O mundo enfrenta uma onda gigantesca de incumprimentos
A situação é pior do que em 2007, afirma
responsável da OCDE
A tarefa com que se deparam as autoridades globais é como
administrar cancelamentos de dívida sem desencadear uma tempestade
política
por Ambrose Evans-Pritchard
[*]
O sistema financeiro global tornou-se perigosamente instável e enfrenta
uma avalanche de bancarrotas que porão em causa a estabilidade social e
política, advertiu um importante teórico monetário.
"A situação está pior do que em 2007. Nossa
munição macroeconómica para combater declínios
(dowturns)
no essencial já foi toda gasta", afirmou William White, o
presidente do comité de revisão da OCDE e antigo economista chefe
do
Bank for International Settlements
(BIS).
"Dívida continuaram a acumular-se ao longo dos últimos oito
anos e elas atingiram tais níveis por toda a parte do mundo que se
tornaram uma poderosa causa de prejuízos", disse ele.
"Tornar-se-á óbvio na próxima recessão que
muitas destas dívidas nunca serão cumpridas ou reembolsadas e
isto será inconfortável para um bocado de pessoas que pensam
possuírem activos que valem alguma coisa", disse ele a
The Telegraph
na véspera do Fórum Económico Mundial em
Davos
.
"A única questão é se somos capazes de olhar a
realidade de frente e enfrentar o que está para vir de um modo ordenado,
ou se será desordenadamente. Os jubileus de dívida têm-se
verificado durante 5000 anos, já entre os sumérios".
A próxima tarefa com que se deparam autoridades globais é como
administrar cancelamentos
(write-offs)
de dívidas e portanto um reordenamento de vencedores e perdedores na
sociedade sem lançar uma tempestade política.
O sr. White disse que credores da Europa provavelmente enfrentarão
algumas das maiores perdas
(haircuts).
Bancos europeus já admitiram US$2 milhão de milhões
(trillion)
de empréstimos não cumpridos: eles estão fortemente
expostos a mercados emergentes e estão quase certamente estendendo o
prazo
(rolling over)
de mais dívidas podres que nunca foram reveladas.
O sistema bancário europeu pode ter de ser recapitalizado numa escala
ainda não imaginada e novas regras de "bail-in" significa que
qualquer possuidor de depósito acima da garantia de 100 mil
terá de ajudar a pagar por isto.
As advertência têm repercussão especial uma vez que o sr.
White foi uma das poucas vozes na fraternidade de banqueiros centrais que entre
2005 e 2008 declarou alto e bom som que a finança ocidental cavalgava
loucamente para uma queda e que a economia global estava vulnerável a
uma crise violenta.
O sr. White disse que estímulos da facilidade quantitativa (QE) e taxas
zero por parte dos grandes bancos centrais após a
crise do Lehman
propagaram-se através do Extremo Oriente e de mercados emergentes,
adicionando combustível a bolhas de crédito e um surto de
contratação de empréstimos em dólares que era
difícil de controlar num mundo de livres fluxos de capital.
O resultado é que estes países agora também foram
arrastados para o pântano. A dívida pública e privada
somadas atingiu alturas inéditas de 185 por cento do PIB em mercados
emergentes e de 265 por cento no clube OCDE, ambas mais de 35 pontos
percentuais acima do pico do último ciclo de crédito em 2007.
"Os mercados emergentes eram parte da solução após a
crise do Lehman. Agora eles são também parte do problema"
, afirmou o sr. White.
O sr. White, que também é o autor principal do recente
relatório do G30 sobre o futuro da banca central após a crise,
disse ser impossível saber o que será o disparador da
próxima crise uma vez que o sistema global perdeu sua âncora e
é intrinsecamente tendente para o colapso
(breakdown).
Uma
desvalorização chinesa
tem claramente o potencial para estender-se em metástases. "Todo
país importante está empenhado em guerras de divisas muito embora
insistam em que o QE nada tem a ver com depreciação competitiva.
Todos eles estão a jogar o jogo excepto a China até
então e é um jogo de soma zero. A China podia realmente
subir a aposta".
O sr. White disse que políticas QE e de moeda fácil por parte do
US Federal Reserve e seus colegas tiveram o efeito de antecipar gastos futuros
no que é conhecido como "suavização
inter-temporal". Isto torna-se um vício tóxico com o tempo e
finalmente perde tracção. No fim, o futuro o alcança.
"Por definição, isto significa que você não
pode gastar o dinheiro amanhã", disse ele.
Um reflexo de "assimetria" começou quando o Fed injectou
demasiado estímulo para impedir uma depuração após
o crash de 1987. As autoridades desde então permitiram que cada boom
corresse o seu percurso pensando que podiam seguramente arrumá-lo
posteriormente enquanto respondiam a cada choque com vivacidade. A
crítica do BIS é que isto levou a um perpétuo viés
facilitista, com taxas de juro a caírem sempre abaixo da sua "taxa
natural wickeseliana" a cada ciclo de crédito.
O erro foi agravado na década de 1990 quando a China e a Europa do Leste
subitamente juntaram-se à economia global, inundando o mundo com
exportações baratas num "choque de oferta positivo".
Preços cadentes de bens manufacturas mascararam a desenfreada
inflação de activos que estava a acumular-se. "Os
elaboradores políticos ficaram seduzidos pela inacção por
um conjunto de crenças confortáveis, todas as quais vemos agora
que eram falsas. Eles acreditavam que se a inflação estava sob
controle, tudo estava bem", disse ele.
Em retrospectiva, os bancos centrais deveriam ter permitido que a
deflação benigna desta fase (temporária) da
globalização seguisse o seu curso. Ao alimentar bolhas de
dívida, eles ao invés incubaram o que se demonstrou ser uma
variante maligna, uma clássica deflação da dívida
"fisherita" estilo década de 1930.
O sr. White afirmou que o Fed está agora num horrível dilema pois
tenta libertar-se da QE e endireitar o navio outra vez. "É uma
armadilha da dívida. As coisas estão tão más que
não há resposta certa. Se eles elevarem taxas isso será
detestável. Se não elevarem taxas, isso apenas faz as coisas
piores", disse ele.
Não há caminho fácil para sair deste emaranhado. Mas o sr.
White considerou que um bom arranque para governos seria travar a
dependência de bancos centrais a fazerem seu trabalho sujo. Eles deveriam
retornar ao primado orçamental chame-o keynesiano, se quiser
e lançar uma blitz de investimento que se pague a si mesma
através de crescimento mais alto.
"Sempre foi perigoso confiar em bancos centrais para resolver um problema
de solvência pois tudo o que eles podem fazer é atacar problemas
de liquidez. Isto é uma receita para a desordem e agora estamos a
atingir o limite", afirmou.
19/Janeiro/2016
[*]
Jornalista, fez a cobertura da conferência de Davos.
O original encontra-se em
www.telegraph.co.uk/...
Esta notícia encontra-se em
http://resistir.info/
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