Haiti
A posição do MPP sobre a força militar multinacional
Carta ao MST brasileiro
por Chavannes Jean-Baptiste
[*]
Irmãos e Irmãs:
Recebemos a v/ carta a perguntar a posição do MPP
[**]
acerca da força militar multinacional de "manutenção
da paz" que a ONU vai enviar em Junho ao Haiti. A posição
do MPP foi e continua a ser anti-imperialista, anti-ocupação
estrangeira. Não podemos apoiar a presença de forças
militares estrangeiras no nosso país após 200 anos de
independência. Isso é absoluto.
Ao mesmo tempo, consideramos que o que se está a passar no país
é a consequência do fracasso de uma classe política
anti-nacional, a consequência da incapacidade da classe política
do país que não é capaz de defender os interesses
populares, os interesses nacionais.
A presença das forças militares hoje no Haiti é a
consequência directa da ditadura de Aristide, um homem que veio das
classes populares, que foi o porta-voz das massas, e que traiu a sua classe.
Ele tudo fez para destruir o movimento popular e utilizou as
organizações dos bairros populares das cidades para assegurar o
seu poder despótico.
Por isso, pensamos que ao denunciar a participação do governo
brasileiro na força da ONU haverá que denunciar também a
ditadura de Aristide porque há muita confusão acerca dele,
sobretudo na Venezuela, nos Estados Unidos e em outras partes do mundo.
O povo haitiano, apesar de não querer nenhum tipo de
ocupação do território nacional, estava a lutar muito
arduamente contra a ditadura criminosa de Aristide e está muito
satisfeito com a sua queda. Nós, agora, estamos vigilantes. Fizemos a
declaração de estar contra qualquer tipo de
ocupação do país e pedimos explicações ao
governo de transição acerca da natureza da presença destas
forças militares estrangeiras no país, sobre qual é o seu
mandato e a sua duração. Mas o governo ainda não disse
nada.
É o que pensamos sobre a situação. Sentimos muito
não termos podido responder antes à vossa carta.
Os companheiros e companheiras que vão à assembleia da Via
Campesina podem dar mais informações, apesar de que, segundo o
sai na imprensa, os 1200 militares brasileiros já estarão no
Haiti.
Abraços fraternais,
Chavannes Jean-Baptiste
[*]
Agronomo, educador popular, ambientalista e director do MPP.
[**]
Mouvement des Paysans de Papaye (MPP). Fundado em 1973, o MPP é a mais
antiga organização camponesa do Haiti.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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