Banco privado publica "Uma leitura marxista da crise" (sic)
por Patrick Artus
[*]
A nossa interpretação da crise é como se segue:
No arranque da crise: excesso mundial de capacidade de produção O excesso mundial de capacidade de produção surge com a globalização:
O mundo está portanto, desde o fim dos anos 1990, em situação de excesso de oferta de bens e de serviços, o que corresponde à alta da taxa de investimento mundial (gráfico 3a) e explica a ausência de inflação (gráfico 3b).
Reacção das empresas ao excesso de capacidade: baixa dos salários, concentração O excesso de capacidade deveria normalmente fazer baixar a lucratividade do capital das empresas, devido simultaneamente à abundância de capital e à perda do pricing power. Para evitar esta evolução, as empresas:
Deste comportamento das empresas normalmente resultaria a fraqueza da procura das famílias, uma vez que os salários são fracos e as margens de lucro elevadas. Antes da crise, a procura das famílias é fraca apenas na China, no Japão e na Alemanha (gráfico 5ª, 5b), devido à reacção dos Estados que vamos agora examinar e que evita esta fraqueza nos outros países. A partir da crise, a travagem do endividamento faz cair a procura das famílias por toda a parte. Reação dos Estados: estimulação do crédito, sub-avaliação das taxas de câmbio Os Estados estão confrontados:
Estas políticas tomam a forma:
Interpretamos portanto as políticas de sustentação do crédito nas políticas da OCDE e de sub-avaliação das taxas de câmbio nos países emergentes como políticas não cooperativas de resposta ao excesso de capacidade mundial de produção e de baixa dos salários pelas empresas, visando fortalecer a taxa de utilização das capacidades do país em detrimentos dos outros países. Estas políticas interagem para gerar um enorme crescimento da liquidez mundial (gráfico 9), que está na origem das crises que ela fez surgir:
Síntese: a leitura marxista da crise é mesmo a boa Pode-se portanto fazer uma leitura convincente da crise recente, conforme o esquema abaixo.
A "euforia" dos empresários (sobretudo dos países emergentes) conduz à super-acumulação de capital; esta implicaria a baixa tendencial da taxa de lucro se as empresas não reagirem comprimindo os salários e tentando obter rendas, de onde a situação de sub-consumo. Igualmente, os agentes económicos empenham-se em actividades especulativas instigadas pelo crédito, que são paliativos à insuficiência da produção e que desaguam sobre crises.
06/Janeiro/2010
[*]
Responsável do banco
Natixis
.
N.R.: Este estudo traz elementos de informação úteis, mas a sua publicação por resistir.info não significa um endosso ao seu conteúdo. A análise marxista é muito rica, mas o autor empobrece-a a ponto de torná-la quase simplória. O esquema conceptual mostrado acima tem mais a ver com a análise estruturalista do que com a marxista. E talvez não seja inocente a tentativa de culpabilizar os países ditos "emergentes" pela crise desencadeada nos países capitalistas centrais e nem o facto de sequer mencionar a palavra depressão. O original encontra-se em http://cib.natixis.com/flushdoc.aspx?id=51136 Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |