -13,8%; os economistas em -18,6%; e os salários dos
não especialistas em -9,3%.
E isto em termos médios, porque se a análise for mais
desagregada, por ex., apenas em relação aos com
formação superior e de mais elevada qualificação e
responsabilidade (os do 3º Quartil) a penalização salarial
dos trabalhadores da Administração Pública é muito
maior, passando de -5,9%, referido anteriormente, para -25,7%. Portanto, nas
profissões em que o sector público concorre com o privado, os
salários na Administração Pública dos
trabalhadores com formação superior e com mais elevada
qualificação são inferiores aos do sector privado em
-25,7%. E isto segundo o próprio estudo do Banco de Portugal, que
é um estudo que, por um lado, não é transparente
(desconhece-se os critérios como foram valorizadas as grandes
diferenças existentes entre o sector público e o sector privado,
nomeadamente escolaridade, qualificações, experiência) e,
por outro lado, não são consideradas várias
variáveis importantes que diferenciam os dois sectores (a não
correspondência das categorias profissionais, nomeadamente em
relação ao ano de 2005 em que não existem dados
disponíveis como refere o estudo do Banco de Portugal).
Existe um outro aspecto importante que foi também silenciado pelos
órgãos de comunicação social nacionais. Durante
muitos anos, a Administração Pública era o principal
empregador de novos licenciados. Com o actual governo, a
Administração Politica deixou de ser uma entidade criadora de
emprego e passou a ser uma entidade que destrói emprego. Como
consequência, o número de jovens de licenciados no desemprego
aumentou significativamente, o que determinou que o sector privado aproveite
esse "excesso" de licenciados para baixar os salários pagos.
Fala-se agora já de uma "geração de jovens
licenciados de 500/600 euros por mês" (alguns até não
ganham nada durante 4 a 6 meses em estágios fictícios) O
próprio estudo do Banco de Portugal reconhece que devido ao
"abrandamento do recrutamento por parte do sector público, as
empresas passaram a ter de concorrer menos por estes trabalhadores e são
susceptíveis de ter baixado o salário de entrada."
(pág. 74) Mais uma consequência negativa para os jovens
licenciados da politica deste governo.
A desigualdade salarial entre o sector público e o sector privado, com
os trabalhadores da Administração Pública fortemente
penalizados, aumentou ainda mais no período 2005/2008, ou seja, com
Sócrates, devido aos salários nominais no sector privado terem
aumentado em 13,6% (3,9% em 2005; 2,7% em 2006; 3,4% em 2007; e 3% em 2008)
segundo o Relatório do Banco de Portugal de 2008, enquanto no sector
público os vencimentos subiram apenas 7,5% (2,2%, em 2005; 1,5% em 2006
e em 2007; e 2,1% em 2008) de acordo com as Portarias deste governo.
02/Agosto/2009
[*]
Economista,
edr2@netcabo.pt
Nota: Outros estudos sobre a Administração Pública
estão disponíveis em
www.eugeniorosa.com
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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