No sector privado a pensão média da mulher corresponde apenas a
60,5% da do homem, e na administração pública 68 em cada
100 aposentados não recuperam em 2009 o poder de compra perdido
RESUMO DESTE ESTUDO
Em Portugal, as mulheres continuam sujeitas a uma profunda
discriminação depois de se reformarem. Isto porque de acordo com
dados constantes das Estatísticas da Segurança Social, divulgados
pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, a pensão
media das mulheres na invalidez é 76,5% da do homem e, na velhice,
é somente de 60,5%. E entre 2008 e 2009, esta desigualdade até se
agravou pois os aumentos médios este ano nas pensões de invalidez
foram de 35 cêntimos por dia para os homens e apenas de 27 cêntimos
para as mulheres; e nas pensões de velhice, os aumentos médios,
entre 2008 e 2009, foram de 44 cêntimos por dia para os homens e de
apenas 27 cêntimos para as mulheres.
Na Administração Pública, contrariamente àquilo que
o governo e os seus defensores nos media pretendem muitas vezes fazer crer,
existem muitos trabalhadores que se aposentam com pensões muito baixas.
De acordo com o Relatório e Contas da CGA, 40,6% dos aposentados da
Administração Pública recebem pensões inferiores a
750 euros, e 13,4% recebem mesmo pensões inferiores a 250 euros por
mês. No entanto, quando se fazem comparações entre as
pensões do sector privado e do sector público normalmente este
situação é esquecida e é também esquecido o
facto de que mais de 40% dos trabalhadores da Administração
Pública possuem o ensino superior, enquanto no sector privado essa
percentagem é inferior a 15%. Este facto determina que a pensão
média na Administração Pública tenha de ser
necessariamente superior ao do sector privado, pois se 40% dos trabalhadores do
sector privado tivessem também uma formação superior a
remuneração média e, consequentemente, também a
pensão média seriam mais elevadas. Para além disso, a
carreira contributiva média na Administração
Pública (28,8 anos) é superior ao do sector privado (23,4 anos).
E isto já para não falar dos trabalhadores da
Administração Pública descontarem sobre a
remuneração total, enquanto no sector privado, devido à
pressão dos patrões com o objectivo de pagarem menos para a
Segurança Social, a base de desconto é, em média, inferior
em cerca de 30% ao pago ao trabalhador. Mas estes factos são esquecidos
quer pela propaganda governamental quer pelo pensamento neoliberal dominante
nos media com objectivo de dividir os trabalhadores e de os atirar uns contra
os outros.
Em 2009, uma parte dos reformados e dos aposentados da
Administração Pública (os com pensões entre 6 IAS e
12 IAS) tiveram aumentos ainda inferiores aos do sector privado, que foram
já muito baixos. Em 2009, os aumentos nas pensões dos aposentados
e reformados da Administração Pública variou entre 2,9% e
0%. Como em 2008, a taxa de inflação atingiu até ao
mês de Novembro, segundo o INE, 2,9%, apenas os aposentados com
pensões até 628,83 euros tiveram aumentos iguais á taxa de
inflação. Todos os restantes aposentados e reformados, ou seja,
68 em cada 100 aposentados, tiveram subidas nas suas pensões inferiores
ao aumento da taxa de inflação, o que significou que não
conseguiram recuperar o poder de compra que tinham perdido em 2008, à
semelhança do que já tinha sucedido em anos anteriores.
Na Administração Pública, tal como sucede no sector
privado, os novos aposentados têm as suas pensões congeladas por
um período que poderá atingir quase dois anos. Isto porque de
acordo com o nº1 do artº 6º da Lei 52/2007, "as
pensões de aposentação são actualizadas anualmente,
a partir do 2º ano seguinte ao da sua atribuição". Por
ex. em 2009, de acordo com a informação que está no
"site" da CGA só foram actualizadas as pensões dos
trabalhadores que se aposentaram até 31 de Dezembro de 2007.
Situação idêntica se verifica para os reformados do sector
privado. A Portaria 1514/2008, que aprovou os aumentos das pensões para
2009, no nº1 do seu artº 4º estabelece o seguinte: "As
pensões estatutárias e regulamentares de invalidez e de velhice
atribuídas anteriormente a 1 de Janeiro de 2008 são
actualizadas
". Isto significa que os trabalhadores que se reformaram
a partir de 1 de Janeiro de 2008, as suas pensões não foram
actualizadas em 2009. E isto abrange também os reformados que recebem
pensões inferiores ao salário mínimo nacional, ou seja,
mesmo pensões de miséria, que são ainda a maioria.
Por aqui fica também claro a politica de dois pesos e duas medidas que
este governo tem para os reformados e para a banca e grandes empresas. Para os
pensionistas, a espoliação chega até a este pormenor; para
a banca e para as grandes empresas é a utilização de
26.300 milhões de euros de fundos públicos para as apoiar. Este
é mais um exemplo concreto que põe a nu o verdadeiro
carácter de classe da política deste governo que não se
cansa de repetir, a nível de propaganda, que está preocupado com
a situação dos portugueses com mais baixos rendimentos.
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O governo está a utilizar muitos milhões de euros de fundos
públicos, para apoiar as grandes empresas, e mesmo para cobrir os seus
prejuízos. Até este momento, o governo de Sócrates
já aprovou 24.000 milhões de euros para apoiar a banca, 1.000
milhões de euros para cobrir os prejuízos do BPN através
do aumento do capital da CGD suportado pelo Estado, 1.300 milhões de
euros para apoiar a Quimonda e as empresas da indústria
automóvel, e interveio no BPP, um banco que geria grandes fortunas,
ainda não se sabendo quanto isso custará ao Estado. Durante o
tempo de "vacas gordas", os bancos e as grandes empresas canalizaram
para os bolsos dos seus accionistas milhões de euros de lucros e agora,
em período de crise, conseguem que seja o Estado, com dinheiro dos
contribuintes, a suportar os seus prejuízos, muitos deles resultantes de
uma gestão danosa, aventureira e, por vezes, mesmo eventualmente
criminosa, como é o caso do BPN.
Enquanto tem este comportamento em relação às grandes
empresas e às grandes fortunas, este mesmo governo tem um comportamento
bem diferente em relação aos reformados quer do sector privado
quer da Administração Pública, bem como a todos os
trabalhadores que se reformem, como provaremos neste estudo.
NO SECTOR PRIVADO, A PENSÃO MÉDIA DE VELHICE DA MULHER
CORRESPONDE A 60,5% DA DO HOMEM E OS AUMENTOS IRRISÓRIOS EM 2009
AGRAVARAM A DESIGUALDADE
As mulheres continuam a estar sujeitas em Portugal a uma profunda
discriminação não só durante a sua vida activa,
já que os salários médios que auferem são
inferiores aos dos homens, mas também quando se reformam. O quadro
seguinte, construído com base em dados divulgados pelo Ministério
do Trabalho e da Solidariedade Social, através dos serviços da
Segurança Social, mostra que essa discriminação é
ainda maior depois da reforma.
A conclusão que se tira dos dados do quadro anterior é que a
pensão média das mulheres de invalidez corresponde a 76,5% da do
homem, e a de velhice a somente 60,5% da pensão média do homem.
Só em relação à pensão de
sobrevivência é que a pensão da mulher é superior
à do homem em 41,5%. E isto resulta do facto da pensão de
sobrevivência corresponder a 65% da pensão do conjuge falecido.
Portanto, quando o homem morre é a mulher que recebe a pensão de
sobrevivência, e ela corresponde a 65% da do seu conjugue (homem)
falecido. Em resumo, é por a pensão média de velhice do
homem ser superior à da mulher que a pensão média de
sobrevivência da mulher é superior à do homem.
Estes dados revelam a profunda discriminação que a mulher
continua sujeita em Portugal na velhice (reforma) e na invalidez. As
pensões são muitas baixas em Portugal, como mostramos em estudo
anterior, mas as auferidas pelas mulheres são ainda mais baixas do que
as dos homens.
O actual governo nada tem feito para alterar a situação, como
provam os aumentos nas pensões que aprovou para 2009, que são
muitos baixos e agravaram ainda mais a desigualdade existente.
Como também revelam os dados do quadro, os aumentos médios nas
pensões de invalidez foram de 35 cêntimos por dia para os homens e
apenas de 27 cêntimos para as mulheres; e nas pensões de velhice,
os aumentos médios, entre 2008 e 2009, foram de 44 cêntimos por
dia para os homens e de apenas 27 cêntimos para as mulheres.
NA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA 40,6% DOS APOSENTADOS RECEBEM
PENSÕES INFERIORES A 750 EUROS, E 68% NÃO RECUPERARAM PODER DE
COMPRA PERDIDO
Contrariamente àquilo que o governo e os seus defensores nos media
pretendem muitas vezes fazer crer, existem na Administração
Pública muitos trabalhadores que se aposentaram com pensões
muitos baixas. O quadro seguinte, construído com dados constantes do
Relatório e Contas da CGA de 2007, que está disponível no
seu "site", mostra isso.
Portanto, 40,6% dos reformados e aposentados da Administração
Pública recebem pensões inferiores a 750 euros, existindo mesmo
13,4% que auferem pensões inferiores a 250 euros por mês. No
entanto, quando se fazem comparações entre as pensões do
sector privado e do sector público normalmente esta
situação é esquecida e é também esquecido o
facto de que mais de 40% dos trabalhadores da Administração
Pública possuem o ensino superior, enquanto no sector privado essa
percentagem é inferior a 15%. Este facto determina que a pensão
média total na Administração Pública (cerca de
1.200 em 2008) tenha de ser necessariamente superior ao do sector
privado, pois se 40% dos trabalhadores do sector privado tivessem também
uma formação superior a remuneração média e,
consequentemente, também a pensão média seriam mais
elevadas. Para além disso, a carreira contributiva média na
Administração Pública (28,8 anos) é superior ao do
sector privado (23,4 anos). E isto já para não falar de que os
trabalhadores da Administração Pública descontam sobre a
remuneração total, enquanto no sector privado, devido à
pressão dos patrões com o objectivo de pagarem menos para a
Segurança Social, a base de desconto é, em média, inferior
em cerca de 30% ao pago ao trabalhador. Mas estes factos são
sistematicamente esquecidos quer pela propaganda governamental quer pelo
pensamento neoliberal dominante nos media com objectivo de dividir os
trabalhadores e de os atirar uns contra os outros.
Em 2009, uma parte dos reformados e os aposentados da
Administração Pública até tiveram aumentos ainda
inferiores aos do sector privado, que foram muito baixos, como revelam os dados
do quadro seguinte.
O quadro anterior foi construído com dados constantes das Portarias
aprovadas pelo governo. Em 2009, os aumentos nas pensões dos aposentados
e reformados da Administração Pública variaram entre 2,9%
e 0%. Como em 2008, a taxa de inflação atingiu, até ao
mês de Novembro segundo o INE, 2,9%, apenas os aposentados com
pensões até 628,83 euros é que tiveram um aumento igual
á taxa de inflação. Todos os restantes aposentados e
reformados, que representam cerca de 68% do total, como se conclui dos dados do
quadro II, tiveram aumentos inferiores à subida de preços, o que
significa que nem recuperaram o poder de compra que perderam em 2008, à
semelhança do que sucedeu em anos anteriores.
Esta situação manter-se-á no futuro enquanto a Lei
52/2007, aprovada por este governo e pelo PS na Assembleia da República,
se mantiver em vigor. E isto porque de acordo com ela, enquanto o crescimento
económico for inferior a 2% (e não se sabe quando será
superior com a recessão económica), na
Administração Pública as pensões mais baixas
(até 1,5 IAS ) apenas aumentarão de acordo com a subida nos
preços verificada no ano anterior; as restantes aumentarão menos,
o que significa que perderão sistematicamente poder de compra com tem
acontecido na Administração Pública, e também no
sector privado. Por isso, é urgente alterar a fórmula de
actualização das pensões tanto do sector privado com do
sector público, nomeadamente em relação às
pensões mais baixas, já que está a contribuir não
só para a manutenção mas até para o aumento da
miséria em Portugal.
CONGELAMENTO DAS PENSÕES DURANTE DOIS ANOS PARA OS QUE SE
APOSENTAREM OU REFORMAREM, SENDO NECESSÁRIO ALTERAR A LEI PARA ACABAR
COM A INJUSTIÇA
De acordo com o nº1 do artº 6º da Lei 52/2007, que se aplica a
Administração Pública, "as pensões de
aposentação são actualizadas anualmente, a partir do
2º ano seguinte ao da sua atribuição". Portanto, isto
significa, que quando um trabalhador se aposente ou reforme na
Administração Pública, durante um período que
poderá atingir quase dois anos terá a sua pensão
congelada, o que determinará que perderá poder de compra durante
todo esse período, nunca sendo compensada dessa perda.
Idêntica situação se verifica para os reformados do sector
privado. De acordo com o nº1 do artº 4º da Portaria 1514/2008,
que aprovou os aumentos das pensões para 2009, "as pensões
estatutárias e regulamentares de invalidez e de velhice
atribuídas anteriormente a 1 de Janeiro de 2008 são
actualizadas
". Isto significa que só as pensões dos
trabalhadores que se reformaram até 31 de Dezembro de 2007, é que
são aumentadas. Todos os trabalhadores que se reformaram em 2008,
não terão qualquer aumento, recebendo o mesmo valor de
pensão em 2008 e 2009, pois só em 1 de Janeiro de 2010 é
que as pensões serão de novo actualizadas, e aqueles reformados
terão o mesmo aumento que tiverem os outros pensionistas. Isto abrange
também os reformados que recebem pensões inferiores ao
salário mínimo nacional, que são ainda a maioria.
Por aqui também fica claro a politica de dois pesos e duas medidas que
este governo utiliza para os reformados e para a banca e grandes empresas. Para
os pensionistas, a espoliação chega até a este pormenor;
para a banca e grandes empresas é a utilização de
milhões de euros de fundos públicos para as apoiar. Este é
mais um exemplo concreto que põe a nu a propaganda governamental e a
politica de classe deste governo que afirma estar preocupado com a
situação dos portugueses com mais baixos rendimentos.
É urgente alterar também esta norma aprovada pelo governo de
Sócrates, tanto para a Administração Pública como
para o sector privado, com o objectivo de eliminar mais esta injustiça
que atinge também os reformados e aposentados que recebem pensões
muito baixas, os quais durante o período que pode atingir quase dois
anos as suas pensões não são actualizadas.
06/Janeiro/2006
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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