Armas não-convencionais e estratégias de guerra dos EUA/NATO
O caso do urânio empobrecido
As armas com urânio empobrecido são
armas não convencionais, de efeitos indiscriminados no espaço e
no tempo
, e tal facto é conhecido há já muitos anos pelas FFAA dos
EUA (vejam-se, entre outros, os
Anexos 1, 2, 3, 4, 5 e 6
). Se não
existem mais estudos públicos sobre os efeitos destas armas é
porque
o Pentágono e as autoridades britânicas há anos que se
recusam a efectuá-los
, tendo durante muito tempo negado a própria existência de
qualquer problema associado aos veteranos da Guerra do Golfo (Relatório
do National Gulf War Resource Center:
Baixas não contabilizadas: o padecimento dos veteranos americanos da
Guerra do Golfo
, de 17 de Janeiro de 2001, disponível em
http://www.ngwrc.org
).
A própria utilização de armas com urânio empobrecido
foi mantida secreta
durante longo tempo. No caso dos Balcãs, a sua utilização
apenas foi admitida em Março de 2000, um ano após a guerra
(Anexo 7)
. As autoridades norte-americanas e britânicas continuam hoje a ser o
principal obstáculo à realização de qualquer estudo
médico generalizado e aprofundado aos milhares de soldados
vítimas dos Sindromas, como afirma Doug Rokke, cientista e ex-militar
norte-americano numa declaração proferida perante a Câmara
dos Comuns britânica em 16.12.99 (disponível, em versão
actualizada, em
http://www.stopnato.org.uk
). Doug Rokke chefiou uma equipa de
15 militares norte-americanos que foram dos primeiros a entrar em
território iraquiano no final da Guerra do Golfo, com a missão de
descontaminar o terreno dos efeitos de urânio empobrecido. Afirma Rokke
ao jornal italiano
Liberazione
(14.1.01):
|
«Dessa equipa, apenas dois não apresentam hoje sinais de
contaminação; outros dois já morreram; e os restantes
padecemos das doenças mais diversas, muitos têm tumores. Todos
nós, repito, todos nós, começámos a adoecer logo
nessa altura, e a razão da nossa situação é o
urânio empobrecido. [...] Pedíam-nos para descontaminar, mas
descontaminar o quê? Quando entrámos no território
iraquiano vimos algo que metia medo. A contaminação à
volta dos blindados atingidos cobria literalmente de pó preto os fatos
protectores. E no interior dos carros iraquianos o espectáculo era
terrível [...] havia corpos liquefeitos pelo calor desprendido aquando
da combustão do urânio empobrecido. Uma área de pelo menos
250 metros apresentava evidentes sinais de contaminação e
radioactividade. A pergunta não é se o urânio empobrecido
faz mal. A pergunta é porque é que insistem em negar a verdadeira
resposta.»
|
Vários cientistas e médicos pagaram com as suas carreiras a
ousadia de pretender levar a cabo tais investigações. O mesmo
jornal italiano publica uma entrevista com o professor Asaf Durakovic, um
cientista norte-americano licenciado em Medicina, Física e Biologia
molecular e doutorado em Veterinária e Oncologia. Durakovic trabalhou
para o Pentágono, tendo chegado a chefiar alguns centros de
investigação, mas de acordo com o jornal, «em 1995 foi
despedido sumariamente do Pentágono [...] por ter defendido que o
urânio empobrecido provoca câncros». Durakovic não
regateia palavras:
|
«Sou uma vítima duma repressão que faz lembrar os
métodos usados pela propaganda nazi. O que eu sofri às
mãos do Governo dos EUA não mudou a minha vida: destruiu-me-a.
[...] Havia muitos ex-combatentes americanos que, alguns anos após a
Tempestade no Deserto [Guerra do Golfo - NT] adoeciam, e alguns deles
dirigiam-se a nós, às autoridades sanitárias militares,
procurando saber se teriam sido contaminados por algum agente químico.
Fui encarregado de analisar uma dezena de casos e emitir um parecer.
Limitei-me a recolher amostras de urina e submetê-las a análises,
cujo resultado foi incontornável: com uma única
excepção, todos aqueles que tinham câncro, apresentavam um
nível significativo de urânio empobrecido. Nessa altura
não pude fazer outra coisa senão transmitir os resultados e as
minhas conclusões aos meus superiores. Após algum tempo, e
não tendo recebido resposta, decidi interpelar os meus superiores e os
institutos que tinham recebido as amostras para uma série de
'verificações' não especificadas. Não me foi dada
qualquer notícia, e quando voltei à carga para solicitar os
resultados, ou pelo menos a devolução das análises, foi-me
dito que os testes tinham dado resultado negativo e as amostras se tinham
perdido. [...] Perante a minha insistência, começaram-me a chegar
uma série de sinais de significado inconfundível: devia ficar
calado [...] Foram pressões que me impressionaram realmente, que
não pensava fossem possíveis num país democrático,
e que após alguns meses se transformaram no meu despedimento
sumário do Exército e do hospital de Washington para o qual
trabalhava. [...] Ver como os militares italianos não sabiam quase nada
dos riscos que corriam faz-me tremer e pensar que o Poder pode cometer um
genocídio e escondê-lo».
Liberazione
(14.1.01).
|
Os efeitos da utilização em larga escala de armas com
urânio empobrecido na Guerra do Golfo, e em menor medida nos
Balcãs, já foram objecto de denúncia pelas autoridades dos
países em questão
(Anexos 8 e 9)
. Mas também por
numerosos dirigentes políticos (veja-se, por exemplo, o
Anexo 10
),
cidadãos
(Anexo 11)
e cientistas, como por exemplo o médico
austríaco Siegwart-Horst Guenther, que trabalhou durante vários
meses no Iraque, ou Ashraf El-Bayoumi, chefe da Unidade de
Observação do Programa Alimentar Mundial da ONU no Iraque, entre
Março de 1997 e Maio 1998. Os testemunhos destes últimos
encontram-se, juntamente com muito outro material de interesse, no
magnífico livro
Depleted Uranium - Metal of Dishonor
, publicado pela organização norte-americana International Action
Center (IAC). O IAC, organização fundada pelo ex-ministro da
Justiça dos EUA, Ramsey Clark, tem tido um trabalho pioneiro na
denúncia das armas de urânio empobrecido e seus efeitos.
Informações sobre o livro e sobre o IAC podem-se encontrar em
http://www.iacenter.org
. (Veja-se também o
Anexo 12
). A própria
legalidade das armas com urânio empobrecido é contestada em
numerosos quadrantes
(Anexos 13, 14 e 15)
.
Como afirmou o Presidente da Comissão de Assuntos Internacionais do
Parlamento italiano, Achille Occhetto:
|
«Pouco há para estudar sobre os efeitos nocivos dos
projécteis de urânio empobrecido. O que é preciso é
que os governos dos países da NATO tenham a força moral para
pedir desculpas às populações atingidas por instrumentos
infames e ponham de pé os meios para remediar à
situação de toxicidade. [...] Esta questão evidencia a
obra de destruição sistemática empreendida nos
Balcãs, e os danos provocados às populações que se
dizia querer defender.» (
Liberazione
, 10.1.01).
|
Na agressão à Jugoslávia, a NATO atacou deliberada e
sistematicamente a infraestrutura civil (pontes, combóios, vias de
comunicação, sistemas de abastecimento de electricidade e
água à população civil, hospitais, escolas), zonas
residenciais e colunas e centros de refugiados, e a infraestrutura industrial e
económica (com destaque para a destruição deliberada do
grande complexo industrial de Pancevo que libertou para a atmosfera, solos e
águas, enormes quantidades de produtos tóxicos). Além de
armas com urânio, utilizou outras armas não-convencionais como as
bombas de grafite e as
cluster bombs
. Tratou-se duma estratégia deliberada de vergar um país
através do sofrimento e terror da sua população civil.
Como foi confessado abertamente, ainda a guerra não havia terminado,
pelo General Michael Short, comandante aéreo das forças da NATO:
«Se acordarem de manhã e não tiverem electricidade em casa,
nem gás no fogão, e se a ponte que vos leva para o trabalho tiver
sido abatida e ficar a flutuar no Danúbio durante os próximos 20
anos, penso que irão começar a perguntar: 'Oh, Slobo, o que se
passa, afinal? E quanto mais disto é que vamos ter que suportar?'»
(
International Herald Tribune
, 18.5.99).
A História confirma
Poderá haver quem de boa fé duvide que os EUA/NATO tenham usado
armas não-convencionais no Golfo e nos Balcãs, com a
consciência das suas reais consequências. Mas essas dúvidas
são facilmente dissipáveis com um breve olhar para a
História das guerras dos EUA e países da NATO no último
meio-século.
Os Estados Unidos são o único país do planeta que alguma
vez lançou bombas atómicas em operações de guerra.
E fê-lo, não sobre alvos militares, mas sobre duas cidades:
Hiroxima e Nagasáqui. Com a total consciência de que ceifariam
dezenas de milhares de vidas humanas, na sua esmagadora maioria civis, numa
fracção de segundo. Segundo o investigador nipo-norte-americano
R. Takaki, os mortos provocados por este crime maior da história da
Humanidade totalizaram cerca de 350 mil: em Hiroxima, 70 mil pessoas morreram
no momento da deflagração, outros 60 mil no espaço de
quatro meses, e mais 70 mil até 1950; em Nagasaqui, 70 mil morreram no
momento da explosão e outros 70 mil até 1950 (Takaki, R.
Hiroshima - Why America dropped the Atomic Bomb
, Little, Brown and Company, 1995, p.47). A utilização de armas
nucleares contra populações civis é o exemplo mais
criminoso duma lógica de condução de guerras que foi
sintetizada assim, em 1943, pelo General norte-americano Hap Arnold:
«Esta é uma guerra brutal e [...] a forma de travar a morte de
civis é provocar tais prejuízos e destruição e
tantas mortes que os civis acabarão por exigir ao seu governo que pare
de combater» (citado em Takaki, R.,
op. cit.
, p. 27).
Mas o crime nuclear norte-americano não teve sequer como objectivo
principal assegurar a derrota do Japão na II Guerra Mundial. Como
afirma o insuspeito Winston Churchill (
The Second World War, Vol. VI
, Penguin Books, 1985, p. 559): «Seria um erro supôr que o destino
do Japão foi decidido pela bomba atómica. A sua derrota era
já uma certeza antes de cair a primeira bomba». Três dos
mais altos comandantes militares norte-americanos da altura também
deixaram para a História o registo de que não consideravam
necessário o ataque atómico para derrotar o Japão: o
Supremo Comandante das tropas aliadas na Europa Ocidental, e mais tarde
Presidente dos EUA, General Eisenhower; o seu congénere para o
Pacífico, General MacArthur; e o Chefe de Estado Maior, Almirante W.
Leahy (Takaki, R.
op. cit.
, pp. 30-32 e 122). Aliás, o Japão já estava a explorar
as possibilidades de uma rendição, condicional apenas à
sobrevivência do sistema imperial (Takaki, R.
op. cit.
, p. 33), desenlace que efectivamente veio a dar-se em Agosto de 1945. Se os
civis japoneses de Hiroxima e Nagasaqui foram massacrados, e se o tabú
atómico foi quebrado, não foi para derrotar o Japão e
pôr termo à II Guerra Mundial, mas sim para ostentar perante o
mundo a novo e terrível arma dos EUA, dando início à
Guerra Fria contra a (ainda aliada) União Soviética.
Como afirmou o director do projecto de construção da bomba
atómica (Projecto Manhattan), o General Leslie Groves: «
ao fim de duas semanas de ter ficado encarregado deste Projecto, deixei de ter
ilusões sobre o facto de que o nosso inimigo era a Rússia, e o
Projecto foi conduzido nessa base
» (citado em Takaki, R.
op. cit.
, p. 7; outras citações análogas de diversos altos
funcionários do Governo dos EUA podem encontrar-se também ao
longo do Capítulo 4 do livro de Takaki).
A observação acima citada de Winston Churchill não deve,
porém, ser entendida como uma crítica baseada em
posições éticas. Durante a Segunda Guerra Mundial, num
memorandum ao secretário do Governo de Guerra britânico, General
Hastings Ismay datado 6 de Julho de 1944, Churchill propôs que se
estudassem as vantagens e desvantagens de ataques de grande intensidade sobre
cidades alemãs com a utilização de armas químicas.
Nas suas palavras:
|
«poderíamos saturar [com gases venenosos] as cidades do Ruhr e
muitas outras cidades da Alemanha de tal forma que a maioria da
população ficasse necessitada de cuidados médicos
permanentes. [...] Estou naturalmente de acordo que poderão passar-se
várias semanas, ou até meses, antes de eu vos solicitar que
lancem gás venenoso sobre a Alemanha, e se o fizermos, quero que o
façamos a 100 por cento». (jornal britânico
The Guardian
, 2.11.98).
|
Repare-se, mais uma vez, na referência explícita à
utilização de civis como reféns de guerra. Pressionados
por Churchill, os militares britânicos prepararam uma lista de cidades
alemãs que poderiam vir a ser alvo de ataques com gás mostarda,
lista essa que incluía todas as cidades com mais de 100 mil habitantes.
Mas os arianos cidadãos alemães teriam melhor sorte que os
asiáticos habitantes de Hiroxima e Nagasaqui, pois os mesmos meios
militares informaram Churchill que «não consideramos que o facto de
desencadearmos uma guerra química e biológica possa ter um efeito
decisivo sobre o resultado ou a duração da guerra contra a
Alemanha». Churchill cedeu, vencido, mas não convencido:
«não estou absolutamente nada convencido por este relatório
negativo» (
The Guardian
, 2.11.98).
Nas guerras de agressão que os Estados Unidos conduziram contra a Coreia
e o Vietname, a utilização de armas não-convencionais,
químicas e biológicas, foi generalizada e inserida numa
estratégia de vergar pelo terror a vontade de resistência. O
insígne filósofo e Prémio Nobel britânico Bertrand
Russell, referiu-se aos «horrores perpetrados no Vietname» pelos
americanos e seus fantoches, numa Conferência de Solidariedade com a luta
do povo vietnamita:
|
«Oito milhões de pessoas foram metidas em campos de
concentração e submetidas a trabalhos forçados. Houve
pessoas que serviram de cobaias a certas armas experimentais, como por exemplo
gases venenosos que provocam a cegueira, a paralisia, a asfixia e
vómitos. Em vastas áreas, foram utilizados produtos
químicos que afectam o sistema nervoso e o equilíbrio mental. O
napalm
e o fósforo, que queimam até às cinzas, foram
lançados sobre as áreas mais densamente povoadas.» (Russell,
B.
Crimes de Guerra no Vietname
, Brasília Editora, s/d, p.184).
|
Num
Apelo à Consciência Americana
, dizia ainda Bertrand Russell:
|
«Apelo para vós no sentido de tomardes em
consideração o que tem sido feito ao povo do Vietname pelo
Governo dos Estados Unidos. Podeis em consciência, justificar o uso de
produtos químicos e gases venenosos, o bombardeamento exaustivo de todo
o país por meio de
napalm
e fósforo? Embora a imprensa americana minta a tal respeito, as provas
documentais acerca da natureza destes gases e de produtos químicos
são esmagadoras. Uns e outros são venenosos e fatais. O
napalm
e o fósforo ardem até a vítima ficar reduzida a uma massa
fervente. Os Estados Unidos têm utilizado também armas como os
lazy dog
que é uma bomba contendo dez mil pedaços de aço
cortante como lâminas. Esta espécie de lâminas
despedaça os aldeões, contra os quais essas armas destruidoras
são empregadas constantemente. Numa província do Vietname do
Norte, a de maior densidade populacional, foram lançadas cem
milhões de lâminas de aço, num espaço de treze
meses» (Russell, B.
op. cit.
, pp. 191-192).
|
Napalm
foi também utilizado pelo regime fascista português na sua guerra
contra os povos das então colonias africanas. Essa guerra e esse regime
contaram sempre com o apoio militar e político, discreto ou declarado,
dos países da NATO (basta pensar em quem forneceu o
napalm
). Aliás, a ditadura fascista de Salazar foi membro fundador da NATO em
1949.
Na altura em que Bertrand Russell escrevia as palavras acima citadas, ainda
não se falava do
Agente Laranja
, uma substância altamente tóxica que provoca efeitos de
saúde devastadores. John Catalinotto, do International Action Center,
escreve:
|
«No Vietname, o Pentágono usou em grande escala herbicidas contendo
o Agente Laranja como desfolhante do meio rural vietnamita. Ao fazê-lo,
privavam os soldados revolucionários de cobertura contra a guerra
aérea dos EUA. [O Agente Laranja] envenenou o meio ambiente e
milhões de vietnamitas. E também envenenou milhares de soldados
dos EUA. O Pentágono continuou a negar que a dioxina no Agente Laranja
fosse responsável pelos problemas de saúde de que padeciam muitos
ex-combatentes norte-americanos da guerra do Vietname, ou pelas
malformações congénitas dos seus filhos. [...] As altas
patentes militares fizeram a mesma opção em relação
às armas com Urânio Empobrecido (UE). O Exército conhecia
os perigos potenciais quer para o meio-ambiente, quer para as suas
tropas da radiação de baixa intensidade emanada pelo UE e,
em especial, das partículas inaladas ou ingeridas. Mas a
utilização de armas com UE aumentava a já enorme vantagem
da coligação dirigida pelos EUA contra os tanques iraquianos.
Ajudou a coligação a destruir quase quatro mil tanques
iraquianos, praticamente sem sofrer baixas se não se
contabilizarem os que inalaram os óxidos de UE» (Catalinotto, J.
Uma história de dois Sindromas: Vietname e Guerra do Golfo
, no já citado livro,
Depleted Uranium Metal of Dishonor
, p. 58).
|
A História mostra-nos assim que, não apenas a
utilização de armas criminosas é prática corrente
do imperialismo norte-americano: também o encobrimento dos seus efeitos
durante longos anos o é. «Os ex-combatentes do Vietname precisaram
de 22 anos para fazer vir à tona a questão do Agente Laranja. [O
urânio empobrecido] é o Agente Laranja dos anos 90, para os
ex-combatentes do Golfo Pérsico» (Picou, C.H.
Living with Gulf War Syndrome
, em
Depleted Uranium Metal of Dishonor
, p.43; Carol Picou foi enfermeira nas Forças Armadas dos EUA, e foi das
primeiras a entrar no Kuwait e Iraque. É uma dos milhares de
vítimas do Sindroma do Golfo, abandonada pelas FFAA que serviu durante
anos).
Poderiam juntar-se muitos outros factos e exemplos aos que acima foram
referidos. A natureza criminosa e agressiva do imperialismo, e do imperialismo
norte-americano em particular, são uma evidência que pode ser
encoberta, mas não pode ser negada. Neste início de
Século XXI, em que de novo cresce a arrogância, a agressividade e
o belicismo do imperialismo, em que são anunciadas diariamente novas
guerras, novas armas, novos exércitos Europeus, novas
despesas militares, é de crucial importância ter ideias claras
sobre este facto. Nos nossos dias, ganham nova actualidade as palavras
pronunciadas há mais de 30 anos por Bertrand Rusell:
|
«Um aspecto perturbador da política mundial é-nos dado pelo
grau de aceitação, entre os liberais e até os socialistas,
das convicções básicas das vastas e poderosas
forças que estão por detrás da guerra fria. Considera-se
sagrado o papel dos Estados Unidos como eterno intruso nos assuntos
internacionais das outras nações. Aceita-se com
satisfação o direito de os Estados Unidos interferirem noutros
países, se o comportamento adoptado por esses países no campo
social e político se revelar incompatível com o poder
económico privado. [...] Não é a táctica dum
exército internacional da contra-revolução que deve ser
discutida [...]. É a própria política que deve ser
contestada. Se a usurpação do poder, na América, pelos
militares e grandes industriais, merece a honra de ser identificada com os
objectivos nacionais ou democráticos, então renuncia-se quer
à democracia [...], quer à paz mundial.» (Russell, B.,
op. cit.
, pp. 85 e 87).
|
Lista dos Anexos citados
1 - Consequências para a saúde e o ambiente do uso do urânio
empobrecido pelo Exército dos Estados Unidos,
Army Environment Policy Institute USA, Junho 1994.
2 - O governo britânico emite Advertência sobre urânio
empobrecido
, British National
Radiological Protection Board NRPB, 5 Julho 1999 (
http://www.nrpb.org.uk/D-uran.htm
)
3 - O Exército americano avisou dos perigos em 1993
, Kim Sengupta, The Independent 13 Janeiro 2001.
4 - As previsões sobre os efeitos do urânio empobrecido da Atomic
Energy Authority
, New Scientist 5 Junho 1999.
5 - O urânio empobrecido usado na Somália e na Alemanha
, Der Spiegel 23 Janeiro 2001.
6 - Impacto e efeitos ambientais a longo prazo do urânio empobrecido
, UNEP/UNCHS Balkans Task Force (BTF), Apêndice 6 do Relatório
«Efeitos potenciais na saúde humana e no ambiente resultantes do
possível uso de urânio empobrecido durante o conflito do Kosovo de
1999» Outubro 1999.
7 - A NATO confirma à ONU o uso de urânio empobrecido durante o
conflito do Kosovo
, Comunicado de imprensa da UNEP 21 Março 2000.
8 - Efeitos de radiação, Comunicado da missão permanente
do Iraque à 43ª Conferência Geral da Agência
Internacional de Energia Atómica
IAEA 28 Setembro 1999.
9 - Factos e consequências do uso do urânio empobrecido na
agressão da NATO contra a República Federal da Jugoslávia
em 1999
, Ministério Federal das Relações Externas da R.F. da
Jugoslávia, Belgrado Agosto 2000.
10 - Carta do ministro do Ambiente da Finlândia aos seus colegas da
União Europeia
, Satu Hassi, extraída da referência anterior.
11 - Guerra Nuclear de baixa intensidade
, Michel Chossudovsky, Universidade de Otawa
http://emperor-clothes.com/articles/choss/dep.htm
12 - Desafios legais, publicidade e mobilização de massas para
deter as armas de DU
, John Catalinotto e Sara Flounders, organizadores do Projecto de
Educação sobre urânio empobrecido, International Action
Center
http://www.iacenter.org
.
13 - Munições de urânio empobrecido: o uso de armas
radiológicas como violação dos direitos humanos
, Catherine Euler e Karen Parker, Intervenção apresentada na
Subcomissão para a Promoção e a Protecção
dos Direitos Humanos, 51ª sessão, 1999.
14 - As armas de DU perante o direito internacional
, Bernice Boermans, Relatório apresentado na Conferência sobre o
Urânio Empobrecido, Gijon 25-26 Novembro 2000.
15 - Resolução da Comissão de Direitos Humanos da ONU
apela à proibição do DU
, Genebra, Subcomissão para a Prevenção da
Discriminação e a Protecção de Minorias,
Resolução 1996/16.
________________
[*]
Professor universitário. Capítulo do livro "Armas de urânio:
Destruição sem regresso", Colecção Problemas
do Mundo Contemporâneo, Edições Avante!, Lisboa, Novembro
2001.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
|