Mobilizemo-nos contra a guerra anunciada!

por Michel Chossudovsky

Uma agressão covarde contra um povo indefeso A administração Bush está em pé de guerra. Canhoneiras, porta-aviões e submarinos equipados com armas atómicas encaminham-se para o Médio Oriente. Milhares de militares juntaram-se às forças da coligação anglo-americana no Golfo Pérsico e nas bases norte-americanas no Qatar, no Koweit e na ilha de Diego Garcia no Oceano Índico. Segundo o Pentágono, um quarto de milhão de soldados, vindos de diferentes unidades da coligação, estarão implicados na invasão do Iraque.

O objectivo de Washington não é “restaurar a democracia” mas colocar no Iraque um governo militar de ocupação semelhante àquele que foi instaurado no Japão a seguir à Segunda Guerra Mundial. A economia iraquiana será reestruturada. Os gigantes do petróleo anglo-americano apoderar-se-ão das instalações petrolíferas do Iraque.

Washington também desencadeou a sua guerra de intimidação contra o povo iraquiano. No sul do Iraque, a US Air force [Força Aérea norte-americana] lançou dezenas de milhar de panfletos reproduzindo a imagem de um soldado iraquiano morto ao lado da sua bateria antiaérea e da sua viúva desolada. Debaixo da imagem podia ler-se uma advertência em árabe: “antes de fazer fogo sobre os aviões da coligação, reflecte sobre as consequências, pensa na tua família”.

Luz verde das Nações Unidas

Em vez de condenar os planos de guerra de Washington, que constituem uma violação flagrante da Carta das Nações Unidas, o Conselho de Segurança deu a Washington — «em nome da comunidade internacional» — luz verde para lançar uma guerra contra o Iraque durante os próximos meses. A resolução do Conselho de Segurança avisa o Iraque contra as “sérias consequências” que acarretará o “desrespeito pelas condições de inspecção do programa de armamento iraquiano”.

Washington não tem qualquer intenção de se conformar com a aplicação desta resolução das Nações Unidas. Pelo contrário! O seu objectivo é retirar-se, num momento oportuno, do programa de inspecção invocando a recusa das autoridades iraquianas de “se conformarem” à resolução do Conselho de Segurança. As condições precisas impostas ao Iraque pela resolução 1441 são praticamente impossíveis de cumprir: “os iraquianos devem saber que qualquer pequeno erro lhes custará uma guerra”. Basta que os inspectores declarem que o seu trabalho foi estorvado para que isso seja considerado pela administração Bush razão suficiente para declarar guerra ao Iraque.

A intenção de Washington é de criar um “incidente que possa servir de pretexto” – com a aprovação das Nações Unidas – que permita justificar aos olhos da opinião pública internacional o desencadear de uma guerra. Lembremo-nos que o Congresso dos Estados Unidos já havia adoptado uma resolução no mês de Outubro que concedia ao presidente Bush poderes para desencadear uma guerra contra o Iraque “uma vez esgotados os esforços diplomáticos”.

Uma guerra pelo Petróleo: primeiro o Iraque, depois o Irão

Os planos guerreiros de George W. nada têm a ver com as “armas de destruição maciça” de Saddam ou das suas presumíveis ligações com Oussama Ben Laden. A grande região do Médio Oriente e da Ásia Central concentra mais de 70% das reservas mundiais de petróleo e de gás natural (trinta vezes superiores às dos Estados Unidos). Segundo a U.S. Central Command (Centcom), “o objectivo do empenho dos Estados Unidos... é proteger os interesses vitais dos Estados Unidos na região, ou seja, garantir o acesso ininterrupto aos Estados Unidos e seus aliados ao petróleo do golfo”. Dito de outra forma, o cerne desta guerra é o petróleo. Trata-se de uma guerra de conquista cujo o objectivo também é enfraquecer os conglomerados petrolíferos rivais, nomeadamente os da Rússia e da França, que têm interesses importantes no Iraque e no Irão. Como explicar então que os três membros refractários do Conselho de Segurança não tenham exercido o seu direito de veto? Terá havido um acordo prévio de bastidores com a Rússia, a China e a França para “partilhar o espólio de guerra”? Por qualquer razão inexplicável a França decidiu juntar-se às forças da coligação contra o Iraque.

Apesar da operação militar ter como objectivo o Iraque, esta guerra poderia estender-se ao conjunto da região, desde a leste do Mediterrâneo e do Golfo Pérsico até ao coração da Ásia Central. Os planos de guerra anunciados pelo Pentágono estipulam que o “teatro estratégico” compreende « a dupla reacção face aos Estados párias que são o Iraque e o Irão ».

Acresce que embora Israel não seja “oficialmente” membro da coligação anglo-americana, o Alto Comando da Defesa israelense está em ligação permanente com o Pentágono. O primeiro ministro Ariel Sharon convidou Washington a bombardear o Irão depois de bombardear o Iraque. As ogivas nucleares israelenses não estão apenas apontadas para Bagdade, mas também para todas as grandes cidades do Médio Oriente.

Como inverter a marcha:
construamos um movimento contra a guerra.

Estamos nas vésperas da mais grave crise da história moderna que necessita, no quadro do movimento contra a guerra, de uma solidariedade, coragem e compromisso sem precedentes. A guerra dos Estados Unidos, que compreende a utilização “em primeiro ataque” de armas nucleares, ameaça o futuro da humanidade. Nos Estados Unidos e através do mundo, o movimento de oposição à guerra amplia-se. Quando milhões de pessoas se juntaram para se opor à guerra, a campanha de medo e de desinformação da administração Bush, secundada pelos grandes media, conseguiu levar um sector importante da população dos Estados Unidos a aceitar, de modo incondicional, os planos de guerra do seu governo.

Estamos numa encruzilhada. O movimento de oposição à guerra deve necessariamente passar a um estado superior. O momento criado pelo sucesso dos grandes realinhamentos da oposição à guerra nos Estados Unidos, no Canadá e por todo o mundo deveriam permitir lançar as bases de uma rede permanente formado por dezenas de milhares de comités contra a guerra nos bairros, nos locais de trabalho, nas paróquias, nas escolas e nas universidades.

Para contrariar os planos guerreiros da administração Bush, é preciso que se constitua uma vasta rede contra a guerra. Por outras palavras, além das manifestações pontuais, devemos fazer, durante os próximos meses, um enorme trabalho de sensibilização, de informação e de educação popular. Devemos juntarmo-nos aos nossos concidadãos e concidadãs, no Quebeque e no Canadá. Devemos denunciar a mentira política bem como a cumplicidade dos media.

Trata-se não apenas de revelar as causas e consequências desta guerra anunciada. Devemos igualmente questionar as leis ditas “antiterroristas” adoptadas no Canadá, sob o modelo das agora em vigor nos Estados Unidos, e que levam directamente à constituição de um Estado polícial.

Para inverter a marcha, devemos desenvolver, no Canadá e no Quebeque, um movimento de cidadania de envergadura. O governo do Canadá é parte envolvida nesta guerra. Os barcos de guerra da marinha canadiana já estão a postos no Golfo Pérsico. Devemos exigir ao primeiro ministro Jean Chrétien que o Canadá se retire da coligação militar liderada por Washington. Além disso, devemos igualmente exigir que o governo do Quebeque se exprima claramente sobre esta questão face à decisão de Otava de participar nesta guerra.

Quando as mentiras – incluindo as que dizem respeito aos atentados de 11 de Setembro – forem reveladas em toda a sua extensão e compreendidas por todos, a legitimidade da administração Bush será destruída. O Big Brother já não terá pernas para andar e não poderá alimentar-se da guerra.

Embora isso não leve necessariamente a uma “mudança de regime” imediata e fundamental nos Estados Unidos, um novo "consenso anti-guerra" verá então a luz do dia. Ter-se-á assim ultrapassado uma primeira etapa na luta contra a Nova Ordem Mundial e contra o Império Americano.

O original deste artigo encontra-se em
http://www.lautjournal.info/default.asp?manchette=22
Tradução de Alexandre Maurício.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info

02/Jan/03